Foi em Pequim, no Estádio Olímpico Nacional, que se jogou o China Open, com uma final a ser disputada entre Barry Hawkins e Mark Selby. O campeão do mundo em título venceu e convenceu, vencendo assim o 3º China Open em quatro anos, o que demonstra bem da superioridade do inglês neste torneio.
A queda dos “mitos”, O’Sullivan e Higgins
Neste China Open, tal como tem sido habitual esta época houveram favoritos a cair logo nas primeiras rondas. Foram os casos de Ronnie O’Sullivan, que foi surpreendido frente ao inglês Elliot Slessor, perdendo por 6-2. Mas mesmo com uma derrota que deixou um sabor amargo na boca dos seus fãs, estes acabaram ainda por ser brindados com a 14ª tacada máxima da carreira do “Rocket”, durante este encontro. Um marco incrível, que se vai tornando algo corriqueiro, tal como referido pelos comentadores do Eurosport, Nuno Santos e Miguel Sancho, em entrevista ao Fair Play.
Para além da queda daquele que tem sido o melhor jogador esta época, John Higgins foi outro dos jogadores candidatos ao título a cair prematuramente, neste caso na segunda ronda, perdendo perante Jack Lisowski por 6-2. Mas não só os dois jogadores anteriormente referidos caíram com alguma surpresa nas primeiras rondas, também Luca Brecel, Ali Carter e Shaun Murphy saíram mais cedo de cena em Pequim, o que não augura nada de bom para os três jogadores já com presença garantida no mundial.
A ronda das “negras”
A terceira ronda foi pródiga em encontros decididos no último ‘frame’. Hawkins, que está longe de estar a fazer uma época brilhante, teve de suar bastante para garantir um lugar nos quartos-de-final. Bateu na “negra” o chinês Cao Yupeng por 6-5, marcando encontro nos “quartos” frente a Tom Ford. Num encontro também apenas decidido na “negra”, Kyren Wilson deixou pelo caminho o jogador favorito dos adeptos caseiros, Ding Junhui, por 6-5, num encontro repleto de emoção.
Não tendo tido menos emoção, o encontro entre dois “monstros” do circuito, o veterano Mark Williams bateu o campeão em título do Masters, Mark Allen, por 6-5. Tendo desde logo marcado encontro frente ao campeão do mundo em título, Mark Selby, que venceu Lyu Haotian por 6-1.
O aviso de Selby aos adversários
Chegado os quartos-de-final, o alinhamento foi o seguinte: Mark Williams vs Mark Selby; Jack Lisowski vs Kyren Wilson; Neil Robertson vs Stuart Bingham e Barry Hawkins vs Tom Ford. No último destes encontros, Hawkins saiu por cima, apesar de uma vez mais ter tido inúmeras dificuldades frente ao compatriota, onde venceu por 6-5. Precisamente em sentido contrário, no que toca a dificuldades, Neil Robertson não deixou margem para dúvidas e triunfou sob Bingham por 6-0.
No encontro digno de cartaz, o que opôs Mark Selby e Mark Williams, o inglês acabou por vencer de forma convincente o galês por 6-2, mostrando uma vez mais que este China Open lhe encaixa que nem uma luva e, mais do que isso, que a preparação para o mundial está a correr muito bem. Na meia-final já estava à espera de Selby, o seu compatriota Kyren Wilson, que apesar de não ter tido vida nada fácil frente a Lisowski, acabou por vencer por 6-5.
Hawkins em forma para o mundial?
Mark Selby teve pela frente nas meias-finais, o sempre complicado Kyren Wilson. O “guerreiro” do circuito tinha uma árdua tarefa pela frente mas sabia de antemão que nada era impossível. O histórico de duelos era claramente favorável ao nº1 mundial, com sete vitórias contra apenas uma de Wilson. Neste encontro das meias-finais, a excepção não fugiu àquilo que tem sido regra e, o Selby levou de vencida Kyren Wilson por 10-8.
Apesar de ambos estarem longe das suas melhores épocas de sempre, Neil Robertson parecia à partida um pouco mais favorito frente a Barry Hawkins. Para isso também contribuía o histórico de confrontos entre ambos, já que num total de 19 encontros, o australiano saiu por cima em 11 contra 8 do inglês. Mas neste encontro do China Open, Hawkins galvanizou-se e venceu o encontro por 10-6, alcançando assim a sua segunda final da temporada.
Hawkins “ausente” da final
O histórico de duelos entre Mark Selby e Barry Hawkins antevia um duelo muito equilibrado, já que em 19 encontros disputados entre ambos, o primeiro venceu dez contra nove vitórias de Hawkins. De destacar ainda que este foi primeiro encontro entre ambos a ser disputado numa final de um ‘major’.
E para a primeira final de Hawkins frente a Selby, esperava-se bem melhor do primeiro. Logo no final da primeira sessão, Mark Selby já liderava a seu belo prazer por 8-2, deixando poucas dúvidas sobre o desfecho da final. Por isso, na segunda sessão confirmou-se aquilo que já se antevia, o campeão do mundo em título confirmou a vitória por 11-3. Com esta vitória, Selby está na ‘pole’ para vencer o mundial, já que este começa já no próximo dia 21 de Abril.
Depois deste China Open e, até ao final da temporada, só resta mesmo o momento mais aguardado, o mundial em Sheffield. Campeonato do Mundo esse que pode ser acompanhado em directo e exclusivo em Portugal, nos canais do Eurosport e que vai ser jogado entre o dia 21 de Abril e 7 de Maio.
Nuno Miguel Santos, multi-campeão nacional e referência do snooker em Portugal. Miguel Sancho, outra figura de referência do bilhar em Portugal. Têm em comum o facto de serem as vozes do snooker no Eurosport. Não perca por isso a segunda parte da entrevista do Fair Play, feita durante o Players Championship, onde ambos os comentadores falam sobre o passado, o presente e o futuro do snooker nacional e internacional.
Tanto o Miguel como o Nuno saíram do FC Porto no final da época passada, alinhando agora pelo Snooker Club Lisboa. Contem um pouco como se deu essa mudança.
NMS: Em primeiro lugar quero referir que foram dois anos muito bons, no meu caso foi o regresso ao FC Porto, no caso do Miguel foi a sua estreia, tendo também contado com a presença do Pedro France, e no primeiro ano do Adérito Anil. No fundo já sabia ao que ia, é sempre um prazer representar o FC Porto, foi aliás o clube que mais me marcou na minha vida desportiva, pelo clube que é e, acima de tudo pelas pessoas que tem dentro da sua estrutura. Pessoas essas que sabem valorizar os atletas, dar-lhes todas as condições que estes necessitam e, quando assim é, o caminho para os títulos está aberto ou pelo menos torna-se mais fácil. Nesta passagem de dois anos no FC Porto, dignificamos o clube, sendo que de todos os títulos que disputámos, perdemos apenas uma Taça de Portugal, como tal o FC Porto gostou da nossa participação. Por tudo isso, seria difícil esta temporada repetir todos esses sucessos, porque em primeiro lugar não poderíamos contar com o Pedro France, que deixou de jogar por não conseguir conciliar o snooker com a sua vida familiar e profissional. Por essa razão, percebemos que ou continuaríamos apenas porque sim, ou continuaríamos a jogar para vencer, como é o desígnio do FC Porto. Chegamos assim à conclusão que seria mais interessante iniciarmos um novo projecto, com a certeza porém que a porta no FC Porto ficou completamente escancarada para que possamos voltar um dia mais tarde a unir esforços. Mudamos então de armas e bagagens para o Snooker Club Lisboa, onde continuamos na mesma senda vitoriosa, pelo menos até ao momento.
MS: Na prática não houve uma grande mudança, porque o FC Porto já jogava no Snooker Club Lisboa, sendo a única modalidade que já se jogava fora do distrito do Porto. Falando agora como atleta e como responsável do Snooker Club Lisboa, foi um enorme prazer a parceria que fizemos com o FC Porto, permitiu que o espaço crescesse, já que este apenas existia apenas como espaço comercial e não como clube propriamente dito, tendo-nos permitido assim ter competição ao mais alto nível. Eu nunca tinha sido atleta do FC Porto, ouvia o Nuno e outros dizerem o que era ser atleta do clube, mas quando o senti na primeira pessoa percebi que é fenomenal ser atleta daquela casa, tal como o Nuno dizia, pelas pessoas que lá estão, desde logo pelo próprio presidente do clube, o Jorge Nuno Pinto da Costa, que adora bilhar, sendo isso desde logo uma mais-valia tremenda relativamente aos restantes clubes portugueses. Também pelo responsável máximo da secção de bilhar, que é ao mesmo tempo vice-presidente do clube, o Alípio Jorge, que deve ser a única pessoa em Portugal que é atleta de bilhar ao mesmo tempo que tem tais funções na estrutura directiva. Não sendo nenhuma inconfidência, porque foi o próprio que nos disse, Jorge Nuno Pinto da Costa não perde um jogo de snooker que dá no Eurosport e quando pode, vai ver os torneios ao vivo, seguindo de perto a modalidade. Finalmente também toda a estrutura que está montada naquela casa, na pessoa da Manuela Pinto de Sousa, sendo uma das figuras máximas do bilhar, criando assim uma família ali, que vai desde o presidente do clube até ao mais humilde funcionário, sendo quase impossível replicar tal modelo por este existir num clube grande como o FC Porto, já que são muitos anos, uma família ali criada, havendo várias gerações ali dentro e que nos dão uma força e um carinho que às vezes nem percebemos de onde ela vem, o que torna muito especial lá jogar. Posso dizer que conheço dois casos de jogadores que passando por lá, e não sendo portistas desde pequeninos, depois de passarem por lá ficaram muito marcados, o Nuno e o Pedro Grilo, sendo que hoje posso dizer que sou mais um desses casos. Espero que o FC Porto regresse ao snooker, onde este ano tivemos o regresso do SL Benfica, sendo muito importante ter os ditos três grandes no snooker. Em relação ao Snooker Club Lisboa, o projecto é uma continuidade natural daquilo que aconteceu no FC Porto, do ponto de vista do snooker, para já estamos temos o primeiro lugar garantido em Lisboa, estando assim apurados para as fases finais. Este projecto permitiu o regresso de alguns jogadores da casa à variante de Pool, estando também bem lançados para marcar presença nas fases finais nessa variante, tal como no Pool Português.
