Arquivo de Lendas do Ténis - Fair Play

André Dias PereiraFevereiro 27, 20193min0

Sobre Helen Wills, tenistas famosos como Don Budge, Jack Kramer ou Harry Hopman, disseram que foi a maior tenista feminina da história. Eram outros tempos. De uma forma ou de outra os feitos da norte americana são lendários

Ao todo, Helen Moody foi número um mundial por nove anos (1927-33, e 1935 e 1938), conquistando 19 títulos. Ela foi também a primeira tenista a tornar-se estrela mundial. Privou com a realeza, estrelas de cinema, entre outras celebridades.

Nascida em 1905, em Centerville, próximo de São Francisco (EUA), começou por tomar contato com ténis aos 8 anos. Foi quando o pai, um físico, lhe ofereceu uma raquete de ténis. Começou a praticar e a ver jogos de algumas referências da época: May Sutton, Bill Johnson ou Maurice McLoughin. Foi já em 1919 que entrou no Clube de Ténis de Berkeley, como junior. O contato com a tetra-campeã do US Championships (prova que antecedeu o US Open), Hazel Hotchkiss Wightman, foi determinante. Foi aí que desenvolveu o seu jogo de pés, o serviço e entendimento táctico.

O seu ciclo vitorioso começou em 1921. Diante Helen Becker venceu o campeonato da Califórnia, em singulares e pares. Ainda nesse ano, e com apenas 17 de idade, tornou-se a mais jovem, à época, a conquistar o US Girls Championship. Um prenúncio para o que viria.

A partir de 1924, Moody ganhou notoriedade nacional e global. Não apenas revalidou o título do US Open – vencido pela primeira vez no ano anterior – como conquistou também o ouro olímpico, em Paris. Tanto em singulares como em pares.

O seu domínio nos courts traduziam-se em números. Entre 1919 e 1938, conquistou 398 vitórias contra 35 derrotas. Helen teve ainda 158 vitórias sem perder um único set. Dos 24 Major em que participou, venceu sete vezes o US Open, oito Wimbledon e quatro Roland Garros.

De ‘Poker Face’ a ‘Rainha Helen’

Em 1924, Kitty Godfree impôs a única derrota da norte-americana em Wimbledon. Helen Wills era uma pessoa introvertida e que raramente mostrava emoções no court. Godfree disse mesmo que Wills era tão reservada e com uma auto-estima tão baixa que parecia estranha. Talvez por isso tenha ganho a alcunha de “Little Miss Poker Face”. Contudo, à medida que a sua popularidade crescia, ganhou outras alcunhas como “Rainha Helen”, ou “Imperatriz Helen”.

A sua popularidade extravasava os EUA. Em 1926, na única vez que jogou com hexa-campeã de Wimbledon, Suzanne Lenglen, os preços inflacionaram e o recinto esgotou. Até as janelas das casas em volta do recinto, em Cannes, tinham adeptos. A francesa acabaria por vencer.

A rivalidade entre ambas tornou-se lendária. Mas Elizabeth Ryan, que jogou contra as duas, considera Helen melhor. Por ter mais recursos, dominar todo o tipo de pancadas e saber quando usá-las. “Ela jogava bem com as duas mãos, tinha um óptimo serviço e um instinto matador”, disse George Lott, vencedor de 12 Major.

Também inesquecível foi a “batalha de sexos”, contra Phil Neer, número 8 do ranking dos EUA. Helen acabaria por vencer por 6-3 e 6-4, num dos raros jogos singulares entre jogadores de sexos opostos.

Helen Wills também impôs tendência na forma como se vestia, optando por saias mais curtas que o habitual. Em São Francisco tem um busto em sua homenagem. Morreu, com 92 anos, em 1998

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André Dias PereiraNovembro 15, 20182min0

Muitos reconhecerão em Lacoste uma importante marca de roupa. Nem todos saberão, contudo, que o seu criador, René Lacoste, para além de empresário foi um importante jogador de ténis na década de 20. O seu estilo de jogo fê-lo ser apelidado precisamente de crocodilo, que anos mais tarde (1929) seria imagem de marca. Mas não só. Recorrentemente é relatado o episódio de uma viagem a Boston, em 1923, por ocasião da Taça Davis. René Lacoste repara em uma mala feita em couro de crocodilo. O treinador, Alan Muhr, disse que se Lacoste ganhasse compraria a mala para ele. Este episódio, testemunhado por um jornalista do Boston Evening Transcript, também está na origem do seu apelido.

Lacoste nasceu em Paris em 1904. Fez parte de um quarteto de tenistas franceses, apelidado de Quatro Mosqueteiros, que dominaram o circuito. Para além de Lacoste, o quarteto era composto por Jean Borotra, Henri Cochet e Jacques Brugnon.

René Lacoste não era reconhecido especialmente pelo seu talento. Mas à semelhança de outros desportistas, compensava com uma enorme capacidade de trabalho e treino. Estudava meticulosamente os adversários para poder explorar as suas debilidades, ao ponto de ter diários sobre o estilo de jogo de seus rivais. Essa capacidade estratégica acabaria por ser replicada na sua vertente empresarial.

Ao todo, Lacoste venceu sete títulos individuais de Gand Slam, em França (1925, 1927 e 1929), EUA (1926 e 1927) e Wimbledon (1925 e 1928). Porém, o francês nunca jogou o Australian Open. O francês venceu ainda três títulos em duplas, dois em França e um nos EUA. Os seus resultados levaram-no a número 1 do mundo entre 1926 e 1927.

Lacoste morre vítima de tuberculose

Em 1933 fundou juntamente com André Gillier a La Société Chemise Lacoste, que produzia camisolas de ténis que Lacoste frequentemente usava em suas partidas.

Lacoste terminou a carreira cedo. Devido a tuberculose, aposentou-se aos 25 anos de idade, passando a dedicar-se à área empresarial.

Em 1963 voltou a mostrar estar na vanguarda, patenteando a primeira raquete de ténis em aço tubular, que mais tarde viria a ser utilizada por Jimmy Connors. Até então, eram quase sempre feitas de madeira.

Atualmente, Novak Djokovic é o embaixador global da marca.

Lacoste está entre as personalidades que mais influenciaram o ténis. A 12 de Outubro de 1996 morreu, com 92 anos.

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André Dias PereiraOutubro 25, 20183min0

Na década de 20 ninguém foi tão bem sucedido quanto William Tatem Tilden. Ou Bill Tilden, como ficou mais conhecido. Durante sete anos foi número um mundial, conquistando dez Grand Slam. Três em Wimbledon e sete no US Open. Mas não só. A sua galeria conta também como sete Taças Davis e oito Majors em duplas: sete US Open e um Wimbledon.

Se dentro dos courts Tilden foi um dos mais bem sucedidos, fora deles ficou conhecido por escândalos sexuais com menores de idade.

Mas vamos por partes. O seu talento não se revelou cedo. Aliás, no ensino preparatório, em Germantown, Philadelphia, não tinha lugar na equipa da escola. Tímido, só em 1910 começou a se dedicar aos treinos e ao estudo do jogo. Aos poucos, foi começando a jogar e a ganhar torneios. Primeiro em Germantown, depois na Peirce School of Business. Ao lado de Mary Brown, jogadora de ténis e golf, conquistou os dois primeiros títulos do US Open, em pares mistos.

Dedicado ao treino, Tilden foi jogando torneios, acumulando troféus e treinando mais. O momento da viragem deu-se em 1920. Nesse ano tornou-se o primeiro norte-americano a vencer Wimbledon ao ganhar a Gerald Patterson. Ainda em 1920 ganhou também pela primeira vez o US Open em singulares e a Taça Davis, derrotando a França, composta pelo quarteto que ficou conhecido como os Quatro Mosqueteiros: Jacques Brugnon, Henri Cochet, Jean Borotra e Jean René Lacoste. Este quarteto ficou célebre por acumular 20 Grand Slam individuais e 23 em duplas.

