FC Porto e mercado: falta de dinheiro, falta de visão ou falta de estratégia?
Ao fim de 20 dias de abertura oficial do mercado e quase três meses depois de ter sido campeão nacional de novo, o FC Porto continua em busca de reforços para a defesa, meio-campo e ataque… uma procura que está a revelar-se infortuita e quase “amadora” por parte da SAD azul-e-branca.
RESUMO DO QUE ENTROU E SAIU
Vejamos quem foram as entradas e saídas do clube até ao momento (contabilizamos os jogadores que jogaram emprestados a temporada passada e agora reforçam o plantel como activos plenos do clube)
ENTRADAS: Majeed Waris (6M€), Paulinho (4M€), Yordan Osorio (1,80M€), Saidy Janko (3M€), João Pedro (4M€) e Ewerton (2,5M€) = 21,5M€
SAÍDAS: Ricardo Pereira (22M€), Diogo Dalot (22M€), Willy Boly (12M€), Miguel Layun (4M€), Gonçalo Paciência (3M€), Hyun-Jun Suk (2M€), Iván Marcano (fim de contrato), Diego Reyes (fim de contrato) e André André (fim de contrato) = 65M€
Algumas notas a considerar desde logo:
1- Do onze titular típico de Sérgio Conceição saiu Ricardo Pereira e Ivan Marcano, sendo que Diogo Dalot, Miguel Layun (até Janeiro), Diego Reyes e André André eram segundas soluções, que andaram a saltar entre o banco e a titularidade;
2- Nenhum dos reforços confirmados entra directo para o onze ou é uma contratação de “peso” para o plantel dos dragões, com João Pedro (ex-Palmeiras que actuou a maior parte do ano no Bahia) a ser a grande esperança para o onze. Mais, Osorio já saiu para o Vitória SC por empréstimo, Majeed Waris não é a solução que Conceição deseja e Gonçalo Paciência voltou a sair pela “porta pequena” quando merecia mais;
3- A SAD do FC Porto já explicou que se “vende 40M€, pode contratar reforços até 40M€”, ou seja, tudo o que gasta pode ir directamente para gastos em contratos e novos reforços;
4- Sérgio Conceição disse após a conquista do título, que a época tinha acabado bem mas que para voltar a atingir o mesmo objectivo teria que se reforçar seriamente o elenco ao seu dispor;
5- Somar os reforços vindos por antigos emprestados, com Chidozie (época de bom nível em França), Adrian Lopez (surpreendentemente entrou nas contas da pré-época, mas o problema é os meses seguintes), André Pereira (fez um boa segunda metade de época no Vitória FC) e Mikel Agu (o médio-centro tem qualidade, todavia prefere voltar a sair a ficar no banco) foram reintegrados.
6- Do FC Porto “B” chegaram Bruno Costa, Diogo Queirós e Diogo Leite, sendo que o segundo não vai ao Europeu de sub-19 para trabalhar no plantel durante a pré-época;
Olhando bem para os elementos de vendas/saídas há uma notória falta de reforços de calibre alto, de jogadores que possam entrar directamente no onze e assumir-se como verdadeiros reforços. Relembrar que 2017/2018 não foram anunciados reforços na verdadeira acepção da palavra: Vaná nunca foi opção, os empréstimos com opção de compra obrigatória de Paulinho, Waris e Osorio não renderam e Paciência não teve oportunidade para aparecer nesta nova oportunidade no clube.
AS SAÍDAS QUE PODEM TIRAR VISÃO E PROFUNDIDADE AO PLANTEL
Por isso, é natural que o plantel azul-e-branco fosse alvo de “apertos” especialmente no eixo-defensivo, na camisola nº8 e nas alas. Contudo, até ao momento não só não foram anunciados essas novas “peças” como há possíveis saídas perigosas para o Dragão. Vejamos algumas situações:
– Vaná, José Sá e Fabiano, qual deles ficará a fazer parelha com Iker Casillas no guardar das redes do FC Porto? Há notícias que referem uma possível venda de José Sá, para além do facto que o português não actuou nos dois jogos amigáveis da equipa. Vítima de uma renovação de contrato de Casillas ou “culpado” por alguns dos erros que foi responsável durante a época;
– Alex Telles é dos jogadores mais cobiçados do plantel, com alguns rumores a apontarem para o interesse do Bayern de Munique, Real Madrid e Nápoles no lateral-esquerdo. 40M€ é a cláusula de rescisão do brasileiro;
– Hernâni está de saída depois de mais uma época a jogar pouco, com o Rayo Vallecano, Valladolid e Huesca interessados no passe de 5M€ do português;
– Hector Herrera tem só mais um ano de contrato pela frente e o bom mundial do mexicano tem resultado na subida de interessados com o Nápoles, Marselha e Valência podem ser clubes-destino se o FC Porto estiver disponível para negociar. Em caso negativo, e se não conseguirem uma renovação, o clube está no risco de ver o jogador sair sem qualquer retorno;
– Chidozie regressou mas pode sair já na próxima semana, mais pela própria vontade do nigeriano que do clube;
– Yacine Brahimi vai para a sua 5ª época de Dragão ao peito. Contudo, aos 28 anos (fará 29 em 2019) já demonstrou interesse em abandonar o clube caso chegue um convite de Espanha ou Inglaterra. 35 a 45M€ é o que o FC Porto poderá pedir pelo argelino;
– João Carlos Teixeira não conta, apesar de ser um atleta com relativa qualidade na saída para o ataque e velocidade de jogo;
– Moussa Marega tem interessados em Inglaterra e o avançado manifestou vontade de sair para outros campeonatos. 25M€ é a base para começar a discutir uma possível transferência;
Olhando para este prisma, o mercado de saídas dos campeões nacionais ainda está muito agitado e a própria SAD, pela voz de Fernando Gomes, já evidenciou que não há intrasferíveis enquanto o Fair Play financeiro se mantiver no clube. O mesmo administrador admitiu que o FC Porto está mais “solto” e que pode gastar milhões em contratações pontuais e que tragam qualidade.
ENTRE O APERTO DO CINTO E A VISÃO DE NOVOS ACTIVOS
Mas o tempo começa a escassear, a Liga NOS inicia-se a 12 de Agosto e não parecem existir claros sinais de reforços. Éder Militão foi o último rumor de mercado, mas tem 20 anos, está para se afirmar totalmente no Brasileirão (é titular no São Paulo mais por necessidade do que mérito) e não tem experiência internacional.
Róger Guedes, formado no Palmeiras, e emprestado ao Atlético Mineiro foi um dos outros nomes mais falados pela imprensa para o FC Porto até a quinta-feira passada, altura em que assinou contrato com o Shandong Luneng na China.
Chancel Mbemba é outro dos nomes cogitados para rumar à Invicta a troco de 8M€, sendo o congolês um reforço interessante pelos anos de experiência que acumula tanto na CAN como na Premier League ao serviço do Newcastle. Fisicamente competente, intenso na marcação e equilibrado nas bolas paradas, é na saída de jogo e concentração em momentos de maior tensão onde estão os seus maiores problemas. Para o campeonato português é um jogador mais que suficiente, em virtude dos aspectos físicos e tácticos.
Mais uma vez, esta informação carece de oficialização e não há para já um jogador que faça par com Felipe no centro da defesa. Para além de Militão e Mbemba não surtiram mais notícias sobre aproximações a jogadores, até porque a maioria dos alvos que existiam na Liga NOS já foram transferidos (Raphinha, Etebo, Pablo Santos por exemplo). Raúl Silva também está referenciado, mas o central do SC Braga pode estar de saída para Espanha por valores superiores aos que os dragões querem oferecer.
