2023 para o rugby português: os feitos e objectivos dos “Lobos”

Francisco IsaacDezembro 18, 20237min0

2023 para o rugby português: os feitos e objectivos dos “Lobos”

Francisco IsaacDezembro 18, 20237min0
Os Lobos fizeram uma das melhores temporadas de sempre com 6 vitórias em 11 jogos e Francisco Isaac faz a análise ao que se passou

2023 será para sempre relembrado como um dos melhores anos da história do rugby português, isto porque os “Lobos” não só fizeram um brilharete no Mundial de Rugby 2023, como atingiram o 2º lugar do Rugby Europe Championship, coleccionando vitórias e exibições memoráveis. Como fizemos para o feminino, formação e 7s, é altura de olharmos com atenção para o que aconteceu nos séniores masculinos!

O CAMINHO DE 2023

Portugal teve pela frente 11 jogos, 9 adversários diferentes (repetiu jogos frente à Geórgia e Austrália, mesmo que tenha sido a equipa secundária dos Wallabies), registando um total de seis vitórias, um empate e quatro derrotas. 44 ensaios foram marcados e 29 consentidos, tendo sido a segunda melhor temporada nesse aspecto e a melhor no que toca ao rácio vitórias/derrotas, isto quando estamos a falar em relação às últimas quatro temporadas. Os “Lobos” registaram quatro vitórias consecutivas no arranque do ano, derrotando Bélgica (54-17), Polónia (65-03), Roménia (38-20) e Espanha (27-10), perdendo na final por 11-38 ante a Geórgia.

Foi o segundo melhor Rugby Europe Championship. Seguiram-se dois jogos de aquecimento pré-Mundial, frente aos Estados Unidos da América, no qual Portugal garantiu a sua maior vitória de sempre, e depois uma desaire ante uma Austrália XV carregada de atletas experientes. Finalmente chegou o Campeonato do Mundo e foram quatro semanas inesquecíveis. Começou com uma derrota por apenas 20 pontos de margem frente ao País de Gales (08-28), seguiu-se um emocionante empate ante a Geórgia (18-18) com os “Lobos” a sofrerem um segundo desaire na competição contra a Austrália (14-34), novamente por uma diferença de 20 pontos. E, finalmente, o encerramento em glória de Portugal com uma super vitória no jogo de encerramento, com um 24-23 face às Fiji.

O jogo com mais ensaios foi frente à Polónia, concretizando 65 pontos e 11 ensaios, enquanto o encontro com menos ensaios/pontos ocorreu diante do País de Gales. Curiosamente a maior derrota do ano aconteceu em Badajoz diante da Geórgia por 27 pontos, naquele que foi a pior prestação do ano.

COMO SE JOGOU EM 2023

Numa palavra: entusiasmo! O tipo de jogo de Portugal encantou adeptos por todo-o-lado, com uma efusividade eletrizante que tornou todos os encontros num espectáculo imenso. A produção ofensiva portuguesa foi estrondosa com 44 ensaios  (só 2022 se marcaram mais, com 53), assumindo o risco não como um problema ou tormento, e sim como um caminho a explorar para chegar à área-de-ensaio contrária, tudo suportado em unidades predispostas a acelerar o jogo seja no contacto simples ou na tentativa de descobrir espaço no jogo ao largo.

Samuel Marques e Jerónimo Portela criaram uma parelha de médios de qualidade portentosa, mas talvez o maior “segredo” esteve no trabalho a partir da dupla de centros, onde Tomás Appleton e José Lima se revelaram geniais no criar de jogadas e no dar uma plataforma estável na saída para o ataque ou no segurar a bola em certos momentos.

A fisicalidade subiu de tom, e não só subiu como se tornou mais inteligente e prática, com o staff de Patrice Lagisquet a ter conseguido melhorar a capacidade de choque, recuperação após ir ao contacto e disponibilidade para ajudar na fase seguinte ou até fazer parte de uma jogada mais acelerada.

