Arquivo de Vitória SC - Página 4 de 6 - Fair Play

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Bruno Costa JesuínoOutubro 25, 20198min0

Jogar bem não garante vitórias mas… deixa-nos sempre mais perto de ganhar. Ainda nestes últimos dias, entre Taça de Portugal e competições europeias tivemos alguns exemplos disso. Se por um lado as vitórias na taça de Alverca, Sintra FC, Beira Mar sobre clubes de primeira liga, são exemplos da primeira premissa, a prestação do Vitória SC, diante do Arsenal, testemunha a segunda.

As surpresas (ou nem tanto assim) na Taça de Portugal

Cinco equipas da primeira liga eliminadas na Taça de Portugal na primeira na primeira ronda (em que estas entram) já era considerado um recorde. Até que no dia seguinte, caíram mais duas. Foram dados três exemplos acima – Alverca, Sintra e Beira Mar –  que foram jogos que consegui ver com mais cuidado. O que impressionou mais, além da qualidade colectiva, foi a atitude dessas equipas, que nunca se atemorizaram pelo poderio adversário e jogaram o jogo pelo jogo, sem ‘autocarros’, e na procura constante do golo, mesmo na forma como os jogadores se posicionavam no momento defensivo. Por isso, para quem viu os jogos, as surpresas na Taça de Portugal não o foram tanto assim.

Campeonato de Portugal mais forte ou Primeira Liga mais fraca? Eis a questão.

Esta é um questão que muito tem sido debatida. Já todos lemos, vimos e ouvimos defensores das duas opiniões. Talvez com mais interlocutores a acentuar que são as principais equipas que estão mais fracas. No entanto, antes de mais, o que importa destacar, é a forma como todas as equipas profissionais, semi-profissionais e até amadoras, trabalham cada vez melhor. Ao que se deve? Acima de tudo à qualidade do treinador português e ao nascimento de bons projectos apoiados em boas estruturas que não se limitam a pensar nos resultados a curto-prazo. Em termos gerais, a qualidade do treinador português é muito superior ao que era há 10 anos. E ainda mais do que há 20 anos. Se antigamente ser treinador era quase um (con)sequência da carreira de um ex-jogador, hoje em dia é o sonho de muitos jovens. Mais até do que ser jogador. E estudam e trabalham para ser reais mais valias, Óbvio que a isso não é alheio ao sucesso dos treinadores portugueses no estrangeiro, que são hoje em dia dos melhores entre os melhores do mundo. Campeonato de Portugal está mais forte? Sim. A Primeira Liga está mais fraca? Não. A diferença entre elas, isso sim, em alguns confrontos directos terá alguma tendência a ser diluída, pois existem menos diferenças na qualidade do trabalho.

Europa: nem todos os que jogaram bem ganharam e houve vitórias de quem não jogou bem

No que respeita às prestações portuguesas na jornada europeia, acabou por ser globalmente positiva: 3 vitórias, 1 empate e uma derrota. Mas mais que os resultados vamos fazer a relação entre qualidade exibicional e resultados.

Os que jogaram bem…

Quem jogou melhor? Sem qualquer dúvida, Sporting de Braga e Vitória Sport Clube. Um ganhou na sempre complicada deslocação à Turquia, o outro perdeu diante do tubarão e super-favorito Arsenal. Os vimaranenses entraram no Emirates Stadium, mantiveram a sua identidade e jogaram o jogo pelo jogo sem duvidar do potencial que têm demonstrado sob o comando de Ivo Vieira. Estiveram duas vezes em vantagem, não tremeram quando sofreram golos, e só a qualidade individual superlativa dos ‘gunners’, neste caso com dois golos. Yohann Pele, que custou 80 milhões, entrou e marcou dois grandes golos de livre directo. Nos três jogos o Vitória jogou e bem e merecia ter (pelo menos) pontuado em qualquer jogo desta fase de grupo. No entanto, a qualidade de jogo não resultou qualquer ponto. No caso do Braga, a equipa tem tido um registo quase imaculado na Europa, encontra-se no primeiro lugar no grupo, com sete pontos. Uma equipa personalizada que curiosamente fez seis pontos nos jogos fora (nas duas saídas mais complicadas) e empatou o jogo em casa (diante da equipa teoricamente menos favorita). Mas em qualquer dos três jogos da fase de grupos. a equipa de Sá Pinto demonstrou ser a melhor equipa equipa. Uma palavra de destaque para mais um golo de Ricardo Horta, desta vez ao Beksitas.

Ambas as equipas minhotas jogaram bem, e em qualidade de jogo têm sido, sem dúvida, os melhores representantes portugueses nas competições europeias, embora com resultados práticos diferentes.

