Inédita final para Portugal – o “offload” do Europeu de sub-18

Francisco IsaacOutubro 6, 20216min0

Inédita final para Portugal – o “offload” do Europeu de sub-18

Francisco IsaacOutubro 6, 20216min0
Os lobos sub-18 estão na final do Rugby Europe Championship e nós explicamos como aconteceu esta vitória frente à Espanha. Lê tudo aqui

Inédito e histórico, Portugal está na final do Campeonato da Europa de sub-18 pela primeira vez na sua história, com um resultado de excelência frente à Espanha por 31-12, tendo realizado uma primeira-parte de apoteose total que lhes garante a ida até ao jogo do título desta competição. Os 3 destaques das meias-finais aqui no Fair Play.

O DESTAQUE: DEFESA DE LUXO E CONTRA-ATAQUE DE CLASSE

Não há nada melhor do que ver uma defesa carregada de raça e querer, munida de uma cabeça “limpa” para saber quando e como atacar o portador da bola e o breakdown, fornecendo uma dimensão táctica de alto nível que consegue vergar mesmo os adversários mais elétricos, como foi o caso da Espanha. O plano táctico destes Lobos sub-18 resultou na perfeição, ao aplicar pontapés letais altos sob a Espanha, com estes a não terem tempo para os devolver, ficando à mercê da subida rápida dos jogadores de Portugal que imediatamente impunham uma placagem dominante, para depois cercarem a oval dentro do ruck e a arrancarem ou forçarem uma penalidade em seu proveito, destruindo por completo com a potencial plataforma de jogo pensada pelo conjunto espanhol.

Com uma fisicalidade de grande impacto, jogadores como Henrique Cortes (saiu lesionado já no fim do encontro), Mateus Ferreira, Vasco Silva, Manuel Vareiro, Pedro Lopes, Pedro Cunha, entre outros, conseguiram sempre apresentar uma primeira placagem efectiva, pondo fim à aquilo que o adversário procurava, quebra-de-linha ou ganhar a linha-de-vantagem, dois princípios ou elementos fundamentais para que a estratégia de jogo dos Leones sub-18 fizesse sentido ou obtivesse outro espaço de manobra.

Com a excecução perfeita da defesa, seja na técnica, táctica ou atitude (excelente comunicação e coordenação entre as várias unidades), o ataque acabou por ganhar forma, tendo outra facilidade na saída com bola e capacidade de criar problemas, especialmente no que concerne ao contra-ataque, com esta plataforma a valer três ensaios: uma intercepção de Manuel Vareiro encima dos 22 metros defensivos; um pontapé atirado para as costas da defesa da Espanha que foi mal captado, com Sebastião Petronilho a arrancá-lo do ruck e a sair disparado até ao ensaio; e um bloqueio de pontapé que foi captado na sequência por Manuel Vareiro, com o centro a marcar os 5 pontos.

Letalidade no contra-ataque, boas decisões de irem aos postes colocando aí uma pausa nas ganas da Espanha em tentar subir a intensidade (Duarte Cortes transformou bem a maioria dos pontapés aos postes) e uma sagacidade em querer impor a melhor placagem possível no adversário, tendo sido a sua maioria baixa e bem colocada na cintura ou pernas dos jogadores espanhóis. A defesa ditou a vitória de Portugal e o ataque determinou uma vantagem histórica na ida inédita à final do Campeonato da Europa de sub-18.

O MELHOR PONTO: BREAKDOWN DITA A DIFERENÇA

Como falámos no primeiro ponto, foi no breakdown que Portugal fez a diferença em diferentes momentos, conseguindo penalidades para ir aos postes e transformar em pontos, ou arriscar num alinhamento e sair a jogar em busca do ensaio, com esta segunda situação de ataque a não correr tão bem devido à não contestação dos mauls por parte de Espanha (os jogadores de Miguel Leal e João Uva sofreram três faltas só neste parâmetro), forçando uma ligeira correção de estratégia que acabou por beneficiar os atletas portugueses no decurso do encontro.

Olhando para o 1º e 2º jogo, podemos discernir uma cópia quase fiel em dois elementos, em termos de quase perfeição: contra-ataque a garantir pontos; e o breakdown a funcionar como gerador de penalidades a beneficiar as cores lusas. Pegando neste segundo ponto, os Lobos sub-18 conseguiram, novamente, quase duas mãos cheias de penalidades a seu favor, realizando um excelente trabalho de leitura, aproximação, postura e trabalho, numa combinação irrepreensível de capacidade técnica e mental, que é extensível a todos os elementos, existindo um principio partilhado que vai da primeira-linha ao três-de-trás de todos defenderem e se assumirem como predadores no ruck, independentemente do tamanho físico.

O facto de existir esta cultura defensiva colectiva garante, desde logo, uma possibilidade alta de recuperar a oval ou de conquistar uma penalidade a seu proveito, colocando assim uma pressão profunda na equipa adversária, que no caso da Espanha nunca souberam contorná-lo, que acabaram por cair numa constante “guerra” com tudo o que não conseguiam controlar. Portugal foi melhor a defender e a contra-atacar no breakdown, a Espanha não teve a cultura táctica necessária para se adaptar à estratégia portuguesa e o resultado espelha essa diferença no resultado.

PONTO A MELHORAR: PORMENORES MÍNIMOS DE LEITURA

Exibição não esteve muito longe da perfeição, já que na primeira parte subsistia uma diferença de 28 pontos, com as hostes portugueses a manter a sua área de validação salva de ensaios ou pontos, aproveitando todos os erros do adversários para conseguir construir um resultado (quase) impossível de disputar. Foi normal ver uma ligeira queda de rendimento nos segundos quarenta-minutos, muito devido à subida de rendimento da Espanha, e também pelo facto de Portugal ter optado por uma atitude mais conservadora da posse de bola, não abrindo os flancos e permitir ao seu adversário tentar assumir o jogo e/ou aumentar a maior dose de risco, o que poderia permitir situações de contra-ataque. Por isso, onde é que Portugal não esteve tão bem?

A formação-ordenada, apesar de nunca ter terminado em falta, cedeu ligeiramente face ao adversário, com Duarte Cortes e Mateus Ferreira a combinarem com qualidade num esforço de 9-8 (respectivamente), de modo a garantir que a oval saísse rapidamente e de forma controlada; três penalidades/faltas indirectas no maul dinâmico próprio, derivadas da opção estratégia da Espanha em não disputá-lo, o que tirou aos jovens lobos sub-18 a possibilidade de montarem esta plataforma, ficando só a questão do porquê de terem demorado algum tempo a perceber o que estava de mal (a arbitragem foi clara, mas perdeu-se, momentaneamente, na tradução); e o jogo ao pé em momentos de pressão, surgindo dois erros dentro dos 22 metros que não acabaram da pior forma, porque o adversário não soube fazer uso desses erros e acabou por voltar a ceder no controlo de bola.

Mas é injusto da nossa parte dizer que a exibição teve manchas graves de qualquer nível, quando na realidade estes sub-18 mostraram toda uma elegância na comunicação, contra-ataque, no fazer e tomar decisões, na defesa, compromisso com o parceiro do lado ou placador, ostentando uma atitude não se de vencedores, como de verdadeiros candidatos a chegar à final.

PLACARD

Ensaios: Manuel Vareiro com 2 e Sebastião Petronilho
Conversões: Duarte Cortes (2)
Penalidades: Duarte Cortes (4)


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS