Eurosport. “O snooker é a “Fórmula 1″ do bilhar” (Parte 1/2)

Xavier OliveiraAbril 1, 201819min0

Eurosport. “O snooker é a “Fórmula 1″ do bilhar” (Parte 1/2)

Xavier OliveiraAbril 1, 201819min0

Nuno Miguel Santos, multi-campeão nacional e referência do snooker em Portugal. Miguel Sancho, também figura de referência do bilhar em Portugal. Têm em comum o facto de serem as vozes do snooker no Eurosport. Não perca por isso a primeira parte da entrevista do Fair Play, feita durante o Players Championship, onde ambos os comentadores falam sobre o passado, o presente e o futuro do snooker nacional e internacional.

Desde quando surgiu este gosto pelo snooker? E como correu o primeiro contacto com uma mesa de snooker?

Nuno Miguel Santos: Em termos de conhecimento ou de contacto com a modalidade, jogo desde os 10 anos de idade, neste caso primeiramente na vertente de Pool Português e só depois no Pool. E até 2001, altura em que entrei para o Eurosport, sabia que existia snooker, mas não tinha grande contacto com a modalidade, mesmo porque praticamente não havia mesas em Portugal em número suficiente para que criasse esse bichinho e empatia. A partir do momento em que começo a comentar, a paixão cresceu exponencialmente, muito por culpa dos intervenientes, os jogadores, que nos fazem sonhar e nos fazem desejar estar ali naquele lugar. Ou seja, para quem vê, aprecia, para quem joga, gostaria de estar ali. O snooker é um caso especial dentro do bilhar, porque enquanto que por exemplo no Pool, conseguimos crescer ao nosso próprio ritmo, a aprender com a modalidade, no snooker acaba por não ser bem assim, já que chegamos a uma certa altura em que para dar o salto, é necessário que alguém nos ensine. Quem vê e não sabe muito bem do que se trata a modalidade, acha tudo aquilo muito normal, para quem vê e sabe do que se trata, acha tudo aquilo fenomenal. Aquilo que mais acaba por me impressionar nos jogadores profissionais, é que a tacada neles é sempre igual, só mudam mesmo a intensidade, o gesto técnico do punho acaba por ser sempre rigorosamente igual. Ainda neste Players Championship, que está decorrer, fiquei impressionado com uma tacada do Ding Junhui, do Mark Selby e do Ronnie O’Sullivan. A qualidade e a capacidade de se reinventarem torneio após torneio, é o que mais me apaixona pelo snooker. Relativamente ao primeiro contacto com uma mesa de snooker, foi em dezembro de 2004, num encontro de exibição frente ao Paul Hunter, em São João da Madeira. Já em competição, esse primeiro contacto foi no ano de 2010, na segunda edição do campeonato nacional, onde fiz o circuito de open’s e jogo a fase final.

Miguel Sancho: O primeiro contacto da modalidade aconteceu muito cedo, foi na localidade da Lousa, concelho de Loures, mais conhecida pelo ciclismo, mas onde existe uma grande coletividade chamada Grupo Desportivo da Lousa, onde mais tarde tive a oportunidade de jogar e, onde havia uma mesa de Pool Português e uma mesa de Carambola. Para além daí, também em Monte do Trigo, no Alentejo, onde também havia uma mesa de Carambola e onde comecei a dar as primeiras tacadas. Relativamente ao snooker propriamente dito, o primeiro contacto não foi com a modalidade em si, mas sim com o jogo de computador do Steve Davis e para quem tem sensivelmente a minha idade, lembra-se perfeitamente do ZX Spectrum, para o qual existiam vários jogos e, um deles era exactamente esse de snooker do Steve Davis. Em Lousa, houve uma história muito engraçada, já que nós na altura praticamente não tinhamos contacto com o snooker, o sinal não chegava cá e mesmo parabólicas praticamente ninguém tinha. Então na altura, houve uma pessoa da terra que tinha ido a Inglaterra e tinha trazido um poster do Steve Davis, salvo erro, campeão do mundo em 1984. Sendo que nós em Lousa tinhamos uma brincadeira de miúdos todos os sábados, em que quem vencesse tinha direito a ficar com o referido poster do Steve Davis durante uma semana e, então quando o consegui ter pela primeira vez, foi uma grande alegria para mim. E para mim até hoje, o momento mais alto do snooker foi quando tive precisamente a honra de conhecer Sir Steve Davis pessoalmente. O primeiro contacto mais a sério com o snooker, deu-se em 2010, quando na altura fazia parte da Federação Portuguesa de Bilhar, como vice-presidente, sendo que entretanto já tinha começado a fazer comentários no Eurosport. Aliás o meu grande salto de envolvimento com o snooker deu-se com a minha entrada no Eurosport como comentador, onde coincidiu tudo, com a entrada do Eurosport 2 em Portugal, e com isso haver muito mais snooker a ser transmitido e, também por nessa altura ter-se começado a jogar snooker em competição cá em Portugal. No fundo, eu gosto de todas as variantes do bilhar, gosto muito de Pool, que é a minha modalidade, adoro Carambola, modalidade a qual já tive oportunidade de comentar no Porto Canal. No caso do snooker, é um caso especial, já que acaba por ser a “Fórmula 1” do bilhar, como eu costumo dizer, é quando nós temos tudo ao mais alto nível, desde a organização das provas, o profissionalismo dos árbitros e dos jogadores, tudo o que envolve a modalidade.

Tanto o Miguel como o Nuno, já são comentadores de snooker no Eurosport há alguns anos. Quais são as grandes diferenças técnicas e tácticas que notam na modalidade desde o início dos comentários até agora?

NMS: Na minha opinião, há três grandes contributos para a modalidade e até em três décadas diferentes. Primeiro, Steve Davis, que contribuiu muito para que quem viesse a seguir fosse melhor. Stephen Hendry, talvez aquele que tenha contribuído mais, nomeadamente com o seu jogo para os buracos do meio, com a abertura de bolas vermelhas e, tudo isso contribuiu bastante para que na década seguinte, no novo milénio, aparecesse Ronnie O’Sullivan. É um jogador com um talento nato, isso é inegável, mas hoje em dia, acima de tudo a construção do ‘break’, e consequentemente o controlo da bola branca, acaba por ser aquilo que faz com que existam mais centenárias que nunca e, chegados aqui, certamente que daqui a 10-15 anos estaremos ainda melhores. Vimos por exemplo, nestes últimos 10 anos a World Snooker ser praticamente obrigada a retirar o ‘prize-money’ de 147.000 libras para a tacada máxima, já que isso de fazer um 147 é quase corriqueiro, sendo esse o ponto mais alto no snooker. Se compararmos para o início dos meus comentários cá no Eurosport, em 2001, um 147 acontecia uma ou duas vezes anualmente. Para se ter uma ideia, em 2013 ou 2014, Mark Selby fez a centésima tacada máxima de toda a história do snooker. No que toca à organização dos torneios por parte da World Snooker, penso que deveria haver uma diferenciação, tal como se faz com o ténis por exemplo. Uma das grandes revoluções feitas pelas mãos do Barry Hearn foi a criação dos ‘rankings’ dinâmicos, já que antigamente quem terminava a temporada no top-16 ia beneficiar desse facto para toda a época seguinte, já que a presença nesses torneios estava automaticamente garantida, algo que agora não se sucede, já que atualmente é necessário esses jogadores estarem bem pelo menos grande parte da época. O facto de agora, mais do que nunca, os jogadores estarem constantemente em competição é um fator crucial. Um exemplo disso, é que antigamente, depois do mundial, os jogadores tornavam a jogar apenas em Setembro, havia ali um ‘delay’ de três meses sem competição. Falando também um pouco sobre quem brilhou no passado, acho que a World Snooker esteve muito bem ao alargar o circuito profissional de 128 para 131 jogadores, ao oferecer um wild-card ao Jimmy White, ao Ken Doherty e ao James Wattana, já que mesmo parecendo que não, foram grandes embaixadores da modalidade.

MS: Para mim aquilo que eu noto mais diferença, e isso pensando desde que comecei a comentar, em 2009, é a qualidade dos jogadores médios. Ou seja, os jogadores de top continuam a ser aquilo que eram, não mudou muita coisa, claro que sempre com algumas oscilações. O jogador médio, que está na 50ª, 60ª posição, há dez anos atrás, num encontro frente a alguém do top-16, num encontro jogado no mínimo à melhor de 9 ‘frames’, esse jogador de topo quase de certeza ganharia o encontro. E aí a existência de um maior número de torneios no circuito, como os PTC’s por exemplo, foi crucial. Primeiramente porque permitiu levar o snooker para outras paragens, nomeadamente para Europa continental, algo que não acontecia antes, já que os torneios só se jogavam nas ilhas britânicas. E com isso, já tivemos provas em Portugal, em Gibraltar, na Holanda, na Bélgica, na Letónia, na Roménia, na Alemanha consolidou-se aquilo que já existia, na Polónia e com isso a presença de jogadores europeus no circuito profissional. Há um jogador belga no top-16, um suíço de ascendência portuguesa que chegou às meias-finais de um torneio esta época, já há um jogador alemão como profissional, sendo que o segundo se vai estrear na próxima temporada. Os campeonatos europeus são um bom exemplo disso mesmo, enquanto que antes se viam praticamente só jogadores britânicos por lá, agora vêem-se jogadores de inúmeros nacionalidades, como polacos, que estão com uma bela escola de snooker. E aí claro que a World Snooker foi inteligente, já que percebeu que havia esse mercado da Europa continental para explorar. Fez por exemplo uma parceria com o Eurosport, onde foi assinado um contrato de exclusividade com a duração de dez anos e, isso claro que tem a ver com o enorme impacto que o Eurosport tem não só na Europa continental, mas sim por todo mundo.

