Durante anos os adeptos do FC Porto chamaram da Taça da Liga da "Taça da Carica" mas a derrota frente ao Estoril parece ter abanado a massa associativa
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O Clube Desportivo Santa Clara, fundado em 1927, é de forma unânime reconhecido como a grande força desportiva do arquipélago dos Açores. Com 5 participações na mais alta divisão do futebol nacional, o clube atravessa provavelmente o melhor momento da sua história, estando na terceira temporada consecutiva no convívio dos grandes, e vindo da melhor classificação de sempre da historia do clube na primeira divisão, com o 9º lugar da época passada.
João Henriques foi o escolhido para dar cara ao projeto da equipa aquando do regresso à primeira divisão, e o técnico correspondeu. Em 2018/2019 um sólido 10º lugar, e um ainda melhor 9º em 2019/2020.
Esta época, depois da saída do anterior técnico, temeu-se um estagnar ou até recuar do projeto ambicioso do atrativo Santa Clara, sobretudo devido ao perfil algo defensivo e muito focado no pragmatismo do novo timoneiro, Daniel Ramos.
Medos justificáveis, mas que podemos agora afirmar, totalmente infundados. A equipa açoriana pode não apresentar um futebol tão atrativo como nos dois anos anteriores, mas o nível exibicional não baixou como muitos esperariam, tendo em conta não só a equipa técnica mudou, como o clube foi perdendo peças fundamentais nos últimos dois anos, como Bruno Lamas, Thiago Santana, Kaio Pantaleão, Chico Ramos, Osama Rashid, Guilherme Schettine e Zaidu.
Apesar das perdas, o clube tem conseguido colmatar as várias saídas com a contratação de jogadores de muita qualidade, que se juntam a nomes experientes do plantel como o guarda redes Marco, Ukra, Anderson Carvalho ou João Afonso.
Posicionado num confortável sétimo posto, a morder os calcanhares ao Vitória SC, o Santa Clara apresenta, apesar das perdas, um plantel muito competitivo e com talento para almejar outros patamares.
Na baliza mora um dos mais completos guarda redes do campeonato. Marco Pereira pode não ter o perfil físico do guarda redes moderno, mas é dotado de reflexos ao nível dos melhores, e junta a isso um extraordinário jogo de pés, provavelmente o melhor em Portugal.
Rafael Ramos tem sido o senhor da lateral direita, relegando o experiente Pierre Sagna para o banco. O pequeno lateral de 26 anos formado no Benfica tem sido um dos melhores do campeonato na sua posição, vindo mais maduro e experiente da sua experiencia transatlântica em Orlando. Fortíssimo fisicamente, tem pilhas que duram 90 minutos, destacando-se pela sua velocidade e pelos seus cruzamentos tensos.
À esquerda, Mansur foi incumbido de colmatar a saída de Zaidu. O internacional jovem canarinho tem correspondido, sem grandes exuberâncias somando 21 jogos no campeonato, contra os 8 de João Lucas.
No eixo defensivo o internacional venezuelano Mikel Villanueva chegou e pegou de estaca ao lado de Fábio Cardoso, um dos elementos mais cotados da equipa. A eficácia desta dupla remeteu para plano secundário João Afonso, que era um titular regular com João Henriques. Fábio Cardoso e Villanueva são os principais responsáveis pela boa defesa do clube açoriano, que soma 30 golos sofridos, apenas mais 2 que o SC Braga e 6 que o FC Porto.
No meio campo, Anderson Carvalho tem sido presença firme na “posição 6”, contribuindo com a sua experiencia, energia e cultura tática. Próximo do brasileiro, uma das grandes “trends” no nosso campeonato.
Hidemasa Morita, internacional japonês contratado ao Kawasaki Frontale em Janeiro, chegou para o lugar de Rashid, capitão e figura fundamental no xadrez açoriano. Uma enorme responsabilidade, mas que o japonês aceitou, chegando e brilhando com a sua qualidade de passe, visão de jogo e maneira como pauta o ritmo de jogo e o futebol ofensivo da equipa. A juntar à sua qualidade ofensiva, Morita contribui ainda defensivamente com a sua intensidade e excelente ocupação de espaços.
Esta dupla mais trabalhadora permite a Lincoln, o mais criativo e habilidoso do trio de meio campo, focar-se quase exclusivamente na manobra ofensiva. Quase um “10” clássico, o brasileiro ex-Grêmio gosta de cair nas alas para procurar desequilíbrios, desguarnecendo por vezes o miolo.
Para além do trio habitualmente titular, Daniel Ramos conta ainda com opções como o jovem Nené, o ex-Vitória FC Costinha, que pode atuar como 8 ou como 10, ou ainda o reforço de Inverno Rúben Oliveira.
Por fim, falta mencionar o ataque. Daniel Ramos confiou no que de bom foi feito e manteve um os três homens da frente, com Carlos Júnior a afirmar-se como o único indiscutível no trio mais ofensivo. O extremo brasileiro que já passou pelo Rio Ave, está a ter a melhor época desde que chegou a Portugal, somando 10 golos e 6 assistências em 24 jogos, ele que vai alternando entre a esquerda e a direita.
O extremo oposto tem variado mais, com o reforço de inverno Allano a dividir o protagonismo com os experientes Ukra e Diogo Salomão, e ainda com o velocíssimo Jean Patric.
No eixo do ataque, pensou-se que Daniel Ramos não conseguisse impedir os pesadelos com a saída de Thiago Santana, uma vez que mesmo tendo saído em Janeiro, o brasileiro continua a ser o segundo melhor marcador da equipa. No entanto, o brasileiro Crysan soube aproveitar a oportunidade para se fixar em definitivo como ponta de lança, ele que jogava muitas vezes como extremo. O brasileiro tem 3 golos na liga até ao momento.
Mas para descansar ainda mais o técnico e os adeptos dos bravos açorianos, chegou em Janeiro o jovem Rui Costa, avançado com passagens pelo FC Porto B e pelo Portimonense. Vindo a custo zero do Deportivo, o jovem de 24 anos soma 4 golos em 10 aparições no campeonato, mais que o seu concorrente direto, numa luta acesa pela herança de Thiago Santana.
Um clube histórico, humilde, que representa uma região que necessita desta representatividade do Santa Clara. Os açores merecem e devem estar na primeira liga. E com esta estrutura e forma de trabalhar, vender bem e contratar talento deverão conseguir manter-se por muitos e bons anos. Um clube especial, de uma região especial, que tem mostrado a muitos clubes que é possível jogar na primeira liga com qualidade, e que o talento pode ser encontrado em todos os campeonatos.
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