Arquivo de Coronavírus - Fair Play

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Renato SalgadoAbril 9, 202011min0

Sem sucesso na negociação coletiva, os clubes da elite do Brasil iniciaram abril em situações distintas em relação aos salários de jogadores e funcionários durante a paralisação do futebol. Há quem não mexerá na remuneração, quem ainda tenta acordo e outros que já acertaram uma redução.

As férias coletivas já estão em curso, mas Atlético-MG e Fortaleza foram os que anunciaram um corte mais profundo na própria carne, chegando a até 25%. O time mineiro manteve um piso de R$ 5 mil. Ou seja, quem ganha menos que isso não sofre perdas: 77% dos funcionários, segundo estimativa do presidente Sérgio Sette Câmara. Além disso, o desconto percentual é escalonado. Os 25% atingem o topo da pirâmide.

No Rio, o Flamengo mantém o salário integral de abril e já informou no balanço que, caso a interrupção de jogos dure até três meses, o impacto será “absorvível”, sem representar riscos para as finanças do clube.

O Botafogo, que do exercício de 2020 pagou só janeiro, decidiu que não mexerá no salário dos jogadores.

— Não vamos tomar a decisão de salário agora. Não é algo tão simples, traz desgaste junto ao elenco. Queremos evitar ao máximo. É uma decisão extrema. Não tem sentido se precipitar — explicou Luiz Felipe Novis, vice de finanças alvinegro.

O Vasco conseguiu nesta semana finalmente encerrar os compromissos relativos a 2019. Em relação aos salários, o clube apostava inicialmente no acordo coletivo com a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf). Apesar do fim das conversas entre a entidade e a comissão de clubes, cuja recomendação é negociar individualmente, o cruz-maltino ainda não avançou. O presidente Alexandre Campello mantém diálogo com o capitão Leandro Castan, mas não há números fechados.

O presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, foi quem capitaneou a negociação com o sindicato dos jogadores. Mas ele também tem as questões internas para resolver. Diretores, gerentes e prestadores de serviços toparam 15% de redução salarial enquanto durar a pandemia. Nesta quarta-feira, o tricolor pagou 25% da folha de fevereiro, que venceu no quinto dia útil de março.

Na Série A, há clubes que fecharam acordo com os jogadores, mas evitam revelar o percentual. É o caso de Ceará e Grêmio. O Bahia também costura acordo:

— Estamos conversando com os atletas para definirmos até o início da próxima semana. Só vamos falar em números após o acordo. Estamos fazendo internamente primeiro — explicou Guilherme Bellintani, presidente do clube baiano.

No futebol paulista, há um cenário de incerteza em relação ao São Paulo. A primeira proposta do clube — redução de 50% dos salários — foi rejeitada pelos jogadores. O Palmeiras quer honrar os compromissos por inteiro. O Santos segue essa linha, enquanto o Corinthians analisa o cenário de crise antes de formalizar qualquer movimentação.

O Atlético-GO vive um certo aperto. Decidiu pagar março integralmente, mas abril é uma incógnita, até porque precisa lidar com a saída de patrocinadores.

— Esperamos que haja alguma medida do governo e da CBF. Nosso segmento emprega muita gente — disse o presidente Adson Batista.

Situação nos clubes da Série A

Athletico: Jogadores liberados por tempo indeterminado.

Atlético-GO: Além de férias, pagará março integralmente. Não definiu os meses seguintes.

Atlético-MG: Redução de 25% sobre o salário de funcionários, incluindo diretoria, jogadores e comissão técnica, pelo período em que durar a pandemia do coronavírus.

Bahia: Férias de 1º a 20 de abril. Conversa com atletas para definir questão salarial até o início da próxima semana.

Botafogo: Férias entre 1º e 20 de abril. Decidiu não reduzir salários dos jogadores agora.

Red Bull Bragantino: Pagará salário integral dos atletas. Férias de 1º a 20 de abril.

Ceará: Fez acordo para redução percentual do salário dos jogadores em março e abril. Não revela o número. Deu férias de 20 dias.

Corinthians: Férias de 20 dias. Não definiu a questão salarial.

Coritiba: Pagará salários de forma integral.

Flamengo: Férias de 20 dias. Pagará os salários integralmente.

Fluminense: Férias de 1º a 20 de abril. Diretores, gerentes e prestadores de serviços propuseram redução de 15% dos salários durante paralisação.

Fortaleza: O salário do elenco de março, pago em abril, terá abatimento de 25%, a ser quitado depois. Do salário de abril, jogadores renunciaram 10% em definitivo. Mais 15% será pago depois. Executivos do clube toparam 15% de renúncia definitiva enquanto durar o problema.

Goiás: Férias até o dia 20 de abril. Jogadores e clube negociam redução salarial.

Grêmio: Deu férias de 1º a 20 de abril. Anunciou redução salarial dos jogadores, mas não informou percentual.

Internacional: Concedeu férias de 1º a 20 de abril. Ainda avalia números antes de decidir negociar redução salarial com os jogadores.

Palmeiras: Férias de 1º a 20 de abril. Pretende manter os salários dos jogadores.

Santos: Férias de 1º a 20 de abril. Não pretende reduzir salários.

São Paulo: Determinou férias de 2 a 21 de abril. Propôs aos jogadores corte de 50% no salário pago em carteira e suspensão dos direitos de imagem a partir deste mês (com pagamento previsto para o início de maio). O acordo não foi fechado.

Sport: Tenta negociação individual. Férias de 20 dias.

Vasco: Deu férias de 20 dias. Aguarda negociação coletiva com os jogadores.

 

CBF anuncia medidas de apoio financeiro aos clubes e Federações

Entidade repassará às equipes que disputam as Séries C e D valores equivalentes à média de duas folhas salariais dos atletas de cada competição. O mesmo apoio será dado aos participantes das Séries A1 e A2 do Campeonato Brasileiro Feminino.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) vai destinar R$ 19 milhões, a título de doação, para a base da pirâmide do futebol coordenado pela entidade em competições de nível nacional, em função das dificuldades causadas pela pandemia do novo coronavírus. Cada clube que disputa as séries C e D do Campeonato Brasileiro vai receber um auxílio financeiro direto no valor equivalente a duas vezes a folha salarial média dos atletas de cada uma dessas divisões, segundo dados apurados no sistema de registro de contratos da CBF. A mesma medida será aplicada ao futebol feminino e destinada aos clubes que disputam as Séries A1 e A2 do Campeonato Brasileiro.

Serão beneficiados 140 clubes, em uma ação realizada pela CBF com o apoio das Federações Estaduais. O objetivo é colaborar para que esses clubes possam cumprir seus compromissos com os jogadores e jogadoras durante o período de paralisação do futebol. Além disso, a CBF decidiu doar para cada uma das Federações Estaduais o valor de R$ 120.000,00 (Cento e vinte mil reais).

“Vivemos um momento inédito, de crise mundial, cuja extensão e consequências ainda não podem ser calculadas. É necessário, portanto, agir com critério e responsabilidade. O nosso objetivo, com essas novas medidas, é fornecer um auxílio direto imediato. Mas, além disso, temos que seguir trabalhando para assegurar a retomada do futebol brasileiro no menor prazo possível, quando as atividades puderem ser normalizadas”, afirma o presidente da CBF, Rogério Caboclo.

Os recursos de R$ 19.120.000,00 serão destinados da seguinte forma:

– Para os 68 clubes da Série D, o auxílio individual será de R$ 120.000,00 (Cento e vinte mil reais), num total de R$ 8.160.000,00 (Oito milhões, cento e sessenta mil reais).

– Para os 20 clubes da Série C, o auxílio individual será de R$ 200.000,00 (Duzentos mil reais), num total de R$ 4.000.000,00 (Quatro milhões de reais).

– Para os 16 clubes da Série A1 do Campeonato Brasileiro Feminino, o auxílio individual será de R$ 120.000,00 (Cento e vinte mil reais), somando R$ 1.920.000,00 (Um milhão, novecentos e vinte mil reais).

– Para os 36 clubes da Série A2 do Campeonato Brasileiro Feminino, o auxílio por clube será de 50.000,00 (Cinquenta mil reais), com o desembolso total, pela CBF, de R$ 1.800.000,00 (Um milhão e oitocentos mil reais).

– Para as Federações Estaduais, são R$ 120.000,00 (Cento e vinte mil reais) por entidade, num total de R$ 3.240.000,00 (Três milhões, duzentos e quarenta mil reais).

O pagamento dos valores destinados aos clubes será realizado a partir desta terça-feira, 7. Essas ações se somam a outras medidas tomadas anteriormente pela CBF, também com impacto financeiro direto para o sistema do futebol:

– Isenção por tempo indeterminado aos clubes das taxas de registro e transferência de atletas. A medida deve gerar aos clubes uma economia em torno de R$ 4.000.000,00 (Quatro milhões de reais) nos primeiros três meses de aplicação.

– Adiantamento de uma parcela de R$ 600.000,00 (Seiscentos mil reais) para os clubes da Série B do Campeonato Brasileiro referentes aos direitos de TV da competição, feito com recursos próprios da CBF, no valor total de R$ 12.000.000 (Doze milhões de reais).

– Adiantamento aos árbitros do quadro nacional do pagamento de uma taxa de arbitragem, calculada a partir da maior taxa paga pela CBF em 2019 para sua categoria, no valor total de R$ 900.000,00 (Novecentos mil reais).

Com isso, as doações e isenções da CBF aos clubes e Federações alcançam R$ 23.120.000,00 (Vinte e três milhões, cento e vinte mil reais). Somadas aos R$ 12.900.000,00 (Doze milhões e novecentos mil reais) em adiantamentos, as ações da CBF representam um total de R$ 36.020.000,00 (Trinta e seis milhões e vinte mil reais).

Além dessas medidas emergenciais, a CBF mantém seu compromisso com o investimento no futebol. Em 2019, a entidade aplicou R$ 535 milhões no futebol brasileiro, em suas diversas áreas. A CBF arca com os custos, no todo ou em parte, de 20 competições, que garantem milhares de empregos na indústria do futebol. Por exemplo, somente na realização das Séries C e D do Campeonato Brasileiro, há um investimento de cerca de R$ 80 milhões.

“Vamos manter os investimentos para permitir a realização das competições previstas para 2020”, diz Rogério Caboclo. “O nosso maior compromisso para preservar clubes e empregos é fazer a indústria do futebol voltar a funcionar quando a retomada for possível”, completa Caboclo.

Desde que suspendeu todas as competições nacionais e articulou com as Federações Estaduais para que fizessem o mesmo, a CBF trabalha em quatro eixos de ações:

1 – Preservação dos contratos e receitas dos clubes: a manutenção dos contratos existentes, em especial os contratos de direitos de televisão, que são a base da sustentação dos clubes, além dos patrocínios. Em relação à receita advinda da bilheteria, a CBF vem construindo diferentes alternativas de adequação do calendário, a partir da primeira data em que seja possível retomar as competições. Além disso, a CBF terá total flexibilidade para adotar medidas que viabilizem a conclusão de todas competições previstas para 2020.

2 – Acordos trabalhistas: através da Comissão Nacional de Clubes, a CBF apóia um processo de diálogo que permita acordos trabalhistas justos e equilibrados para clubes, atletas e funcionários. O primeiro fruto foi a decisão por consenso dos clubes de concessão de férias coletivas no mês de abril.

3 – Governo Federal: a Entidade está levando propostas juridicamente sustentáveis para que o futebol seja preservado. A CBF defende que sejam estendidas aos clubes as medidas que o governo federal vem oferecendo para as empresas, no sentido de resguardar empregos e os compromissos financeiros de curto prazo. No caso do PROFUT, uma lei específica para o futebol, a proposta é que os clubes recebam um prazo para readequar o pagamento de suas obrigações tributárias.

4 – Crédito: A CBF tem dialogado com o mercado financeiro para permitir o acesso dos clubes a linhas de crédito com juros baixos, que viabilizem atravessar o momento de paralisação dos campeonatos.

A CBF continua trabalhando intensamente, em conjunto com clubes e Federações, para que o futebol brasileiro supere esse enorme desafio.

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Renato SalgadoMarço 25, 20207min0

Assim que a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil, uma das primeiras medidas de combate adotadas pelas autoridades foi recomendar a paralisação do futebol. Capazes de atrair multidões semanalmente em várias regiões do país, os eventos esportivos logo foram suspensos com o intuito de evitar aglomerações. Os campeonatos paulista e carioca, os mais populares do país, tiveram sua última rodada disputada no fim de semana dos dias 14 e 15 – a maioria dos jogos de portões fechados. Desde então, os clubes envolvidos dispensaram atletas de todas as categorias e boa parte dos funcionários, desocupando estádios e centros de treinamento. Em uma situação de calamidade pública, algumas estruturas esportivas que estão vazias foram colocadas pelos responsáveis a serviço das autoridades públicas em diferentes Estados “para aquilo que for necessário”, de postos de vacina a recepções de doentes, enquanto durar a pandemia.

O primeiro da lista a agir foi o Athletico Paranaense. Curitiba está num dos Estados com 25 casos confirmados até sábado, e Athletico soltou um comunicado na hora do almoço de quinta-feira (19) informando que coloca à disposição das autoridades de saúde do Estado e do município o Centro Administrativo de Treinamentos Alfredo Gottardi, conhecido como CAT do Caju, e o Estádio Joaquim Américo Guimarães, a popular Arena da Baixada, que foi sede da Copa do Mundo de 2014, “para o uso que entenderem necessário, visando a vacinação e/ou tratamento de pessoas acometidas pelo Covid-19”.

Foto: ORLANDO KISSNER/AFP via Getty Images

A atitude foi seguida pelo São Paulo, clube que fica no epicentro da epidemia do novo coronavírus no Brasil. Na capital paulista, até esta sábado foram registrados 459 casos, e 15 mortes, o epicentro da crise. Poucas horas após o Athletico, o São Paulo divulgou uma nota oficial assinada pelo presidente Carlos Augusto de Barros e Silva “assumindo a responsabilidade social (…) em disponibilizar toda a infraestrutura do São Paulo Futebol Clube para aquilo que for necessário, inclusive o Estádio Cícero Pompeu de Toledo”. Conhecido como Morumbi, o estádio, que tem um clube e um complexo social alocado a ele, pode desempenhar uma função estratégica por ficar localizado nos arredores do Hospital Albert Einstein, um dos mais importantes no combate contra a doença na capital. Os responsáveis pelo clube sugerem usar o estádio como local para coleta de sangue ou alojamento dos pacientes. A assessoria da Secretaria de Saúde do Estado confirmou ao jornal Folha de S. Paulo que recebeu o comunicado e avaliará as opções disponíveis.

Estádio Allianz Parque que está sendo usado de posto de saúde para campanha de vacinação contra H1N1. Foto: blogspot.com

Corinthians, Palmeiras e Santos seguiram o exemplo pouco tempo depois. Corinthianos deixaram à disposição do Governo a Arena Corinthians em Itaquera, o Centro de Treinamento Joaquim Grava e o Parque São Jorge, enquanto santistas disponibilizaram “todas as suas dependências para que sejam utilizadas pela Secretaria de Saúde do município”, que incluem o estádio Vila Belmiro e o CT Rei Pelé. O Palmeiras autorizou sua arena, o Allianz Parque, a receber a campanha de vacinação contra a gripe influenza, que começa no próximo dia 23 para idosos com mais de 60 anos e profissionais de saúde. As autoridades confiam que a campanha pode ser fundamental por diferenciar os pacientes da gripe dos que sofrem de coronavírus e diminuir a possível sobrecarga do sistema de saúde. Palmeirenses disseram que seus “recursos” estão “a serviço da sociedade”.

Foto do hospital de campanha no Estádio do Pacaembu começou a ser construído no domingo(22). Serão 202 leitos com objetivo de liberar espaço nas unidades municipais e aumentar a capacidade dos hospitais de atender pacientes com Covid-19. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO

Ainda em São Paulo, a Prefeitura anunciou na manhã desta última sexta-feira que o estádio do Pacaembu receberá 200 leitos de baixa complexidade para atender pacientes com suspeita de infecção pelo novo coronavírus. Outros 1.800 leitos serão colocados no sambódromo do Anhembi, que também pertence à Prefeitura. “Nesses espaços nós podemos fazer o acompanhamento da população que não se encontra numa situação de alto risco, mas precisa de uma atenção do poder público”, afirmou o prefeito Bruno Covas.

Outros Estados tiveram exemplos de solidariedade vindos de dentro do campo. No Rio de Janeiro, onde três mortes pelo novo coronavírus foram divulgadas até sábado, o Botafogo deixou seu estádio Nilton Santos à disposição do Governo “no que for necessário no período da pandemia”. O mesmo fez o Cruzeiro em Belo Horizonte com seus dois clubes sociais, sede campestre e parque esportivo no bairro do Barro Preto. Bahia e Fortaleza também agiram, oferecendo os CTS Fazendão e Ribamar Bezerra, respectivamente. A estrutura baiana foi inspecionada pela Secretaria de Saúde do Estado e já foi aprovada para a recepção de pacientes da Covid-19.

Assim como o Palmeiras, o Goiás se comprometeu a ajudar na campanha da vacina contra a gripe influenza. A partir do dia 23, o estádio Serrinha, localizado em Goiânia, será um posto de vacinação para idosos e profissionais de saúde. Longe do epicentro brasileiro da Covid-19 e das estruturas mais ricas do futebol nacional, o Juventude de Caxias do Sul deixou seu ginásio coberto, localizado no centro de treinamento, à disposição da Prefeitura, e o Náutico de Recife colocou seu CT a serviço do Governo pernambucano. O Rio Grande do Sul tem, por enquanto, 60 casos confirmados, enquanto Pernambuco tem 30. “O mundo precisa ganhar essa”, resumiu a diretoria do Náutico através de comunicado. “E somos todos do mesmo time, porque a luta pela vida está em jogo”.

A concessionária Arena BSB, que administra o Estádio Nacional de Brasília, mais conhecido como Mané Garrincha, colocou a arena mais cara da Copa do Mundo de 2014 à disposição do governo do Distrito Federal para o combate à pandemia do novo coronavírus. O estádio poderá ser utilizado como centro de triagem ou hospital de campanha pela Secretaria de Saúde. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, sinalizou apoio à medida. “Já vistoriamos e é um bom local”, afirmou. De acordo com a gestora do Mané Garrincha, a localização central do estádio pode aliviar a rede hospitalar para pacientes com maiores gravidades. “Entendemos que disponibilizar a estrutura do estádio é assumir uma cota de responsabilidade social neste momento tão crítico. Estamos dispostos a colaborar em todas as ações necessárias para a minimização da epidemia e suas consequências”, afirmou o diretor presidente da Arena BSB, Richard Dubois, em nota.

Foto: Djalma Vassão/Gazeta Press
Estádio Mané Garrincha, em Brasília

Agora, é esperar que o povo brasileiro tenha a noção da importância de ficar em quarentena em casa para impedir o contágio e a contaminação do coronavirus como vem ocorrendo em diversos países na Europa, Ásia e agora nos EUA. E apesar de toda essa situação caótica que estamos vivendo, vale ver a solidariedade das pessoas e dos clubes de futebol para impedir uma tragédia maior!

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Bruno Costa JesuínoMarço 20, 20206min0

Em três décadas de vida nunca eu vi falar-se tão pouco de futebol. Muitas vezes parece ser um desporto que funciona num mundo à parte mas é jogado e gerido por humanos. E o ser humano tem a capacidade tanto de nos surpreender como de nos desiludir de um minuto para o outro. Mas depois de muita hesitação o futebol entrou em quarentena num mundo de oito e oitentas.

Pára. Não Pára. Pára um bocadinho. Até que pára de vez.

Houve quem tentasse manter o futebol activo mesmo numa altura em que já era o que menos interessava, mas felizmente houve consciências que o pararam. Aos poucos, mas pararam. O mundo começou a parar. O desporto parou. O futebol tinha de parar.

Várias actividades desportivas já deveriam ter parado há mais tempo. Sendo um problema transversal a todo a toda a humanidade, não fez qualquer sentido realizarem-se jogos num determinado local, enquanto outros jogavam à porta fechada ou iam sendo adiados.

Felizmente houve quem teve a ‘coragem’ de parar mais cedo. Num mundo global e com poucas fronteiras não serve a desculpa: “ah e tal mas aqui não tínhamos casos”. Com a constante circulação de pessoas de um lado para outro, um vírus de transmissão fácil como este viaja de um lado ao outro do mundo num ápice. Bons exemplos como de Macau, que ali ao lado da origem do vírus, fechou as suas fronteiras desde as primeiras notícias de casos.

O vírus que está a virar tudo de ‘pernas para o ar’

Ligamos a televisão, olhamos para as notícias. Fazemos zapping. Passamos pelos canais de informação. Nada. Nada de futebol. Vá quase nada. Nem para segundo, nem para terceiro plano, passou para décimo plano. Sendo que os outros nove se referem, por motivos tão óbvios quanto sérios, ao vírus que está a virar tudo de pernas para o ar.

O mais importante agora não é saber quem vai ser campeão ou a forma mais justa de o decidir, quando vai ser o Europeu, como os jogadores podem treinar… Como diria o grande JJ – que felizmente acusou negativo ao terceiro teste – isso são ‘peaners’. Importa centrar-nos nesta ‘guerra’ contra um inimigo invisível em que a nossa maior arma é o civismo e respeito pela ordem de quarentena, sendo esta voluntária ou não.

“O futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes”

Gostaria muito de dizer que esta frase era da minha autoria, mas infelizmente não é. Adoro frases que em poucas palavras dizem muita coisa e, esta afirmação do treinador italiano Arrigo Sacchi, encaixa que nem uma luva na situação actual. Encaixa tanto, que vou voltar a escrevê-la só para a lerem uma vez mais: “O futebol é a coisa mais importante entre as coisas menos importantes”,

A paixão sem limites que nos tira os pés do chão

Não será por acaso que é apelidado de desporto rei. O futebol move multidões, emoções, desejos, vontades, desesperos, frustrações e, tantos outros, sentimentos. É um verdadeiro fenómeno social, fortemente ligado à vida cultural em todo o mundo. Desperta a paixão de milhões de pessoas, libertando o lado mais instintivo e competitivo daqueles que acompanham cada jogo, na televisão ou na internet e até viajam para o outro lado do mundo para apoiar as cores do seu clube.

Com base neste comportamento social, o futebol muitas vezes parece a coisa mais importante da vida… pelo menos durante 90 minutos.

Futebol é uma das indústrias importantes

Apesar de não ser o mais importante, não podemos deixar de ver o futebol como uma ‘indústria’ importante. Tanto a nível de clubes como de seleções move milhões e milhões, e tem um impacto significativo no sector da economia e até do turismo. Deve ser tratado com a devida importância mas pondo, pelo menos por agora, a parte mais irracional de lado.

Muitos dos responsáveis do futebol, um pouco por todo o mundo, tentaram adiar as paragens dos campeonatos centrando-se apenas no desastre financeiro que seria. No entanto, como deveria ser sempre, os protagonistas principais foram os jogadores. Aproveitando o popularidade que têm, muitos deles lançaram nas redes sociais apelos para o futebol parar e para as pessoas ficarem em casa. Felizmente funcionou.

Portugal como campeão europeu até 2021?

O Campeonato da Europa vai ser mesmo adiado, ao que tudo indica para 2021. No entanto, também é possível que possa acontecer nos últimos meses de 2020, servindo de adaptação para o Mundial do Qatar de 2022 que se vai realizar de 21 novembro a 18 de dezembro. É uma hipótese que poderá fazer muito sentido, caso esta situação pandémica fique controlada nos próximos 3 ou 4 meses. Até lá, Portugal continua como campeão europeu até 2021.

Mas por enquanto vamos centrar-nos em vencer o campeonato da vida derrotando o Covid-19.

Vamos jogar o verdadeiro derby

Ontem, enquanto escrevia este artigo, tinha feito o apontamento que o queria acabar com o mote  “vamos jogar o verdadeiro derby”. Pouco depois, deparei-me com uma partilha que tinha esta descrição:

“Num momento que nunca foi por nós vivido, pede-se que sejamos os atores principais de um qualquer filme apocalíptico que nos habituámos a ver pela televisão”

“Agora coloquemo-nos todos a centrais e de forma bem clara vamos deixar este vírus fora de jogo!”
Venceremos ❣️?? “

Conteúdos de qualidade. Precisam-se.

Numa altura em que a infodemia é maior que a pandemia, é bom dar relevo, partilhar e agradecer os conteúdos de qualidade, sejam eles informativos ou inspiracionais, como este. Bem precisamos. Obrigado ao Guilherme, pela autoria (mais uma), e à Sara, cujo timing de partilha fez com que visse este vídeo e o incluísse no artigo.

 


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


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