Como tem sido a afluência ao Snooker Club Lisboa desde o seu início até então? E contem um pouco acerca da vossa própria experiência em ter o Shaun Murphy lá e a impressão com que o próprio ficou do nosso país.
MS: Em relação ao Snooker Club, acho que tem estado a correr com as dificuldades normais de quem tem que fazer renascer uma casa, mas ainda assim muito satisfeito por aquilo que tem acontecido. O Snooker Club é uma das casas mais históricas de Lisboa, foi criada em 1989, passou portanto toda uma geração, passando por tempos bons, outros menos bons. Desde o falecimento do seu fundador, obviamente que a casa passou um mau período, sendo que aquilo que temos vindo a fazer, não eu pessoalmente, mas sim a equipa extraordinária que lá trabalha liderada pela Isabel Maurício, é fazer renascer das cinzas uma casa que era vital para o bilhar em Lisboa, sendo praticamente a única existente naquela zona central da cidade. O trabalho de recuperação tem sido feito agora com muito mais mulheres, jovens, gente que não ia ao Snooker Club, e que agora vai, grupos, empresas, entre outros, o que torna a casa outra. Do ponto de vista desportivo foi feita paralelamente uma aposta no Pool, no Snooker, no Pool feminino, temos também jovens em idade de esperanças a jogar, como é o caso do Rui Fonte e outros, temos estrangeiros, já que somos uma casa internacional, com jogadores de diversas nacionalidades. Como se costuma dizer, “Roma e Pavia não se fizeram num dia”, sendo que nós passamos por diversas dificuldades, mas ainda assim temos tido a ajuda de muita gente, sobretudo quer das pessoas que lá trabalham quer dos atletas da casa e que acabaram por formar uma bela equipa, fazendo com que o Snooker Club seja aquilo que foi em tempos, que é uma casa de referência do bilhar nacional.
NMS: Eu jogo em competição desde os meus 16-17 anos e o Snooker Club sempre foi aquela casa de referência. Mas o Miguel acaba por ser algo modesto quando fala, já que o Snooker Club sempre foi, e ainda é, uma das melhores casas de bilhar a nível nacional. Foi uma grande aposta do saudoso António Almeida, uma pessoa pelo qual eu sempre nutri uma grande amizade, conversávamos muitas vezes, ele gostava muito de mim, creio que era recíproco. Sempre foi aquele local onde toda gente queria jogar, de facto estava vários degraus acima do que havia por cá. Chegaram a ser lá feitos torneios importantes com os melhores jogadores a nível nacional e, sempre houve ali uma grande entrega por parte do fundador, que queria ficasse tudo ao pormenor e que tinha um enorme orgulho quando alguém lhe dizia que aquela era a melhor casa do país. Eu na altura conhecia praticamente todas as casas de bilhar em Portugal e, posso dizer com certeza que aquela era sem dúvida a melhor casa, não só para se jogar, mas também para se conviver. Tinha sempre os melhores materiais, tendo feito uma aposta mais recentemente numa mesa que acho que até hoje é a única da marca Star em Portugal, tendo também comprado quatro mesas de 9 pés, tudo de qualidade topo para garantir as melhores condições aos melhores jogadores. O facto de o turismo estar em alta na cidade de Lisboa, faz com que por exemplo entrem grupos enormes de pessoas estrangeiras pela casa adentro, disfrutando e adorando o espaço porque de facto é um espaço muito bem concebido e insonorizado. Quanto ao Shaun Murphy, adorou estar cá em Portugal, no que a nós diz respeito foi óptimo, muitíssimo bem tratado, sendo que a brincadeira que fizemos com ele correu muito bem, ele colaborou imenso (risos), tanto comigo como com o Pedro France, onde na altura foi basicamente a apresentação da equipa do FC Porto. Foi um bom evento, também uma excelente oportunidade de vermos um dos melhores jogadores da actualidade em acção, sendo que nos falta uma coisa ao espectador português, que é um jogador quando joga uma bola, não tem que jogar para embolsar, eles de vez em quando também falham e quando não estão naquele modo competitivo há mais facilidade em isso acontecer. Falta-nos ainda alguma cultura de snooker, isto também já tinha acontecido em 2004, aquando da vinda do Paul Hunter cá a Portugal, no Pavilhão das Travessas, chegaram a assobiá-lo por ele ter falhado algumas bolas, como se o mais fácil ali não fosse falhar e, apesar de isso ter melhorado drasticamente, ainda há um longo caminho a percorrer. O Murphy levou ainda uma lembrança de Lisboa oferecida pelo António Barroso (jornalista do jornal A Bola), um eléctrico de Lisboa em miniatura e uma bola de cristal “The Magician”, adorou a comida portuguesa, como não poderia deixar de ser, sendo que ele já conhecia bem Portugal, já que tinha passado férias no Algarve com os pais, em miúdo. Só para finalizar, ainda levou uma “tareia” do Miguel Sancho no Pool Português (risos).
Sobre a presença de jogadores profissionais em terras lusas, os rumores de que brevemente haverá um ‘major’ em Portugal vão aparecendo. Quão importante seria para Portugal um torneio desses tornar a acontecer? E de que forma é que se poderá alavancar esse tipo de eventos?
MS: O regresso de o snooker a Portugal obviamente seria sempre bom. A projecção mediática que houve no snooker em 2014 com o Lisbon Open, nunca tinha existido em Portugal, nem nunca a voltaremos a ter tão cedo. Só para se ter uma ideia, o Nuno deu uma entrevista para o Telejornal da RTP, sendo que não há muitas modalidades que o tenham feito para o próprio Telejornal. O João Grilo dizia na brincadeira, que não sendo jogador de snooker, só o facto de ter conseguido chegar ao quadro da fase final do Lisbon Open fez com que ele fosse mais reconhecido, do que com todas as vitórias que tinha obtido antes. Mesmo em termos de imprensa, nunca esperei que corresse tão bem, já que estamos a falar da presença dos três grandes canais generalistas, de todos os jornais desportivos e não desportivos, da Agência Lusa, meios de comunicação social estrangeiros, tendo havido conferências de imprensa com a presença de mais de 20 jornalistas. Em termos de bilhética, nem nós esperávamos uma coisa assim, com os bilhetes mais caros a serem comprados rapidamente, bilhetes a serem vendidos para o país inteiro, tendo havido inclusive um casal israelita a vir de propósito ao Lisbon Open.
NMS: Tal como o Miguel disse, seria óptimo que o snooker regressasse a Portugal. Eu gostava de ser mais ambicioso e que ele regressasse com a tal formação para os que cá ficam depois do evento. Do ponto de vista da modalidade, poderia ser esse o legado que a World Snooker poderia deixar para os anos que aí vêm, deixando por exemplo algumas mesas para projectos de formação. Claro que desta vez a vir um torneio a Portugal teria de ser feito com muito mais tempo e mais bem pensado. Se tal acontecer, acima de tudo é necessário que seja bem feito, bem negociado e que possa trazer uma mais-valia desportiva para as provas da Federação que se realizem no futuro.
Barry Hearn soube como ninguém levar o snooker a patamares estratosféricos. Até que ponto seria interessante a World Snooker apostar mais nas redes sociais, apostando por exemplo em vídeos dos bastidores, do dia-a-dia dos jogadores, etc.
MS: Eu percebo o que estás a dizer, e dou-te razão, sendo que o problema não são propriamente os direitos, mas sim o facto de o Barry Hearn não ter conseguido chegar a todo lado. A World Snooker já percebeu que havia muito trabalho a fazer nas redes sociais e acho que o estão a fazer agora, estando provavelmente a entrar um bocadinho tarde. Acho que andaram demasiado tempo ligados ao Twitter, já que os ingleses estão fixados nesta rede social, deixando o Facebook para trás. Aquilo que tem acontecido nos últimos anos é muito devido à parceria que foi feita em 2016 com o Eurosport, ou seja foi essa ligação que fez com que nos últimos dois anos a aposta nas redes sociais tenha sido maior. Na minha opinião penso que faltam fazer algumas coisas, o programa do Ronnie O’Sullivan era bom, mas é curto, acho que falta mais promoção da modalidade para além do jogo propriamente dito. Noto no Eurosport, a falta de um magazine sobre snooker, acho que era muito importante. Este tipo de magazines poderia ser inclusive criado para o YouTube. Em Lisboa aquando da prova realizada, existia uma promoção da cidade de dez segundos a passar antes do início da transmissão. O ‘behind of scenes’ é outro caminho que devia ser explorado, já que permite que conheçamos mais e melhor os jogadores.
NMS: O Barry Hearn está ligado também à Matchroom Sport, à organização da World Pool Masters e do World Cup of Pool, sendo essas provas pontualmente transmitidas em directo no Facebook para os países que não têm acordos, sendo difícil responder a essa pergunta já que não sei quais são as condicionantes que muitas vezes existem. A World Snooker tem esse acordo firmado com o Eurosport, não fazendo sentido por exemplo transmitir esses encontros no Facebook nos países em que existe o Eurosport, acontecendo o mesmo com a CCTV para os países asiáticos. Em termos de ‘behind of scenes’ não estou muito de acordo com o Miguel, havendo o caso do já infelizmente falecido Paul Hunter, que estava assiduamente presente em revistas cor-de-rosa, muitas vezes pelo seu perfil, pela sua fisionomia e esse não é um trabalho que caiba à World Snooker, como a FIFA e UEFA não o fazem no caso do futebol.
O mundial está aí ao virar da esquina. Fazendo um balanço daquilo que aconteceu até agora e perspetivando o que possa vir a acontecer em Sheffield, quem são os verdadeiros candidatos a vencer?
NMS: Essa é das perguntas que mais me fazem e eu só consigo dizer que tudo depende daquilo que vão jogar. Quando jogamos por equipas, mesmo que haja um jogador a jogar mal, se os outros jogarem bem e ganharmos, está tudo bem. Numa modalidade individual não há essa hipótese, não há forma de refugiar em ninguém, sou eu contra o meu adversário. Em relação a vitórias, eu acho que não podemos fugir aos três “velhinhos” (Ronnie O’Sullivan, John Higgins e Mark Williams). Mark Selby acaba por ser ainda uma incógnita, é um jogador que se vai preparar e muito para este mundial. É verdade que ele esta época ganhou o International Championship, mas não deixa de ter uma época para salvar. É aquele tipo de jogador que mesmo não estando em boa forma técnica e tática, está em boa forma física, sendo que a técnica e táctica podem ser treinadas, acabando por ser um torneio que lhe entra que nem uma luva, com jogos e distâncias longas, sendo ele um jogador resistente e resiliente. Sinceramente, não sei se atualmente o Ronnie tem o estofo necessário para ganhar o mundial. John Higgins já revelou não ter forma para aguentar um torneio tão longo, mesmo a derrota de 6-0 frente ao Anthony McGill, no Players Championship, não augura nada de bom. Mark Williams está num bom período mas ainda com alguma irregularidade, tendo novamente o problema de 17 dias ser muito tempo. Judd Trump, acaba por ter uma grande vantagem em relação aos outros, já que vai estar fora do China Open, o que lhe permite descansar mais alguns dias.
MS: Eu acho que sinceramente poderemos ter Judd Trump como campeão do mundo, estando a surpreender um bocadinho contra todas as expectativas. Pelas declarações que ouvi estes dias da parte dele, acho que a derrota dele o ano passado frente ao Rory McLeod lhe serviu de emenda. Ele referiu em declarações após o encontro frente ao Neil Robertson, no Players Championship, que não quer pressão em cima dos ombros dele e que não pensa estar na linha da frente para vencer o mundial. Eu acho que ele juntamente com o Selby, do ponto de vista técnico e físico são os que têm mais capacidade. Tenho muitas dúvidas sobre Ronnie, porque depende sempre muito do estado de espírito do mesmo, já que desde 2013 vemos sempre o inglês a ter um dia mau. Mas claro que o facto de ainda não estar disponível o quadro final, complica sempre estes prognósticos.
Façam um apelo para que as pessoas acompanhem o snooker no Eurosport, com destaque para o mundial, explicando o porquê de o deverem fazer.
NMS: Devem ver o snooker no Eurosport, porque a partir do dia 21 de Abril e até 7 de Maio, o mundo pára e não há mais nada para fazer (risos). Teremos três sessões por dia, 9 a 10 horas de emissão diária, no Eurosport 1, com comentários de Nuno Miguel Santos e Miguel Sancho, levando todas as emoções do Crucible Theatre a sua casa, aqui no Eurosport, a casa do snooker.
MS: Parece que ao mesmo tempo há outras provas desportivas menores, como a Liga dos Campeões, não sabendo sinceramente do que estão a falar (risos). Portanto do dia 21 de Abril até ao dia 7 de Maio, só há uma coisa a fazer, que é ligar o Eurosport 1 ou Eurosport 2, é à escolha. Serão 150 horas de directo, sendo importante referir que o Ronnie O’Sullivan é o embaixador do Eurosport, sendo que se ele perder mais cedo, há fortes probabilidades de subir para a cabine dos comentários e ensinar-nos um pouco sobre isto (risos).
O Fair Play agradece ao Nuno Miguel Santos, Miguel Sancho, bem como toda equipa do Eurosport, pela disponibilidade e simpatia demonstrada em todo o processo da entrevista. Desejando as maiores felicidades e o maior sucesso a ambos, quer como atletas, quer como comentadores e ao canal Eurosport.
Nuno Miguel Santos, multi-campeão nacional e referência do snooker em Portugal. Miguel Sancho, também figura de referência do bilhar em Portugal. Têm em comum o facto de serem as vozes do snooker no Eurosport. Não perca por isso a primeira parte da entrevista do Fair Play, feita durante o Players Championship, onde ambos os comentadores falam sobre o passado, o presente e o futuro do snooker nacional e internacional.
Desde quando surgiu este gosto pelo snooker? E como correu o primeiro contacto com uma mesa de snooker?
Nuno Miguel Santos: Em termos de conhecimento ou de contacto com a modalidade, jogo desde os 10 anos de idade, neste caso primeiramente na vertente de Pool Português e só depois no Pool. E até 2001, altura em que entrei para o Eurosport, sabia que existia snooker, mas não tinha grande contacto com a modalidade, mesmo porque praticamente não havia mesas em Portugal em número suficiente para que criasse esse bichinho e empatia. A partir do momento em que começo a comentar, a paixão cresceu exponencialmente, muito por culpa dos intervenientes, os jogadores, que nos fazem sonhar e nos fazem desejar estar ali naquele lugar. Ou seja, para quem vê, aprecia, para quem joga, gostaria de estar ali. O snooker é um caso especial dentro do bilhar, porque enquanto que por exemplo no Pool, conseguimos crescer ao nosso próprio ritmo, a aprender com a modalidade, no snooker acaba por não ser bem assim, já que chegamos a uma certa altura em que para dar o salto, é necessário que alguém nos ensine. Quem vê e não sabe muito bem do que se trata a modalidade, acha tudo aquilo muito normal, para quem vê e sabe do que se trata, acha tudo aquilo fenomenal. Aquilo que mais acaba por me impressionar nos jogadores profissionais, é que a tacada neles é sempre igual, só mudam mesmo a intensidade, o gesto técnico do punho acaba por ser sempre rigorosamente igual. Ainda neste Players Championship, que está decorrer, fiquei impressionado com uma tacada do Ding Junhui, do Mark Selby e do Ronnie O’Sullivan. A qualidade e a capacidade de se reinventarem torneio após torneio, é o que mais me apaixona pelo snooker. Relativamente ao primeiro contacto com uma mesa de snooker, foi em dezembro de 2004, num encontro de exibição frente ao Paul Hunter, em São João da Madeira. Já em competição, esse primeiro contacto foi no ano de 2010, na segunda edição do campeonato nacional, onde fiz o circuito de open’s e jogo a fase final.
Miguel Sancho: O primeiro contacto da modalidade aconteceu muito cedo, foi na localidade da Lousa, concelho de Loures, mais conhecida pelo ciclismo, mas onde existe uma grande coletividade chamada Grupo Desportivo da Lousa, onde mais tarde tive a oportunidade de jogar e, onde havia uma mesa de Pool Português e uma mesa de Carambola. Para além daí, também em Monte do Trigo, no Alentejo, onde também havia uma mesa de Carambola e onde comecei a dar as primeiras tacadas. Relativamente ao snooker propriamente dito, o primeiro contacto não foi com a modalidade em si, mas sim com o jogo de computador do Steve Davis e para quem tem sensivelmente a minha idade, lembra-se perfeitamente do ZX Spectrum, para o qual existiam vários jogos e, um deles era exactamente esse de snooker do Steve Davis. Em Lousa, houve uma história muito engraçada, já que nós na altura praticamente não tinhamos contacto com o snooker, o sinal não chegava cá e mesmo parabólicas praticamente ninguém tinha. Então na altura, houve uma pessoa da terra que tinha ido a Inglaterra e tinha trazido um poster do Steve Davis, salvo erro, campeão do mundo em 1984. Sendo que nós em Lousa tinhamos uma brincadeira de miúdos todos os sábados, em que quem vencesse tinha direito a ficar com o referido poster do Steve Davis durante uma semana e, então quando o consegui ter pela primeira vez, foi uma grande alegria para mim. E para mim até hoje, o momento mais alto do snooker foi quando tive precisamente a honra de conhecer Sir Steve Davis pessoalmente. O primeiro contacto mais a sério com o snooker, deu-se em 2010, quando na altura fazia parte da Federação Portuguesa de Bilhar, como vice-presidente, sendo que entretanto já tinha começado a fazer comentários no Eurosport. Aliás o meu grande salto de envolvimento com o snooker deu-se com a minha entrada no Eurosport como comentador, onde coincidiu tudo, com a entrada do Eurosport 2 em Portugal, e com isso haver muito mais snooker a ser transmitido e, também por nessa altura ter-se começado a jogar snooker em competição cá em Portugal. No fundo, eu gosto de todas as variantes do bilhar, gosto muito de Pool, que é a minha modalidade, adoro Carambola, modalidade a qual já tive oportunidade de comentar no Porto Canal. No caso do snooker, é um caso especial, já que acaba por ser a “Fórmula 1” do bilhar, como eu costumo dizer, é quando nós temos tudo ao mais alto nível, desde a organização das provas, o profissionalismo dos árbitros e dos jogadores, tudo o que envolve a modalidade.
Tanto o Miguel como o Nuno, já são comentadores de snooker no Eurosport há alguns anos. Quais são as grandes diferenças técnicas e tácticas que notam na modalidade desde o início dos comentários até agora?
NMS: Na minha opinião, há três grandes contributos para a modalidade e até em três décadas diferentes. Primeiro, Steve Davis, que contribuiu muito para que quem viesse a seguir fosse melhor. Stephen Hendry, talvez aquele que tenha contribuído mais, nomeadamente com o seu jogo para os buracos do meio, com a abertura de bolas vermelhas e, tudo isso contribuiu bastante para que na década seguinte, no novo milénio, aparecesse Ronnie O’Sullivan. É um jogador com um talento nato, isso é inegável, mas hoje em dia, acima de tudo a construção do ‘break’, e consequentemente o controlo da bola branca, acaba por ser aquilo que faz com que existam mais centenárias que nunca e, chegados aqui, certamente que daqui a 10-15 anos estaremos ainda melhores. Vimos por exemplo, nestes últimos 10 anos a World Snooker ser praticamente obrigada a retirar o ‘prize-money’ de 147.000 libras para a tacada máxima, já que isso de fazer um 147 é quase corriqueiro, sendo esse o ponto mais alto no snooker. Se compararmos para o início dos meus comentários cá no Eurosport, em 2001, um 147 acontecia uma ou duas vezes anualmente. Para se ter uma ideia, em 2013 ou 2014, Mark Selby fez a centésima tacada máxima de toda a história do snooker. No que toca à organização dos torneios por parte da World Snooker, penso que deveria haver uma diferenciação, tal como se faz com o ténis por exemplo. Uma das grandes revoluções feitas pelas mãos do Barry Hearn foi a criação dos ‘rankings’ dinâmicos, já que antigamente quem terminava a temporada no top-16 ia beneficiar desse facto para toda a época seguinte, já que a presença nesses torneios estava automaticamente garantida, algo que agora não se sucede, já que atualmente é necessário esses jogadores estarem bem pelo menos grande parte da época. O facto de agora, mais do que nunca, os jogadores estarem constantemente em competição é um fator crucial. Um exemplo disso, é que antigamente, depois do mundial, os jogadores tornavam a jogar apenas em Setembro, havia ali um ‘delay’ de três meses sem competição. Falando também um pouco sobre quem brilhou no passado, acho que a World Snooker esteve muito bem ao alargar o circuito profissional de 128 para 131 jogadores, ao oferecer um wild-card ao Jimmy White, ao Ken Doherty e ao James Wattana, já que mesmo parecendo que não, foram grandes embaixadores da modalidade.
MS: Para mim aquilo que eu noto mais diferença, e isso pensando desde que comecei a comentar, em 2009, é a qualidade dos jogadores médios. Ou seja, os jogadores de top continuam a ser aquilo que eram, não mudou muita coisa, claro que sempre com algumas oscilações. O jogador médio, que está na 50ª, 60ª posição, há dez anos atrás, num encontro frente a alguém do top-16, num encontro jogado no mínimo à melhor de 9 ‘frames’, esse jogador de topo quase de certeza ganharia o encontro. E aí a existência de um maior número de torneios no circuito, como os PTC’s por exemplo, foi crucial. Primeiramente porque permitiu levar o snooker para outras paragens, nomeadamente para Europa continental, algo que não acontecia antes, já que os torneios só se jogavam nas ilhas britânicas. E com isso, já tivemos provas em Portugal, em Gibraltar, na Holanda, na Bélgica, na Letónia, na Roménia, na Alemanha consolidou-se aquilo que já existia, na Polónia e com isso a presença de jogadores europeus no circuito profissional. Há um jogador belga no top-16, um suíço de ascendência portuguesa que chegou às meias-finais de um torneio esta época, já há um jogador alemão como profissional, sendo que o segundo se vai estrear na próxima temporada. Os campeonatos europeus são um bom exemplo disso mesmo, enquanto que antes se viam praticamente só jogadores britânicos por lá, agora vêem-se jogadores de inúmeros nacionalidades, como polacos, que estão com uma bela escola de snooker. E aí claro que a World Snooker foi inteligente, já que percebeu que havia esse mercado da Europa continental para explorar. Fez por exemplo uma parceria com o Eurosport, onde foi assinado um contrato de exclusividade com a duração de dez anos e, isso claro que tem a ver com o enorme impacto que o Eurosport tem não só na Europa continental, mas sim por todo mundo.
Quais são para cada um de vocês as três grandes referências de sempre do snooker, e porquê?
NMS: Sendo um pouco pragmático, quando eu me refiro aos melhores, falo na contribuição que eles deram para que a modalidade seja aquilo que é hoje e isso é o mais importante. A forma como se irá jogar no futuro tem claramente a pegada de Ronnie O’Sullivan, a forma de atacar a bola, fazer com que a bola “ganhe vida”, isso é o legado que ele vai deixar até aparecer alguém que vai conseguir mudar o snooker para ainda melhor. Por isso é que digo que os três grandes marcos do snooker são Steve Davis, Stephen Hendry e Ronnie O’Sullivan. Se olharmos por exemplo para Alex Higgins, ao nível da técnica ele era péssimo, enquanto que qualquer um dos três que destaquei tem uma técnica a roçar a perfeição.
MS: É quase impossível fugir às três referências feitas pelo Nuno, anteriormente. Ainda assim, há um que pouca gente fala, porque praticamente ninguém o viu jogar, só mesmo em imagens, que é o grande campeão Joe Davis, tendo este senhor sido campeão do mundo 15 vezes consecutivas e, se hoje há snooker é muito graças a ele. Há depois duas linhas, a linha dos campeões e dos campeões do povo e, eu gosto das duas. Os primeiros onde se incluem Joe Davis, Steve Davis, Stephen Hendry, John Higgins e Mark Selby. E depois a outra linha que é começada por Alex Higgins, que foi uma “barbaridade” de jogador e, é continuada por Jimmy White, Ronnie O’Sullivan e agora nesta altura, talvez Judd Trump. Estamos a falar das duas faces da moeda, que é os que ganham e os que dão a ganhar ao jogo pelo espetáculo. E nesse aspeto tenho que destacar Ronnie O’Sullivan, que é o único que consegue juntar essas duas faces. Como pessoa eu identifico-me mais com Steve Davis, mas tenho que admitir que faltava alguma espetacularidade ao jogo do inglês. Toda gente gosta muito do Jimmy White, mas a verdade é que o inglês em seis finais de mundiais não venceu nenhuma e acaba a carreira com 10 ‘majors’. Toda a gente dizia que era impossível vencer jogos e dar espetáculo e Ronnie O’Sullivan veio provar a todos precisamente o contrário. Pegando um pouco naquilo que era o snooker no tempo de Joe Davis e fazendo uma comparação com Portugal, nós estamos naquela fase, ou pelo menos estávamos quando se começou a jogar por cá, em que se marca uma bola vermelha, seguido de bola de cor e caso haja uma má colocação da bola branca, defende-se. O Joe Davis quando começou a jogar era precisamente assim, ele foi o primeiro a tentar e a conseguir um ‘break’ vencedor. Depois vem o Steve Davis que faz isso com uma entrada centenária, seguido do Hendry que faz um 147, terminando com o O’Sullivan que faz uma entrada máxima em cinco minutos e vinte segundos.
Cada vez mais, é normal vermos jogadores veteranos a vencer ‘majors’, isso deve-se ao facto de terem uma maior experiência? Tal como outras modalidades individuais, o snooker é algo como 80% psicológico e 20% técnico?
MS: Isso é verdade, mas eu lembro-me na altura que entrei tive uma conversa sobre isso com o Nuno, em que se discutia muito qual era o período áureo de um jogador e, na altura defendia-se que esse período se situava entre os 35 e os 40 anos, e agora vemos esta geração a implodir isso mesmo. O Ronnie está a fazer a melhor época de sempre, o Mark Williams há muito tempo que não o víamos jogar tão bem, vemos inúmeros jogadores estrearem-se a ganhar provas depois dos 40 anos. Obviamente que o snooker não é uma modalidade que tem as exigências físicas de outras. Apesar disso vemos jogadores com algumas queixas físicas, como por exemplo o caso de Shaun Murphy, que tem tido problemas de coluna, o Mark Selby com problemas de pescoço, sendo tudo isso o suficiente para não ganhar, mas caso os jogadores tenham alguns cuidados físicos têm tudo para singrar com mais facilidade. O tempo de jogadores como o Stephen Lee acabou, tenho muitas dificuldades em acreditar que o Mark Allen algum dia possa ganhar um mundial. Vemos o caso do O’Sullivan que faz jogging todos os dias de manhã, o Neil Robertson é outro jogador que tem muito cuidado com a sua alimentação, sendo que todo este cuidado com o físico tem um peso enorme no Campeonato do Mundo, onde são 17 dias intensos e onde a componente física é um factor muito importante, estando sempre o cansaço físico ligado ao cansaço mental. Acredito que esta geração atual vai bater todos os records existentes e que o Ronnie O’Sullivan e o John Higgins vão jogar pelo menos até aos 50 anos, ou talvez mais, a conseguir ganhar provas.
NMS: Não é um desporto físico, como sabemos, mas é fundamental estar em boa forma. Apesar de a componente física não ser o mais importante, acaba muitas vezes por ser crucial, nomeadamente quando estamos a falar de extensões longas, e o mundial é a prova viva disso mesmo. E não é por acaso que se tem sentido que quem chega lá mais fresco tem sido Mark Selby, sendo de realçar o físico dele, a elegância dele, até o próprio “esticar” na mesa. Se tivermos com um peso acima do ideal é um sacrifício, estando assim a perder o foco naquilo que é o mais importante, perdendo concentração e mais energia que o normal. Não diria tanto como foi dito na pergunta, a percentagem 80/20, mas com certeza 70/30 será um valor aproximado da realidade e que demonstra que os jogadores têm necessariamente de estar bem psicologicamente.
A nível nacional, o snooker está em expansão, também muito se devendo ao bom trabalho feito no Eurosport. Pegando um pouco nas palavras do Ronaldo (Gala Quinas de Ouro 2018), e “pensando em grande” como o próprio dizia, para quando um jogador luso no circuito profissional?
MS: Obviamente não existe resposta imediata para essa pergunta, já que está dependente de muitos fatores. Eu acho que o snooker em Portugal tem algumas dificuldades, que não é fácil sair delas e, falando agora como responsável de um dos espaços onde se joga snooker em Portugal, o Snooker Club Lisboa, em que me deparo diariamente com situações como o valor das mesas, a rentabilidade dessas mesmas mesas, já que essas mesmas ocupam cerca de 35 metros quadrados e, o que o gerente de um espaço onde se joga bilhar pensa nesse caso é quantas mesas de consumo poderia ter nessa mesma área. Nós temos actualmente em Portugal, dispomos de cerca de 30 mesas em espaços públicos de norte a sul do país e na ilha da Madeira. Além disso, o snooker não é uma modalidade que se aprende sozinho, mesmo usando tutoriais e vídeos existentes na Internet, sendo que isso por si só não chega, é necessário acompanhamento por parte de um treinador. E pegando em palavras ditas pelo próprio Ronaldo, nessa mesma gala, não quero estar a menorizar Portugal, sendo os problemas comuns a diversos outros países, como por exemplo, França, Espanha ou Itália. Ou seja, não tem propriamente a ver com Portugal, mas sim com Europa continental vs Reino Unido e aí algumas questões relacionadas com a própria World Snooker. É verdade que é vontade da World Snooker crescer a modalidade para Europa continental, mas continuam a realizar-se todos os apuramentos (Q School) somente na Inglaterra e portanto isto tem de mudar. Aquilo que a World Snooker tem obrigatoriamente de fazer, se quer ter jogadores de outros países no circuito, é disponibilizar técnicos próprios a irem aos outros países formarem técnicos locais, sem isso ter custos, ou com custos muito reduzidos para as respectivas federações. Aquilo que temos hoje em dia é algo muito bom, e digo isto com orgulho, porque tanto eu como o Nuno, lutamos muito para que isso acontecesse, já que temos jovens com alguma qualidade, como o caso do Diogo Badalo, que já foi campeão nacional, o caso do Tiago Teixeira, que tem umas condições fenomenais para vir a ser um bom jogador, não sei qual o patamar porque há diversos fatores que fazem com que um jogador possa ou não vir a tornar-se um grande jogador. Há inúmeros casos desses e não só em Portugal. Cá, em termos de formação só existem alguns raros episódios, sendo que talvez o melhor exemplo seja mesmo a Escola de Bilhar do FC Porto mas não de snooker, porque formação em snooker existe apenas uma pessoa, chamada Nelson Batista. Para dar aulas é preciso aprender a saber ensinar e essa é a parte mais difícil. O Shaun Murphy, aquando da visita do mesmo ao Snooker Club Lisboa, dizia algo deste género: “Vocês não imaginam, só na cidade de Manchester devem existir mil ou mais jogadores a fazerem entradas centenárias umas atrás das outras, que nem sequer estão no ‘main tour’, estando apenas a competir nas provas internas. O grande problema deles está apenas na falta de estaleca mental”. E nós em Portugal ainda nem sequer chegamos a esse nível, de termos um jogador que possamos dizer que se tivesse “cabeça” era profissional. O caso da Free Ball foi um projecto muito importante para a zona norte, obviamente que é importante que os clubes como o FC Porto, o Leixões, o Boavista também entrem na modalidade. Sobre este assunto, há uma história engraçada que aconteceu connosco há dois anos no Casino Estoril, que foi o Estoril Snooker Challenge, como aliás é hábito todos anos no lançamento do mundial por parte do Eurosport. Nesse ano havia um senhor que trabalhava naquele espaço, como porteiro no caso, e ao que à certa altura se dirige a nós e diz: “Não consigo perceber tanta dificuldade da vossa parte em embolsar bolas”, ao que eu lhe coloquei a bola amarela no sítio dela e a bola branca em posição para ver quantas vezes ele marcava a amarela no meio. Obviamente que não marcou nenhuma, tendo inclusive desistido à sétima ou oitava tentativa, chegando facilmente à conclusão de que “afinal isto é mais difícil do que parece”.
NMS: Em termos de formação nem todos são “Mourinhos”, é que para além de estudar a táctica, é necessário ensinar a técnica, sendo muito difícil ensinar essa técnica, quando esse formador não tem essa mesma técnica. Enquanto não existir alguém que reúna todas estas condicionantes para ensinar os jogadores portugueses não vai ser fácil termos um jogador luso no circuito profissional. Hierarquicamente, em termos temporais, já tivemos João Esteves da Silva, o Luís Alves, o Diogo Badalo e o Tiago Teixeira, sendo talvez os quatro grandes nomes de jogadores mais jovens, em que qualquer um destes sente exactamente esta carência que eu referi. Eu diria que a correr bem, e sem contar com aqueles jogadores que estão agora a “saltar para a ribalta” dentro da modalidade, nunca abaixo dos próximos dez anos teremos um jogador português como profissional. Se bem que ao dizer uma década, já estou de certa forma a ser algo simpático, sendo certo que os jogadores como o Diogo Badalo e o Tiago Teixeira podem abrir portas para as gerações futuras. Primeiro é necessário haver formadores com essa abrangência territorial e segundo é preciso que os clubes o queiram também.
O Fair Play agradece ao Nuno Miguel Santos, Miguel Sancho, bem como toda equipa do Eurosport, pela disponibilidade e simpatia demonstrada em todo o processo da entrevista. Desejando as maiores felicidades e o maior sucesso a ambos, quer como atletas, quer como comentadores e ao canal Eurosport.
Foi em Llandudno, no Venue Cymru, que tal como a época passada se jogou o Players Championship, com uma final a ser jogada entre Ronnie O'Sullivan e Shaun Murphy.
Tiago Teixeira, jovem de apenas 16 anos, que defende actualmente as cores da Academia Free Ball. O Fair Play esteve à conversa com aquele que é, mais do que uma promessa, uma certeza da boa qualidade no futuro do snooker em Portugal. Não perca por isso mais uma entrevista do Fair Play, onde Tiago fala sobre o snooker nacional e internacional, as suas experiências internacionais e o seu próprio futuro.
Ao contrário de muitos jovens da tua idade, optaste pelo snooker em detrimento do futebol. Desde quando existe esse “bichinho” pela modalidade e o porquê dessa opção?
TT. Eu gostava de ver jogos de futebol, mas não tinha muita qualidade e então não tinha aquele chamamento para jogar. Foi por isso que comecei a ver canais alternativos, tais como o Eurosport e, foi por aí ver snooker que nasceu a minha paixão pela modalidade. Experimentei, adorei e desde aí que ligo pouco ao futebol, estando sempre ligado ao snooker.
Esta época alinhas pela Academia Free Ball. Conta um pouco como se deu essa mudança e o convite da tua nova equipa.
TT. Estive duas épocas no FC Porto, onde a minha saída se deu por não ter gostado do tratamento que por lá recebi, neste caso por parte dos meus colegas de equipa e, foi aí que recebi uma excelente proposta da Free Ball, onde aí poderia estar com pessoas que conheço, com quem gosto de estar e, que acima de tudo, respeitam quem lá joga e a modalidade em si, tendo por isso aceitado a proposta deles.
Atendendo a que cada vez há mais pessoas atentas a jovens talentos como tu, sentes mais pressão quando vais jogar os open’s e as fases finais?
TT. Não querendo estar a colocar-me num patamar acima dos outros, mas talvez por ser jovem, o facto de eu jogar a um bom nível chama mais a atenção das pessoas. Mas independentemente de tudo, tento sempre fazer o meu melhor e jogo focado no meu jogo, sem estar a olhar para quem está do lado de fora. O facto de ter mais ou menos público, é algo que normalmente não me afecta muito.
Em entrevista ao Fair Play, no ano passado, os responsáveis da Academia Free Ball apontaram-te a ti e ao Luís Alves como atletas da elite nacional. Quão é importante é sentir este carinho por parte deles e que novas aprendizagens já retiraste de toda a experiência a jogar lá?
