Arquivo de Bruno Lage; - Fair Play

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Bruno Costa JesuínoAgosto 4, 202010min0

Numa altura difícil da época 2018-19 e com o título por um canudo viveu-se um verdadeiro efeito-Lage. Tantas vitórias consecutivas, fizeram Luís Filipe Vieira acreditar, mais que nunca, que um Benfica ‘vencedor em toda a linha’ com base na formação seria possível. Inclusive com um treinador ‘made in Seixal’. No entanto, nem tudo foi um mar de rosas e a fé em demasia em Lage fez ‘ressuscitar’ Jesus.

De super-Lage a mini-Lage

No futebol usa-se muito a expressão “de bestial a besta“. E foi exactamente o que aconteceu a Lage. Esta designação faz ainda mais sentido no desporto rei, porque a diferença entre uma bola bater no poste ou bater na rede muda o destino de um equipa… e, acima de tudo, de um treinador.

Bruno Lage pegou ao leme numa fase difícil em que pouco ou nada havia a perder. O título parecia uma miragem. Pegou na equipa e implementou as suas ideias cortando com o passado recente. Numa estreia que nos primeiros minutos tinha tudo para correr mal, com o Benfica a perder 0-2, os ‘encarnados’ deram a volta e venceram com nota artística. Essa reviravolta deu uma grande confiança à equipa que lhe permitiu vencer quase todos os jogos.

A mudança mais marcante ditada pelo treinador setubalense foi a passagem para o 442, dando total liberdade ao jovem João Félix. Este assumiu a batuta da equipa sem receio e explodiu, sendo durante 6 meses a grande figura da equipa.

Os pecados de Lage

Numa segunda temporada, com pré-época, esperava-se uma evolução da equipa. A preparação foi boa e no primeiro jogo oficial goleou o Sporting, mas a expectativa estava alta. Alta demais. Para os adeptos, Lage virou um super-treinador que nunca perderia um jogo. O seu discurso leve, bem disposto, assertivo e a falar de futebol e das suas opções, fizeram chover elogios mesmo de adeptos rivais.

Mas a pergunta era. A onda está positiva, mas quando começar a ter os primeiros obstáculos como ele e a equipa vão reagir? O primeiro revés foi uma derrota sem espinhas na recepção ao Porto. A confiança foi abalada, perdeu-se algo na equipa, mas mesmo assim, a nível interno foi vencendo os jogos todos até voltar a jogar com o principal rival do norte.

Os resultados eram bons mas a qualidade exibicional e aquela alegria a jogar nunca mais voltou a ser mesma. Para adensar tudo isto, os resultados (e as exibições) começaram também a desacreditar os adeptos, que também começaram a duvidar nas apostas nos ‘miúdos’ que antes tanto queriam ver jogar. Se os jovens da casa por norma costumam ser os mais protegidos, começaram a ser massacrados a partir do segundo ou terceiro erro.

Com isso a confiança perdeu-se e o (ainda) pouco experiente Lage não conseguiu dar a volta. No entanto, quem fez o que ele fez em seis meses tem que ter qualidade. Possivelmente, ao jeito de Paulo Fonseca, dará um passo atrás na carreira para depois voltar a caminhar de forma sólida e continuar construir a sua carreira.

‘O Jesus que passou por Judas e volta como ‘Salvador’

Está ainda bem viva na memória de todos a polémica saída de Jorge Jesus do Benfica. Não tanto sair enquanto bi-campeão, mas por ter assinado pelo rival da 2ª circular. Rapidamente passou de Jesus a Judas… e (anos depois) volta como Salvador.

Voltará como Salvador do Benfica? Ou de Luís Filipe Vieira? O experiente presidente sabe que está numa das fases em que a sua popularidade está beliscada, logo teria que jogar uma cartada forte. Apostou no ‘homem’ que saiu a mal do Benfica mas, mais que todos os últimos treinadores dos ‘encarnados’, mesmo criticado, acabou por ser o mais consensual. Muitos adeptos não o queriam de volta porque dizem que nunca gostaram dele, outros não o perdoam por ter saído para o Sporting… mas todos terão “amor pelo próximo” treinador do Benfica se ele vencer. E voltarão a chamar de Judas (e coisas piores) caso não vença.

