O caminho de Portugal até ao RWC 23′: o falhar-erguer 2022

Francisco IsaacDezembro 13, 20225min0

O caminho de Portugal até ao RWC 23′: o falhar-erguer 2022

Francisco IsaacDezembro 13, 20225min0
4ª e última parte dedicad ao caminho dos "Lobos" até ao Mundial 2023, que incide sobre 2022, um ano mau... e bom para Portugal

2022 foi um ano estranho para os “Lobos”, com um início promissor no Rugby Europe Championship, graças a um empate inesperado somado frente à Geórgia em Tbilissi, para depois se seguirem derrotas fatais ante a Roménia e Espanha, colocando um ponto final no sonho de Portugal estar presente no Campeonato do Mundo 2023.

Sucintamente, isto foi o que se passou entre Janeiro e Abril, encerrando amargamente a campanha dos comandados de Patrice Lagisquet, que depois de um ano de 2020 de crescimento, e 2021 de afirmação, esperava-se que 2022 fosse o da concretização do maior objectivo de todos… felizmente, para Portugal, a Espanha acabou por ser punida na secretaria (os “Leones” mereciam o apuramento pelas excelentes prestações realizadas durante o ciclo de 21-22), voltando a colocar os “Lobos” no caminho para o Mundial, tendo que passar por uma fase de Qualificação, onde encontraria Hong Kong, Estados Unidos da América e Quénia.

Com a cabeça voltada para essa derradeira etapa, a selecção nacional iniciou a preparação para esse evento com uma Janela Internacional de Verão de grande nível, com encontrados marcados frente à Itália e Argentina XV no Estádio do Restelo (uma parte das bancadas estava completamente cheia), e ante a Geórgia em Tbilissi, afinando os últimos ajustes da máquina portuguesa antes dos atletas partirem para umas “férias” curtas.

Mas antes de irmos rapidamente ao Torneio de Qualificação de Novembro, é importante tentar perceber o que se passou entre Fevereiro e Abril, e do porquê dos “Lobos” terem acabado por ficar tão perto da qualificação directa, falhando por muito pouco essa meta. Três aspectos ditaram essa sorte/azar: indisciplina; banco de suplentes insuficiente para dar a volta; e ausência de dois ou três jogadores nucleares de 2021.

Comecemos pelo primeiro elemento, já que esse foi determinante frente à Roménia, num encontro em que Portugal consentiu cerca de 19 penalidades, 12 das quais na segunda metade deste duelo, que até tinha começado da melhor forma para as cores nacionais lusas, seguindo-se uma reviravolta estonteante da equipa da casa, que acabou por até roubar o ponto de bónus defensivo aos visitantes. A formação-ordenada começou a ceder nos 25 minutos finais, a falta de velocidade e clarividência junto à defesa do ruck ou na saída do chão foi atirando os portugueses para trás, e a pouca lucidez no conseguir manter a oval sob controlo tornaram impossível sair de Bucareste com a vitória ou qualquer tipo de pontos.

Sem Jerónimo Portela, Nuno Sousa Guedes, Mike Tadjer, Anthony Alves ou Raffaele Storti – jogadores que pouco ou nada jogaram na campanha de 2022 por lesão -, os “Lobos” ressentiram-se no XV titular, acabando por não mostrar a mesma solidez no contra-ataque ou na gestão mental de conseguir lidar com a pressão do adversário, e que nem com as estreias/regressos de Cody Thomas, Pedro Bettencourt, Steevy Cerqueira ou Vincent Pinto, foi possível chegar a bom porto neste Rugby Europe Championship, acabando por conceder uma derrota em Madrid frente à Espanha, num encontro disputado até ao último minuto.

O banco de suplentes teve problemas em corresponder, e as tais ausências de alguns dos principais jogadores acabou por tirar força, profundidade e soluções a um conjunto que só mostrou o seu melhor em curtos períodos, à excepção do empate conquistado em Tbilissi, que talvez foi o jogo mais bem conseguido do princípio ao último minuto – em Bucareste, os “Lobos” só tiveram 35 minutos de brilhantismo. No fim do REC 2022, a selecção nacional somaram 12 pontos ficando a dois do apuramento para o apuramento directo para o Mundial, encaixando um total de um total de 139 pontos marcados e 98 sofridos, o que significou uma queda de 28% no número de pontos conquistados.

Com a suposta eliminação, adivinhava-se um processo complicado, já que Patrice Lagisquet poderia não renovar com a Federação Portuguesa de Rugby, e parte do projecto iniciado pela actual direcção poderia ruir por falta de investimento e visibilidade. A entrada em cena da World Rugby, em especifico, da Comissão Independente, colocaram os “Lobos” novamente no caminho de França, mas para isso era necessário conquistar o Torneio de Qualificação a ser realizado no Dubai, sendo que antes havia a janela de Julho. Nos três Test Matches realizados, Portugal somou três derrotas, mostrando bons apontamentos em qualquer dos encontros realizados, em especial frente à Itália, que já contou com os regressos do seu principal XV.

Com um excelente início na Super Cup, e com os atletas portugueses a jogar fora a terem um estatuto importante nas suas equipas, Portugal chegaria ao Dubai em grande forma e com as principais unidades bem afinadas e preparadas para a competição. Duas vitórias e um empate, 19 ensaios marcados e 3 sofridos, foram o garante para atingir uma qualificação histórica, que na altura já analisámos ao pormenor e acompanhámos jogo-a-jogo. Houve alguma melhoria ou evolução dos primeiros meses do ano para os últimos? Sim, sobretudo na disciplina, que apesar de ainda necessitar de ser afinada, melhorou consideravelmente, como as fases-estáticas ganharam força e uma consistência maior, dando mais paz e oportunidade para se seguir o ataque letal e venenoso dos “Lobos”.

Efectivamente, a viagem de 2019 a 2022, sem esquecer as tais bases que criaram as bases para esta actual selecção nacional sénior masculina, foi sempre em crescendo, que começou com testes e experiências num Tour na América do Sul, para garantir o apuramento com todo o engenho e carisma no Dubai, voltando a colocar Portugal no maior patamar da modalidade, que terá de ser o primeiro passo para um novo futuro.


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