TT. É com enorme prazer que oiço essas palavras por parte da Free Ball, sendo que isso resume muito o espírito da academia. Nós somos praticamente como uma família, existe um excelente ambiente, gostamos muito uns dos outros. Eu e o Luís, juntamente com o Samuel, somos a principal equipa da Free Ball, tendo por isso a obrigação de ter um desempenho melhor que as outras equipas. Sinto que agora estou mais evoluído tecnicamente, não só pela mudança em si, mas também porque com o tempo a técnica vai crescendo por si só. As condições da academia são as melhores, com três excelentes mesas, aliado a um bom ambiente, o que ajuda nesse crescimento. Ao nível da pressão, o facto de estar a representar o FC Porto ou a Free Ball, acaba por ser um pouco indiferente, porque independentemente do clube que represente dou sempre o meu melhor.
Caso te qualifiques, quais são os principais objectivos para a fase final, tanto a nível individual como por equipas?
TT. Em ambas as competições vou dar o meu melhor e, claro que gostaria de ser campeão nacional, mas se tal não acontecer não há qualquer problema. Mesmo sem ver o quadro final e, mesmo sendo um “tiro no escuro”, diria que um bom resultado seria chegar às meias-finais. Acima de tudo vou dar o meu máximo e tentar obter um resultado melhor que o ano passado, onde cheguei aos quartos-de-final.
Estiveste presente pela primeira num Europeu de Snooker em 2016, na Polónia e pela segunda vez este ano, na Bulgária. Quais foram as grandes diferenças que notaste no teu jogo a nível técnico da primeira para a segunda experiência?
TT. Na Polónia, em 2016, tinha apenas 14 anos, acabava por atacar todas as bolas que via, ao passo que agora na Bulgária foi tudo mais pensado, mais estudado e feito com mais calma. Por ter mais maturidade, tudo acabou por correr melhor na Bulgária, onde acabei até por ganhar um encontro em cada escalão (sub-18 e sub-21). No escalão sub-21 a qualificação escapou-me por pouco, onde no último encontro frente ao belga acabei por jogar melhor que o esperado, mas a falta maturidade e de experiência da minha parte acabou por ser fulcral. Mesmo tendo sido num curto espaço de tempo, sinto que a minha experiência cresceu do Europeu sub-18 para o Europeu sub-21, aprendendo acima com os meus erros e as minhas derrotas.
Tiveste como adversário na fase de grupos o alemão, Simon Lichtenberg, que veio a sagrar-se campeão europeu sub-21, ganhando por isso direito a jogar o circuito profissional nos próximos dois anos. Pensas que este alemão tem boas possibilidades de se manter por lá durante muito tempo?
TT. É certo que quem vence um Europeu sub-21 tem boas possibilidades de se manter no circuito durante muito tempo, o Simon joga a um grande nível, tem muita experiência e acima de tudo é muito humilde. Por isso penso que tem tudo para se bater de igual para igual com grande parte dos jogadores do circuito. Ao ver de perto o Europeu, fico com a ideia de que a maioria dos jogadores que chega aos oitavos-de-final e aos quartos-de-final têm todos um grande nível técnico, sendo que o acaba por decidir o campeão é muitas vezes o momento de forma naquele dia e a sua capacidade de lidar com a pressão.
Em termos de organização do Europeu, que elações achas que a Federação Portuguesa de Bilhar poderia retirar desse tipo de eventos, para aplicar nas fases finais?
TT. Especialmente a organização dos torneios em si. Do que por lá vi, a EBSA tenta solucionar os problemas da forma mais célere e eficaz para todos. Penso que a federação estando ligada a quatro variantes do bilhar (Pool, Pool Português, Carambola e Snooker), deveria interessar-se um pouco mais por esta última, criando por exemplo uma associação à parte só focada no snooker. A federação acaba por não ver o snooker como a “Fórmula 1” do bilhar como a maioria dos amantes da modalidade e, claro que o facto de ainda ser uma modalidade recente por cá, quando comparada com o Pool e o Pool Português por exemplo, acaba por não trazer um retorno financeiro tão grande e isso reflecte-se depois na forma como cada variante do bilhar é tratada.
É público que és um fã incondicional do Judd Trump. Se pudesses ter uma conversa a sós com ele, que conselhos lhe darias? Concordas com a maioria dos amantes do snooker que diz que lhe falta muita maturidade?
TT. É evidente que o Judd Trump tem uma excelente técnica e por isso não estou em grande posição para lhe dar conselhos, mas dir-lhe-ia para ter mais maturidade e trabalhar mais psicologicamente, sendo para mim esses os principais aspectos que o inglês tem a melhorar.
Já não falta muito para o mundial arrancar, qual é a tua aposta para erguer o troféu de vencedor em Sheffield e porquê?
TT. Por uma questão emocional claro que gostaria que fosse o Judd Trump, mas de um ponto de vista mais racional e, pelo que já fez esta época, aposto em Ronnie O’Sullivan. Esta temporada em seis finais, venceu quatro, o que demonstra como ele tem estado “matador”. E também pela razão de que o “Rocket” nas competições maiores eleva sempre o seu nível, sendo que por isso a minha aposta recai sobre ele.
O Fair Play agradece ao Tiago Teixeira, pela disponibilidade e simpatia demonstrada em todo o processo da entrevista. Desejando as maiores felicidades e o maior sucesso a este jovem atleta e à sua respectiva equipa.
Foi em Preston, no Guild Hall, que como habitualmente se jogou o World Grand Prix, com uma final a ser jogada entre dois velhos conhecidos do circuito. No final, saiu por cima o suspeito do costume, Ronnie O’Sullivan, que conquistou assim o seu quarto major da época.
A ressaca do Masters
Neste World Grand Prix, tal como tem sido habitual houveram favoritos a cair logo na primeira ronda. Foram os casos de Judd Trump e Mark Allen. O primeiro, tal como tem sido hábito já de algum tempo para cá, decepcionou logo na primeira ronda ao cair aos pés do galês Michael White por 4-1.
De quem se esperava mais e melhor era de Mark Allen, que ainda na ressaca da sua vitória inédita no Masters deste ano, não conseguiu levar a melhor frente a Xiao Guodong, perdendo por 4-3. Kyren Wilson e Ryan Day, dois jogadores de segunda linha mas sempre fortes candidatos a vencer, também ficaram pela primeira ronda ao perder para Mark Joyce e Jack Lisowski, respectivamente..
Na segunda ronda, o destaque vai para a eliminação de John Higgins frente ao chinês Xiao Guodong por 4-3. No duelo entre figuras de proa do snooker, Selby levou a melhor sobre Robertson, enquanto que McGill deixou pelo caminho Bingham, recém-regressado ao circuito depois da suspensão.
O favoritismo a confirmar-se
Chegado os quartos-de-final, o alinhamento foi o seguinte: Michael White vs Mark Selby; Ding Junhui vs Anthony McGill; Stephen Maguire vs Shaun Murphy e Ronnie O’Sullivan vs Xiao Guodong. No primeiro destes encontros, o inglês confirmou o seu natural favoritismo para o encontro, tendo batido White por 5-2. Tendo assim marcado encontro frente a Ding Junhui, que frente a McGill venceu 5-3, deixando assim antever que poderia vir a fazer estragos neste World Grand Prix.
Não era um encontro menos digno de cartaz, o que opôs Shaun Murphy e Stephen Maguire. Este acabou por ser o único encontro dos “quartos” onde o favoritismo natural do inglês não se confirmou, já que Maguire acabou por vencer por 5-2, tendo assim agendado encontro frente ao “todo poderoso” Ronnie O’Sullivan. O Rocket que frente a Xiao Guodong, onde vinha a mostrar-se a um bom nível neste torneio, “cilindrou” o chinês por 5-0.
“Um leão no meio dos tubarões”
Ronnie O’Sullivan teve pela frente nas meias-finais, o sempre complicado Stephen Maguire. O escocês também conhecido como “Leão de Lisboa”, campeão do Lisbon Open, sabia que teria uma tarefa extremamente complicada frente a Ronnie e que teria de estar a um grande nível para chegar à final. Apesar da boa réplica de Maguire, este acabou por perder por 6-4, vendo assim O’Sullivan chegar a mais uma final esta temporada.
Tanto Mark Selby como Ding Junhui não têm feito uma época brilhante, sendo que por essa razão, esta meia-final era muito importante para ambos os jogadores. E foi altamente renhido o encontro, que ficou decidido apenas na “negra”, coma vitória a cair para o lado de Ding Junhui por 6-5. Ding chegava assim à sua segunda final da época depois da vitória no World Open.
Um duelo com história
O histórico de confrontos entre Ronnie O’Sullivan e Ding Junhui era claramente favorável ao inglês. De entre os catorze encontros disputados entre ambos, Ronnie venceu 10 contra apenas 4 de Ding.
Mas equilíbrio foi tudo o que esta final não teve, Ronnie O’Sullivan entrou “a matar” e depressa se colocou a vencer por 6-3, no final da primeira sessão. É verdade que Ding vinha mostrar-se a um bom nível nas rondas anteriores mas não se previa nada de fácil na segunda sessão. E foi ainda com mais “fome de vencer” que Ronnie venceu os quatro ‘frames’ que necessitava e confirmou a vitória na final, carimbando essa mesmo por 10-3.
