Arquivo de Rebels - Página 3 de 4 - Fair Play

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Francisco IsaacMarço 3, 20198min0

Acompanha todo o pós-ronda do Super Rugby aqui no Fair Play com a análise a três ou cinco pontos da maior competição de clubes do Mundo!

HURRICANES A EQUIPA COM O JOGO MAIS À SUPER RUGBY?

Saídas em catadupa, falta de reforços e dúvidas em relação à forma de algumas das suas principais estrelas, foram alguns dos pormenores que afectaram (e ainda afectam) a franquia de Welligton, os Hurricanes. Brad Shields, Julian Savea e Chrys Boyd abandonaram os furacões para irem em direcção à Europa, enquanto que só James Marshall foi anunciado como reforço vindo do exterior, levantando-se vários pontos de interrogação em relação à qualidade e profundidade do plantel agora comandado por John Plumtree.

Dane Coles, TJ Peranara, Ardie Savea e Beauden Barrett são alguns dos super-resistentes dos tempos gloriosos dos ‘canes (campeões do Super Rugby em 2016) e a pressão de fazer mais e melhor forçava uma reacção a curto/médio prazo.

Como se recordam, a formação de Wellington foi até a Nova Gales do Sul, na Austrália, ganhar aos Waratahs no fim do encontro (jogo muito cinzento de ambas as equipas) e acabou “atropelada” pelos bicampeões em título, os Crusaders. O pior vaticinou-se e com razão, uma vez que a postura na defesa era inútil ao contrário do que tinha sido em outros anos, para além de um ataque sem “magia”, jogado num ritmo taciturno com ausência total de paixão.

Contudo, passado uma semana parece que a situação mudou: os Hurricanes deram um show de rugby frente aos Brumbies, com ensaios, jogadas e combinações de meter o público louco. Mas o que alterou? Primeiro, o regresso de um dos melhores jogadores do Hemisfério Sul (senão o Melhor) ao XV foi essencial: Beauden Barrett. O abertura foi uma das “chaves” para abrir a defesa da formação de Canberra, apostando muito no jogo ao pé ou no jogo em profundidade para lançar Matt Proctor ou Ngani Laumape.

Mas a 2ª chave, e talvez a mais importante para neste jogo, foi TJ Perenara… o formação foi incansável e genial em pôr a equipa a jogar, procurando soluções de ataque que criassem suficientes problemas aos Brumbies ao ponto de rachar a linha defensiva e partir para o ensaio.

Essencialmente, os Hurricanes voltaram a se apaixonar por jogar (super) rugby, arriscando no jogo à mão dentro dos próprios 22 metros, a executarem offloads sensacionais, a criarem jogadas que envolviam ao mesmo tempo um impacto físico quase imparável onde se destacaram Laumape, Fifita, Savea ou Kirifi (muita atenção a este nome que pode vir a estar no futuro da Nova Zelândia).

Note-se que os Hurricanes fizeram 712 metros (um recorde nesta época) em 173 corridas, enquanto que os Brumbies fizeram uns meros 308 (o normal) em 140 corridas. Uma diferença abismal para além dos 38 defesas batidos contra 19 e 12 quebras-de-linha contra 4.

Os Hurricanes têm problemas no banco, mas não há dúvidas que são a equipa com o rugby mais atractivo, mais exaltante, mais animado e mais explosivo do Super Rugby e esse pormenor foi decisivo nesta 3ª jornada!

FEITO HISTÓRICO DOS SUNWOLVES COM CORTESIA DOS CHIEFS

Ao fim de três rondas de Super Rugby temos mais um feito histórico e desta vez não dos Crusaders (18ª vitória consecutiva) mas sim da formação japonesa dos Sunwolves, que “só” foram até ao recinto dos Chiefs ganhar por 30-15! Nunca antes tinham conseguido uma vitória em solo neozelandês, apesar de já terem registado duas vitórias contra franquias kiwis como aconteceu em 2017 e 2018 frente aos Blues.

Então como foi possível passarem de tão fracos que não merecem estar no Super Rugby para uma equipa que não tem só a capacidade de marcar 30 pontos aos Chiefs, mas, e principalmente, de terem apenas sofrido 15 pontos durante 80 minutos de jogo? De uma forma singela: respeitar os básicos no ataque; consistência na primeira linha de defesa e fechar o jogo interior de Damian McKenzie de forma constante; e garantir continuidade com a oval nas mãos.