Isto não significa falta de estratégia ou falta de vontade de reforçar, uma vez que a chegada de Ewerton, Soares, Brahimi (estamos a falar dos últimos 4 anos) ninguém sabia até ao dia que os jogadores assinaram pelo clube.
Como a própria SAD afirmou, há agora mais cuidado com as contratações, uma análise mais lógica e de menor risco, de forma a evitar negócios ruinosos para o clube (Depoitre, Adrian López, Bruno Martins Indi, Diego Reyes, Nabil Ghilas, Óliver Torres são alguns jogadores que custaram pequenas fortunas e que não renderam o valor pago pelo FC Porto).
Mas até que ponto a segurança e austeridade condenam a capacidade de reforçar e dar outra profundidade ao plantel? A venda ao desbarato de alguns jogadores não será sinónimo de uma SAD “doente” e que perdeu a capacidade de fazer negócios minimamente razoáveis para o clube? Exemplo, Juan Quintero está emprestado ao River Plate com os argentinos a terem uma opção de compra de 4M€… o colombiano fez um excelente mundial e tem interessados por toda a Europa.
Qual foi a lógica de ceder Quintero por um valor tão irrisório em ano de Mundial? Será que o departamento de futebol, liderado por Luís Gonçalves perdeu capacidade de julgar bem os casos, transferências e futuros activos ou a SAD domina por completo todas as acções do clube o que implica maus julgamentos e considerações erradas?
Iván Marcano não foi um dossier mal trabalhado? Os casos de Miguel Layún e Diego Reyes? A saída a custo-zero de André André? E o que dizer dos reforços de Inverno que não servem, como Waris e Osorio? Não serão estes sinais negativos da governação da actual direcção da SAD encabeçada por Jorge Nuno Pinto da Costa com apoio em Fernando Gomes?
O leitor pode dizer que o mercado ainda está no seu início e que o FC Porto só agora começou a preparar a época,, o que dá tempo para chegarem os reforços suficientes para dar outra dimensão no ataque ao bicampeonato. Contudo, Sérgio Conceição precisa de tempo para adaptar jogadores ao seu esquema de jogo, à sua forma de trabalhar e aos ritmos de jogo que têm de ter em campo.
Enquanto não chegam novidades, o FC Porto vai fazendo o que pode com os activos da equipa B e os ex-emprestados, com Ádrian López em alta (4 golos em 3 jogos de pré-época), Diogo Leite (o central está a crescer e poderá ser a surpresa da temporada), André Pereira (regresso bem trabalhado pelo avançado) e Bruno Costa.
A somar aos factos é a voz de Sérgio Conceição que já demonstrou desagrado com a situação actual e parece estar a chegar a um ponto de ruptura,
Há meia dúzia de jogadores que não têm capacidade para jogar no FC Porto, é visível. Acabei com uma linha defensiva com Oleg, da equipa B, com Mikel a central, o Diogo Leite da equipa B e com o Saidy Janko. Na segunda parte entrou o Ewerton, Bruno Costa, André Pereira, ambos da equipa B e precisamos de soluções, esta é a verdade, não podemos escamotear esse facto.
continuando,
O plantel final vai ser um bocadinho diferente, é bem visível, não posso esconder que temos dois jogadores novos, novas aquisições, que são dois miúdos e segundas soluções, a verdade é esta. Saiu 50 por cento do setor defensivo titular e temos de ir à procura de soluções, já disse isso à direção e falei com o presidente e estamos a trabalhar nesse sentido, por vezes não é tão fácil e rápido como queremos, mas estamos a trabalhar nesse sentido
Em jeito de nota final, ao fim de vários anos o FC Porto volta só a estagiar em Portugal esta temporada, uma novidade que pode levar a pergunta: o apertar do cinto está para ficar e o clube não pode de todo gastar fundos em nada mais do que os actuais salários? Se não vierem reforços que condições têm os azuis-e-brancos para renovarem o título nacional?