Sinner: a ascensão em Austrália
Na antevisão da temporada de 2024, um dos motivos elencados para acompanhar o circuito mundial era entender até onde vai a evolução de Jannick Sinner. O italiano é não apenas um dos mais talentosos de sua geração, como parece em condições de poder atingir níveis de altíssimo grau de competitividade e com isso outros voos. Desde 2020 conquistou nada menos que 10 títulos, 4 dos quais na época passada, entre eles um ATP 1000 (Canadá). Mas faltava um Major. O título maior. O torneio que distingue os melhores dos maiores.
E esse título aconteceu logo no primeiro Grand Slam do ano. Em Melbourne, Austrália. E em grande estilo, diga-se de passagem. O italiano deixou para trás adversários como Rublev, Djokovic e Medvedev. O encontro com o russo aconteceu, aliás, na final, com um triunfo de virada: 3-6, 3-6, 6-4, 6-4 e 6-3.
Com apenas 22 anos, Sinner marca o seu nome na galeria de campeões na sua primeira final disputada. E pela sua capacidade técnica, força mental e competitividade demonstrados, é caso para dizer que, tudo indica, este poderá ser o primeiro de vários. E tendencialmente, o primeiro é o mais difícil de alcançar, como prova, por exemplo, Zverev, multicampeão do circuito, um atleta de talento ímpar, e que em 2024 volta a cair nas meias-finais, desta vez perante Medvedev (5-7, 3-6, 7-6, 7-6, 6-3). O alemão conta já com 21 títulos ATP (incluindo 2 ATP Finals) mas nunca venceu nenhum Grand Slam.
Numa final com mais de 4 horas de duração, Sinner confirmou com o título o grande torneio que vinha fazendo. Nos cinco primeiros jogos, sequer cedeu um set. Por seu lado, Medvedev passou por um caminho mais longo, incluindo o português Nuno Borges, mas também Hurkacz e Zverev. Ainda que o russo tenha repetido a final de 2023, a verdade é que voltou a não ter sucesso. E até entrou melhor na partida, com dois sets arrasadores, quebrando o serviço de Sinner no início de cada um deles. Só que depois veio ao de cima o talento e entusiasmo de Sinner, que embalado pelo público venceu de virada.
Borges como Sousa
Mas talvez um feito tão grande quanto ganhar o Australian Open terá sido eliminar Novak Djokovic num jogo a cinco sets. O sérvio buscava mais um Major, era o grande favorito no torneio, mas pela primeira vez foi afastado após alcançar as meias-finais. O resultado final foi de 6-1, 6-2, 7-6 e 6-3. Na outra meia-final, Medvedev foi melhor que Zverev: 5-7, 3-6, 7-6, 7-6 e 6-3. O alemão volta a falhar uma final de Grand Slam, mas provou estar no caminho certo e com o nível competitivo certo. E um bom exemplo foi a vitória sobre Carlos Alcaraz, segundo cabeça de série: 6-1, 6-3, 6-7 e 6-4. O espanhol reconheceu a superioridade de jogo do italiano, numa altura que procura ainda a melhor forma. Na terra batida é sem dúvida um nome forte para vencer Roland Garros, ao lado do compatriota Rafael Nadal.
Quem fez um torneio para mais tarde recordar foi o português Nuno Borges. Pela segunda vez, um tenista luso alcançou os oitavos de final do Australian Open. Borges deixou para trás nada menos que os favoritos Fokina (7-6, 6-3 e 6-3) e Grigor Dimitrov (6-7, 6-4, 6-2 e 7-6). O sonho português acabou por cair diante Medvedev (6-3, 7-6, 5-7 e 6-1). E bem se pode dizer que Borges jogou em altíssimo nível. Recorde-se que antes de Nuno Borges só João Sousa alcançou os oitavos de final, entre os tenistas portugueses. Em entrevista, Borges mostrou-se incrédulo pelo feito e pela experiência que, certamente, não vai esquecer. “Nunca pensei que pudesse chegar tão longe”, disse à chegada a Portugal, acrescentando que “jamais imaginou” jogar na Rod Laver Arena.