Tilden começara, a partir de então, uma das mais bem sucedidas carreiras de sempre. O seu domínio nos courts era esmagador. Sobretudo no US Open. Só ali, entre singulares, pares e pares mistos acumulou 13 títulos em dez anos. Em singulares foi pentacampeão do US Open entre 1920 e 1925 Apenas em Paris, em Roland Garros, perdeu as duas finais que jogou, em 1927 e 1930.

Bill Tiden: profissionalismo, controvérsias e morte

A precisar de dinheiro, em 1930 Bill Tilden tornou-se profissional. Ali permaneceu por 16 anos e jogou com adversários como Fred Perry ou Don Budge. A popularidade de Tilden continuava a fazer dele o jogador que o público mais queria ver jogar. Em 1931 e 1935 venceu o US Open, agora como profissional, e em 1933 e 1934 ganhou, finalmente, Roland Garros.

Em 1945, então com 52 anos, Tilden e Vinnie Richards ganharam o US Open, em duplas. Um feito impressionante pela idade e também porque, os dois tinham conquistado 27 anos antes a mesma prova enquanto amadores.

Bill Tilden foi também treinador da Alemanha na Taça Davis. A sua popularidade, velocidade e habilidade, mas sobretudo o seu domínio na década de 20 tornam-no frequentemente referência entre os maiores tenistas da história. Em 1959 entrou no International Hall of Fame.

Fora dos courts a sua vida fica também marcada por escândalos sexuais com menores de idade. Em 1946 foi detido por assediar um rapaz de 14 anos e em 1949 por dar boleia a um jovem de 16 anos. Foi condenado a cumprir pena de prisão, onde permaneceu por sete meses.

Bill Tilden morreu em 1953 aos 60 anos de idade com problemas no coração. Apesar de todas as polémicas associadas, o seu legado e influência no ténis perduram até hoje.

Bill Tilden vs Bill Johnston, em 1925

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André Dias PereiraOutubro 4, 20183min0

Se há tenista que impactou o ténis dentro e fora dos courts, essa personalidade foi Jack Kramer. O norte-americano foi número 1 mundial em 1946, somou 35 títulos, entre os quais três Grand Slam. Mas foi o seu papel fora dos courts que deixou o nome para sempre ligado à modalidade. Ele foi um dos principais rostos da transformação da Era amadora para a Era profissional (Open), que aconteceu em 1968. Em 1972 ajudou a construír a Associação de Ténis Profissional (ATP) e tem o seu nome associado a uma das raquetes de ténis mais icónicas da história.

Mas vamos por partes. A ligação de Jack Kramer ao ténis começou ainda em criança. Apaixonado também por basquetebol, aos 13 anos, quando seus pais se mudaram para San Bernardino, Califórnia, Kramer concentrou-se exclusivamente no ténis, após ver um jogo de Henrry Ellworth Vines Jr.

No seu percurso amador começou por jogar na escola, mas as suas habilidades levaram-no rapidamente para Montebello, no sul da Califórnia, para jogar no LACT e no clube de ténis de Beverlly Hills. Ali jogou com nomes grandes como Ellsworth Vines, Bobby Riggs ou Bill Tilden. No final da década de 30 venceu vários torneios juniores, entre os quais o campeonato nacional da categoria.

Kramer completou, entre 1938 e 1947, sete Campeonatos Nacionais dos EUA. O seu primeiro Grand Slam foi em 1946, em Wimbledon. Nesse ano, acabaria por vencer o seu primeiro Major: US Open. Mas não se pense que foi fácil. Até chegar aqui, Kramer enfrentou várias adversidades. Uma apendicite afastou-o de dois torneios nacionais, também desenvolveu bolhas, entre outros obstáculos que adiaram o seu primeiro grande troféu.

Em 1947 voltaria a repetir esse feito, juntando ainda a vitória em Wimbledon. O seu sucesso levou-o a integrar a equipa norte-americana para a Taça Davis, vencendo nos anos 1946 e 1947. Em duplas, venceu quatro vezes o US Open (1940, 1941, 1943 e 1947) e duas Wimbledon (1946 e 1947).

O seu estilo de jogo agressivo, habilidade e equilíbrio levaram-no a número 1 mundial, em 1946.

O profissionalismo chegou em 1947, assinando um contrato de 50 mil dólares por ano. A sua estreia foi com Bob Riggs, no Madison Square Garden perante mais de 15 mil espectadores. Juntamente com Riggs, os dois convenceram outros nomes importantes a priorizarem o profissionalismo.

O impacto Jack Kramer

A mudança para o profissionalismo e a promoção do mesmo tinha por base uma visão. A de que o ténis amador não era sustentável. Por isso, convidou vários tenistas de outros países a jogarem no Madison Squere Garden. Em 1954 aposentou-se dos courts, mas não do ténis. Juntamente com Donald Dell e Cliff Drysdale, fundaram o ATP, em 1972.

Kramer foi ainda pioneiro do Grand Prix, um conjunto de torneios Master que viria, mais tarde, tornar-se na Masters Cup

Paralelamente, Kramer era um reputado comentador da BBC. Também deu nome a uma raquete de ténis da Wilson. A raquete Jack Kramer Wilson, lançada em 1948, foi a mais vendida da história, somando mais de 20 milhões de unidades.

Jack Kramer morreu em 2009, vítima de cancro. Tinha 88 anos de idade.

Jack Kramer. A vitória em Wimbledon, em 1947

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André Dias PereiraSetembro 20, 20182min0

Stanley Roger Smith. O nome pouco diz à maioria. Mesmo entre o público do ténis, Stan Smith, como ficou popularizado, não está entre os primeiros nomes no que toca a referências da modalidade. Provavelmente, a sua icónica linha feminina de ténis da Adidas será, hoje, o seu melhor bilhete de identidade.

Contudo, Smith é mais do que um nome de calçado da marca alemã. Foi também o primeiro tenista a vencer o 1º Torneio Masters Cup, que atualmente se disputa no final do ano e reúne os melhores tenistas da temporada. Juntamente com Bob Lutz formou, nas décadas de 70 e início de 80, uma das melhores duplas da história. Em 1971 e 1972 venceu, respetivamente, o US Open e Wimbledon. Feitos que o levaram, em 1987, a entrar no International Tennis Hall of Fame.

Treinado por George Toley, Stan Smith começou por jogar na universidade, na Califórnia, vencendo, em 1968, os campeonatos universitários de NCAA, em singulares. O seu talento fê-lo integrar por três vezes o All American, uma equipa composta pelos melhores desportistas norte-americanos.

Mas foi com o treinador Pancho Segura, tenista de referência nas décadas de 40 e 50, que Smith atingiu outro patamar. O início dos anos 70 foi o seu período dourado, ou pelo menos, o mais titulado. Em 1971 ganhou o seu primeiro Grand Slam. Foi o US Open, diante Jan Kodes (3–6, 6–3, 6–2, 7–6). No ano seguinte ganhou Wimbledon frente a Ilie Nastase (4-6, 6-3, 6-3, 4-6, 7-5). Ainda em singulares não foi tão bem sucedido no Australian Open (nunca passou da terceira ronda) mas em Roland Garros foi duas vezes finalista vencido (1971 e 1972).

Stan Smtih dá nome a uma das mais icónicas linhas de ténis feminino. Foto: .afew-store.com

Tetracampeão em Wimbledon

Stan Smith fica, contudo, na história como sendo o primeiro vencedor do torneio Masters, disputado em Tóquio. O adversário da final era nada menos que Rod Laver: 4–6, 6–3, 6–4.

Em termos de títulos, o norte-americano notabilizou-se ainda mais em pares. Venceu quatro torneios US Open, (1968, 1974, 1978, 1980). Em Wimbledon bateu na trave por outras quatro vezes, tendo sido finalista vencido (1972, 1974, 1980, 1981), tal como no Australian Open (1970).

A sua carreira de sucesso levou-o, mais tarde, a ser treinador na Associação de Ténis dos EUA. Atualmente, tem uma Academia de Ténis e é presidente do International Tennis Hall of Fame.

André Dias PereiraSetembro 6, 20182min0

O ano era o de 1881. Ainda no século XIX. Foi o ano do nascimento, por exemplo, de Pablo Picasso. No desporto, o ano fica também marcado pelo nascimento de um torneio em cuja final, no próximo domingo se joga pela 127º vez. O US Open.

Mas nesse período a competição ainda não tinha essa nomenclatura. Era o US National Championships. Uma competição nacional jogada em singulares e pares masculinos. Disputado entre 31 de Agosto e 7 de Setembro, a prova começou por ser jogado em relva. Bem diferente do piso rápido em que se joga desde 1978.

Naquela época, apenas membros da Associação de Ténis dos EUA (actualmente, USTA) poderiam jogar a prova. E apenas em 1887 as mulheres começaram a participar. Dois anos depois, a competição foi aberta a pares femininos e em 1892, a pares mistos.

A primeira edição do que viria a ser o US Open jogou-se em Newport. Richard Sears foi o primeiro campeão numa final contra William E. Glyn (6-0, 6-3 e 6-2).

Isto, claro, numa época totalmente amadora. O norte-americano venceu, de resto, as sete primeiras edições da prova. Importa dizer, contudo, que naquela época o campeão apurava-se automaticamente para a final da edição seguinte. Sears começou por jogar ténis dois anos antes, em 1979. E ainda era estudante de Harvard quando venceu a primeira edição do US National Championships. Entre 1881 e 1987, ano em que se retirou, Richard Sears esteve 18 jogos sem perder.

Em pares, a dupla Clarance Clark e Fred Taylor levou a melhor sobre Arthur Newbold e Alexander Van Rensselaer (6-5, 6-4 e 6-5).

Os recordistas nas Eras Amadora e Open

Ao longo dos anos muitas foram as adaptações até se transformar no US Open. Apenas em 1978 se mudou para Flushing Meadows, onde ainda hoje se joga. De resto, a competição já foi jogada em todas as superfícies. Entre 1881 e 1974, na relva, entre 1975 e 1977, na terra batida, e desde 1978, em piso rápido.

Em 1968, Arthur Ashe consagrou-se como o primeiro campeão do US Open na era Open. O finalista vencido foi o holandês Tom Okker (14–12, 5–7, 6–3, 3–6, 6–3). Na Era Amadora, os norte-americanos William Larned, Richard Sears e Bill Tilden são os recordistas de vitórias, somando sete títulos cada. Na Era Open, Jimmy Connors, Pete Sampras e Roger Federer, são os maiores campeões, com cinco troféus cada. Mas o suíço já está fora de prova. Conseguirá Rafael Nadal, com três títulos, aproximar-se do trio? Até domingo saber-se-à a resposta.

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André Dias PereiraAgosto 16, 20183min0

Maureen Connolly, também conhecida como pequena Mo, tornou-se a primeira tenista a conquistar em um único ano os quatro Major. Foi em 1953. Tinha então 19 anos de idade. Ao todo conquistou 9 Grand Slam. A sua carreira e vida foram tão fugazes quanto marcantes para o ténis. Mas poucos apostariam as suas fichas na carreira desta norte-americana, nascida em San Diego, Califórnia.

A primeira paixão de Maureen foi, contudo, andar a cavalo. Filha de pais separados, a sua mãe não tinha como pagar as aulas. Foi então que Maureen começou a olhar para o ténis. O seu percurso começou com 10 anos de idade nos courts de San Diego. O seu treinador encorajou-a trocar o seu jogo de esquerda pela direita. Rapidamente se tornou especialista no fundo do court, jogando com grande força e precisão. A alcunha de Pequena Mo foi dada pelo jornalista desportivo Nelson Fischer, que comparou a sua força e poder de jogo ao navio USS Missouri, conhecido como Grande Mo.

Aos 16 anos de idade e após derrotar a antiga número 1, Shirley Fry, Maureen tornou-se a mais jovem tenista a vencer o US Open. No ano seguinte ganhou Wimbledon, vencendo na final a Louise Brough, que entre 1942 e 1957 venceu seis Major. Importa dizer que a Pequena Mo jogou esse torneio com o ombro lesionado, recusando-se a desistir quando foi pressionada para tomar essa decisão. Em 1952 voltou a vencer o US Open e em 1953 conquistou o tricampeonato. E foi nesse ano, quando passou a ser treinada por Harry Hopman, que se tornou a primeira mulher a fazer o rally Grand Slam: Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open. Antes dela, só Don Budge conseguira esse feito.

Ao todo, foram 9 os títulos Grand Slam para Maureen Connolly entre 1952 e 1954. Conquistou ainda 50 vitórias consecutivas no circuito. Os seus méritos desportivos tornaram-na uma das personalidades mais populares dos EUA, tendo sido atleta do ano para a imprensa entre 1951 e 1953.

Para além dos titulos em singulares, Maureen ganhou, em pares mistos, o Australian Open (1953), bem como Wimbledon e US Open (1954). Por equipas foi tetracampeã da Whitman Cup (1951, 1952, 1953 e 1954).

Morte aos 34 anos

Maureen Connolly tornou-se uma tenista de elite, mas a equitação nunca lhe saiu do sangue. Casada com Norman Brinker, da seleção olímpica equestre dos EUA (1952), teve duas filhas. E se a falta de dinheiro para aulas de equitação esteve na origem da sua introdução ao ténis, um acidente de cavalo colocou o ponto final na modalidade, aos 19 anos. Aconteceu poucas semanas depois de ter alcançado o terceiro título em Wimbledon, em 1954. Oficialmente, aposentou-se no ano seguinte. Muitos, ainda hoje, se perguntam até onde poderia Connolly ter ido e o que poderia ter conquistado se não fosse o acidente.

E se a sua carreira foi efémera, a sua vida também. Em 1966, com apenas 34 anos, não resistiu ao cancro e a três operações ao estômago.

O seu legado, contudo, coloca-a recorrentemente entre as maiores tenistas da história dos EUA. A cidade de Plano, no Texas, tem uma escola com o seu nome.

André Dias PereiraJulho 26, 20182min0

Margaret Jean Court, ou, simplesmente Margaret Court. A tenista australiana dominou o circuito nos 60 e tornou-se a primeira no quadro feminino, na Era Open, a conquistar os quatro Grand Slam no mesmo ano. Ao todo arrecadou 64 Major, 24 em singulares, um record que ainda hoje se mantém, 19 em duplas femininas e 19 em duplas mistas.

Nascida em Albury, Australia, em 1942, Court começou por chamar a atenção em 1960, quando venceu o Australian Open. Mas a sua carreira estava destinada a ultrapassar muitas barreiras. Tantas, que ainda hoje é recordada como uma das maiores de todos os tempos.

As suas características físicas e capacidade técnica permitiam-lhe jogar um ténis diferenciado junto à rede e ter uma pancada forte. Ela também deu uma nova dimensão ao serviço em vólei.

Em 1962 e 1963 tornou-se a primeira mulher do seu país a ganhar, respectivamente, Roland Garros e o US Open. No ano seguinte repetiu o feito em Wimbledon.

Na década de 60 nenhuma tenista brilhou mais que Margaret Court. Em 1966 aposentou-se temporariamente para casar, no ano seguinte, com sir Charles Court. O regresso deu-se em 1968, ano em que venceu o US Open.

A despedida em 1976

Foi em 1970 que se tornou também a primeira mulher da Era Open a vencer os quatro Grand Slam. Quem acompanhou a sua carreira tem também na memória a final perdida em Wimbledon, no ano seguinte, perante Evpmme Cawley, quando ainda se encontrava grávida.

De resto, Margaret Court fez várias pausas na carreira para dar à luz. A derradeira em 1967, quando estava grávida do seu quarto filho. O seu último jogo em Major de singulares foi em 1975, no US Open, e em duplas no ano seguinte, no Australian Open.

A par de Doris Hart e Martina Nevratilova é uma das três únicas tenistas a ter conquistado todos os Grand Slam: singulares, pares e mistos. É a única, contudo, a ter vencido os 12 eventos pelo menos duas vezes, e também a única a vencer antes e depois do início da Era Open.