Foi o quarto ‘major’ conquistado pelo inglês esta época, ficando assim a ideia de que a jogar a esta nível, O’Sullivan é mais o mais sério candidato a vencer no Crucible. Uma palavra de apreço para Ding Junhui, que apesar de ter sido “dizimado” nesta final, regressou ao encontro mais importante pela segunda vez esta época, o que diz bem da importância deste torneio para o chinês.
Foi em Berlim, no Tempodrom, que como habitualmente se jogou o German Masters, com uma final a ser jogada entre dois veteranos do circuito de entre todos os que se qualificaram. No final, saiu por cima Mark Williams, que conquistou assim o seu segundo título da época.
Selby e Allen caíram à primeira
Neste German Masters, tal como tem sido habitual houveram favoritos a cair logo na primeira ronda. Foram os casos de Mark Selby e Mark Allen. O primeiro, campeão do mundo em título, caiu aos pés do chinês Xiao Guodong por 5-3, o que deixa cada vez mais a perceber que esta não tem sido uma época fácil para o inglês.
De quem se esperava mais e melhor era de Mark Allen, que na ressaca da sua vitória inédita no Masters deste ano, não conseguiu levar a melhor frente a Mathew Selt, perdendo por 5-4. Hawkins, que também está longe dos seus tempos aureos perdeu frente aquele que viria a ser a surpresa do torneio, Graeme Dott, por 5-3.
Na segunda ronda, de entre os jogadores presentes do top-16, só mesmo Liang Wenbo acabou por vacilar frente ao seu compatriota Xiao Guodong, onde perdeu na “negra” por 5-4.
Jogos de cartaz nos “quartos”
Chegado os quartos-de-final, o alinhamento foi o seguinte: Jimmy Robertson vs Mark Williams; Ding Junhui vs Judd Trump; Ryan Day vs Shaun Murphy e Graeme Dott vs Xiao Guodong. No primeiro destes encontros, o galês confirmou o seu natural favoritismo para o encontro, tendo batido Robertson por 5-3. Tendo assim marcado encontro frente a Judd Trump, que num encontro digno de cartaz bateu o chinês Ding Junhui por 5-3, deixando assim antever que poderia vir a fazer estragos neste German Masters.
Não era um encontro menos digno de cartaz, o que opôs Shaun Murphy e Ryan Day. Tudo ficou decidido apenas na “negra” onde o inglês acabou por vencer 5-4. Vinham a causar espanto desde o primeiro dia do German Masters, Xiao Guodong e Graeme Dott, sendo que apesar de arredado dos grandes palcos há já algum tempo, o escocês era o favorito para este encontro. E tal acabou por se confirmar, com Dott a recuperar de uma desvantagem considerável para levar de vencida o chinês por 5-4.
Os campeões do mundo e a eterna promessa
Mark Williams tinha pela frente, aquele que já foi apelidado inúmeras vezes pelos especialistas do snooker como a grande promessa do snooker mundial. A verdade é que Trump mostrou mais uma vez que não passa dessa mesma promessa, já que frente a Mark Williams saiu “atropelado” pelo galês por uns expressivos 6-1. Por outro lado, Williams confirmava o bom momento que atravessa.
Já há algum tempo que não se via Graeme Dott por estas andanças, sendo que por isso a expetativa era alta para perceber o que o escocês conseguiria fazer frente a Murphy. E Dott conseguiu nada mais nada menos, que uma excelente recuperação, aliás mais uma nessa semana, onde recuperou de uma desvantagem de 3-4 para uma vitória por 6-4.
Uma final de veteranos
O histórico de confrontos entre Mark Williams e Graeme Dott era claramente favorável ao galês. De entre os quinze encontros disputados entre ambos, Mark venceu 11 contra apenas 4 de Dott. E ao analisar ainda mais detalhadamente, vemos que a última vitória do escocês data de 2012. Apesar disso Dott vinha a mostrar um excelente snooker e por isso esperava-se uma final equilibrada.
Mas equilíbrio foi tudo o que esta final não teve, Mark Williams entrou “a matar” e depressa se colocou a vencer por 7-1, no final da primeira sessão. É verdade que Dott tinha feito boas recuperações durante a semana, nas rondas anteriores mas esta parecia longe de vir a acontecer. E foi com naturalidade que Williams confirmou a vitória na final, carimbando essa mesmo por 9-1.
Foi o segundo ‘major’ conquistado pelo galês esta época, ficando assim a ideia de que a jogar a esta nível, o galês é mais do que um sério candidato a vencer no Crucible. Uma palavra de apreço para Graeme Dott, que apesar de ter sido “dizimado” nesta final, regressou ao encontro mais importante oito anos depois, o que diz bem da importância deste torneio para o escocês.
Foi em Londres, no Alexandra Palace, que como habitualmente se jogou o Masters, com uma final a ser jogada entre dois ‘outsiders’ de entre todos os que se qualificaram para a edição deste ano do Masters. No final, saiu por cima Mark Allen, que regressou assim aos títulos dois anos depois.
Selby e Ding caíram à primeira
Para este Masters, tal como é habitual, qualificou-se o top-15 do circuito profissional, mais o campeão em título. E Ronnie O’Sullivan, precisamente como campeão em título, venceu na ronda inaugural Marco Fu por 6-0, não dando qualquer tipo de hipóteses ao jogador de Hong Knng. Quem também não deixou fugir a vitória foi Mark Allen, que apesar de mais dificuldades, bateu o belga Luca Brecel por 6-3, marcando encontro com o “Rocket”.
Num duelo 100% escocês, John Higgins teve pela frente o sempre difícil Anthony McGill, com o primeiro dos escoceses a sair por cima por 6-4. Tendo marcado encontro frente a Ryan Day, que surpreendeu muita gente ao bater Ding Junhui, num encontro em que o próprio sabia que ia ter muitas dificuldades, tal como confidenciou ao Fair Play, vencendo por 6-4.
Também Judd Trump, que partia como um dos grandes favoritos a chegar à final confirmou o seu favoritismo frente ao chinês Liang Wenbo, tendo batido este por 6-4. À sua espera estava Shaun Muprhy que frente ao seu compatriota Ali Carter mostrou-se a bom nível para bater o “Capitão” por 6-4.
No duelo em que talvez se previa um maior equilíbrio, entre Kyren Wilson e Barry Hawkins, o primeiro acabou por sair por cima ao ganhar por 6-4. E acabou por não marcar encontro frente a Mark Selby porque este foi surpreendentemente batido na “negra” pelo galês Mark Williams.
O’Sullivan cai com estrondo
A maior das surpresas dos quartos-de-final estava reservada para o encontro entre O’Sullivan e Mark Allen, sendo que a eliminação do “Rocket” já trouxe por si só alguma surpresa, o resultado esse é ainda mais surpreendente. O norte irlandês despachou Ronnie por uns expressivos 6-1, deixando o mundo do snooker boquiaberto principalmente pela qualidade demonstrada por este. Já John Higgins confirmou o seu favoritismo frente a Ryan Day e bateu o galês por 6-1, figurando na altura como o principal candidato a erguer o troféu do Masters.
Entre Judd Trump e Shaun Murphy era difícil apontar um vencedor claro do encontro, mas acabou por ser o primeiro dos ingleses a sair por cima. Trump despachou o “Magician” por 6-4 e marcou encontro frente ao promissor Kyren Wilson. Jogador promissor esse que ganhou ao veterano Mark Williams por 6-1, numa vitória incontestável do inglês.
Para uma surpresa, surpresa e meia
Se até então Kyren Wilson vinha a mostrar todo o seu potencial, nas meias-finais teria mostrar um pouquinho mais já que pela frente estava o fortíssimo Judd Trump. A favor do primeiro estava o forte jogo mental, que é algo que não abunda em Trump. E tal veio mesmo a confirmar-se, já que o Trump esteve a vencer por 5-2, muito perto de vencer o encontro e viu o seu adversário fazer a cambalhota no marcador para vencer por 6-5.
Se a primeira meia-final já tinha tido um desfecho que poucos previam, na segunda Higgins partia sempre à partida como favorito. Mas a teoria não se confirmou e Mark Allen mostrou que estava no Masters para vencer, acabando por eliminar o escocês por 6-3.
Uma final com uma certeza: Um campeão inédito
Foi o décimo encontro entre ambos, sendo que Kyren Wilson tinha vencido cinco encontros até então contra quatro do seu adversário. A primeira sessão não poderia ter sido mais equilibrada, com o resultado a fixar-se em 4-4. Na segunda sessão Mark Allen acabou por entrar e colocar-se a vencer por 7-5 ao intervalo. Kyren Wilson só conseguiu reagir quando Allen já vencia por 8-5, para reduzir para 8-7. Mas a partir daí, o norte irlandês puxou dos galões para levar de vencida o inglês por 10-7 e vencer a edição 2018 do Masters.
O mais histórico desta vitória de Mark Allen é o facto de desde 1987 que um norte irlandês não vencia esta prova de snooker, o último tinha sido Dennis Taylor. Mark Allen regressa assim aos títulos, e de que maneira, isto depois de dois anos de jejum.
Foi em Glasgow que se jogou a edição deste ano do Scottish Open, com uma final a ser jogada e decidida na “negra”, entre um ex-campeão do mundo e um ‘underdog’ do snooker. No final, saiu por cima Neil Robertson, que regressou assim aos títulos 18 meses depois.
