Arquivo de FC Porto - Fair Play

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Brás AssunçãoFevereiro 6, 20245min0

Depois de vários dias a tentar colocar as ideias no lugar, e de ter vivenciado a final four da Allianz Cup in loco, decidi colocar neste artigo o que senti e o que penso sobre o que esta competição de futebol ofereceu-me nesta última edição de 2024.

Já falei várias vezes no meu podcast que só fui ter cultura de estádio muito tarde na minha vida. Mágoa que levo comigo até hoje, mas que tento colmatar nos dias recentes ao ver todos os jogos da equipa local da cidade onde moro, a União Desportiva de Leiria. Pois bem, depois de no ano passado ter assistido ao FC Porto x AC. Viseu aqui em Leiria, e ter voltado a assistir um dos clubes que me diz muito na minha vida, meti na cabeça que em 2024 iria ver os jogos todos da final four da

Allianz Cup, ou taça da liga como queriam chamar. E assim foi. Antes de saber os finalistas, já tinha adquirido a minha presença nesta competição tão desprezada por muitos, e maltratada por quem a gerencia. Dias depois dessa compra, o FC Porto faz o favor de não se apurar e quem avança no seu lugar é o Estoril Praia, que é uma das equipas que mais bom futebol tem praticado nesta temporada. Ao menos isso, já que a equipa orientada por Sérgio Conceição estava a fazer até então, uma das piores épocas do seu reinado. As outras equipas a marcar presença em Leiria, seriam o SC Braga, SL Benfica e o SC Portugal. Definidos os finalistas, ditou o sorteio que o Benfica jogasse com o Estoril Praia e o Sporting com o Braga.

Contra tudo o que se esperava, a final foi o oposto do que a organização pretendia, e Estoril e Braga chegaram à final no último ano da Allianz Cup em Leiria. Péssimo para o Sr. Proença, que pretende levar esta competição para o médio oriente, ou outra qualquer região do mundo onde deem mais dinheiro, mas óptimo para quem gosta de futebol e se deixa contagiar pelo romantismo de ver os pequenos a vergar os grandes.

E é aqui que está o foco da minha reflexão. Nunca dei valor à taça da liga e acho que pouca gente dá, porém o que ela me proporcionou neste ano não estava escrito. Além de poder ver equipas que não tenho hábito de assistir, pude observar as pessoas que seguem os seus clubes e como elas se comportam num ambiente neutro e de festa, dentro e fora do estádio. Pude torcer pelo underdog da competição, o Estoril, que tanto me fez sofrer na final, no desempate das grandes penalidades.

Ver de perto o carinho e paixão que os estorilistas têm pelo seu clube, foi uma das melhores coisas que esta prova poderia ter me dado. Algo que a televisão, por mais boa que seja a transmissão, não irá nunca oferecer tamanha sensação.

Acrescento ainda, que consegui mostrar o futebol português a uma família carioca, habituada a ambientes frenéticos no Maracanã e no São Januário, onde sairam de todos os jogos com satisfação pelo ambiente saudável vivido no Magalhães Pessoa. Onde a segurança sentida por eles e as boas condições do estádio foram super elogiadas. Aliado a isso, ficaram com vontade de saber mais sobre o nosso futebol e outros clubes como o Estoril e a União de Leiria, por exemplo.

É este tipo de vivências que temos que exportar para fora, não a competição.

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Depois destas emoções todas, ficou o vazio e a tristeza que esta competição vai deixar na cidade de Leiria. Bem sei que os acessos ao estádio Magalhães Pessoa, num evento como este, deixa muito a desejar, e é um estádio que muita gente odeia por essa razão. Observação válida, atenção. Mas estes 4 anos de prova ajudaram as pessoas de cá a se aproximarem um pouco do futebol e até acho que a União de Leiria se beneficiou com essa aproximação dos leirienses. Além da romaria extra que este evento deixa na cidade, nota-se uma energia diferente. Por isso, não cabe na minha cabeça que o senhor Proença queira levar isto para fora do país, por mais retorno financeiro que isso traga. É retirar o futebol dos adeptos, step-by-step. Não faz qualquer sentido.

O meu desejo é que esta prova fosse para outra cidade, que tal como Leiria, tenha a necessidade de reativar a chama do futebol nos habitantes locais. Que seja uma competição para nutrir a capacidade de ver futebol e que faça desaparecer, nem que seja por 5 dias, o fanatismo doentio que temos pelos grandes clubes do nosso país. Ou então que fique mais 4 anos em Leiria, que eu não me importava nadinha. Não será esta taça o talismã da mudança, mas na minha opinião pode ser o catalisador para mudar mentes e atitudes.

Será pedir muito o futebol que quero?


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