2023 para o rugby português: os feitos e objectivos das “Lobas”

Francisco IsaacNovembro 27, 20236min0

2023 para o rugby português: os feitos e objectivos das “Lobas”

Francisco IsaacNovembro 27, 20236min0
Francisco Isaac olha para o ano de 2023 e se os objectivos das "Lobas" foram atingidos numa temporada que teve 5 jogos internacionais

Começamos este artigo com a principal conquista do ano que passou pela promoção ao próximo Women’s Rugby Europe Championship. Era o maior objectivo das “Lobas” e foi alcançado com três vitórias em 2023, conseguindo-o com um registo espantoso de 19 ensaios marcados e apenas um sofrido, um feito estrondoso para uma selecção que só começou a jogar rugby de XV em 2021.

Capitaneadas por Daniela Correia, a selecção feminina jogou cerca de 5 jogos em 2023, somando quatro vitórias e registando apenas um desaire, que aconteceu na digressão ao Brasil.

O CAMINHO DE 2023

Ao todo, as “Lobas” marcaram 21 ensaios e sofreram 3 em 2023, tendo atingido o 25º lugar do ranking da World Rugby em Abril passado (iniciaram o ano em 30º), sendo o melhor registo de sempre para a selecção comandada por João Moura. Com a digressão ao Brasil caem para 27º, mas esse detalhe não risca em nada a temporada brilhante de um conjunto que continua a se desafiar e a crescer.

Mas voltemos ao início de 2023 para recuperar as vitórias para o Rugby Europe Trophy. Portugal, que já tinha começado a campanha em Outubro de 2022 frente à Bélgica, recebeu a Finlândia e Chéquia no CAR Jamor, derrotando sem dificuldade estas duas adversárias europeias. No primeiro encontro garantiu uma vitória por 39-00, para depois galvanizar e garantir um 51-00 ante o conjunto checo.

Na visita à Alemanha, voltariam a conquistar uma vitória, apesar de um jogo mais difícil com um 20-05. Indo agora até ao Brasil, a selecção nacional feminina sénior teve dois jogos de alta dificuldade pela frente, com as “Yaras” a garantirem uma vitória por 10-07, para depois as “Lobas” devolverem a recepção calorosa com uma vitória por 13-05, conquistada na segunda parte.

COMO SE JOGOU EM 2023

Isto foi em termos só de resultados, agora vamos ao que interessa… jogo jogado. Como é que Portugal se apresentou nesse sentido? Vamos por partes.

A avançada evoluiu claramente comparado com 2022, melhorando largamente, especialmente no conseguir dominar nas fases-estáticas com a formação-ordenada a imperar e a ser uma plataforma de jogo de excelência. A fisicalidade subiu de nível, não só em termos do choque como de aguentar por um período maior, algo que fez a diferença para garantir quatro vitórias em 2023.

O jogo de 3/4’s ou de ligação entre as linhas-atrasadas foi coerente e dinâmico, com Isabel Ozório e Daniela Correia a terem dado uma linha de condução de equipa de boa qualidade, injectando dinamismo e liderança. A defender, o facto de só terem concedido três ensaios e seis quebras-de-linha às equipas adversárias neste ano demonstra que é o ponto mais forte das comandadas de João Moura, com as 85 placagens efectivas (em 100 tentativas) frente ao Brasil a ser um pequeno exemplo dessa eficácia e excelência.

O jogo ao pé talvez é dos pontos que vai precisar de mais trabalho no futuro, ou a construção de jogo quando se deparam com selecções como o Brasil, em que o blitz defensivo força constantes erros por parte de Portugal. Por exemplo, na digressão à América do Sul, só no primeiro jogo as “Lobas” concederam 20 erros próprios, possibilitando o adversário crescer em certos e determinados momentos, com o jogo ao pé a raramente a ter sido uma solução convincente. Com a entrada para o Rugby Europe Championship, será importante ter estas áreas do jogo bem polidas até porque o nível de exigência irá subir.

ATLETAS E NÚMEROS

Em 2023 foram utilizadas 42 atletas, com estreias para várias, sendo que conseguimos aferir pelo menos 15, um marco significativo e que demonstra a profundidade de plantel que Portugal detém neste momento. Este factor será valiosíssimo para o futuro, pois conjuntos como a Espanha (dois níveis acima) detêm esta profundida, com Países Baixos a ter já um grupo mais reduzido, enquanto a Suécia vai revelando falhas quando tem de jogar sem algumas das suas principais atletas.

Daniela Correia fechou a temporada como a maior pontuadora, atingindo os 49 pontos divididos em dois ensaios, quinze conversões e três penalidades, seguido de Sara Moreira com 20 (quatro ensaios), Ana Freire, Mariana Marques, Matilde Goes e Inês Spínola (ambas com três ensaios). Sara Moreira foi a melhor marcadora de ensaios da temporada, seguido das jogadoras já mencionadas.

A nova temporada arranca em Fevereiro de 2024, esperando-se 3 jogos de intensa dificuldade mas que irão testar os novos desenvolvimentos deste conjunto que foi admirável em 2023 e que sem dúvida nenhuma só deu alegrias aos adeptos de Portugal.

Uma última palavra para os esforços de João Moura, José Martins, Francisco Goes e Filipa Jalles pelo trabalho realizado enquanto staff/direcção, musculando esta estrutura e efectivamente a conferir as bases necessárias para que o processo tenha corrido bem até este ponto.


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