Com um palmarés tão recheado, acumulou vários prémios ao longo da sua vida. Entre eles, ser membro da Ordem do Império Britânico e integrar o Australian Tennis Hall of Fame

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André Dias PereiraJulho 12, 20184min0

Injustiçado. Subvalorizado. Muitos são os adjetivos que ajudam a descrever a carreira Roy Emerson. Mas dizer que o tenista australiano esteve sempre à frente do seu tempo seja mais justo. E essa condição tornou-o intemporal.

Esta é a história do tenista que, até hoje, conquistou maior número de Grand Slam. Vinte e oito no total. Doze em singulares e dezasseis em pares. Roy Emerson é, ainda hoje, o único tenista a fazer o carreer Grand Slam em singulares e pares. E é a par de Novak Djokovic e Roger Federer, o único a ter seis Australian Open.

Com uma carreira que decorreu entre 1953 e 1983, Roy Emerson conquistou todos os seus maiores feitos na Era amadora do ténis. Dominou o circuito sobretudo na década de 60, altura em que conquistou 27 dos seus 28 Grand Slam. Foi também o primeiro a conquistar, pelo menos, duas vezes cada Major na carreira.

Apesar dos números impressionantes, a sua carreira sempre foi relativizada pelo facto de os torneios Grand Slam serem abertos apenas a jogadores amadores, sendo o nível técnico maior nos torneios profissionais.

Nascido em Blackbutt, Queensland, em 1936, Roy Emerson começou a sua ligação ao ténis em Brisbane, quando a sua família se mudou. O seu primeiro título teve lugar em Wimbledon, em 1959, a par de Neale Fraser. O primeiro título de singulares teve lugar dois anos depois, na sua Austrália natal, diante Rod Laver. Os dois australianos voltariam a defrontar-se no mesmo ano, na final do US Open. Outra vez, a vitória foi para Roy Emerson.

Roy Emerson era, sobretudo, conhecido pela sua capacidade de treino e forma física, bem como um estilo de jogo adaptável a todos os tipos de piso. Entre 1963 e 1967 foi, talvez, o seu auge. Conquistou nada menos que cinco títulos consecutivos do Australian Open. Em 1963, diante Pierre Darmont, venceu Roland Garros, repetindo o feito em 1967. O primeiro título em singulares, em Wimbledon, ocorreu em 1964. Fred Stolle foi o oponente. Nesse ano, Roy Emerson venceu 55 jogos consecutivamente e ganhou 109 de 115 jogos realizados. Números que lhe permitiram vencer o Australian Open, Wimbledon e US Open. Sem surpresa, tornou-se número 1 em 1964 e 1965. O seu último título em singulares foi, precisamente, em 1967, em Roland Garros. Um ano antes do arranque da Era profissional.

Recordista intemporal

Roy Emerson ao lado de sua estátula em Blackbutt, sua cidade natal. Foto: Courier Mail

Emerson sempre quis manter-se como amador. Recebeu várias propostas para se tornar profissional, inclusivamente avultados valores em dinheiro.

O seu recorde de 12 Grand Slam mantive-se intacto até ser ultrapassado por Pete Sampras, em 2000. Contudo, o seu recorde de dez vitórias consecutivas em finais de Grand Slam mantém-se em activo. Diga-se também que Emerson conquistou oito Taças Davis, entre 1959 e 1967, um recorde. Ao lado de Rod Laver conquistou, em 1971, o seu último Grand Slam. Foi no torneio de pares de Wimbledon. Ao todo conquistou 28 Grand Slam (entre as singulares e pares) e 110 títulos.

É por isso um nome grande na história do ténis, tendo-se retirado em 1983. Actualmente com 83 anos de idade tem coleccionado várias menções honrosas. Está desde 1982 no Hall of Fame. Em 2000 foi agraciado com a medalhe de desporto australiana. Roy Emerson dá ainda nome ao troféu do prestigiado troféu de Brisbane, onde tem ainda courts com o seu nome. Na sua cidade natal tem ainda um museu sobre si e uma estátua.

 

Títulos em Singulares 

Australian Open: 1961, 1963, 1964, 1965, 1966 e 1967)

Wimbledon: 1964 e 1965

Roland Garros: 1963 e 1967

US Open: 1961 e 1964

 

Títulos em Pares

Australian Open: 1962,1966 e 1969)

Wimbledon: 1959, 1961 e 1971

Roland Garros: 1960, 1961, 1962, 1963, 1964 e 1965

US Open: 1959 e 1960, 1965 e 1966

 

Taça Davis: 1959, 1960, 1961, 1962, 1964, 1965, 1966 e 1967

 

Roy Emerson e as finais de Wimbledon, em 1965

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André Dias PereiraJunho 28, 20183min0

Muito antes Andy Murray havia… Fred Perry. Antigo número um mundial, vencedor de 10 Grand Slam, Perry foi ainda o tenista a conquistar o primeiro carreer Grand Slam e é o único britânico, ainda hoje, a atingir esse feito. Entre 1934 e 1936 venceu três vezes consecutivas Wimbledon. Foram precisos, depois, 77 anos para outro britânico, Andy Murray, voltar a erguer Wimbledon.

Natural de Stockport Fred Perry (1909-1995) parece ter nascido com habilidade natural para o ténis. Os seus reflexos e visão de jogo notabilizaram-no também no ténis de mesa. Nessa modalidade venceu o Campeonato do Mundo, em Budaspeste, em 1929, e a medalha de bronze em duplas e também por equipas. No ano anterior, em Estocolmo, ganhou medalha de prata por duplas e bronze por equipas e pares mistos.

Conquistado o sucesso na mesa, Perry focou-se nos courts. O britânico acreditou que poderia utilizar as suas habilidades também no ténis. Com força acima da média e uma direita impressionante, em 1929 começou o seu percurso como amador. E logo nesse ano jogou Wimbledon. O primeiro título chegou no US Open, em 1933. A partir de então, Fred Perry marcou uma era. Em 1934 conquistou três Grand Slam: Australian Open, Wimbldon e US Open. No ano seguinte, completou o carreer ao ganhar Roland Garros. Foi o primeiro tenista da história a fazê-lo e até hoje o único britânico. No seu último ano de amador, ganhou também Wimbledon e US Open, totalizando oito Grand Slam em quatro anos. Em Wimbledon, precisou apenas de 45 minutos para vencer p alemão Baron Gottfried, em uma das mais rápidas finais da história (6-1, 6-1 e 6-0).

Estrela dentro e fora do court

Fred Perry tem uma estátua erguida em Wimbledon. Foto: Getty Images

O profissionalismo chegou em 1936, depois de ter sido número um amador por três anos. Esse foi, aliás, o ano em que o britânico conquistou o tricampeonato em Wimbledon e uma vitória no US Open. Um período, de resto, envolto em polémica. Naquela altura, apenas eram reconhecidos títulos de jogadores amadores. Foram precisos muitos anos para que essas conquistas fossem consideradas válidos. Como profissional, Perry venceu também o US Pro (1938 e 1941).

Com um grande espírito competitivo era também uma estrela mediática. Com frases marcantes como: “Não aspirava a ser bom no desporto. Ser campeão já seria o bastante para mim”.

Na sua vida pessoal, foram conhecidas a sua relação com Marlene Dietrich, ou as amizades com Charlie Chaplie e Betty Davis. Foi casado três vezes, a última das quais com Barbara Riese, por 40 anos. Depois de se aposentar, Fred Perry trabalhou como treinador e desenvolveu marca de roupa com o seu nome. Morreu, aos 85 anos, em 1995, em Melbourne, Austrália.

Fred Perry é considerado um dos grandes jogadores da história do ténis e está, desde 1975, no International Tennis Hall of Fame. Tem, inclusivamente, uma estátua erguida em Wimbledon comemorativa dos 50 anos daquele torneio. Em Stockport, na sua terra natal, tem inúmeros memoriais e uma estrada com o seu nome.

 

Setenta e sete anos separam as vitórias de Fred Perry e Andy Murray em Wimbledon


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