Será Djokovic o melhor de sempre?

André Dias PereiraJunho 28, 20214min0

Será Djokovic o melhor de sempre?

André Dias PereiraJunho 28, 20214min0
O tenista sérvio tem vindo a derrubar barreiras, mas será Novak Djokovic o melhor de todo o sempre? André Dias Pereira analisa este tema

A pergunta do título é, por certo, uma das mais repetidas nos últimos anos. E a resposta não será fácil e ainda menos consensual. Mas ganhou força com a vitória do sérvio, este mês, em Roland Garros, onde Nadal parecia invencível. Aliás, Novak Djokovic não apenas ganhou o torneio dos mosqueteiros – vencendo na final Tsitsipas (6-7, 2-6, 6-3, 6-2, 6-4) –  como levou a melhor sobre o espanhol nas meias finais (3-6, 6-3, 7-6, 6-2). Vale dizer que foi apenas a terceira vez que Nadal foi superado em Paris em 13 anos de participações.

O triunfo de Djokovic corresponde ao seu 19 Grand Slam. Está a um, portanto, de Nadal e Federer. Tendo em conta a idade, 34 anos, e a forma em que se encontra, é previsível que não fique por aqui. Muito dependerá, claro, da sua longevidade a alto nível, tal como a de Nadal, apenas um ano mais velho. Contudo, é bom lembrar que o maiorquino venceu apenas 2 dos outros Major nos últimos 6 anos. Já Federer, 40 anos, dificilmente aumentará muito mais o seu impressionante registo.

Para já, Djokovic tornou-se o primeiro tenista da Era Open a completar duas vezes o Grand Slam de carreira. Quer isto dizer que venceu duas vezes, pelo menos, cada Major. Um feito apenas alcançado por Roy Emerson e Rod Laver.

Uma carreira de superação

Djokovic não é nunca foi consensual no ténis. Dentro e fora de court. Não tem o glamour de Federer ou a empatia de Nadal. É, digamos assim, o tenista que os fãs gostam de torcer contra. Mas a verdade é que, em termos técnicos e físicos, o sérvio é quase a combinação entre os dois. Um tenista diferente, sim, mas com vários pontos em comum. Como a força mental de Nadal ou a capacidade técnica de Federer, que lhe permite jogar com o mesmo nível de excelência em diferentes pisos. É um dos poucos que pode ganhar do espanhol em Roland Garros e a Federer, no seu auge, em Wimbledon.

Não raras vezes Djokovic é vaiado pelo público, sobretudo se do outro lado estiverem o suíço ou o espanhol. Mas, tal como Cristiano Ronaldo no futebol, é nas adversidades que encontra as suas forças. Foi sempre assim. Desde a infância passada na guerra, em Belgrado, até ao momento em que começou a ganhar e a bater de frente quando parecia impensável que alguém se intrometesse entre Nadal e Federer.

Djokovic e a supremacia frente a Federer e Nadal

Fora de court, também coleciona polémicas. Com uma personalidade forte, Djokovic não tem receio de se posicionar. Já se manifestou contra a vacinação, já tomou partido para reivindicar direitos dos tenistas e organizou um torneio nos Balcãs que gerou propagação de Covid. Em Melbourne, no Australian Open, recebeu a antipatia do público mas respondeu dentro de court com mais uma vitória, desta vez diante Medvedev.

Djokovic é também o único tenista que tem balanço positivo contra Federer e Nadal. Ganhou contra o suíço 27 vezes, perdendo 23. E diante de Nadal soma 30 triunfos contra 28.  Já este ano, tornou-se o jogador com maior número de semanas como número 1 mundial, superando as 310 de Federer. É ainda o jogador com mais títulos Masters 1000, 36, a par de Rafael Nadal.

Até onde pode ir?

Um dos melhores anos de Djokovic foi 2011. Entre outros registros importantes, teve 41 jogos sem perder uma única partida, somando os títulos de Australian Open, Wimbledon e US Open. Em 2015 chegou a todas as finais de Major, ganhou 6 torneios Master 1000 e chegou a impressionantes 16 finais consecutivas. Por esta altura, Stan Wawrinka e Andy Murray eram outros jogadores no auge, que poderiam travar, aqui e ali, o Big-3. Em 2016 tornou-se o primeiro tenista a deter, simultaneamente, os títulos de Australian Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open.

Por conta da rivalidade, o atual número 1 mundial reconhece, apesar de tudo, que Federer e Nadal o obrigaram a tornar-se melhor e a elevar o seu ténis permanentemente.

Definir quem é o melhor tenista de sempre será sempre um exercício difícil e subjetivo. Mas e unânime que o ténis tem vivido nas últimas décadas a sua idade de ouro. Talvez seja preciso aguardar pelo final de carreira de Federer, Nadal e Djokovic e aguardar uns anos para ver como o seu estatuto envelhece. Mas apesar da elegância, classe, e subtileza do jogo de Federer, da raça, carisma, foco e capacidade física de Nadal, da rivalidade histórica entre ambos, é absolutamente notável que um outsider se tenha intrometido e, contra todas as expetativas (e vontades), tenha não apenas batido de frente mas superado os dois em recordes, confrontos diretos e em diferentes pisos. E se mantenha no topo da hierarquia com uma regularidade ainda maior.


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