Como estão e como ficam Sporting e Benfica depois dos dois derbies?
O calendário do futebol português brindou-nos com dois derbys no espaço de 3 dias, trazendo aos apaixonados do desporto rei os jogos que ninguém quer perder. Foi pena para o espetáculo que em dois jogos apenas 1 equipa e 1 jogador estivessem à altura do desafio.
Um Benfica absolutamente dominador nos dois jogos levou de vencida uma penosa equipa leonina. O balanço para o leão destes jogos é largamente negativo, com a equipa a aparecer a um nível de segunda liga em Portugal.
Keizer perdeu o fôlego ou não tem matéria-prima suficiente?
Começando da frente para trás, há muito que o sporting perdeu o pendor ofensivo que caracterizou o técnico holandês no seu início em Portugal. A equipa apresenta uma pressão deficiente, a qualidade do passe e da receção são medíocres e a decisão na hora da finalização é extremamente pobre, como Wendel espelhou ontem num remate digno das distritais portuguesas, tal foi a displicência. Bas Dost continua a não oferecer nada a não ser golo, aparecendo sempre como menos um na construção do jogo da equipa.
No centro do terreno, apenas Bruno Fernandes tem qualidade para estar ali, chega a dar pena ter que ver o internacional português partilhar o terreno com jogadores de tão baixo calibre. Em dois jogos foi o único que esteve à altura do derby no lado leonino, carregou a esperança leonina às costas com 2 enormes golos.
Gudelj continua a ser um jogador completamente perdido em campo, estando sempre mal posicionado e sem a mínima noção sobre como dobrar os laterais ou os centrais. Também na 1ª fase de construção o sérvio apresenta enormes debilidades. Não recua para o centro dos centrais, não arrasta marcações para abrir espaço e ainda se esconde por trás do adversário. Sofrível para quem custou 3M por um empréstimo.
Já Wendel continua a ser incrivelmente irregular e desastroso em zonas de finalização. Com este meio campo a perder bolas consecutivamente, a equipa adversária vai crescendo na confiança e começa a dominar o encontro. É por aqui que Keizer precisa de começar a corrigir os erros da equipa.
Olhando para o setor mais recuado, torna-se difícil encontrar adjetivos para descrever o que aconteceu nestas duas partidas, mas que se arrasta praticamente desde o início da época.
No centro, apenas Coates cumpre com o que lhe é pedido e tenta salvar a equipa de males maiores. Quer André Pinto, quer Ilori não tem um posicionamento eficaz, estando os dois juntos ligados a 4 golos do Benfica, em 6 sofridos pela equipa. Na esquerda são notórias algumas debilidades quando Acuna não ocupa aquela posição, mas nada comparável com o que se observa na outra ala.
A ala direita do Sporting é aquilo que se designa na gíria do futebol como uma “Auto-estrada”, Bruno Gaspar leva mais de meia época de Sporting ao peito, custou 4,5M de euros e não tem um único lance digno de registo. Um posicionamento horrível, uma qualidade de passe e de receção abaixo do nível do Campeonato nacional de Seniores, zero capacidade de desarme, nenhum cruzamento de registo, até em lançamentos de linha lateral o português consegue falhar.
Acaba o jogo com Bas Dost a reclamar de dedo em riste com ele e Coates, ainda na primeira parte deixou de passar a bola a Gaspar. Já nem os colegas toleram a sua falta de qualidade.
Tudo somado posso dizer que desde que vejo o futebol leonino, ou seja, desde 2005, Bruno Gaspar é o pior jogador que vi vestir a camisola Verde e Branca. Não há mais nada que se possa dizer sobre Gaspar.
Com Jesus o Sporting bateu recordes do ponto de vista defensivo, e numa época em que muda o guarda redes e o lateral direito (apesar de haver mais fatores que condicionam o processo defensivo), o Sporting bateu recordes negativos. Uma queda preocupante.
Falta apenas olhar para Keizer que também já mostrou que não tem qualidade para treinar o Sporting. É certo que o Sporting tem jogadores sem qualidade para atuar na primeira liga portuguesa, ou pelo menos, para atuar no sporting. A saber: Renan; Salin; Bruno Gaspar; Ristovski; André Pinto; Ilori; Jefferson; Gudelj; Petrovic; Diaby; Jovane Cabral; Luiz Phellype e Castaignos. Tudo ateltas que não podem envergar a Verde e Branca, pelo menos para já.
No entanto, Keizer é neste momento um treinador que não tem estilo nem modelo de jogo, que não consegue perceber quando pode mexer no jogo, que não lê, nem se adapta aos adversários e que insiste num conjunto sofrível de jogadores em detrimento de jovens valores como Thierry Correia, Miguel Luís (passou de homem do jogo a não convocado), Francisco Geraldes ou Doumbia (que esteve bem frente ao Setúbal e foi excluído). Tudo atletas que não podem ser piores do que alguns jogadores da equipa.