Houve intenção em ferir o bloco contrário, de procurar ideias e soluções, de trilhar novos caminhos e de querer ter a iniciativa de jogo uma e outra vez. Outro ponto a ressalvar passa pelas fases-estáticas. Portugal conseguiu no Mundial, por exemplo, arrancar sete penalidades aos seus adversários, empurrando mesmo para trás a selecção da Austrália, País de Gales ou Geórgia, algo muito raramente observado nos últimos 15 anos. O maul ganhou força, os alinhamentos foram notavelmente de bom nível, o que proporcionou outra “vida” à selecção nacional, que passou a ter uma ferramenta confiável e decisiva durante toda a temporada.

E a defesa? 29 ensaios sofridos em 11 jogos, o que dá uma média de 2,6 por jogo, o segundo melhor registo dos últimos quatro anos, lembrando que foi o ano com jogos mais complexos também deste período largo de tempo. Agressividade, fisicalidade e inteligência, quer junto à área-de-ensaio, nos alinhamentos ou no jogo ao largo.

Vamos agora aos atletas!

ATLETAS E NÚMEROS

Samuel Marques terminou como o melhor marcador da época com 58 pontos marcados, seguido de Rodrigo Marta com 45 (todos ensaios) e Nuno Sousa Guedes com 34. Como já dito, Rodrigo Marta foi o “lobo com mais ensaios, seguido de Vincent Pinto (5), Raffaele Storti (4), Nicolás Martins (3) e Pedro Bettencourt (3). Tomás Appleton realizou 6 assistências para ensaio, Rodrigo Marta outras três, Nuno Sousa Guedes e Simão Bento duas. Em relação às placagens, Nicolás Martins e José Madeira foram dos melhores tanto no Rugby Europe Championship e Campeonato do Mundo.

Diogo Hasse Ferreira e David Costa foram os jogadores com mais jogos realizados por Portugal, com 11, surgindo depois Tomás Appleton, Nicolás Martins, Rodrigo Marta e José Madeira, todos estes com 10.

Em 2023 foram utilizados 35 jogadores, demonstrando que realmente o grupo final chamado para o Mundial andou sempre em redor dos nomes que marcaram presença na competição, com José de Andrade a ter sido o jogador mais azarado.

Francisco Fernandes foi o atleta mais velho utilizado, tendo cumprido o 38º aniversário ainda durante o Mundial de Rugby, um marco para o primeira-linha que ostenta quase 50 internacionalizações pelos “Lobos”.

Portugal teve quatro anos a trabalhar atletas e nomes, com mais de 75 jogadores a terem jogado pelo menos 1 minuto ao serviço dos “Lobos”, sendo que a larga maioria que jogou o Mundial teve largamente envolvida neste ciclo encerrado após o encontro ante as Fiji. O trabalho de Patrice Lagisquet, João Mirra, Luís Pissarra, Oliver Rieg, David Gérard, João Galveias Henriques, José Paixão, José Rodrigues e Fernando Murteira e toda a restante estrutura foi fulcral para a obtenção destes resultados.

NOTA FINAL

Infelizmente, esta análise a um ano brilhante para os séniores “A” masculinos não termina da melhor forma. Após a saída (conturbada) de Patrice Lagisquet, seguiu-se Sébastien Bertrank que acabou despedido duas semanas depois da sua contratação, revelando uma instabilidade impensável pós-Mundial de Rugby. As críticas apontadas pelo ex-seleccionador nacional, a saída de dois dos assistentes, um dos quais fulcral para o sucesso dos últimos quatro anos (Luís Pissarra), os rumores sucessivos de vontade de não contar com os atletas a actuar fora de Portugal e os resultados dos Lusitanos são motivos preocupantes para os “Lobos”. Os recentes rumores (alguns provenientes de diversas fontes) apontam para que Portugal vá ter um ano sem seleccionador nacional, com o Director Técnico Nacional a assumir as rédeas a par de João Mirra. Importante esperar por declarações oficiais da Federação Portuguesa de Rugby, sabendo que esta instituição quererá o sucesso de todos e não vai erguer as “muralhas” que no passado atiraram o rugby português para um vazio.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS