Arquivo de Miguel Máximo - Fair Play

254111711_3915740681899341_1780093491641689176_n-1280x853.jpg
Francisco IsaacNovembro 7, 20215min0

Num jogo incontestado, Portugal passou às meias-finais (onde espera agora a Rússia, que teve de ir ao tempo-extra de 10 minutos para garantir a vitória) do Campeonato da Europa de sub-20 com uma vitória por 64-00 frente à Chéquia, com uma exibição de alta qualidade, frente a um adversário inferior, mas que lutou para tentar contrariar a superioridade dos lobos sub-20. A análise do Fair Play em três pontos, neste “offload do Europeu”.

O DESTAQUE: DOMINGOS CABRAL

Difícil escolher só um jogador para este destaque, já que vários atletas lusos destacaram-se a um excelente nível, seja José Paiva dos Santos (o polivalente 3/4’s foi desmontou os seus adversários directos uma e outra vez), Nuno Peixoto, Francisco Silva (o asa da Académica de Coimbra esteve intratável na ida ao contacto), João Vieira ou Diogo Salgado, com várias boas notícias a surgirem desta vitória descansada dos homens de Nuno Aguiar. Perante isto, escolhemos Domingos Cabral, o abertura, que mostrou bons detalhes tanto na condução da estratégia de ataque de Portugal, como não deixou de arriscar e liderar bem o processo de trabalho da equipa, impondo um jogo ao pé de alto perigo, que conquistou metros, espaço e tempo para os lobos sub-20 dominarem por completo os timings do encontro.

O nº10 conseguiu dar coerência à sua posição, abriu e criou as situações de jogo necessárias para que os seus centros brilhassem com total veemência, especialmente João Vieira, surgindo sempre numa segunda cortina de ataque, revelando aqui um posicionamento inteligente e que deixou a oposição perdida em como fazer pressão e defender, um elemento importante para o encontro da meia-final. Na conversão aos postes, o abertura somou 7 conversões em 9 oportunidades, alguns de difícil conversão e que apesar do desenho menos ortodoxo, a verdade é que estiveram sempre no ponto certo, permitindo a Portugal garantir a maior vitória nesta Europeu de sub-20, entre todas as participantes.

Uma exibição colectiva de grande impacto, lúcida, respeito pelo adversário e com vontade de manterem a mesma cadência de ataque constante, sem deixarem de se importar com a sua atitude e trabalho defensivo, deixando boas perspectivas para a meia-final seguinte.

O MELHOR PONTO: FIABILIDADE E CONTINUIDADE OFENSIVA

10 ensaios, 6 quebras-de-linha, constantes boas movimentações e manobras do ataque, plataformas de jogo construídas com sentido e em que os jogadores se preocuparam com o colectivo, fornecendo uma continuidade de bola ao mesmo tempo segura e agressiva, que não concedeu qualquer oportunidade para os jogador checos tentarem algo mais mais. António Campos e Domingos Cabral foram uma dupla de médios fiável, mantendo índices altos de criação de situações de ataque perfurantes, com o combo de centros a ganhar uma dimensão dominante desde o início, isto enquanto o bloco de avançados ia empurrando os seus adversários quer nos rucks, mauls, formações-ordenadas, numa simbiose bem interessante para uma equipa que não efectuou qualquer jogo de preparação oficial contra uma selecção.

A segurança nas fases foi notória, e os poucos erros de ataque que foram vislumbrados advieram de offloads ou passes feitos sem olhar, numa tentativa de manter a imprevisibilidade de ataque e a fluidez de bola veloz, com o ritmo a ser extremamente alto em certos períodos deste encontro de abertura do Europeu de sub-20, notando-se a dificuldade da Chéquia para acompanhar as sinergias conjuntas das unidades de Portugal. Pormenores ofensivos bem adornados, encontrando uma eficácia quer em fases de ataque mais simples ou complexas, com destaque ainda para como Portugal variou as suas opções e movimentações.

Olhando para o encontro que virá a seguir, será fundamental não só ter a mesma atitude defensiva – placagens de alto impacto e rápida caça à oval no breakdown ou nas fases-estáticas -, mas de meter a Rússia desconfortável no seu trabalho defensivo, na procura constante por manter uma continuidade de jogo efectiva, sem deixar cair a parte do risco e criatividade espectacular, procurando uma 4ª final consecutiva no Europeu de sub-20.

PONTO A MELHORAR: FASES-ESTÁTICAS NÃO PODEM PERDER FOCO

Nota de abertura deste terceiro e último ponto: é praticamente impossível criticar ou encontrar algum erro constante da exibição de Portugal na vitória de 64-00 frente à Chéquia, ou seja, o que iremos aqui escrever é um simples preciosismo, perante uma prestação tão contundente e dominante do primeiro ao último minuto. Que erros ou falhas podem ser encontradas? Duas formações-ordenadas perdidas e que acabaram em penalidades, alguns excessos no breakdown, ou passes esboçados à pressa quando conseguiram uma quebra-de-linha ou tirar um grupo de adversários da frente.

Porém, e apesar de termos apresentado três elementos, a verdade é que estes jovens Lobos sub-20 foram sérios, não olharam para nomes ou historial do adversário, preocuparam-se em apresentar o seu melhor rugby, conseguindo expor o seu colectivo a um nível imenso, mas que agora terá de ser realmente testado frente a uma equipa mais dura, resiliente e de capacidades superiores. Esse rival será a Rússia, e é esperar agora para ver como vão reagir os jogadores liderados por Nuno Aguiar, e capitaneados pelo asa António Cerejo, nesta meia-final do Europeu de sub-20.

PLACARD

Ensaios: José Paiva dos Santos (2), Duarte Portela (2), António Cerejo, António Campos, Nuno Peixoto (2), João Vieira e ensaio de penalidade
Conversões: Domingos Cabral (8)


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS