5 previsões que não vão acontecer no Mundo do Rugby em 2019

Francisco IsaacJaneiro 2, 201910min0
Ma'a Nonu nos All Blacks, Wallabies como campeões do Mundo, o Toulon com juízo, entre outras são algumas das nossas previsões impossíveis de vir acontecer! Qual a melhor?

A AUSTRÁLIA VAI DOMINAR O MUNDIAL

Todos os anos é a mesma “música” que sai da Austrália: it’s our year (é o nosso ano). A começar e a acabar na Fox Sports Australia, que entre Fevereiro e Junho vende os Wallabies como a melhor selecção do Mundo, afirmando ainda que os All Blacks são ladrões, os Springboks fracos e os Pumas inexistentes… ou seja, uma venda completamente exagerada e desproporcional perante a realidade actual.

O rugby australiano nos últimos 5 anos tem criado uma máquina publicitária gigantesca, na tentativa de esconder os diversos problemas que enfrentam e que ameaçam criar ainda mais problemas ao futuro da modalidade no seu território. Comecemos pelos resultados nos séniores-profissionais:

  • Desde 2014 que não há campeão australiano no Super Rugby, sendo que também foi o último ano em que foram a uma final;
  • Os Wallabies não ganham um Rugby Championship a duas voltas desde 2001, tendo ganho o de 2015 mas que foi só a uma volta;
  • A liga nacional de rugby interna teve campeão… das Fiji, com os Fijian Drua a levantarem o título em 2018;

Mas o principal e maior problema está na formação. A Federação Australiana de Rugby não tem sabido desenvolver a modalidade e o sucesso do Rugby League, Futebol Australiano, Críquete, Futebol de 11, têm se revelado um problema para suscitar mais atletas na direcção quer do Rugby de sete e XV, somando a isto a divisão total entre Touch e Rugby que tem limitado o número de atletas a despontar no Rugby Union.

Mas, e para não ser sempre a federação portuguesa, romena, entre outras a dar o mau exemplo, a australiana tem feito um trabalho terrível na leitura das melhores zonas para “plantar” o futuro da modalidade. Com a retirada da Western Force do Super Rugby, removeu-se um profundo investimento numa província australiana em que a modalidade tinha fortes raízes e não tinha o impacto do League ou Australian Football Rules, mostrando que a direcção em exercício tem sido também responsável pela estagnação do rugby em terra de cangurus.

Michael Cheika tem sido apontado como o grande culpado da queda abismal dos Wallabies, mas os problemas, questões e dúvidas vão bem mais além. Menos jogadores, equipas de Super Rugby sem a qualidade essencial para lutar pelo título (ou por lugares nos playoff), um seleccionador agora sob o controlo de um novo director-técnico (Scott Johnson, uma lenda na Austrália), formação cada vez mais estagnada, são alguns problemas que facilmente nos permitem dizer… a Austrália não vai dominar, ganhar ou surpreender no Mundial 2018.

O RC TOULON VAI REFORMULAR A SUA POLÍTICA DE CONTRATAÇÕES

De super e supra-campeão de França, para lutar contra a despromoção no TOP14 2018/2019 é esta a vida do RC Toulon. Uma montanha-russa de emoções e erros têm levado Mourad Boudjellal a ficar louco e sem ideias do que fazer neste emblema mítico francês.

O Toulon foi das primeiras equipas a entrar pelo caminho de contratar jogadores de todo o Mundo, constituindo uma formação multilingue, espectacular e que enche capas de jornais, revistas e torna-a “apetitosa” para potenciais investidores, sendo comparável ao Real Madrid dos anos 2000. Se quisermos podemos olhar para o Toulon como os galácticos do rugby e depois de anos a dominar a liga francesa e a Heyneken Cup, estão metidos num problema monumental: a perda de competitividade.

Como é que uma equipa que tem Julian Savea, Rhys Webb, Liam Messam, Jacques Potgieter, Guilhem Guirado (abandona o clube já no final da época), Facundo Isa, Marcel van Der Merwe, Charles Ollivon, JP Pietersen, Josua Tuisova, Malakai Fekitoa, Anthony Belleau, François Trinh-Duc, Mathieu Bastareaud e Hugo Bonneval pode dar-se ao luxo de ser humilhado por vários dos seus rivais?