Os Chiefs foram vítimas de um comportamento mental errado, mostrando-se pouco disponíveis para defenderem bem dentro dos seus últimos 22 metros (15 falhas de placagem foram registadas nesta secção do terreno de jogo) ou da falta de capacidade para fazerem bom uso da bola em zonas perigosas, com 22 erros próprios. Apesar de terem conquistado 14 penalidades aos Sunwolves, só por três ocasiões transformaram essas oportunidades em pontos, ficando evidente as fragilidades na conexão entre unidades de ataque.

Mesmo consentido as tais 14 penalidades, os nipónicos foram dominadores em vários aspectos do jogo, onde se notou uma solidez total no breakodwn e nos rucks (tornaram a vida de tal forma difícil aos Chiefs nesse parâmetro que Brad Webber mal conseguiu colocar a oval a girar), no controlo da posse de bola (apenas 13 erros, entre avants, perdas de bola no chão, etc) e na execução de offloads e passes no contacto.

Mais rigorosos e exigentes naquilo que procuravam fazer dentro do campo, acabou por ser natural o seu avanço e insistência até que conquistassem pontos e ensaios, um deles até resultou numa jogada de qualidade de van der Heever que vale a pena rever.

Para os Chiefs ter Damian McKenzie a nº10 é um problema porque o “pequeno mágico” tem mais dificuldades em criar problemas ao adversário a partir dessa posição, a somar-se à ausência de rotinas para ser um médio-de-abertura titular nos All Blacks… talvez colocá-lo a defesa enquanto não há Alaimalo?

Já os Sunwolves não fosse um bloqueio de Karmichael Hunt a um o drop de Parker na jornada passada, e estavam com 10 pontos na classificação, quase tantos como conseguiram em 2018, numa clara demonstração que estão aqui para ficar.

SERÁ ESTE O FIM DOS LIONS?

Mais uma derrota para os Lions, a 2ª consecutiva em três jornadas já decorridas do Super Rugby com os vice-campeões do Super Rugby de 2016, 2017 e 2018 algo afundados na tabela sul-africana, uma vez que estão atrás de Bulls, Sharks, Jaguares e Stormers.

O cenário actual de estarem em último da conferência sul-africana não é o ponto mais importante no entanto, pois o que preocupa tudo e todos é o mau rugby que se pratica para os lados de Joanesburgo.

Perdas de bola no contacto consecutivas, falta de apoio ao portador da bola que culmina em turnovers do adversário, placagem sem a inteligência de outros tempos (permitem ao portador ter tempo para tudo) e uma instabilidade ímpar nas fases-estáticas, onde nem Malcolm Marx pode fugir às críticas. Foram fragilidades a mais, para uma franquia que tem vindo a perder alguns dos seus melhores jogadores de forma consecutiva e que está algo descaracterizada até na forma de lutar em campo.

Os Bulls fizeram um jogo simples, com recurso ao pontapé de Pollard e aos avanços sistemáticos do pack de avançados, expondo em claro os erros defensivos da franquia de Joanesburgo que só conseguia parar através de faltas e mais faltas… o nº10 dos Springboks só teve apontar aos postes e castigar com 3 pontos por seis ocasiões, o que resultou nos pontos suficientes para garantir uma vantagem sólida.

Os Lions estão longe do que podem fazer, mas parece claro que a equipa está desconexa, sem a estabilidade emocional e de jogo mínimas para entrarem em campo com aquela confiança que fê-los derrotar as melhores equipas do Hemisfério Sul em anos anteriores. Até que ponto este descuido de resultados podem retirá-los da corrida pelos playoff?

OS JOGADORES-PORMENORES DA SEMANA

Melhor Chutador: Handré Pollard (Bulls) – 20 pontos e 90% de eficácia (6 penalidades e 1 conversão)
Melhor Placador: Marcus Kremer (Jaguares) – 25 placagens (95%)
Melhor Marcador de Ensaios: Ngani Laumape (Hurricanes) – 15 pontos (3 ensaios)
Melhor Marcador de Pontos: Handré Pollard (Bulls) – 20 pontos (6 penalidades e conversão)
O Rei das Quebras-de-Linha: Will Jordan (Crusaders) – 5 quebras-de-linha
O Jogador-Segredo: Will Jordan (Crusaders) – 121 metros conquistados, 5 quebras-de-linha, 3 defesas batidos e 1 ensaio
Lesionado preocupante: Nada a apontar
Melhor Ensaio: Will Jordan (Crusaders) vs Reds


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