Espero estar errado, mas a minha previsão diz-me que o Sporting ainda vai piorar mais até ao fim da época estando já com uma série pior que a de Vercauteren no Sporting. Maus tempos se adivinham para o reino do leão e Keizer não tem capacidade para dar a volta a isto. Cabe a Frederico Varandas preparar a próxima época sem cometer os gravosos erros desta época e contar apenas com jogadores dignos de vestir a Verde e Branca.
O Benfica de Lage é um fenómeno (in)explicável
Bruno Lage chegou ao comando técnico do Benfica e, desde aí, os encarnados têm 7 vitórias em 8 jogos. A única derrota foi com o Porto para a Taça da Liga, um dos 3 jogos grandes que Lage já jogou. Os outros 2 foram estes dois encontros com o Sporting e trouxeram duas vitórias.
O Sporting tem um plantel e um 11 inicial mais fraco que o Benfica, mas isso por si só não explica tudo. O Benfica de Rui Vitória, mesmo com plantéis superiores, foi sempre incapaz de se impor contra os rivais. Com Bruno Lage, para além de duas vitórias, o Benfica pareceu sempre dominar o jogo e estar sempre mais perto de aumentar a vantagem do que de a perder.
Duas vitórias, uma aproximação ao rival Porto e uma vantagem na Taça de Portugal. Bruno Lage entrou com dinâmicas novas e mudanças cirúrgicas na equipa da Luz. A primeira e grande mudança foi João Félix. Félix já jogava com Rui Vitória, tinha 4 jogos como titular e 9 como suplente utilizado. A mudança não foi essa mas sim o papel do jovem na equipa. Bruno Lage conhece Félix (como conhece as camadas jovens dos encarnados) e sabe o que ele pode dar à equipa. A jogar na frente com Seferevoic, o jovem português encontrou o seu papel na equipa, a desequilibrar no meio, sempre a dar soluções e a decidir bem.
Para além disso, tanto Félix como Seferovic estão com uma veia goleadora muito apurada. Desde que Lage chegou, Félix fez 5 golos e o suíço fez 7. A dinâmica entre os dois é fluída e importante para o próximo ponto de mudança: a pressão.
A forma como o Benfica pressiona com Lage é substancialmente diferente da de com Vitória. Vemos Félix e Seferovic a pressionar alto a saída de bola adversária, vemos os extremos a apoiar a pressão e um meio campo musculado com capacidade de destruir jogo e roubar bola. A capacidade de recuperar bola alia-se à capacidade de contra-ataque reconhecida a jogadores como Pizzi, Félix, Cervi ou Rafa.
O Benfica com Lage é, então, uma máquina já bem oleada e totalmente dentro das competições em que está, certo? Quase. O Benfica está a 3 pontos do Porto, na frente na Taça de Portugal e nos 16 avos da Liga Europa. O seu futebol está cada vez melhor, mais fluído e eficaz. Mas nem tudo está feito. No jogo com o Porto viram-se dificuldades da equipa que são naturais com 1 mês de trabalho.
Bruno Lage tem mostrado ser um treinador de grande qualidade. Um discurso certeiro e coerente, uma qualidade tática muito superior à do antecessor e uma leitura inteligente dos momentos do jogo e dos seus jogadores. Ainda assim, corre atrás do tempo, para mostrar trabalho antes do final da época. Na minha opinião, o Porto continua como favorito à conquista do campeonato, o Benfica chegará à final da Taça de Portugal mas a continuidade de Lage na Luz depende da Liga Europa. Chegar longe na competição dará créditos a Bruno Lage que me parece o homem ideal para se manter no banco encarnado.
A grande debilidade desta equipa continua a ser a defesa. Será esse o aspeto que Bruno Lage terá que trabalhar mais já que o ataque parece equilibrado e com soluções.
A pressão que incutiu permite recuperar muitas bolas e limitar a construção adversária mas não chega. Individualmente há lacunas nas alas e nem Fejsa nem Samaris têm sido capazes de compensar a linha defensiva. A dupla de centrais está cada vez mais entrosada, mas as perdas de bola dos 4 defesas e dos dois médios é um problema. E isso leva-nos ao último ponto de mudança e que pode influenciar o futuro do Benfica: Gabriel.
Gabriel tem sido a opção para ser o segundo médio do meio-campo encarnado. À frente de Gedson, de Zivkovic e até de Pizzi (“empurrado” para a ala), Gabriel parece ser um dos indiscutíveis de Lage. Mas porquê? O que traz o médio brasileiro à equipa?
Gabriel é bom na transição, passa bem e chega bem à área adversária (fez um golo contra o Sporting). Compensa bem os colegas defensivamente, mas perde algumas bolas de forma infantil. A grande qualidade do brasileiro é a intensidade que traz ao jogo e o entendimento com Pizzi, Félix e Seferovic.
Por tudo isto, o Benfica de Lage está muito mais preparado para fazer mais e melhor do que o fim de Rui Vitória. Lage, continuando a trabalhar como tem feito, mantendo o discurso interessante e a qualidade de jogo, tem tudo para ser o próximo grande treinador dos encarnados.