As surpresas e as ausências
Como já vem sendo hábito de algum tempo para cá, também neste Scottish Open houveram algumas derrotas surpreendentes nas primeiras rondas. Shaun Muprhy, que vinha de uma final perdida na semana anterior para Ronnie O’Sullivan caiu aos pés de Daniel Wells. Também Barry Hawkins não fez melhor frente a Jamie Jones e saiu de cena logo na primeira ronda. De notar ainda a ausência por opção de Mark Selby e de Stuart Bingham, estando este último castigado.
A segunda ronda também acabou por ter alguns jogadores do top-16 a saírem derrotados, como foram os casos de Anthony McGill, Liang Wenbo e Ali Carter. Reforçando assim cada vez mais a sua candidatura à final Ronnie O’Sullivan, Judd Trump, John Higgins e Neil Robertson. Quem caiu com estrondo na terceira ronda do torneio foi o chinês Ding Junhui frente ao inglês Rory McLeod, desiludindo uma vez mais este asiático.
Higgins em frente, O’Sullivan K.O.
Nos oitavos de final, O’Sullivan e Higgins venceram os seus respetivos encontros com relativa facilidade para marcarem encontro nos quartos-de-final. Com menos facilidade mas igualmente bem sucedidos, Judd Trump e Neil Robertson seguiram em frente, ao passo que Marco Fu caiu aos pés de Xiao Guodong por 4-3, ficando afastado de qualquer possibilidade em chegar à final.
Mas foi nos quartos-de-final que se assistiu ao encontro que muitos aguardavam, o embate entre O’Sullivan e Higgins. O Inglês tem sido mais bem-sucedido nos últimos confrontos entre ambos, mas o a verdade é que a jogar em casa, o escocês galvanizou-se para “cilindrar” O’Sullivan por 5-0. Foi na “negra” e com muitas dificuldades que o australiano Neil Robertson bateu Xiao Guodong, tendo marcado encontro com o favorito do público, John Higgins.
Já a outra meia-final iria ser disputada entre o surpreendente Cao Yupeng, que já tinha deixado toda gente de “olhos em bico” na primeira ronda, quando fez uma entrada de 147 pontos. O chinês deixou pelo caminho Ricky Walden por 5-3 e marcou encontro contra Judd Trump, que venceu o outro escocês ainda em prova na altura, Stephen Maguire, por 5-2.
Robertson in, Trump out
O histórico de confrontos entre Robertson e Higgins mostrava uma ligeira vantagem para o escocês que contava com 11 vitórias contra 9 do australiano. No entanto, neste Scottish Open, o australiano reduziu a desvantagem entre ambos tendo vencido por 6-3.
Já entre Trump e Yupeng havia apenas um encontro registado entre ambos, ainda no decorrer deste ano no European Masters, onde o inglês saiu por cima na altura. Mas desta vez tudo foi diferente e o chinês mostrou uma enorme maturidade para bater o inglês por 6-4 e marcar presença numa final pela primeira vez na sua carreira.
Do céu ao inferno num piscar de olhos
Foi o terceiro encontro entre ambos, sendo que Robertson tinha saído por cima nos dois encontros anteriores. A final começou bastante equilibrada, tendo-se registado um uma vantagem de 5-3 favorável ao chinês no final primeira sessão. Yupeng entrou determinado a vencer a final rapidamente na segunda sessão e muito rapidamente colocou-se a vencer por 8-4, ficando apenas a um ‘frame’ do seu primeiro ‘major’ da carreira. Mas de repente aquilo que parecia estar já ali, foi-se eclipsando e depois de uma bola preta falhada por milímetros que poderia ter dado a vitória por 9-7 a Yupeng, este desmoronou-se emocionalmente e viu Robertson garantir o triunfo por 9-8, numa final em que emoção foi o prato principal.
Com esta vitória Neil Robertson levou para casa 70.000 libras e muita confiança para o ano de 2018 que estará recheado de ‘majors’. Já Yupeng mostrou que é mais um jogador com quem todos têm de contar para o resto da temporada, isto se continuar a jogar da forma que se mostrou neste Scottish Open.
Um dos maiores dos torneios da época de snooker disputou-se este mês em York, na Inglaterra. A final do UK Championship desta época teve frente a frente dois velhos conhecidos, Shaun Murphy e Ronnie O’Sullivan. O “Rocket” acabou por vencer uma vez mais a prova, pela sexta vez na sua carreira.
Surpresas e mais surpresas
Como já tem sido mais ou menos habitual nos últimos torneios disputados esta época, nas primeiras duas rondas do UK Championship houve queda de alguns favoritos à vitória final. Ding foi um deles e logo frente a um jogador que ainda não tinha somado qualquer vitória esta época, o irlandês Leo Fernandez, saindo derrotado por 6-5. Também Ali Carter não fez melhor na primeira ronda e caiu aos pés de Jimmy White por 6-2.
Acabou por não ser na primeira ronda, mas foi mesmo na segunda que mais dois jogadores do top-16 caíram aos pés de adversários menos favoritos. Selby, campeão do mundo em título perdeu com estrondo para o inglês Scott Donaldson por 6-3. Já Anthony McGill vacilou perante o iraniano Hossein Vafaei por 6-5, ficando assim pelo caminho.
O passeio de O’Sullivan e as desilusões do costume
Na terceira ronda, Trump acabou por cair aos pés de Graeme Dott, num encontro onde o resultado é bem claro com um 6-2 favorável a Dott. Barry Hawkins como tem sido seu apanágio esta época caiu cedo uma vez mais, desta feita frente ao surpreendente Akani Songsermsawad por 6-0. Do lado asiático, Wenbo foi mais um dos homens do top-16 a cair nesta ronda tendo perdido frente a Stephen Maguire por 6-5.
Sendo que Marco Fu não fez melhor frente a um jogador que vem de uma meia-final inesquecível da semana passada na Irlanda do Norte, o chinês Lyu Haotian, perdendo por 6-4. Vencedor do UK Championship há duas épocas, e a defender os pontos desse mesmo torneio esta época, Neil Robertson, não aguentou a pressão e caiu aos pés de Mark Joyce por 6-5.
Murphy vs O’Sullivan na final?
Ainda estávamos a meio da quarta ronda e já havia quem perspectivasse uma final entre os dois ingleses. Isto tudo porque no dia anterior, Higgins caiu de forma surpreendente frente a Mark King por 6-5. Já na outra parte do quadro Mark Allen não fazia melhor e saía derrotado perante Joe Perry por 6-4. Estes dois resultados deixavam Murphy e O’Sullivan com o caminho algo aberto até à final, isto por estarem em partes diferentes do quadro.
Shaun Murphy não vacilou nada perante o sempre difícil Ricky Walden e venceu por 6-1, num encontro onde o inglês reforçou a sua candidatura ao título, que havia vencido em 2008. Ronnie O’Sullivan.
As vitórias dos favoritos
O alinhamento dos quartos-de-final foi o seguinte: Ryan Day vs Mark Joyce; Shaun Murphy vs Mark King; Stephen Maguire vs Joe Perry e Martin Gould vs Ronnie O’Sullivan. No primeiro encontro, Ryan Day confirmou o seu favoritismo frente ao inglês e carimbou a passagem às meias-finais, vencendo na “negra” por 6-5. Shaun Murphy não deixou os créditos por mãos alheias e despachou de forma esclarecedora Mark King por 6-1, marcando encontro com precisamente Ryan Day.
Stephen Maguire regressou neste UK Championship aos grandes palcos para se encontrar com o também ex-top 16 Joe Perry, tendo o escocês vencido a partida por 6-3. O eterno favorito em todos os torneios em que entra de seu nome Ronnie O’Sullivan, alcançou as meias-finais com uma vitória sob o compratriota Martin Gould por 6-3. Deixando antever cada vez mais uma reedição da final do Champion of Champions desta época, entre O’Sullivan e Murphy.
O desfecho previsível
Foi com natural favoritismo que O’Sullivan deixou pelo caminho o escocês Stephen Maguire pelo caminho, sendo que apesar de tudo o encontro não foram favas contadas para o inglês. Até então o Ronnie somava 16 vitórias em 20 encontros, sendo que este 21º acabou com o triunfo de Ronnie por 6-4, tendo “esperado no cadeirão” pelo seu adversário da final.
E como já se previa a certa altura do torneio Murphy carimbou à passagem à final com um triunfo sobre Ryan Day por 6-3, naquele que foi 22º encontro entre ambos. Nas 21 partidas anteriores, Muprhy somou 13 vitórias contra oito do galês, o que denotava um certo equilíbrio entre ambos.
Uma final com um desfecho diferente
Esta final foi a segunda da época entre ambos os ingleses, sendo que na primeira, no Champion of Champions, Murphy saiu vitorioso sobre Ronnie. No somatório dos 14 embates prévios, O’Sullivan saiu por cima em 10, contra apenas quatro vitórias do compatriota.
A primeira parte da final foi bastante equilibrada, com o resultado a fixar-se em 4-4 ao intervalo do encontro. Mas já a segunda parte acabou por ser de sentido único, com o “Rocket” a não dar grandes hipóteses a Murphy e a fixar o resultado final em 10-5.
Com mais este título do UK Championship, Ronnie soma seis conquistas no total, tendo um assim um assombroso número de troféus da Triple Crown. Apesar de ainda faltar algum tempo para o início do campeonato do mundo, a verdade é que o inglês passa de candidato a natural a favorito nº1, visto o que tem feito esta época. Já durante esta semana e até domingo joga-se o Scottish Open, a última prova a decorrer no ano civil de 2017.
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