O que esperar do regresso do Mister JJ?

Uma característica de JJ é o impacto muito positivo (e quase imediato) que tem tido quando pega nas equipas. Principalmente nos primeiro dois terços da época. Entre outros exemplos, foi assim no Benfica, no Sporting, na Arábia Saudita e no Flamengo. Embora, por vezes, as equipas tivessem um abaixamento de forma na parte final da época, conseguiu quase sempre atingir os objectivos. O que esperar do regresso do Mister JJ?

O texto abaixo é de inteira responsabilidade do autor deste artigo (ou seja, eu) e tem base, apenas e só, em opiniões pessoais e previsões feitas à 1h17 da manhã.

Uma nova Odysseia na baliza?

Algo me diz que o guarda-redes grego não encherá as medidas de JJ. No mínimo surgirá uma nova sombra para lutar de igual para igual. Não necessariamente um nome sonante, pois no historial do JJ essa sombra já se chamou Júlio César (o do Belenenses) que acabou por não convencer a crítica. Mas todos sabemos que JJ bem gosta de ter as suas apostas pessoais.

Na defesa: Os miúdos voltarão para a escola estudar? Ou será que JJ vê qualidades em algum deles

Jorge Jesus é um treinador de ataque mas dá bastante importância na forma como a equipa defende. Característica sua é conseguir pôr a equipa a defender bem e com poucos. Já agora, um das principais dificuldades do Benfica esta época foi defender com poucos… e mal.

Não tenho dúvidas (e poucos terão) que Rúben Dias será o nome mais unânime. Jardel que foi para a luz pela mão de JJ, com 35 anos, se ficar, não aspirará mais ser a quarta opção. Ferro tem duas faces. Se superou as expectativas na época de estreia matou (quase) totalmente as expectativas neste ano, de tantos erros individuais cometidos. Nunca tendo sido exímio a defender, acrescentava algo à equipa em posse de bola (característica cada vez mais relevante em defesas centrais). É possível, embora pouco provável, que JJ acredite que possa fazer crescer o jogador, mas acredito que seja mais provável um empréstimo ou mesmo uma venda.

Posto isto, é expectável a contratação de dois centrais, um mais experiente e um mais rápido. A título de exemplo, um com perfil de Garay e outro com as características de Rúben Semedo, respectivamente.

E nas laterais?

Nas alas, no máximos dos máximos, ficará um dos miúdos Tavares. Vejo mais potencial no Tomás, embora tenha errado muito esta época, tem sido sempre um destaque nas camadas jovens, e há que ter em conta que foi a sua primeira época de sénior, sem pré-época (devido ao europeu sub19) e sem a estaleca que, por exemplo, Rúben Dias e João Félix ganharam em muitos jogos da equipa B.

Jesus gosta de centrais altos, mas a qualidade de Grimaldo está à vista de todos… com bola. A defender, caso não seja vendido, vai ouvir falar muito sobre posicionamento defensivo.

André Almeida, pela sua experiência, identificação com o clube e conhecimento que JJ tem dele, deverá permanecer na equipa.

No meio é que está a virtude e JJ sabe-o bem

Se há posições em que o perfil de jogador que Jorge Jesus gosta é no centro do meio campo. A posição 6 e a posição 8, embora com algumas nuances. Na posição 6 um médio posicional mas que saiba sair a jogar como Matic, William Carvalho e William Arão, mas também já apostou em Fejsa e Javi Garcia, jogares mais fixos e menos capazes com a bola no pé mas muito fortes no equilíbrio da equipa.

