Arquivo de Portugal - Fair Play

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Bruno Costa JesuínoNovembro 22, 20208min0

É unânime. Portugal junta no seu grupo alguns dos jogadores mais talentosos do planeta. Possivelmente por essa razão, os adeptos esperam muito da seleção. Uma seleção mais ousada. Mais dominadora. Com mais iniciativa. Mas existem adversário de igual ou mais valia, e além das nossas valhas, não podemos deixar de dar mérito a quem está do outro lado. Foi um cair de pé à porta da “final four”.

É importante denotar evolução ao longo dos anos. Antes não íamos às principais competições mas agora somos presença regular. Antes ficaríamos felizes por ganhar, quase sem espinhas, dois jogos à seguidos À vice-campeão do mundo (Croácia) e à sempre complicada Suécia. Hoje isso não chega. Faltou a França, aqueles que até à final de 2016 eram a nossa “besta negra”.

Os dois duelos diante a França

Mas sejamos honestos, com a França, foram dois duelos taco a taco entre o campeão europeu e o campeão do mundo. E se os franceses foram mais fortes em Lisboa, os portugueses superiorizaram-se em Paris. Que para a próxima que ganhemos nós.

Vamos analisar os números

Os números valem o que valem. Explicam alguma coisa, identificam alguns padrões e tendências, mas o remate ao lado pode ser mais perigoso que o um remate enquadrado. E a posse de bola, pode sem estéril. Mas vamos esquecer isto por momentos.

No primeiro jogo, embora dividida, Portugal teve mais pose de bola (51%), mais passes e com mais precisão, e igualou no número de remates no total (10) e à baliza (3).

Em jogo de jogado, foi um Portugal dominador e uma França em expectativa. Neste jogo que ditou o afastamento da seleção lusa, os papéis inverteram-se. A sensação amarga de ficar à porta da final four, foi maior ou igual à expectativa que todos tinham devido à prestação do primeiro jogo. Todos (ou quase) estavam à espera de mais.

Se pensarmos em números, neste segundo jogo, Portugal teve mais remates e voltou a ter vantagem na posse de bola. No entanto, deve-se, na mudança de postura das equipas a partir do golo francês, onde Portugal foi atrás do resultado. No cômputo geral, a seleção gaulesa foi melhor e mereceu ser mais feliz. Da mesma forma que Portugal merecia ter sido mais feliz um mês antes.

Cristiano Ronaldo e os “outros”

Temos na nossa equipa um dos melhores de todos os tempos. Quem dera a muitos! Um jogador desta dimensão, líder, que marca golos como ninguém e resolver golos sozinhos. Discute-se muito que a seleção joga melhor sem Cristiano Ronaldo. Essa pergunta já foi a Fernando Santos que respondeu (e bem): “Nenhuma equipa fica mais forte sem o melhor do Mundo”. Os colegas dizem o mesmo. Além de politicamente correcto, é mais que isso, os números da importância do capitão comprovam-o.

No entanto há o lado da questão, onde muitos dizem que Ronaldo (que só pelo facto de estar em campo) ‘usurpua’ o talento dos companheiros. Ou que tentam jogar demasiado para ele. Percebo a ideia. O futebol da equipa sem ele fica mais associativo, e ainda mais que isso, há jogadores no Portugal actual, que para dar liberdade ao capitão têm que sair da sua posição mais natural. É também compreensível que, por vezes os companheiro lhe tentem endossar a bola, pois sabem que ele, na grande maioria da situações, resolve o jogo com a sua capacidade ímpar de finalização.

Ponta de lança ou a partir da esquerda

Há muito que defendo, tal como escrevi num artigo aqui publicado, após a vitória na primeira edição da Taça das Nações: “Parece consensual Fernando Santos apostar no sistema que apresentou na final, pois há pouco tempo de treino, e os jogadores respiram melhor neste modelo. Ao mesmo tempo que os ‘novos jogadores’ vão criando rotinas com o grupo e se vai trabalhando paralelamente outras opções táticas. Além disso, com as opções que temos, ‘o Ronaldo atual’, é muito mais importante perto da área do que em fases de construção. A seleção tem quem construa melhor, mas ninguém que finaliza como ele. Aliás, isso ninguém tem.

Numa seleção é tentar tirar o melhor dos jogadores mas sempre em prol da equipa. Muitos jogadores, por vezes brilham nos clubes numa determinada posição, mas depois ao jogar pelo seu país têm colegas que partilham o mesmo espaço em campo. Logo, para qualquer seleccionador, é tentar montar o puzzle certo.

Como montar o puzzle?

Por exemplo, na Argentina, com tantoa avançados de qualidade, olhamos para o banco e pior avançado que lá têm, jogava em quase qualquer equipa. Não é possível jogarem todos ao mesmo tempo. No Brasil, houve uma altura em que se falava do quadrado mágico, onde todos os jogadores jogavam em espaços interiores: Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo. Talento de sobra, mas que se tornava quase tão difícil deixar algum de fora, como criar uma dinâmica de equipa que suportasse todos ao mesmo tempo, principalmente nos momentos sem bola. Mesmo em Portugal, com Sérgio Conceição, Figo, a estrela que mais brilhava na equipa, jogava muitas vezes na esquerda, ou mesmo Rui Costa e João Pinto, que muitas vezes jogava como homem mais avançado, ou então um deles tinha que descair para uma ala. Faz parte e nunca será unânime.

Qual a melhor opção para Portugal

Depois desta viagem ao passado, um regresso à actualidade. Se Ronaldo partir da esquerda terá que haver sempre alguém a fechar esquerda quando a equipa não tem bola. Também por isso, a opção do Europeu de jogar num 442, em que além dos dois médios centros (Danilo, William, Adrien e João Moutinho), pelo menos um dos dois “alas” eram jogadores com características de médio-centro. Fossem eles André Gomes, João Mário, Renato Sanches e até Moutinho jogou aí numa ocasião. Quando tinha que dar mais criatividade entrava Ricardo Quaresma para uma ala.

Com o qualidade existente ao mesmo tempo em Bruno Fernandes, João Félix, Bernardo Silva, Diogo Jota para acompanhar Ronaldo, Fernando Santos já experimentou várias soluções, deixando cair pelo menos um deles em cada onze titular. Antes da explosão de Diogo Jota e com João Félix ainda no Benfica, o engenheiro ainda tentou o 442 do europeu, com os dois médios centros, Bernardo à direita e Bruno Fernandes com falso ala esquerdo. Mas rapidamente voltou ao 433, para deixar o médio do Manchester United como terceiro médio, e na frente com João Félix e Ronaldo a trocar de posição entre a esquerda e o centro.

Neste momento apostaria num 442, quando a intenção juntar Félix ao Ronaldo, ou num 433, se optasse por jogar só com Ronaldo na frente, sendo neste caso ladeado de Bernardo (ou Francisco Trincão) na direita e Diogo Jota, na esquerda. Num meio campo a 4, acredito que Renato Sanches e João Mário poderão voltar a tornar-se importante tal como o forma no Europeu de 2016.  Até porque são os médios centros mais darão à equipa a jogar a partir de uma ala.

Nota

Para aqueles que torceram o nariz com estes dois últimos nomes que apontei porque têm um ódio de estimação “estúpido” (só por ser terem crescido num rival), lembro que Renato está entre o top em termos de pontuação no ranking da liga francesa e que João Mário é um jogador com tomada de decisão muito acima da média. Ambos têm característica muito próprias que os diferencia dos outros médios portugueses.

“Ah e tal falta um ponta de lança”

Este trecho serve apenas para quebrar um mito. Muito ouvimos “falta um ponta-de-lança à seleção”. É verdade, mas só em parte. Temos André Silva, Paulinho, Gonçalo Paciência e alguns jovens a surgir. É importante, pelo menos para alguns jogos. No entanto, existem muitas equipas que não jogam com nenhum jogador fixo. Veja-se o Barcelona esta época, a Espanha que ganhou tudo, ou mesmo por exemplo a França contra Portugal que jogou com Griezmann nas costas de dois avançado móveis: Martial à esquerda e Coman à direita. Mesmo Portugal, campeão europeu, jogou com num 442 com 2 avançados móveis: Ronaldo e Nani. Não é por acaso que Fernando Santos, nas suas convocatórias leva muitas vezes um ponta-de-lança, mas sempre com um plano B. E existem “n” casos de sucesso assim. Por isso a questão de um avançado

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Bruno Costa JesuínoFevereiro 17, 20206min0

A Liga Europa está aí à porta e há muito tempo que não tínhamos quatro equipas nesta fase da prova. Por sinal os quatro primeiros classificados da primeira liga não só neste momento mas como tem sido habitual. Haverá força para conquistar a Europa?

Sorteio com sortes diferentes

No que diz respeito ao sorteio houve sorte diferentes para as equipas portuguesas. Benfica e Porto com equipas experientes que vão no mínimo dividir as possibilidades de passagem, o Braga tem tudo para se superiorizar a uma equipa que deu muita luta ao Porto na fase de grupos, e o Sporting se estiver ao seu melhor nível tem muitas hipóteses de afastar uma das equipas teoricamente mais acessíveis e menos experientes da prova.

O melhor Sporting seria mais que favorito. E este será?

O Sporting, que ficou em segundo lugar no seu grupo, foi o que lhe saiu o adversário mais acessível, embora estejamos a falar do actual segundo classificado do campeonato turco. No entanto, tendo em conta os adversários que lhe podiam calhar é o que menos se pode queixar… da sorte! No entanto, tendo em conta a época que está a correr, seja talvez o representante em português com menos potencial, ainda mais com a saída do capitão Bruno Fernandes.

O Istambul, embora sem grandes pergaminhos nestas andanças, está a fazer uma excelente época tanto a nível interno como na Europa. No campeonato está a disputar o título e na fase de grupos ficou em primeiro num grupo difícil com os favoritos Roma e Borussia Monchengladbach. No entanto, todos sabemos que a experiência é algo que conta muito nestas fases mais avançadas na prova, mas um Sporting unido que consiga apresentar um nível semelhante ao que apresentou nos clássicos contra Benfica e Porto, tem boas hipóteses de passar a eliminatória.

Mesmo não tendo aquele que era de longe o jogador mais influente nos últimos anos, o melhor 11 do Sporting com Vietto e com os dois centrais disponíveis e com Battaglia em boas condições físicas terá hipótese para no mínimo lutar taco-a-taco com os turcos.

Será o SC de Super-(clube)-Braga?

É verdade e não só de agora, pois nas competições europeias este Braga tem sido super, já tinha sido super com Sá Pinto irrepreensível. O problema era a nível interno, e agora até aí tem sido extraordinário. Com Rúben Amorim, apenas cedeu um empate caseiro, venceu a Taça da Liga e já ganhou duas vezes ao Sporting e Porto.

Mais recentemente venceu o Benfica em pleno Estádio da Luz, tal como já tinha vencido no Dragão. Teve a sorte do jogo? É verdade. Mas para se ter sorte é preciso procurá-la e o Braga, que muitas vezes vacilava nos duelos com os grandes, tem-se mostrado um equipa adulta em todos os momentos do jogo e na maior parte dos 90 minutos. E isso, tem feito a diferença, além das mudanças tácticas, a mentalidade dos jogadores.

Depois de uma fase de grupos que ficou em primeiro lugar, saiu-lhe em sorte o Rangers de Gerrard. Não sendo um nome assustador, a equipa escocesa esta época deu muita luta com o Porto e chegou a até a superiorizar-se em ambos os jogos. No entanto, o melhor Braga, este Braga, tem mais futebol que este Rangers, e saindo da Escócia com um bom resultado, terá tudo para mostrar que é mais forte na segunda mão.

E se Rúben Amorim conseguir manter um nível alto nas duas frentes, podemos estar aqui perante um caso sério, como até já foi previsto num artigo aqui escrito.

Serão os dragões capazes de ‘queimar’ os difíceis?

As equipas portuguesas nunca costumam ter vida fácil diante os alemães. A história mais antiga ou mais recente é prova disso. Mas se há clube que já venceu os alemães, o Porto é um deles. E este Porto de Sérgio Conceição parece ter sete vidas. Ainda há duas semanas parecia acabado e agora está cada vez mais próximo do primeiro lugar com uma vitória diante do Benfica e do Vitória de Guimarães.

Parece estar num momento crescendo e com alguns jogadores à aparecerem muito bem nesta fase da época, como é o caso de Sérgio Oliveira. Importante seria contar com Pepe em boas condições físicas para dar aquelas experiência e voz de comando que por vezes tem faltado à equipa, e ainda é mais importante, nestes desafios europeus.

O Bayern Leverkusen, é uma das boas equipas alemãs e uma habitué nestas andanças europeias. Está a fazer um boa época com comprova o actual quinto lugar a 6 pontos do líder Bayer. Na fase de grupos da Champions não conseguiu superiorizar-se aos favoritos de Juventus e Atlético de Madrid, garantindo a terceiro lugar à frente do Lokomotiv de Moscovo.

Espera-se um jogo equilibrado em que os pequenos detalhes irão definir o vencedor.

As possibilidades dependerão de que Benfica entrar em campo

Certamente que há duas semanas a confiança era outra. A equipa a jogar bem ou pelo menos qb e com a moral em cima. Duas semanas depois parece passar por uma crise de confiança com (e pelas) derrotas seguidas diante de Braga e Porto. As exibições não foram péssimas mas os resultados sim. e vantagem que tinha esfumou-se num ‘piscar de olhos’.

Contra aquele que tem sido o crónico campeão ucraniano, uma equipa com um projecto bem definido desde há muitos anos que privilegia o bom futebol. Depois de muitos anos com Lucescu na liderança, a aposta tem recaído em treinadores portugueses. Depois do excelente trabalho de Paulo Fonseca, aposta recaiu em Luís Castro que tem mantido a equipa ao nível que a tem caracterizado na última década. Presença assídua na Liga dos Campeões, nem sempre as boas exibições têm acompanhado os resultados… e caiu uma vez mais para a Liga Europa, onde será um dos candidatos.

Em teoria, seria um jogo com 50 por cento de hipóteses para cada lado, no entanto, não sabemos que Benfica vamos encontrar, ainda por mais, estando na pior fase do campeonato em termos de resultados. O nível de concentração geral da equipa baixou consideravelmente e confiança no último terço caiu muito, e isso notou-se bem nos últimos jogos.

Já não falando da época passada, o melhor versão do Benfica desta época tem muito boas hipóteses de passar. Mas, para começar, na sempre difícil deslocação à Ucrânia, de fazer um resultado que lhe permita disputar a eliminatória em Lisboa.

Prognósticos em percentagem. Vale o que vale.

Como diria um lendário capitão do Porto, “prognósticos” só no fim do jogo, mas os últimos, feitos aqui neste espaço, não foram nada maus. Desta forma, eis os prognósticos em percentagem, da probabilidade de as equipas nacionais seguirem em frente, tendo em conta o momento actual das equipas e a qualidade do adversário.

Braga 65%  – Sporting 60 % – Porto 55% – Benfica 50%


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