A Primeira Metade e a Silly Season da Fórmula 1

Gonçalo MeloSetembro 5, 201911min0

A Primeira Metade e a Silly Season da Fórmula 1

Gonçalo MeloSetembro 5, 201911min0
Iniciou-se no passado fim de semana a segunda metade da temporada de Fórmula 1 de 2019. Com ela veio também em força a Silly Season, onde os rumores sobre trocas e contratações de pilotos são constantes, sendo que neste desporto, muitas vezes fatores extra ao talento e à qualidade são fundamentais para garantir um lugar na grelha.

Vivemos neste final de Verão uma das alturas mais atrativas na Fórmula 1. Numa altura em que se inicia a segunda metade da época, é precisamente nesta altura que os pilotos começam a perceber o seu futuro na próxima temporada, numa altura em que os resultados e o jogo de bastidores são fundamentais para os pilotos conseguirem um dos cobiçadíssimos 20 lugares da grelha naquela que é a rainha dos desportos motorizados. Vamos em seguida analisar e tentar prever o próximo ano das dez equipas da F1.

Mercedes

Os crónicos campeões dos últimos anos estão mais uma vez a dominar a maioria das corridas. O carro é claramente superior em termos de chassis e downforce, sendo imbatível nas pistas mais técnicas e com menos retas longas, onde a Ferrari leva vantagem. Tirando uma mão cheia de circuitos (Bahrain, China, Canadá, Bélgica, Itália), a marca alemã domina com alguma facilidade, havendo ainda a força da RedBull nos circuitos mais curtos como o Mónaco, Áustria ou Hungria.

Hamilton vai a caminho de mais um titulo, e tem no próximo ano o objetivo de chegar aos 7 títulos de Schumi, ao passo que o seu parceiro Valtteri Bottas também merece a confiança para mais um ano, provavelmente para dar mais experiência ao jovem promissor George Russell, ou preparar uma investida por Verstappen.

Ferrari

Uma época completamente falhada até agora por parte da turma de Maranello, que depois de ter conseguido carros competitivos e mais próximos da Mercedes em 2017 e 2018, deu um tiro ao lado com o SF90, um carro portentoso nas retas mas muito fraco nas zonas mais lentas das pistas. As estratégias têm sido regularmente erradas e sem sentido, comprometendo muitas vezes as prestações de Vettel e Leclerc, para não falar dos problemas que os carros têm tido na regeneração da unidade de potência, que têm sido algo recorrentes e que comprometem o ritmo de corrida, tirando a vitória de Leclerc no Bahrain e comprometendo várias qualificações.

O ritmo de corrida também é bastante mais fraco do que o das flechas prateadas, como ficou provado no Canadá quando Vettel quase foi ultrapassado por Hamilton, e na Áustria com Verstappen a perseguir e a conseguir tirar a vitória a Leclerc. O monegasco está certo na próxima época, e o 4 vezes campeão do mundo Vettel também deverá continuar pelo menos mais um ano, apesar de não ser certo que o alemão de 32 anos não faça uma pausa na carreira.

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O SF90 não correspondeu às expectativas (Formula1.Ferrari)

Red Bull

A construtora austríaca está a surpreender nesta sua primeira época de parceria com a Honda, uma vez que o carro parece extremamente competitivo nas várias pistas, denotando boa velocidade de ponta e capacidade nos slow corners. Verstappen está a ter a sua melhor época de sempre, estando em terceiro atrás dos dois Mercedes, somando vitórias na Áustria e na Alemanha. No entanto, o fraco rendimento de Pierre Gasly fez com que a equipa não conseguisse até agora ultrapassar a Ferrari na classificação dos construtores.

O francês foi paupérrimo na sua ascensão à Red Bull, tendo sido antes do GP da Bélgica despromovido à Toro Rosso, por troca direta com Alexander Albon, que teve uma estreia em grande ao conseguir um quinto lugar depois de ter começado no décimo sétimo lugar da grelha. O posto de parceiro de Verstappen é provavelmente o mais cobiçado, sendo que neste momento Albon parece estar na pole para garantir a sua continuidade em 2020. Ainda assim, o tailandês deverá manter este nível, uma vez que o russo Daniil Kvyat está a conseguir uma época soberba na Toro Rosso, e não é de descurar um regresso à Red Bull por parte do “torpedo”. Outro nome que se fala nos corredores da equipa austríaca é o de Nico Hulkenberg, alemão que perdeu o lugar na Renault e que sempre foi considerado um dos mais talentosos da grelha, mas que detém o record de mais corridas sem um único pódio.

McLaren

Um regresso aos bons resultados há muito anunciado da grande construtora britânica. Uma época até agora quase perfeita para os homens de Zek Brown, que apresentam a dupla mais jovem desta temporada de Fórmula 1 e deixaram de vez para trás os anos negros da parceria com a Honda. Carlos Sainz revelou-se uma aposta certeira, o espanhol que não foi aproveitado pela Red Bull (devido à sua conhecida animosidade com o menino bonito da equipa Max Verstappen) é neste momento 7º classificado com 58 pontos e dois quintos lugares, na Alemanha e na Hungria. O rookie Lando Norris também se tem afirmado como aposta ganha, demonstrando muita maturidade e revelando uma maior interação com os fãs através das redes sociais, o que o torna um dos favoritos dos fãs de f1.

A boa prestação dos dois jovens pilotos já lhes valeu a continuidade em 2020, num ano em que a McLaren deseja subir o nível e aproximar-se do top3.

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Carlos Sainz e Lando Norris, em grande dentro e fora da pista

Toro Rosso

A equipa “B” da Red Bull está a ter um ano fantástico, liderando neste momento a famosa e dura luta intermediária de construtores. Daniil Kvyat tem voado neste regresso à Fórmula 1, somando inclusive um pódio no acidentado e chuvoso GP da Alemanha. Outro Rookie, Alexander Albon também se tem destacado neste seu ano de estreia, ele que tem demonstrado uma grande qualidade nas ultrapassagens e na gestão dos pneus, algo que lhe valeu a promoção à equipa principal.

Em relação à próxima época, a dupla mais provável é aquela que agora representa a equipa, com Kvyat e Gasly a manterem-se, isto se Albon garantir o lugar na Red Bull. Ainda assim, o clima entre Gasly e a Red Bull não parece o melhor, não sendo surpreendente se o francês de 23 anos sair para abraçar outro projeto numa equipa como a Haas ou a Alfa Romeo-Sauber, quebrando as ligações com a marca do touro vermelho.

Renault

Numa época de grande investimento, a marca francesa tem desiludido. As falhas mecânicas têm sido recorrentes, demonstrando a pouca fiabilidade dos motores Renault, dando razão a Christian Horner, diretor da Red Bull que descartou os motores franceses. A dupla Ricciardo e Hulkenberg parecia dar garantias, mas está neste momento dois lugares abaixo do objetivo obrigatório, que é ser a melhor equipa para além das três potências Mercedes, Ferrari e Red Bull.

Daniel Ricciardo vai fazendo o que pode, esperando certamente um carro melhor no próximo ano. O seu parceiro Nico Hulkenberg, que tem apenas menos um ponto que o australiano, já sabe que não continua na equipa em 2020, sendo substituído pelo francês Esteban Ocon, estando assim finalmente cumprido o desejo de Cyril Abiteboul, chefe de equipa que queria um piloto francês na sua equipa.

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Ricciardo não tem tido razões para sorrir esta época, ele que espera no próximo ano ter um carro mais competitivo (crash.net)

Racing Point

A equipa liderada pelo consórcio de Lawrence Stroll vive a sua primeira época completa com o novo nome e os novos donos. A equipa manteve uma grande base dos tempos da Force India, e a parceria com a Mercedes mantém-se, o que permite ao carro manter-se competitivo como nas ultimas temporadas. Lance Stroll é o novo nome na equipa, patrocinado pela influência do seu pai, o que lhe deverá garantir o lugar na próxima época. O jovem canadiano era apontado como o grande favorito a desiludir, mas a realidade é que o jovem de 21 anos está apenas a 2 pontos do companheiro Sergio Pérez.

O mexicano de 29 anos é peça fundamental na equipa. A sua experiência e principalmente o elevado número de patrocínios e investimento que traz do México fazem dele um nome a manter a longo prazo, ele que renovou o seu contrato até 2022.

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Stroll e Pérez são dois exemplos da importância das influências externas para triunfar na Fórmula 1 (Foto: Speed Cafe)

Alfa Romeo

A equipa Alfa Romeo-Sauber, que funciona como segunda equipa da Ferrari apresenta um carro competitivo, e não fosse a pouca quantidade de pontos de Antonio Giovinazzi e a equipa suíça podia estar à frente da Toro Rosso. O veterano Kimi Raikkonen demonstra semana após semana que a idade não lhe pesa, somando pontos em 8 das 13 corridas, apresentando uma regularidade impressionante, estando neste momento em 9º na classificação.

O finlandês de 39 anos tem mais um ano de contrato, e segundo as suas palavras poderá não ser o último, sendo certo que em 2020 vai estar ao volante de um dos Alfa Romeo. Já o seu parceiro, poderá ou não ser Giovinazzi. As próximas corridas deverão ser determinantes para o futuro do italiano, ele que tem à espera de uma oportunidade os jovens da academia da Ferrari (Luca Ghiotto ou Mick Schumacher) ou até Nico Hulkenberg, que poderá ver na Alfa Romeo a solução para continuar na F1.

Haas

A grande desilusão na época. A equipa norte-americana esteve numa luta intensa com a Renault pelo quinto lugar na época passada, e era de esperar que a toada se mantivesse este época, mas a temporada tem sido um fracasso. Os pilotos têm tido falhas com alguma frequência, e se Romain Grosjean já nos habituou a isso, Kevin Magnussen tem demonstrado dificuldades que nos últimos anos não tínhamos visto. O carro não é tão competitivo, e os problemas com a principal patrocinadora, a Rich Energy também têm marcado a época negativa dos homens liderados pelo carismático Gunther Steiner. Apenas Giovinazzi e os dois Williams estão atrás dos pilotos das Haas no campeonato.

Esta irregularidade não garante para já o lugar a nenhum dos dois, sendo possível vermos uma dupla nova na próxima época. Grosjean tem a porta da rua escancarada, sendo quase impossível a sua continuidade. Magnussen ainda mantém esperança de continuar, sabendo que o seu arqui-inimigo Hulkenberg é um dos objetivos da equipa, e que poderá haver promoção do jovem piloto de testes brasileiro Pietro Fittipaldi, havendo ainda rumores de um possível regresso à F1 do alemão Pascal Wehrlein.

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Magnussen e Grosjean têm os seus lugares em sério risco para 2020 (WBTV)

Williams

Pouco há a dizer sobre a lendária equipa britânica. Uma miragem do que foi outrora, e com pouca capacidade para mudar o rumo dos acontecimentos, a Williams está afundada na classificação, com apenas 1 ponto ganho pelo veterano Robert Kubica no GP da Alemanha, ponto que só amealhou devido às penalizações que foram dadas aos dois Alfa Romeo.

O jovem promissor George Russell tem extraído o máximo do seu carro nas qualificações, e vai continuar em 2020. O lugar de Robert Kubica não está assegurado, podendo entrar para a equipa o piloto de testes Nicolas Latifi ou haver contratação de um dos pilotos sem lugar, podendo nomes como Magnussen ou Grosjean serem associados à equipa britânica.

 


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