Supertaça – Um Benfica demais ou um Sporting de menos?

Bruno Costa JesuínoAgosto 6, 20199min0

Supertaça – Um Benfica demais ou um Sporting de menos?

Bruno Costa JesuínoAgosto 6, 20199min0
Benfica e Sporting jogaram a Supertaça Cândido de Oliveira e o resultado foi esclarecedor de quem está mais bem preparado para a nova época. Os pontos fortes e fracos a rever nesta análise!

Uma goleada num derby, seja em que contexto for, nunca é um resultado esperado. A resposta à pergunta “na Supertaça tivemos um Benfica demais ou um Sporting de menos?” vai certamente mudar dependendo do interlocutor. Já se ouviu dizer de tudo um pouco, indo de um extremo –  “o Benfica foi esmagador” – a outro – “o Sporting foi melhor durante 60 minutos“. Mas nem tudo é assim tão superficial, há vários factores que podem e devem ser analisados. Mas vamos por factos (pelo menos os meus factos), um a um. Desafio-os a discordar.

Pré-época de “leões” e “águias”

Tendo em conta a pré-época dos dois crónicos candidatos ao título, o Benfica era apontado como favorito. Perdeu apenas o primeiro jogo, diante do Anderlecht, tendo somado nos restantes jogos e até vencido a International Champions Cup. O Sporting, não venceu nenhum jogo, sendo que o empate frente ao campeão europeu Liverpool, que mesmo sem o fantástico trio da frente, não deixa de ser um adversário de enorme valor.

Muitas vezes se ouve: “Ah mas muitos os clubes fazem um má pré-época e depois têm um excelente entrada nos jogos oficiais. E vice-versa“. Por vezes acontece, até porque as pré-épocas servem para testar, descobrir falhas e corrigi-las. Mas não deixa de ser uma barómetro importante, não só pelos resultados, mas acima tudo pela dinâmica da equipa. E neste caso, se o Benfica, apresentou maioritariamente momentos parecidos aos melhores da época passada, o Sporting pareceu apresentar mais momentos idênticos aos menos bons da época passada. Mas um dérbi é um dérbi, e como se diz na língua do futebol, “é sempre um jogo de tripla“.

Dia do jogo, primeiras ideias

O Benfica entrou com o onze previsto, em 442, e como testado na pré-época, com o jovem canhoto Nuno Tavares, no lugar do lesionado André Almeida. Com Odysseas na baliza, a restante defesa foi a da época passada, com Rúben Dias, Ferro e Grimaldo. Na duplo pivot do meio campo, a dúvida estava em que acompanharia Gabriel. Florentino, que na pré-época jogou mais minutos que Samaris, foi a opção. Nas alas os habitués Pizzi, como o maestro que parte da direita para o centro, e o explosivo Rafa à esquerda. Na frente, Seferovic, acompanhado pelo reforço Raul De Tomás (RDT).

O Sporting trouxe uma novidade testada na época passada em alguns dos jogos de grau de dificuldade superior, apostando num quintento defensivo, com duas novidades: Thierry Correia, na direita e Neto como central. Coates, Matthiew e Acuña, este com liberdade no flanco esquerdo, tal como o jovem Thierry no lado contrário. A compor o meio campo, Doumbia no vértice mais defensivo, com Wendel a interior direito e Bruno Fernandes como interior esquerdo. Na frente Bas Dost mais fixo, e Raphinha em deambular na frente de ataque, principalmente com movimentos da direita para o centro.

E começa o jogo

Após o apito inicial, o Benfica entrou organizado e a tentar pegar no jogo, tentando impor a sua dinâmica habitual através uma pressão alta. No entanto, o Sporting, embora menos organizado e mais na expectativa, conseguiu algumas vezes ultrapassar o pressing ‘encarnado’ conseguindo pôr a bola entre linhas nas costa de Gabriel e Florentino. invariavelmente nos pés do ‘maestro’ Bruno Fernandes. Nesse período o Sporting criou três boas ocasiões de golo, sempre com o número oito em destaque e com o guarda-redes Odysseas a brilhar. Por outro lado, o volume de jogo ofensivo do Benfica, apenas conseguiu uma oportunidade, e não tão flagrante como as do rival.

E (quase) tudo (o) Lage mudou

A forma de jogar do Sporting estava a resultar. No entanto a defesa estava demasiado baixa, demasiado longe dos médios, o que fazia com que os homens da frente fizessem muita correrias para manter esta dinâmica. Bas Dost, que parece não encaixar neste estilo de jogo, terá sido aposta para o jogo mais directo e menos elaborado do Sporting. Enquanto isso o Benfica foi adaptando a sua forma de jogar. RDT em vez de pressionar em cunha com Seferovic, começou a jogar nas costas do suíço, sendo muitas vezes o terceiro médio com e sem bola. Os alas começaram a pressionar mais por dentro a saída a três do adversário, permitindo que Gabriel e Florentino mantendo-se mais atrás sem se desposicionar.

Desta forma o Sporting viu-se obrigado a fazer um jogo mais directo ou a lateralizar mais o jogo, onde se sente menos confortável em relação ao jogo interior. Foi numa tentativa de jogar por dentro que surgiu o primeiro golo. O Benfica recupera a bola, e em vez de uma transição rápida, opta por organizar desde a zona defensiva. A bola passa por vários jogadores, fugindo à pressão adversária, até que chega aos pés de Florentino que aproveita o espaço aberto do Wendel (sai à bola cedo demais), e mete a bola entrelinhas em Gabriel que recebe em zona de criação, de frente para baliza e com espaço. A partir daí os jogadores encarnados aceleram, até a bola chegar aos pés do Pizzi. O ‘rei das assistências’ da última época, com todo o tempo do mundo levanta a cabeça, e enquanto Seferovic puxa dois dos centrais, RDT começa por fixar Coates e depois levar Thierry Correia a fechar por dentro, abrindo espaço para Rafa aparecer solto no segundo poste e a finalizar com mestria. A bola passou por 10 jogadores com 17 passes até à conclusão final. Foi o virar do jogo.

Nota ainda, para ainda na primeira parte, o Sporting numa bola directa para Bas Dost, ainda conseguiu uma potencial situação de três para dois. No entanto, decidiu mal, em vez de rodar, atrair o defesa e só depois soltar a bola, optou por jogar de primeira e ainda por cima para as costas de Raphinha. Foi o último rugir do “leão”.

Entrada demolidora na segunda parte sob a batuta de ‘Rafizzi’, Lda.

Se o Benfica acabou por cima a primeira parte, na segunda, entrou com tudo para levar a Supertaça para casa. Bruno Lage, ‘afinou’ melhor as peças, e RDT começou a assumir mais (e melhor) as funções entrelinhas tão bem desempenhadas pelo seu antecessor João Félix. Embora com características muito diferentes, foi de forma desinibida que se viu o espanhol a distribuir o jogo desde trás, a virar o flanco de jogo e a definir com critério. Até que à entrada na última meia hora, numa insistência de Rafa, e com ‘alguma’ inépcia de Coates mas principalmente de Mathieu, o extremo ‘encarnado’ ganhou a bola e assistiu Pizzi. A sociedadeRafizzi‘ a voltar mostrar o excelente entendimento que já vem da época passada e que não iria ficar por aqui. A partir daqui, o Sporting perdeu-se animicamente e ainda antes de Marcel Keizer ter tempo de ir ao banco, Grimaldo fez o terceiro de livre directo. A partir daí só deu Benfica e o resultado podia ser ter ainda mais elevado, no entanto, seria injusto tendo em conta a boa primeira parte do Sporting, principalmente ao nível de ocasiões flagrantes. Pizzi, com mais uma assistência de Rafa voltou a marcar, e Chiquinho saltou do banco para se este estrear a marcar em jogos oficiais pelos encarnados.

Nota: Fisicamente o Benfica pareceu mais fresco, embora em parte possa ser justificado pelo facto de o Sporting ter os sectores mais distanciados (muita correria na frente como já referenciado) e por se ter ido abaixo psicologicamente a partir do segundo golo.

Os destaques da Supertaça

No lado encarnado destaque para o ‘maestro’ Pizzi pelo que jogou, fez jogar e ainda marcou. Foi considerado (e bem) o homem do jogo. O médio transmontano teve em Rafa o ‘sócio’ ideal, ambos jogam na ala, mas a ala é apenas e só o ponto de partida. Florentino pode ainda não convencer toda a gente e talvez nunca o venha a fazer. Mas lanço o desafio de contarem quantas recuperações de bola faz. Eu tentei, mas perdi-me a meio. Vai continuar a falhar, principalmente em posse, mas faz parte das dores de crescimento. Odysseas, com uma outra indecisão nas saídas, foi decisivo na primeira parte.

No lado dos leões, Bruno Fernandes foi o melhor no computo geral. Esteve em todos os melhores momentos do Sporting. O jovem Thierry Correia, entrou muito bem, a nível defensivo começou por ganhar muitos duelos a Rafa, e ofensivamente mostrou confiança e personalidade… até ao primeiro golo do Benfica. A partir daí o seu rendimento caiu, tal como o de toda a equipa. Wendel e Raphinha estiveram activos na primeira parte, mas desapareceram na etapa complementar.

E agora?

Após a Supertaça, nem o Benfica é melhor que era há uma semana, nem o Sporting é pior. O Benfica acabou por se mostrar mais eficiente e eficaz. Os leões, menos eficiente e sem eficácia, conseguiram três boas oportunidades que poderiam ter dado vantagem. Talvez pudesse ter dado aquele élan extra para se superiorizar (a si mesmo) e minimizar as diferenças que existem (neste momento) entre as duas equipas: quer em qualidade individual e colectiva, quer em dinâmica e fio de jogo. Keizer arriscou surpreender, mas Lage reagiu bem com pequenas alterações nas suas peças ao longo do jogo. Por fim, fica o resultado, talvez demasiado pesado. O campeonato está aí à porta, veremos como as equipas irão reagir.

Futebol: Existirão limites para a paixão? Concordo que discordem à vontade

O futebol é, foi e sempre será, uma daquelas temáticas que sobre a mesma jogada, sobre o mesmo jogo, existirão sempre várias opiniões, muitas vezes até opostas. O principal motivo é a paixão pelo clube, que por vezes é tão grande que não permite ‘enxergar’ o que para a (outra) maioria é um facto. A paixão não me incomoda, e é positiva, agora o ódio que deturpa a opinião, já me faz imensa confusão. Mas isso ficará para um futuro artigo.

Resumo do jogo (vídeo VSPORTS).


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