O caminho de Portugal até ao RWC 23′: o ano de afirmação em 2021

Francisco IsaacDezembro 5, 20225min0

O caminho de Portugal até ao RWC 23′: o ano de afirmação em 2021

Francisco IsaacDezembro 5, 20225min0
A 3ª parte da construção do caminho dos "Lobos" até ao Mundial de Rugby vai para o ano de 2021 e o porquê de ter sido tão importante para Portugal

2021 parece já tão distante, mas importa recordá-lo para perceber o quão essencial foi para os resultados obtidos em 2022, e começa pelo facto dos “Lobos” terem garantido três vitórias no Rugby Europe Championship – Espanha, Países Baixos e Rússia -, terminando a competição em 3º lugar com os mesmos pontos que a Roménia, somando-se ainda uma vitória ante o Canadá em Novembro desse ano, sem esquecer a quase surpresa frente ao Japão em Coimbra (derrota por 13 pontos). Ao todo, os Lobos realizaram 7 jogos internacionais, com quatro vitórias e três derrotas, 241 pontos marcados e 194 sofridos, realizando aquela que foi a melhor temporada dos “Lobos” a nível internacional desde que Patrice Lagisquet assumiu o cargo de seleccionador – 2020 já atingiu registo similar, pois Portugal derrotou o Brasil por duas vezes no CAR Jamor, mas o nível do adversário é inferior quer comparado com o Canadá ou Japão.

Começámos esta 3ª parte d’ “O Caminho de Portugal até ao Rugby World Cup 2023” com os números para mostrar o crescimento exponencial da selecção portuguesa num par de anos, conseguindo ombrear com os seus mais directos rivais por uma vaga no Campeonato do Mundo, como ainda se mostrar em alto nível frente a formações que têm marcado presença nos últimos Mundiais, caso do Japão e Canadá. Porém, ainda há outro dado a adicionar que se mostrou também ele fulcral para os “Lobos”: o início da Super Cup.

A criação de um torneio de franquias das federações associadas à Rugby Europe permitiu à Federação Portuguesa de Rugby oferecer um nível de competição mais elevado para os atletas portugueses, que agora tinham um nível intermédio entre o de clubes e selecções, possibilitando construir processos ainda mais unos e concretos. O trazer de volta dos Lusitanos permitiu aos “Lobos” ter os seus principais jogadores a um nível superior, construindo um caminho inteligente e real para que o salto para o semiprofissionalismo fosse dado ou, pelo menos, transformar esta franquia numa espécie de “incubadora”, para além de poder ser uma espécie de montra – as exibições espectaculares de Rodrigo Marta na edição passada da Super Cup poderão ter ajudado a convencer o Dax Rugby a vir buscá-lo.

A entrada dos Lusitanos no calendário oficial de competições do rugby nacional acelerou o desenvolvimento de jogadores mais “verdes”, conferiu um nível de preparação e condição física superior aos principais nomes da selecção a jogar em Portugal, sentindo-se esse efeito nos desempenhos extraordinários durante a janela de Outono de 2021, com aquela exibição memorável frente ao Japão a ficar bem vincada na memória dos adeptos portugueses, mesmo que tenha terminado em derrota.

Se 2019 e 2020 foi o “Ano 1” de estabelecimento da ideia de jogo, funções dentro de campo, desenvolvimento das fases-estáticas e do polir dos atletas envolvidos no grupo de trabalho, então 2021 tem de ser encarado como o ano de afirmação da selecção portuguesa no cenário internacional, com não só a se registar um saldo positivo de vitórias/derrotas no Rugby Europe Championship, como de imposição daquele estilo de jogo dos “Lobos” que criou constantes problemas aos seus adversários.

Infelizmente, houve um único senão e preocupação (ou um principal, se quisermos) para Portugal durante este ano de 2021: os últimos 15 minutos de jogo. Os “Lobos” deixaram fugir um ponto de bónus defensivo em casa frente à Geórgia, perderam o ponto de bónus do jogo contra a Espanha e Rússia, e perderam o encontro frente à Roménia, tudo nos últimos 15-10 minutos de cada encontro, perfazendo um total de 7 pontos facilmente perdidos, e que no final das contas teriam feito total diferença na corrida para o Mundial 2023.

Este problema de não conseguir amparar o folego final do adversário, e de manter os níveis físicos ou de concentração intactos ou, pelo menos, sem uma queda extremamente acentuada, foi um problema que acabou por também se sentir em 2022 (derrota frente à Roménia, por exemplo), sendo que, felizmente, frente aos Estados Unidos da América, os “Lobos” foram capazes de voltar ao jogo graças a um acreditar inesquecível por parte dos jogadores envolvidos na campanha desse torneio de Qualificação.

2021 foi um ano também de estreias e retornos aosLobos, como os casos de Samuel Marques, Loic Bournonville, Theo Entraigues, Éric dos Santos, entre outros nomes, o que garantiu a subida do número de atletas prontos para assumir um lugar na convocatória e lutar pela titularidade. A ponta com os atletas a actuar em França estava assim estabelecida, e os resultados obtidos durante 2021 foram demonstrativos disso mesmo, o que ajuda a desmistificar a ideia de que o rugby português não precisa do profissionalismo para atingir outro patamar. O ano de 2021 foi efectivamente um ano de qualidade no que toca ao crescimento, tanto a nível individual como colectivo, encaixando-se na perfeição naquilo que foi iniciado em 2019 e 2020.


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