Arquivo de história - Fair Play

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Marcial CortezMaio 20, 20205min0

Antes da década de 90, as equipas brasileiras não davam a devida importância à Copa Libertadores no Brasil. Os campeonatos regionais eram os mais disputados até então. Telê Santana mudou a história. Conheça um pouco mais sobre esta verdadeira lenda do futebol brasileiro.

A Copa Libertadores surgiu pela primeira vez em 1960. Durante trinta anos, as equipas brasileiras participaram do torneio, mas não se importavam em fazer parte do mesmo. Nos anos 70 e 80, era comum uma equipa poupar seus jogadores nas partidas da Libertadores em vésperas de clássicos regionais importantes, algo inimaginável nos dias de hoje. Mas o que ocorreu para que essa mudança acontecesse? A resposta a essa pergunta tem nome e sobrenome: Telê Santana.

Telê Santana nasceu em Itabirito, Estado de Minas Gerais, em 1931. Atuou como jogador em várias equipas, tornando-se conhecido nacionalmente ao jogar com a camisa do Fluminense, seu clube de coração. Ele chegou a chorar quando marcou um golo contra o Flu no final de sua carreira, época em que jogava pelo Madureira, pequena equipa do Estado do Rio de Janeiro.

Sua carreira como treinador iniciou em 1969, no próprio Fluminense, e já em sua estreia chegou a ser campeão carioca na época. Depois disso, passou por várias equipas grandes do país, com destaque por sua passagem pelo Grêmio em 1977, quando quebrou uma hegemonia de oito anos frente ao rival Internacional no campeonato gaúcho. Em seguida, foi contratado pelo Palmeiras e até hoje é lembrado por seus adeptos pela sensacional vitória contra o Flamengo de 79, com Zico e companhia, em pleno Maracanã, por 4 a 1.

Telê Santana a comandar a seleção canarinha na Copa de 82. Foto: AFP

A sequência de sucessos o levou à Seleção Brasileira em 1980, porém suas passagens pelo escrete canarinho não obtiveram bons resultados. Embora tenha comandado aquela que talvez seja a melhor seleção do Brasil após a Era Pelé, a eliminação precoce frente à Itália de Paolo Rossi na Copa de 82 na Espanha marcou a sua carreira para sempre. Após a Copa, ele foi para o mundo árabe e por lá permaneceu até 1985, quando foi novamente convidado a assumir o comando do Brasil para disputar a Copa de 86 no México.

Com uma Seleção não tão brilhante quanto a de 82, pois alguns de seus jogadores já estavam em final de carreira, o Brasil caiu novamente frente à França, nos pênaltis. A perda de duas Copas seguidas foi demais para os adeptos brasileiros, e Telê ganhou injustamente a fama de azarado, que o acompanharia por alguns anos. Depois da Copa de 86, Telê treinou as equipas do Atlético Mineiro, Flamengo e Palmeiras, sem obter sucesso em nenhuma delas. O estigma de azarado crescia a cada insucesso do técnico.

E foi em outubro de 1990 que o São Paulo resolveu apostar no treinador, naquela que seria uma parceria mais que vitoriosa. Telê chegou desacreditado numa equipa ainda mais desacreditada, recém rebaixada no Campeonato Paulista (você pode ter mais detalhes desta história no podcast Ginga Canarinha #11), e transformou o São Paulo numa verdadeira máquina de jogar bola. Já no ano seguinte, o tricolor paulista faturou o Campeonato Paulista e o Campeonato Brasileiro, o que o levou à Libertadores de 1992.

A História da Libertadores no Brasil muda radicalmente a partir de 1992, quando o São Paulo de Telê Santana vence os argentinos do Newell´s Old Boys nos pênaltis e ganha o Campeonato, carimbando o passaporte para a disputa da Copa Intercontinental no Japão, onde venceu o Barcelona e garantiu o primeiro título mundial da equipe do Morumbi. Na sequência, ainda faturou o Campeonato Paulista vencendo o Palmeiras (que iniciara uma vitoriosa parceria com a italiana Parmalat) na final do certame. Assim, em dezembro de 1992, Telê ganhou o título de “Melhor Técnico da América do Sul”, pelo jornal uruguaio “El País”. A fama de azarado havia acabado, definitivamente.

Em 93, novo sucesso tricolor. O bicampeonato da Libertadores veio com uma vitória sobre a Universidad Católica do Chile na final, e novamente o São Paulo foi ao Japão, desta vez para enfrentar o Milan e vencer pelo placar de 3 a 2, sagrando-se bicampeão mundial. E como se isso não bastasse, o tricolor do Morumbi ainda ganharia a Recopa contra o Cruzeiro e a Supercopa Libertadores contra o Flamengo, totalizando quatro títulos internacionais oficiais no mesmo ano, marca até hoje não superada por nenhuma outra equipa brasileira. Telê Santana ganhou o apelido de Mestre, que o acompanhou até sua morte, ocorrida em 2006.

Telê e seus jogadores com a Copa Toyota Intercontinental. Foto: Divulgação São Paulo

O bicampeonato mundial do São Paulo de Telê Santana mudou o futebol brasileiro. A partir de 1994, todas as grandes equipas brasileiras passaram a olhar a Libertadores com outros olhos. A maior prova disso é o número de títulos: na fase pré-Telê: em 31 anos de competição, somente cinco Copas foram conquistadas por apenas quatro equipas brasileiras – Santos de Pelé (61 e 62), Cruzeiro (76), Flamengo (81) e Grêmio (83). Curiosamente, nenhuma equipa da capital do Estado de São Paulo.

Na era pós Telê, as equipas brasileiras conquistaram nada mais nada menos que 14 títulos (incluindo os dele), em 28 anos de competição. Chegamos até a ter, por dois anos seguidos (05 e 06), a finalíssima disputada entre duas equipas brasileiras! Conquistaram a Copa as equipas do Vasco (98), Palmeiras (99), Internacional (06 e 10), Corinthians (12) e Atlético Mineiro (13). Além destas, todas as equipas que já tinham títulos na era pré-Telê reconquistaram a Taça: Grêmio (95 e 17), Cruzeiro (97), São Paulo (05), Santos (11) e Flamengo (19).

É verdade que a Conmebol aumentou consideravelmente o número de vagas para equipas brasileiras nos últimos anos, o que matematicamente aumenta a chance dos nossos times, mas sem dúvida a sinergia do Mestre Telê com o Tricolor Paulista deixou um legado e teve papel fundamental nesta mudança de postura do futebol brasileiro na competição continental.

 

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Virgílio NetoSetembro 28, 20193min0

O Brasil não teve a tradição de Portugal em relação aos diários desportivos, mas uma revista semanal cuja história confunde-se com o desporto-rei no país sul-americano: a "Placar" teve e tem papel fundamental para o futebol brasileiro.


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