Opções que também dependerão do restante meio campo, mais a acredito que Jesus tente encontrar no Benfica um jogador entre Matic-Carvalho-Arão e um Fejsa-Garcia. Weigl, já elogiado publicamente há uns meses por JJ, poderá ser o escolhido. Florentino, poderá cair com JJ, embora pessoalmente gostasse que fosse aposta e evoluísse pela mão do treinador.

Posição 8 – O todo-o-terreno

Jesus, gosta de um 8 todo-o-terreno, que queime linhas com a bola no pé, intenso , com pulmão e que se sinta em casa de uma área à outra.

Gabriel, que tanto jogou a 8 como a 6, não me parece que tenha característica para ser um 8 de JJ. Mas também achava que Adrien também não (escrevi isso na altura) e fui surpreendido pela aposta e principalmente com a evolução do jogador.

Por vezes, quando não existe um 8 puro, JJ improvisa, tendo como principal metamorfose o ex-extremo Enzo Pérez, que passou de um extremo com técnica mas(aparentemente) pouco intenso para um médio centro de área-a-área cheio de garra. Aliás, começou primeiro a convencer primeiro no aspecto defensivo e só depois no ofensivo.

Gerson, uma promessa brasileira que na Europa não convenceu, foi outro bom exemplo. Jogou muitas vezes a médio-ofensivo ou mesmo a cair nas alas, mas com a chegada de JJ virou 8. Também parecia pouco intenso. Mas afinal… só parecia mesmo.

Com isto, acredito que aqui haverá pelo menos uma contração. Fraco tacticamente e na decisão, Gedson (emprestado ao Tottenham) tem características que podiam ser moldadas. Mas nunca sabemos o que vai na cabeça de JJ, que nos surpreende, seja positiva ou negativamente.

De lembrar que Pizzi, com JJ, já fez a posição de 8 em muitos jogos.

Nas alas a mota, o jovem e a incógnita

Jorge Jesus gosta de alas rápidos e explosivos, embora já tenha experimentando falsos alas como Ramires, João Mário. Este último um pouco com a tarefa que Pizzi tem exercido no Benfica pós-JJ.

Tendo em conta o modelo de futebolista que o treinador prefere, Rafa encaixa que nem uma luva, pelo menos aparentemente. Gostava que pegasse no jovem Jota, que desde muito novo se lhe reconhece muito potencial mas tarda a explodir, e o metesse a jogar o dobro (sendo JJ o dobro de Jota… teria a sua piada). Pedrinho, é um contratação cara mas será uma incógnita e até poderá vir a ser opção para segundo avançado.

Todavia, arriscaria prever que chegarão dois novos extremos ao Benfica.

Para criar e marcar golos – Qual será o complemento que o treinador pretende?

Normalmente, nesta dupla, Jorge Jesus, prefere jogadores móveis. Um mais prático, objetivo e mais forte sem bola, outro mais criativo para jogar, por norma, uns passos mais atrás. No entanto já apostou em jogadores mais posicionais como Cardozo e Bas Dost.

No actual Benfica, caso fique no plantel, acredito que Vinícius encaixa na ideia de JJ e Seferovic e Diego Sousa poderão cair das opções. Chegará pelo menos, mais um ponta-de-lança.

Para jogar um pouco mais atrás, Chiquinho tem muita qualidade a jogar entre-linhas (o melhor a fazê-lo no actual plantel) mas, para jogar ali, falta-lhe golo, assertividade e talvez mais astúcia. Ainda pode crescer, mas possivelmente não vai ser aposta, pois não me parece ter as características que JJ pretende para segundo avançado, e ainda menos para jogar na posição 8.

Provavelmente vou-me enganar em muita coisa. Mas se até Jesus se engana, eu também posso.

Jorge Jesus, após as conquistas na América do Sul, confessou qual a música que mais o inspira. É da Mariza e diz: “O melhor de mim está para chegar…”. Os benfiquistas assim o esperam.

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Bruno Costa JesuínoDezembro 11, 20199min0

Provavelmente esta é primeira crónica de todo o sempre que começa ‘inspirada’ numa música de Quim Barreiros. Na génese da ideia estão as conversas (online  e offline) do ‘adepto comum*’, que facilmente passam um treinador de “besta e bestial” e vice-versa. Um qualquer desses adeptos poderia cantar assim: “Ponho o Lage, tiro o Lage, ao jogo que eu quiser…”

Ponho o Lage, tiro o Lage, ao jogo que eu quiser
Ora é melhor é que o Mourinho, ora é treinador fraquinho
Tira na Europa, põe na Liga, e às vezes na taçinha
Está sempre mudando o onze para a prova que se avizinha!

Nota: no fim do artigo será apresentada a definição de “adepto comum”.

Diário de bordo dos 11 meses de Lage

Estas súbitas mudanças de opinião não são exclusivas aos adeptos do Benfica, mas sim transversais a todos os adeptos. Mas neste artigo vamos centrar-nos em Bruno Lage e nos 11 meses que tem à frente da equipa principal dos «encarnados».

O início e o pré-início da cruzada do ‘comandante’ Lage

São 11 meses, mas já podiam ser 12. Há cerca de um ano, o clube não passava por uma boa fase, e começou-se a falar na possibilidade de Bruno Lage, na altura treinador da equipa B, assumir o leme da equipa principal. Não foi em dezembro, mas em Janeiro o treinador setubalense assume o comando interino numa conjuntura difícil, após a saída de Rui Vitória. A equipa tinha acabado de perder em Portimão, ficou mais longe do título e o nível exibicional deixava muito a desejar. Muitos viram esta opção apenas como uma situação temporária e que o Benfica parecia indicar ‘entrelinhas’ estar a ‘desistir’ do título. Mas outros não. E entre estes estava Bruno Lage, que acreditou no qualidade do seu trabalho, na equipa, e fez a equipa acreditar nele e nela própria. No jogo de estreia muda o sistema táctico (para 442) e, entre outras alterações, lança a então ‘promessa’ João Félix como segundo avançado. O jovem já tinha sido utilizado por Rui Vitória a titular, mas mais vezes a saltar do banco, e sempre a jogar a partir da esquerda. Lage quis tirar o melhor partido do jogador e do que este poderia dar a equipa, e muito do jogo da equipa a passar por ele. Começou a perder na Luz por 0-2, mas acabou a vencer com brilhantismo, por 4-2, com um futebol ofensivo de qualidade e com uma grande exibição de João Félix. A partir daí a equipa embalou.

As não vitórias de Bruno Lage 2018-19

Mesmo numa sequência de vitórias, a cada não vitória, iam surgindo as primeiras críticas.

«Final Four» da Taça da Liga: O primeiro clássico

No primeiro grande clássico, a equipa defrontou o Porto na «final four» da Taça da Liga. Num jogo muito intenso, em que as equipas se bateram de igual para igual, a equipa da cidade invicta acabou por levar a melhor. Se para muitos adeptos do Benfica ficou a retina da boa exibição da equipa, para outros ficou apenas uma derrota e a possível falta de estaleca da equipa.

Quartos-de-final da Liga Europa: A sina alemã

À medida que na liga portuguesa se ia aproximando do Porto, na Liga Europa, Bruno Lage acabou por ir dando a oportunidade a alguns «jovens do Seixal». Florentino, Yuri Ribeiro, Jota, o próprio Gedson que tinha perdido algum espaço, e mesmo o já mais experiente Corchia (emprestado pelo Sevilha) começou a ter oportunidades nesta competição. Eliminou o Galatasaray, o Dinamo Zagreb, e numa eliminatória equilibrada com o Eintracht Frankfurt, acabou por ficar às portas da meia final. Nesta altura surgiram as primeiras críticas relacionadas com a rotação que Lage fez na equipa, elogiadas nas rondas anteriores, quando o Benfica venceu.

