A Segunda Grande Guerra e as mudanças de nome no futebol do Brasil
Dentro dos factos da Segunda Grande Guerra, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo, nomeadamente Alemanha, Itália e Japão, em Agosto de 1942. Inclusive enviou à Europa mais de 20 mil soldados que combateram sobretudo na Península Itálica. Entretanto, esta é outra história. O conflito bélico teve influência directa do desporto do Brasil, especificamente o futebol.
Para as despedidas das tropas brasileiras foram feitos eventos de culto patriótico entre eles dois amigáveis contra o Uruguai, um no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. Partiram para o front futebolistas de destaque, como Bidon (São Cristóvão), Perácio (do Botafogo e que jogou o Mundial de 1938), Walter (Corinthians) e o guarda-redes Bráulio (Atlético Mineiro). Simultaneamente tinha início, no Brasil, um aumento no rigor na vigilância da polícia política a alguns grupos de estrangeiros e seus descendentes, feito pelo Departamento de Ordem Política e Social (DEOPS), para evitar acções de espionagem.
Os já populares Corinthians e Palestra Itália (equipas que atraíam os imigrantes) tiveram que expulsar alguns membros. Neste último clube, predominavam os italianos. Dentre os corinthianos havia espanhóis, árabes, judeus e também italianos. De acordo com o projecto nacionalista do Estado Novo (entre 1937 e 1945 já tratado neste espaço), associados e dirigentes de clubes ligados aos países do Eixo tiveram que ser afastados sob alegação de serem cúmplices com o governo daqueles países. A desobediência a estas normas poderia causar o fechamento da instituição.
Entretanto, o que mais marcou aqueles tempos foram as mudanças dos nomes dos clubes, dentro do projecto de nacionalização somado à declaração de guerra aos países do Eixo. Os “Palestras Itálias” de Minas Gerais e São Paulo mudaram seus nomes em definitivo para Cruzeiro e Palmeiras, respectivamente. Em 20 de Setembro de 1942 o “Palestra Italia São Paulo”, rebatizado como “Sociedade Esportiva Palmeiras”, entrava em campo pela primeira vez e a carregar uma bandeira do Brasil. Era um clássico contra o São Paulo, pelo Campeonato Paulista. Vencem o jogo e dão início à conquista do título em episódio conhecido como “Arrancada Heroica” (que dá nome a uma passarela próxima à sede do clube).
Outra mudança marcante foi a do Esporte Clube Pinheiros, fundado “Sport Club Germânia”, cujo antigo nome é clara associação à Alemanha. O novo nome deu-se em função do rio que passa por perto da sede, entretanto mantiveram-se as cores azul, preto e branca em referência ao país de origem dos fundadores. O actual Jabaquara Atlético Clube, da cidade de Santos, fora fundado em 1914 por imigrantes espanhóis com o nome de “Hespanha Foot Ball Club” (com “H” mesmo). Por se tratar do nome de um país, o que não era permitido com o projecto de nacionalização, mudou-se o nome para “Jabaquara Atlético Clube”, em razão da zona de fundação da instituição.
Em 1945 termina a Segunda Grande Guerra mas os nomes não voltaram a ser os de antes. Cruzeiro, Palmeiras e Jabaquara caíram no gosto popular e da imprensa. Muitos dos seus adeptos já eram brasileiros filhos de imigrantes europeus, e alguns deles lutaram sob o emblema da “Força Expedicionária Brasileira” contra o nazi-fascismo. O Palmeiras inclusive, em seu hino, tem o seguinte verso: “Torcida que canta e vibra/pelo nosso alvi-verde inteiro/que sabe ser Brasileiro/ostentando a sua fibra!”. De imediato não chama tanto a atenção, mas estas mudanças teriam grande impacto no futebol do Brasil, sobretudo para conquistar novos adeptos e formar bases para fornecer bons futebolistas para a seleção brasileira.