A inexistência de uma conexão entre jogadores, a falta de consistência exibicional, o fracasso do assumir das chefias da equipa e a constante entrada e saída de jogadores têm precipitado o Toulon para um fracasso a longo-prazo do seu projecto. Escasseiam-se opções, Boudjellal tem despedido os treinadores sem dar uma clara hipótese aos mesmos e o dinheiro um dia vai acabar.

Contratar bem e sabiamente são dois adjectivos que já não existem no dono RC Toulonnais e é esperado que cheguem ainda mais lendas e nomes-fortes da modalidade aos antigos tri-campeões da Heyneken Cup. A ideia de contratar ou confiar única e exclusivamente em jogadores franceses também não será solução… talvez, só refrear na chegada de alguns nomes e insistir em atletas menos lendários mas mais trabalhadores?

GEORGE NORTH, BILLY VUNIPOLA, MANU TUILAGI E SBW VÃO CHEGAR AO FIM DA ÉPOCA SEM LESÕES

Esta é a previsão mais complicada de ter a certeza que não vai acontecer, pois North e Tuilagi estão em boa forma e Sonny Bill Williams teve um ano e meio estranho em termos de lesões, assim como Billy Vunipola. Mas, neste momento, são quatro nomes que aparecem no topo de potenciais lesionados ou a lesionarem-se ainda durante esta época até ao Mundial que se avizinha

Comecemos pelos actuais lesionados: Billy Vunipola e Sonny Bill Williams. O nº8 da Inglaterra e nº12 dos All Blacks foram fustigados em 2018 por constantes lesões, que vão desde braços partidos até a roturas parciais nos joelhos e afins, regressando aos relvados durante umas semanas, no máximo uns poucos meses, para novamente enfrentarem novo período longe das placagens.

Para Vunipola tem sido um “castigo” total, não tendo conseguido dar o seu contributo à Inglaterra em 2018 e sentiu-se a falta do possante avançado dos Saracens. Sonny Bill Williams jogou só os últimos dois jogos do Rugby Championship a titular, para se lesionar ainda na primeira-parte frente à Inglaterra, o que prova que ambos os jogadores tiveram um ano para esquecer a todos os níveis.

Passando para o patamar seguinte, os recuperados de constantes lesões: George North e Manu Tuilagi. O ponta do País de Gales é um case study das concussões, tendo sofrido algumas passando depois em todos os testes feitos à posteriori para voltar a jogar… todavia, alguns problemas na coxa e ombro tiraram-lhe tempo de jogo nas Seis Nações, onde só foi titular por duas ocasiões (Itália e França). Recuperou no Verão, saiu dos Northampton Saints e o regresso a casa tem proporcionado um renovar de alma ao ponta galês.

Tuilagi é o último caso e aquele em que todos apostam mais em nova lesão… foram 8 lesões graves em quatro anos, com pouco tempo de jogo, longe da selecção e de poder ajudar os seus Tigers a ombrear com Saracens, Chiefs, Wasps, Gloucester, etc. Em 2018 voltou a apresentar algumas queixas, mas já teve direito a retorno à Rosa frente à Austrália, para além de estar a ser um dos melhores centros da Premiership. Parece estar fisicamente num bom nível e com a confiança redobrada nas suas capacidades.

Qual estes vai ser o primeiro a lesionar-se? Ou vão chegar todos ao Mundial “frescos” e prontos para tomar a atenção de todos?

OS BULLS E REBELS VÃO AOS PLAYOFF DO SUPER RUGBY

São neste momento duas das equipas em pior forma no Super Rugby e o futuro não parecer ser nada risonho tanto para os Melbourne Rebels (nunca foram aos playoff do Super Rugby) e os Vodacom Bulls (três vezes campeões do Super Rugby nos anos de 2007, 2009 e 2010). Os Rebels sobreviveram ao “cut” de 2017, com a Western Force a ser preterida no final das contas e mesmo recebendo uma série de atletas da franquia sediada em Perth, não conseguiram passar aos playoff.

