Rugby Europe Championship 2022: o possível destino de Portugal

Francisco IsaacFevereiro 1, 20228min0

Rugby Europe Championship 2022: o possível destino de Portugal

Francisco IsaacFevereiro 1, 20228min0
Conseguirão os Lobos chegar ao Mundial de Rugby 2023? Francisco Isaac explica o que há para saber sobre Portugal antes do início do REC 2022

Estamos, finalmente, de volta ao caminho para o Mundial de Rugby 2023 e a época do Rugby Europe Championship 2022 será decisiva para Portugal atingir o tão desejado sonho de estar na maior competição de rugby, estando obrigado a conquistar vitórias e a não ceder pontos em certos encontros, o que obriga a elevar ainda mais as exigências para um patamar superior. Nesta análise à primeira lista de convocados para a última semana antes do duelo frente à Geórgia (próximo sábado em Tbilisi, frente à Geórgia) vamos tentar perceber qual poderá ser o foco de Patrice Lagisquet, como os “lobos” poderão frente a uma das 12 melhores selecções do Mundo e garantir os pontos necessários para poder celebrar em Março próximo, ou pelo menos adiar as decisões para Novembro deste ano.

OS CONVOCADOS PARA O (INÍCIO) DO REC

Antes de mais, comecemos pelas “piores” notícias, que passa pela ausência de Mike Tadjer (lesão grave no joelho, que o impossibilitará de jogar a 100% até Agosto) e Anthony Alves (deverá voltar a tempo dos últimos três encontros), sendo estes dois dos elementos mais influentes na avançada, tanto pela qualidade individual que apresentam no jogo contínuo, isto sem se falar do impacto nas fases-estáticas, para além de terem sido dos melhores em forma até ao momento das suas lesões.

Posto a pior parte, a lista de convocados para este Rugby Europe Championship 2022 é, no mínimo, de soberba qualidade a inclusão de dois estreantes, Steevy Cerqueira (Brive, 2ª linha de 28 anos) e Vincent Pinto (Séction Paloise, três-de-trás, 25 anos), oferecendo um boost importante para um grupo de trabalho que está petrechado com 18 reforços internacionais: Geoffrey Moïse, Francisco Fernandes, Diogo Hasse Ferreira, Lionel Campergue, Jean de Sousa, José de Andrade, Kevin Batista, José Madeira, Boaventura Almeida, Thibault de Freitas, Samuel Marques, José Lima, Pedro Bettencourt, Simão Bento, Raffaele Storti e Dany Antunes.

Já do lado dos clubes portugueses, os jogadores convocados foram os que têm somado mais minutos por Portugal nas duas últimas épocas, casos de João Granate (de longe um dos melhores portugueses em 2021), Nuno Sousa Guedes (o “mágico” que abre portas a partir da posição de nº15), David Costa, Francisco Bruno, João Mateus, Duarte Diniz, Rafael Simões (outros dos standouts da época passada, que tem evoluído para um pico extraordinário), Duarte Torgal, João Dias, Pedro Lucas, Jerónimo Portela, Tomás Appleton (o capitão é uma das chaves do ataque luso), Jorge Abecassis, Vasco Ribeiro (veremos se o centro conseguirá conquistar um lugar na convocatória afinal, depois de ter sido um dos MVP’s dos Lusitanos), Rodrigo Marta e Manuel Cardoso Pinto.

É, possivelmente, a convocatória mais “forte” dos últimos 10 anos do rugby português, apetrechada da primeira-linha até a qualquer um dos pontas, o que dá certezas que Portugal entrará em campo com claras possibilidades de disputar qualquer jogo, garantir ensaios e somar os pontos suficientes para atingir o Campeonato do Mundo de 2023 em França. E qual será, potencialmente, o XV de Portugal? Possivelmente Patrice Lagisquet, com a ajuda de João Mirra e Luís Pissarra (assistentes da equipa técnica do seleccionador francês) poderão apresentar o seguinte 23 para a viagem à Geórgia:

Francisco Fernandes, Duarte Diniz, Diogo H. Ferreira; José Madeira e Steevy Cerqueira; João Granate, David Wallis e Rafael Simões; Samuel Marques e Jerónimo Portela; Tomás Appleton e José Lima; Rodrigo Marta, Raffaele Storti e Nuno Sousa Guedes. No banco de suplentes deverá estar Geoffrey Moïse, Lionel Campergue, David Costa, Duare Torgal, Thibault Freitas, Pedro Lucas, Pedro Bettencourt (será que pode começar de início?) e Manuel Cardoso Pinto/Vincent Pinto . As duas dúvidas maiores são Jean de Sousa e Vincent Pinto, por diferentes razões, já que o segunda-linha esteve ausente de todos os jogos do Montauban em Janeiro (lesão), podendo não estar na forma ideal, enquanto o ponta do Pau pode tanto entrar no XV inicial – saída de quem? – ou no banco, como poderá não estar incluído no duelo frente à Geórgia. Num nível secundário, outra dúvida poderá cair para o número de suplentes para o encontro em Tbilisi, já que o 6-2 (meia dúzia de avançados e só dois 3/4’s) não seria impossível, já que ajudar a estancar ou a desacelerar o maior ímpecto físico georgiano na 2ª parte.

As possibilidades são várias, mas há algumas certezas, sendo o principal o facto destes “Lobos” terem uma convocatória munida de diversas opções, em que a avançada detém peso, altura e dimensão física suficiente para fazer frente às adversárias do leste europeu, com os 3/4’s a possuírem os traços necessários para criar problemas aos seus adversários, tendo vários jogadores já uma larga experiência internacional diferenciadora.

E o que podemos dizer de quem vai estar do outro lado?

A AMEAÇA, O SONHO E OS MÍNIMOS OLÍMPICOS

Divididos esta secção dos adversários em três categorias: curta análise aos 5 adversários; o principal obstáculo e maior perigo; e as expectativas mínimas. Olhando para os opositores de Portugal neste Rugby Europe Championship 2022, vamos escalar cada um por ordem de dificuldade e o que se pode esperar:

Geórgia: decididamente a selecção mais capaz de fazer mossa a qualquer uma das outras participantes desta competição, possuindo uma avançada altamente móvel e que faz a diferença nos últimos 25 minutos, sem esquecer a ameaça constante oferecida por uma linha de 3/4’s completamente diferente do que era até 2018, pois agora há mais vontade de criar, inventar e embelezar os jogos. Um ponto de bónus defensivo seria um resultado bom, mas claro que um empate ou vitória poderia dar uma vitamina psicológica fulcral, para além dos pontos somados (nenhuma outra adversária roubou pontos aos “Lelos” em 2021);

– Roménia: efectivamente a selecção romena realizou um ano de 2021 de bom quilate, conseguindo resultados impressionantes nos Test Matches (derrota por 3 pontos contra a Argentina, vitórias contra o Uruguai e Tonga), apresentando um elenco dominante e fisicamente agressivo que fazer a diferença no breakdown, assim como no contacto, não desesperando contra quem tem mais “manha” nas linhas atrasadas ou movimentações ofensivas;

Espanha: decididamente que os “Leones” detêm as espingardas suficientes para quebrar com todos os seus adversários, especialmente devido aos vários atletas a actuar fora do seu território, que tanto alinham no Top14 ou ProD2 (Guillaume Rouen, Marco Pinto, Asier Usarraga, Manuel Ordas ou Fabien Perrin, entre outros tantos), o que eleva a Espanha para um nível soberbo de qualidade individual e que deu largas provas a nível colectivo, quando quase surpreenderam as Fiji;

– Rússia: Dick Muir, antigo treinador dos Sharks, assumiu o controle de um selecção com qualidade, mas que acabou o Rugby Europe Championship 2021 em 5º lugar, vendo as suas hipóteses de chegarem ao Mundial por um fio, já que precisam ganhar 4 dos 5 jogos a realizar. Fisicalidade extrema e uma eficácia de alto nível nas fases-estáticas acabam por ser “esquecidas” no campo quando não conseguem produzir ofensivamente, registando excessivas penalidades que acabam por prejudicar no decorrer do jogo;

– Países Baixos: estão praticamente fora do Campeonato do Mundo, sim, contudo é preciso ter cuidado com estes neerlandeses já que se reforçaram com alguns atletas a actuar em competições de um patamar superior, seja em Inglaterra ou França, o que pode “roubar” pontos a que mais precisa.

Posto isto, o maior obstáculo de Patrice Lagisquet e os seus comandados é um: disciplina. O que isto quer dizer? Se os “Lobos” não concederem faltas em sítios do campo complicados – dentro dos últimos 22 metros -, mantiverem um bom comportamento sem deixar de tentarem a sua sorte nos rucks e na linha-de-vantagem, e apoiarem os portadores de bola constantemente, dificilmente oferecerão oportunidades suficientes para sofrer dano de quem está do outro lado. Em 2021, como podem ver pelo tweet de Jacek Wallusch, a selecção nacional registou uma média de 12 penalidades por encontro, um número que pode ser tóxico em jogos de intensa disputa, como será contra Roménia, Espanha e Rússia.

Por fim, a expectativa mínima… 3º lugar. Portugal conseguiu a promoção em 2019 para o Rugby Europe Championship (sob a batuta de Martim Aguiar, Nuno Damasceno e João Mirra), sobreviveu ao ano de 2020 com alguns bons resultados, e mostrou quase o seu esplendor máximo em 2021, ficando em 2º lugar (partilhado com a Roménia) com 14 pontos, o que possibilita sonhar com a ida ao Campeonato do Mundo. Num elenco apetrechado de atletas profissionais, com os restantes a terem tido a oportunidade de receber uma rotação superior com a inclusão na Super Cup, as expectativas são agora altas, sabendo de antemão das dificuldades que esperam os “Lobos” em 2022.

Todos os encontros serão transmitidos pela Rugby Europe, já a partir deste sábado, e Portugal entra em campo no Domingo às 10h00.


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