Meias-finais da Taça de Portugal: No tudo por tudo dos leões

Depois de uma excelente exibição na primeira mão da meia-final diante o Sporting, em que eliminatória poderia ter ficado resolvida, a 10 minutos de fim, num último fôlego Bruno Fernandes conquista um livre directo. O ‘intocável’ do Sporting bate com excelência de deixa tudo em aberto para a segunda mão em Alvaldade (2-1). Aí apresentou-se um Benfica menos capaz do que no jogo anterior e um Sporting, já afastado do campeonato, tinha que dar o tudo por tudo para ser feliz. E mereceu ser feliz. Num jogo equilibrado, um lance de génio de Bruno Fernandes permitiu o Sporting passar à final do Jamor, que acabaria por vencer.

Campeonato: Após a vitória mais importante a primeira perda de pontos

Após a derrota na Taça da Liga diante do Porto, temia-se de alguma forma como reagiria o Benfica na decisiva deslocação ao Dragão. O Benfica só contava com vitórias e tinha reduzido a larga distância para apenas um ponto. Num jogo muito intenso os «encarnados» impõem-se e vencem merecidamente por 1-2, passando a liderar a liga com dois pontos de vantagem. Curioso que no jogo seguinte, na recepção ao Belenenses, o Benfica perde pontos pela primeira (e única) na era Lage. Num jogo controlado a vencer por 2-0, duas falhas de atenção permitiu dois golos Belenenses em dois minutos. Terá servido de aviso para embarcação que não mais perdeu pontos até final da época.

2019-20: A queda do pedestal de quem não chega a cair

O título pode ser um pouco dúbio, mas tem tudo a ver com a carreira de Bruno Lage no Benfica. Para a generalidade do adepto comum, a época passada Lage era o melhor do mundo e pensam que vai ganhar todos os jogos, mas às primeiras derrotas já acham que ele é o pior de todos e devia ir embora.

A equipa entrou bem com uma vitória de 5-0 na supertaça diante o Sporting. Com um nível exibicional mais baixo que na época anterior, o certo é que Lage tem conquistado quase todos os pontos. Quase todos, porque perdeu, sem qualquer contestação, na recepção ao Porto, que conseguiu anular de forma exímia os pontos fortes dos «encarnados». A partir desta derrota a desconfiança dos adeptos começou e Lage começou a ser criticado.

Mesmo indo vencendo todos os jogos, muito deles com pouco brilhantismo, a prestação na Liga do Campeões, principalmente nos primeiros jogos, fez com que muitos adeptos começassem a olhar para Bruno Lage com desconfiança, apontando o dedo sobretudo, à rotação dos jogadores.

7 notas sobre Lage

  1. Entrou a meio da época passada, numa situação difícil, e fez uma recuperação fantástica tanto em termos de resultados como exibicional. Sendo a primeira experiência como líder de um equipa principal, merece crédito.
  2. Em duas meias épocas no campeonato perdeu apenas 5 pontos. Esta época com menos fulgor exibicional, muito por culpa da perda do jogador sob o qual rodava todo o futebol de equipa. Com algumas experiências falhadas foi encontrando soluções para colmatar essa ausência. A equipa parece ter melhorado nas últimas semanas.
  3. A rotação tem vantagens e desvantagens. Permite dar descanso a jogadores importantes, além de dar oportunidade e ritmo de jogo a jogadores menos utilizados, para quando forem chamados estarem motivados e condições em competir. A desvantagem é que é sempre um risco. Mas se é para arriscar que seja nas taças, principalmente na Taça da Liga. Na Liga dos Campeões, foram 2, 3 ou 4 alterações, que não considero que sejam suficientes para justificar os resultados do Benfica. Embora exista quem ache. São opiniões.
  4. Depois dos excelentes jogos da época passada, muitos treinadores foram percebendo os pontos fortes do Benfica. Começaram a saber como anular os movimentos da equipa e, muitas vezes, mesmo durante os jogos, Lage teve que mudar e não teve receio disso. Pode mudar para pior ou melhor, mas tenta ler o jogo e melhorar e não fica refém das suas ideias iniciais.
  5. Jogadores, como por exemplo Tomás Tavares, não estiveram sempre bem e tiveram falhas. No entanto, será certamente agora melhor jogador do que era em Setembro. São dores de crescimento normais num jovem, e quem quer tornar jovens jogadores em jogadores de topo, tem que cometer riscos e contar com possíveis consequências que possam advir. (Um excelente exemplo disso, aconteceu há uns anos, no outro lado da segunda circular. Rui Patrício até se tornar no guarda-redes indiscutível esteve duas épocas a ser criticado pelos adeptos. Mas certamente as falhas que tiraram pontos foram posteriormente ultrapassadas pelas defesas que deram pontos.)
  6. Não esperem de Lage aquele treinador que vai jogar em 90 por cento das vezes com o mesmo onze, consoante os adversários, a condição física dos jogadores e para manter o plantel competitivo, vai haver mudanças muitas vezes. Tirando talvez o Barcelona de Guardiola (que tinha sempre a bola logo dava para descansar durante os jogos) todos as equipas, que estejam em 2, 3 ou 4 competições têm que rodar, priorizando-as. Outro exemplo vindo de um rival. Adeptos portistas acérrimos defensores de Sérgio Conceição, apontaram a falta do rotatividade do Porto como a grande falha da época passada.
  7. Por fim, um desejo pessoal, tenha mais ou menos sucesso que Bruno Lage mantenha sempre a sua postura e se mantenha fiel às suas ideias e ideais. Importante ter mais treinadores que não entrem em polémicas sem sentido e que refugiam só em desculpas comuns. Que continue a explicar os resultados e exibições - bons e maus - com base no futebol jogado. Ou seja, com todo o Fair Play.

Definição de “adepto comum”

adepto comum | adj. s. m. + a·dep·to |épt| co·mum

(latim adeptus, -a, -um, conseguido, atingido) + (latim communis, -e)

adjectivo e substantivo masculino

1. Diz-se de ou pessoa que apoia um determinado clube principalmente quando as coisas correm bem. Quando não correm bem consegue ser o principal crítico = PARTIDÁRIO PARA O LADO QUE CALHA

2. Diz-se de ou pessoa pseudo-especialista que comenta futebol publicamente sem muitas vezes perceber a regra mais básica. = PSEUDO APOIANTE

3. Diz-se de ou pessoa que normalmente sofre de memória curta causada por trechos de 90 minutos. = APOIANTE COM MEMÓRIA DE PEIXE

adaptado, adulterado e inspirado no formato do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
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Bruno Costa JesuínoOutubro 25, 20198min0

Jogar bem não garante vitórias mas… deixa-nos sempre mais perto de ganhar. Ainda nestes últimos dias, entre Taça de Portugal e competições europeias tivemos alguns exemplos disso. Se por um lado as vitórias na taça de Alverca, Sintra FC, Beira Mar sobre clubes de primeira liga, são exemplos da primeira premissa, a prestação do Vitória SC, diante do Arsenal, testemunha a segunda.

As surpresas (ou nem tanto assim) na Taça de Portugal

Cinco equipas da primeira liga eliminadas na Taça de Portugal na primeira na primeira ronda (em que estas entram) já era considerado um recorde. Até que no dia seguinte, caíram mais duas. Foram dados três exemplos acima – Alverca, Sintra e Beira Mar –  que foram jogos que consegui ver com mais cuidado. O que impressionou mais, além da qualidade colectiva, foi a atitude dessas equipas, que nunca se atemorizaram pelo poderio adversário e jogaram o jogo pelo jogo, sem ‘autocarros’, e na procura constante do golo, mesmo na forma como os jogadores se posicionavam no momento defensivo. Por isso, para quem viu os jogos, as surpresas na Taça de Portugal não o foram tanto assim.

Campeonato de Portugal mais forte ou Primeira Liga mais fraca? Eis a questão.

Esta é um questão que muito tem sido debatida. Já todos lemos, vimos e ouvimos defensores das duas opiniões. Talvez com mais interlocutores a acentuar que são as principais equipas que estão mais fracas. No entanto, antes de mais, o que importa destacar, é a forma como todas as equipas profissionais, semi-profissionais e até amadoras, trabalham cada vez melhor. Ao que se deve? Acima de tudo à qualidade do treinador português e ao nascimento de bons projectos apoiados em boas estruturas que não se limitam a pensar nos resultados a curto-prazo. Em termos gerais, a qualidade do treinador português é muito superior ao que era há 10 anos. E ainda mais do que há 20 anos. Se antigamente ser treinador era quase um (con)sequência da carreira de um ex-jogador, hoje em dia é o sonho de muitos jovens. Mais até do que ser jogador. E estudam e trabalham para ser reais mais valias, Óbvio que a isso não é alheio ao sucesso dos treinadores portugueses no estrangeiro, que são hoje em dia dos melhores entre os melhores do mundo. Campeonato de Portugal está mais forte? Sim. A Primeira Liga está mais fraca? Não. A diferença entre elas, isso sim, em alguns confrontos directos terá alguma tendência a ser diluída, pois existem menos diferenças na qualidade do trabalho.

Europa: nem todos os que jogaram bem ganharam e houve vitórias de quem não jogou bem

No que respeita às prestações portuguesas na jornada europeia, acabou por ser globalmente positiva: 3 vitórias, 1 empate e uma derrota. Mas mais que os resultados vamos fazer a relação entre qualidade exibicional e resultados.

Os que jogaram bem…

Quem jogou melhor? Sem qualquer dúvida, Sporting de Braga e Vitória Sport Clube. Um ganhou na sempre complicada deslocação à Turquia, o outro perdeu diante do tubarão e super-favorito Arsenal. Os vimaranenses entraram no Emirates Stadium, mantiveram a sua identidade e jogaram o jogo pelo jogo sem duvidar do potencial que têm demonstrado sob o comando de Ivo Vieira. Estiveram duas vezes em vantagem, não tremeram quando sofreram golos, e só a qualidade individual superlativa dos ‘gunners’, neste caso com dois golos. Yohann Pele, que custou 80 milhões, entrou e marcou dois grandes golos de livre directo. Nos três jogos o Vitória jogou e bem e merecia ter (pelo menos) pontuado em qualquer jogo desta fase de grupo. No entanto, a qualidade de jogo não resultou qualquer ponto. No caso do Braga, a equipa tem tido um registo quase imaculado na Europa, encontra-se no primeiro lugar no grupo, com sete pontos. Uma equipa personalizada que curiosamente fez seis pontos nos jogos fora (nas duas saídas mais complicadas) e empatou o jogo em casa (diante da equipa teoricamente menos favorita). Mas em qualquer dos três jogos da fase de grupos. a equipa de Sá Pinto demonstrou ser a melhor equipa equipa. Uma palavra de destaque para mais um golo de Ricardo Horta, desta vez ao Beksitas.

Ambas as equipas minhotas jogaram bem, e em qualidade de jogo têm sido, sem dúvida, os melhores representantes portugueses nas competições europeias, embora com resultados práticos diferentes.

Os que não jogaram bem…

Nem Benfica, nem Porto, nem Sporting jogaram bem. Em vários momentos do jogo até mostraram superioridade sobre o adversário, mas globalmente não fizeram assim tanto que justificasse mais que o empate. No caso dos ‘dragões’ acabaram mesmo por empatar, num jogo em casa onde eram super-favoritos diante de um Rangers que tenta recuperar o vigor de outros anos. Além de que, as equipas escocesas, mesmo nos seus melhores anos, sempre demonstram muitas dificuldades nos jogos fora de casa. Steven Gerrard, lenda do Liverpool, construiu uma equipa à sua imagem: competitiva, lutadora, pragmática, vertical… mas sem aquele ‘kick and rush’ característico durante anos em equipas britânicas. Aliás, o Rangers, pela sua forma de jogar, tentar replicar a forma de jogar do Liverpool de Klopp com aquele “gegenpressing*, embora com interpretes de qualidade bastante inferior. O avançado Alfredo Morelos, internacional colombiano, será provavelmente a unidade de maior valor.

*combinação da palavra alemã gegen (contra) com a inglesa pressing (pressionar) – que está alojada a alma das equipas de Jürgen Klopp. Simplificando o conceito, gegenpressing é a capacidade para exercer uma pressão alta sobre o adversário, imediatamente a seguir ao momento da perda de bola, para não o deixar sair a jogar.

O Porto, depois da derrota na Holanda, acreditava-se que iria com tudo para cima do Rangers, mas só nos últimos minutos conseguiu encostar os escoceses lá atrás. Se bem que, mesmo assim, iam conseguindo espreitar algumas situações de contra ataque. A melhor unidade em cada um dos conjuntos foi colombiana, e não só pelos golos, com Luis Diaz, a ser o maior destaque entre os ‘dragões’, mesmo tendo sido substituído aos 63 minutos(!)

Em crise de resultados e exibições, o Rosenborg seria o adversário ideal para o Sporting inverter o ciclo, e voltar a ganhar a confiança com uma vitória e um boa exibição. Cumpriu metade. Faltou jogar bem. Não deixando de ser a equipa que mais procurou o golo, abusou muito em cruzamentos para a área dos noruegueses. Além de estes já serem mais fortes no jogo aéreo, muitos desses cruzamentos eram feitos sem grande critério e com o Sporting em manifesta inferioridade numérica. Ironia (ou não), o golo da vitória acabou por sair através de… um cruzamento.

Por todos os motivos e mais alguns, era fundamental os leões ganharam em casa, na recepção à equipa mais frágil do grupo. Mesmo sem jogar bem, agora com 6 pontos em 2 jogos, o Sporting está bem dentro da luta pela qualificação.

Por fim, o Benfica. Depois de meia época de sonho, Bruno Lage tem tido dificuldade em estabilizar a equipa, seja pela saída de Félix, pelas consecutivas lesões, ou pela incapacidade de reinventar novas solução. A juntar a isso, a aura negativa que se tem abatido sobre os encarnados na maior competição de clubes. Depois de duas derrotas… em dois jogos, no segundo jogo em casa era imperial vencer, porque mesmo o empate iria sempre saber a pouco e comprometer ainda mais o futuro da equipa na Europa. A equipa entrou muito bem, com Rafa ao centro, a dar um grande dinamismo nas transições, inaugurando inclusive o marcador. Pouco depois saiu lesionado e o Benfica ressentiu-se, sendo mesmo assim globalmente superior ao Lyon na primeira parte. No entanto, tudo mudou na etapa complementar, mesmo sem os franceses criarem muitas situações de golo, os encarnados foram recuando e deixando de criar ocasiões de perigo (durante mais de 30 minutos). Após o golo do Lyon, o Benfica lá conseguiu reagir. Pizzi (entrou para o lugar de Rafa), que estava a ter uma exibição apagada, em 3 minutos atirou um poste e aproveitou um erro do guarda redes do Lyon, para marcar um golo do meio do meio campo. No jogo em que o resultado mais justo seria o empate, valeu mais o resultado que a exibição.

Com os resultados desta semana europeia Portugal conseguiu ultrapassar a Rússia no ranking, objectivo fundamental para voltar a poder ter três equipas portuguesas na Liga dos Campeões. Por isso venha de lá essa qualidade exibicional… pois estaremos sempre mais perto da vitória.


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