Jordan Uelese, Adam Coleman, Matt Philip, Amanaki Mafi (abandonou os Rebels no final da época), Lopeti Timani, Will Genia, Reece Hodge, Marika Koroibete e Dane Haylett-Petty são alguns dos grandes nomes dos Rebels, com David Wessels no comando (um dos técnicos supostamente destinado a substituir Michael Cheika), ficando a poucos pontos em 2018 de atingir a fase a eliminar.

É a franquia menos “querida” pelos adeptos australianos e o estádio está sempre longe de ficar cheio, uma clara demonstração do insucesso deste grupo de Melbourne que em 2019 não vai voltar a ir aos playoff, mesmo com uns super-reforços a chegar: Luke Jones, Isi Naisarani, Quade Cooper (esteve um ano afastado do Super Rugby), Matt Toomua e Campbell Magnay.

Já os Bulls perderam o treinador, John Mitchell que está a trabalhar junto da Inglaterra, obrigados por isso a recomeçar do zero. A franquia baseada em Pretória não sabem o que é um playoff do Super Rugby desde 2014, depois de anos a incomodar as maiores franquias do Super Rugby. Foram três vezes campeões no passado, mas nem esse histórico fenomenal (são a formação sul-africana mais bem sucedida de sempre), ajuda-os agora no presente.

Um plantel muito curto de opções, a falta de direcção técnica certa, a ausência de interesse por parte da Federação de Rugby da África do Sul têm sido elementos demasiado pesados para o regressar aos bons velhos tempos, e 2019 pode ser mais um momento crítico para a existência destes Bulls.

De qualquer forma, há algumas boas notícias para os seguidores desta franquia, a começar na escolha para novo treinador: Gerhard ‘Pote’ Human. Tem sido dos técnicos com maior sucesso na Currie Cup, conseguido levar algumas equipas à principal divisão ou às finais. Em termos de contratações até agora chegaram: Schalk Brits, Paul Schoeman, Duane Vermeulen, Cornal Hendricks e Rosko Specman.

Mas será suficiente para chegar às finais da maior competição do Hemisfério Sul?

MA’A NONU VAI VOLTAR AOS ALL BLACKS

É o reforço mais sonante do Super Rugby 2019: Ma’a Nonu é jogador dos Blues até 2020. O lendário centro de 36 anos, que levantou dois campeonatos do Mundo pela Nova Zelândia e derrubou constantes adversários pelo caminho nestes últimos é agora atleta dos Blues, numa tentativa de salvar a franquia (que podia estar incluída na previsão anterior) kiwi.

No meio da confusão da chegada de Ma’a Nonu (que coincidiu com a despromoção Tana Umaga de treinador principal na franquia, para adjunto agora de Leon MacDonald), surgiram logo vozes a pedir ou a vaticinar o regresso do centro aos All Blacks… irreal este cenário. Steve Hansen já tem as suas opções para as camisolas 12 e 13 escolhidas com Ryan Crotty, Ngani Laumape, Sonny Bill Williams, Jack Goodhue e Anton Lienert-Brown a serem os centros para o Campeonato do Mundo.

Um retorno de Ma’a Nonu não é só extremamente improvável, como seria um “buraco” na lógica dos All Blacks, que montam o projecto Mundial no ano imediato ao fim do mesmo. Seria pôr fim a uma lógica que tem imperado na Nova Zelândia, quer dos tempos menos bons dos anos 2000, como do sucesso conseguido por Graham Henry e Steven Hansen.

Ma’a Nonu ainda é um jogador extraordinário, um centro que move o jogo de uma forma única, mas já não entra na lógica de convocatória da Nova Zelândia, mesmo que isso representasse um caminho mais sólido para o tricampeonato do Mundo. Um retorno do centro (que fará parelha com SBW nos Blues) só seria possível com as lesões das actuais opções para a posição.


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