Os que não jogaram bem…

Nem Benfica, nem Porto, nem Sporting jogaram bem. Em vários momentos do jogo até mostraram superioridade sobre o adversário, mas globalmente não fizeram assim tanto que justificasse mais que o empate. No caso dos ‘dragões’ acabaram mesmo por empatar, num jogo em casa onde eram super-favoritos diante de um Rangers que tenta recuperar o vigor de outros anos. Além de que, as equipas escocesas, mesmo nos seus melhores anos, sempre demonstram muitas dificuldades nos jogos fora de casa. Steven Gerrard, lenda do Liverpool, construiu uma equipa à sua imagem: competitiva, lutadora, pragmática, vertical… mas sem aquele ‘kick and rush’ característico durante anos em equipas britânicas. Aliás, o Rangers, pela sua forma de jogar, tentar replicar a forma de jogar do Liverpool de Klopp com aquele “gegenpressing*, embora com interpretes de qualidade bastante inferior. O avançado Alfredo Morelos, internacional colombiano, será provavelmente a unidade de maior valor.

*combinação da palavra alemã gegen (contra) com a inglesa pressing (pressionar) – que está alojada a alma das equipas de Jürgen Klopp. Simplificando o conceito, gegenpressing é a capacidade para exercer uma pressão alta sobre o adversário, imediatamente a seguir ao momento da perda de bola, para não o deixar sair a jogar.

O Porto, depois da derrota na Holanda, acreditava-se que iria com tudo para cima do Rangers, mas só nos últimos minutos conseguiu encostar os escoceses lá atrás. Se bem que, mesmo assim, iam conseguindo espreitar algumas situações de contra ataque. A melhor unidade em cada um dos conjuntos foi colombiana, e não só pelos golos, com Luis Diaz, a ser o maior destaque entre os ‘dragões’, mesmo tendo sido substituído aos 63 minutos(!)

Em crise de resultados e exibições, o Rosenborg seria o adversário ideal para o Sporting inverter o ciclo, e voltar a ganhar a confiança com uma vitória e um boa exibição. Cumpriu metade. Faltou jogar bem. Não deixando de ser a equipa que mais procurou o golo, abusou muito em cruzamentos para a área dos noruegueses. Além de estes já serem mais fortes no jogo aéreo, muitos desses cruzamentos eram feitos sem grande critério e com o Sporting em manifesta inferioridade numérica. Ironia (ou não), o golo da vitória acabou por sair através de… um cruzamento.

Por todos os motivos e mais alguns, era fundamental os leões ganharam em casa, na recepção à equipa mais frágil do grupo. Mesmo sem jogar bem, agora com 6 pontos em 2 jogos, o Sporting está bem dentro da luta pela qualificação.

Por fim, o Benfica. Depois de meia época de sonho, Bruno Lage tem tido dificuldade em estabilizar a equipa, seja pela saída de Félix, pelas consecutivas lesões, ou pela incapacidade de reinventar novas solução. A juntar a isso, a aura negativa que se tem abatido sobre os encarnados na maior competição de clubes. Depois de duas derrotas… em dois jogos, no segundo jogo em casa era imperial vencer, porque mesmo o empate iria sempre saber a pouco e comprometer ainda mais o futuro da equipa na Europa. A equipa entrou muito bem, com Rafa ao centro, a dar um grande dinamismo nas transições, inaugurando inclusive o marcador. Pouco depois saiu lesionado e o Benfica ressentiu-se, sendo mesmo assim globalmente superior ao Lyon na primeira parte. No entanto, tudo mudou na etapa complementar, mesmo sem os franceses criarem muitas situações de golo, os encarnados foram recuando e deixando de criar ocasiões de perigo (durante mais de 30 minutos). Após o golo do Lyon, o Benfica lá conseguiu reagir. Pizzi (entrou para o lugar de Rafa), que estava a ter uma exibição apagada, em 3 minutos atirou um poste e aproveitou um erro do guarda redes do Lyon, para marcar um golo do meio do meio campo. No jogo em que o resultado mais justo seria o empate, valeu mais o resultado que a exibição.

Com os resultados desta semana europeia Portugal conseguiu ultrapassar a Rússia no ranking, objectivo fundamental para voltar a poder ter três equipas portuguesas na Liga dos Campeões. Por isso venha de lá essa qualidade exibicional… pois estaremos sempre mais perto da vitória.

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Francisco IsaacJunho 15, 20196min0

O Mercado de Verão ainda está para chegar, mas alguns adeptos do Futebol Clube do Porto gostavam de ver alguns reforços úteis a chegar ao plantel. Este artigo, no entanto, vai muito para além da quadra da “silly season”, pois tenta abordar três reforços que não só são desejados desde o dia que abandonaram o Dragão, mas também entrariam nas contas devido à sua utilidade directa no plantel.

HULK (SIPG)

Foram alguns os jogadores que marcaram profundamente o FC Porto no Século XXI e não há dúvidas dos nomes desses quantos mitos: Deco, Ricardo Quaresma, Vítor Baía, Jorge Costa, Lucho Gonzalez, Lisandro Lopez, Falcao, Jackson Martínez, Costinha e Hulk. O extremo é, sem dúvida alguma, a par de Deco e Jardel um dos melhores brasileiros a passar pela Invicta.

Hulk foi um atleta sensacional em Portugal, com mais de 50 golos marcados em 99 jogos na Liga NOS, para além de 43 assistências. Ou seja, o extremo esquerdo/direito internacional pelo Brasil tem quase 1 golo/assistência por jogo no Campeonato português, um registo ultrapassado só por Jonas ou Bas Dost, dois dos pontas-de-lança mais prolíferos em Portugal.

No registo final, considerando todas as competições, o brasileiro “só” fez 78 golos e 60 assistências em 170 jogos, levantou uma Liga Europa e quatro campeonatos nacionais (um dos quais só jogou os primeiros três encontros), três Taças de Portugal e três Supertaças, sendo um dos atletas com mais “prata” a passar pelo Dragão.

Mas o que acrescentaria o Hulk de “hoje” ao FC Porto de Sérgio Conceição? Apesar dos 32 anos, o canarinho continua com a mesma velocidade, poder de choque, capacidade de explosão e detalhe técnico, sempre pautado por um remate violento ou uma capacidade de fazer rasgos constantes na defesa contrária. Mais experiente e mais líder, Hulk assume para si algumas características que o actual treinador dos azuis-e-brancos tanto gosta de ver num jogador do FC Porto: mística, raça e capacidade de querer mais.

Depois de ter levantado o título no SIPG (87 jogos, 51 golos e 43 assistências), Hulk é um jogador “caro” em termos de compra a 100% (passe no valor de 30-40M€) mas que bem negociado com os actuais campeões chineses poderá ser possível chegar a um acordo viável.

O brasileiro já se demonstrou disponível para regressar ao Dragão e num plantel que sofre de alguma escassez não só de extremos de qualidade mas de atletas com capacidade de decisão.

RAFA SOARES (VITÓRIA SC)

Não será porventura um regresso lendário, até porque Rafa Soares nunca calçou as botas no Dragão (na equipa principal diga-se, uma vez que fez parte da equipa B e sub-19) mas não deixa de ser um regresso bem visto em termos de consistência de plantel e de assegurar o futuro da faixa esquerda do FC Porto que está “refém” do supremo-Alex Telles.

Se o brasileiro abandona o Dragão neste Verão, tecnicamente não há ninguém que possa assumir o lugar com a mesma qualidade e excelência, perdendo os azuis-e-brancos aquela velocidade e capricho no passe (pelo chão ou ar) que só Alex Telles pode dar.

Rafa Soares, transferido no Verão de 2018 para o Vitória SC, teria sido uma opção credível para a esquerda pelas seguintes razões: talento para sair com o esférico controlado da defesa; inteligência na leitura defensiva; capacidade de reacção à perda de bola; apoio intenso no ataque, com técnica suficiente para ganhar duelos.

Não é um Alex Telles, mas não deixa de ser um atleta da “casa”, com boa capacidade de progressão e de talento puro o suficiente para ganhar o lugar no plantel de Sérgio Conceição.

Até quando pode o FC Porto dar-se ao luxo de não ter um lateral-esquerdo suplente (Diogo Dalot, em 2017/2018, salvou os Dragões na recta final da época)? Não merecerá Rafa Soares uma oportunidade de voltar ao Dragão depois de boas prestações no Rio Ave, Portimonense e Vitória SC?

JACKSON MARTÍNEZ (PORTIMONENSE SC)

Cha, Cha, Cha Martínez voltou ao futebol português em 2018, assim como também, aos golos depois de dois anos afastado por constantes lesões. O colombiano parece estar a caminhar para total recuperação, notando-se alguns dos traços que fizeram-no de um dos goleadores mais mortíferos do futebol português, isto quando passou pela 1ª vez na Liga NOS: 96 jogos, 68 golos e 11 assistências (quem se esquece daquele passe de calcanhar para Tello contra o Sporting CP).

O FC Porto actualmente “sofre” de uma limitação nos pontas-de-lança, existindo só Soares e Moussa Marega (que nem é um verdadeiro ponta-de-lança), com André Pereira e Adrián Lopez a serem soluções de último recurso, sendo que Vincent Aboubakar será uma incógnita até regressar à plenitude da sua forma.

Ou seja, uma nova lesão na frente-de-ataque e os Dragões ficam à mercê de uma mudança táctica ou de jogadores que não estão prontos para assumir o lugar de titulares num plantel que luta pela recuperação do título de campeões nacionais. Jackson Martínez é uma opção “fácil”, barata e que já conhece bem os cantos a uma casa onde fez quase 100 golos em três temporadas.

Com Jackson Martínez, Sérgio Conceição ganharia um ponta-de-lança com faro para o golo, de um tacto especial dentro da grande-área e de um sentido posicional único e que faz a diferença em momentos críticos. A grande questão é o aspecto físico e se o artilheiro colombiano teria capacidade em sobreviver num clube que vai exigir um máximo de intensidade alto a cada novo jogo.

Ainda é cedo para perceber se o internacional pela Colômbia está ou não no caminho de voltar a ser um goleador nato, ou se estes são os momentos finais de uma carreira que já teve traços mais entusiasmantes.

Depois de regressos de lendas como Ricardo Quaresma, Lucho Gonzalez e, até, do actual treinador do FC Porto (Sérgio Conceição regressou em 2004 ao plantel então treinado por José Mourinho), será que algum destes três vão voltar a vestir a camisola azul-e-branca num futuro próximo?


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