Miguel Sancho (à esquerda) e Nuno Miguel Santos (à direita) (Fonte: Vasco Simões/Eurosport)
Quais são para cada um de vocês as três grandes referências de sempre do snooker, e porquê?

NMS: Sendo um pouco pragmático, quando eu me refiro aos melhores, falo na contribuição que eles deram para que a modalidade seja aquilo que é hoje e isso é o mais importante. A forma como se irá jogar no futuro tem claramente a pegada de Ronnie O’Sullivan, a forma de atacar a bola, fazer com que a bola “ganhe vida”, isso é o legado que ele vai deixar até aparecer alguém que vai conseguir mudar o snooker para ainda melhor. Por isso é que digo que os três grandes marcos do snooker são Steve Davis, Stephen Hendry e Ronnie O’Sullivan. Se olharmos por exemplo para Alex Higgins, ao nível da técnica ele era péssimo, enquanto que qualquer um dos três que destaquei tem uma técnica a roçar a perfeição.

MS: É quase impossível fugir às três referências feitas pelo Nuno, anteriormente. Ainda assim, há um que pouca gente fala, porque praticamente ninguém o viu jogar, só mesmo em imagens, que é o grande campeão Joe Davis, tendo este senhor sido campeão do mundo 15 vezes consecutivas e, se hoje há snooker é muito graças a ele. Há depois duas linhas, a linha dos campeões e dos campeões do povo e, eu gosto das duas. Os primeiros onde se incluem Joe Davis, Steve Davis, Stephen Hendry, John Higgins e Mark Selby. E depois a outra linha que é começada por Alex Higgins, que foi uma “barbaridade” de jogador e, é continuada por Jimmy White, Ronnie O’Sullivan e agora nesta altura, talvez Judd Trump. Estamos a falar das duas faces da moeda, que é os que ganham e os que dão a ganhar ao jogo pelo espetáculo. E nesse aspeto tenho que destacar Ronnie O’Sullivan, que é o único que consegue juntar essas duas faces. Como pessoa eu identifico-me mais com Steve Davis, mas tenho que admitir que faltava alguma espetacularidade ao jogo do inglês. Toda gente gosta muito do Jimmy White, mas a verdade é que o inglês em seis finais de mundiais não venceu nenhuma e acaba a carreira com 10 ‘majors’. Toda a gente dizia que era impossível vencer jogos e dar espetáculo e Ronnie O’Sullivan veio provar a todos precisamente o contrário. Pegando um pouco naquilo que era o snooker no tempo de Joe Davis e fazendo uma comparação com Portugal, nós estamos naquela fase, ou pelo menos estávamos quando se começou a jogar por cá, em que se marca uma bola vermelha, seguido de bola de cor e caso haja uma má colocação da bola branca, defende-se. O Joe Davis quando começou a jogar era precisamente assim, ele foi o primeiro a tentar e a conseguir um ‘break’ vencedor. Depois vem o Steve Davis que faz isso com uma entrada centenária, seguido do Hendry que faz um 147, terminando com o O’Sullivan que faz uma entrada máxima em cinco minutos e vinte segundos.

Cada vez mais, é normal vermos jogadores veteranos a vencer ‘majors’, isso deve-se ao facto de terem uma maior experiência? Tal como outras modalidades individuais, o snooker é algo como 80% psicológico e 20% técnico?

MS: Isso é verdade, mas eu lembro-me na altura que entrei tive uma conversa sobre isso com o Nuno, em que se discutia muito qual era o período áureo de um jogador e, na altura defendia-se que esse período se situava entre os 35 e os 40 anos, e agora vemos esta geração a implodir isso mesmo. O Ronnie está a fazer a melhor época de sempre, o Mark Williams há muito tempo que não o víamos jogar tão bem, vemos inúmeros jogadores estrearem-se a ganhar provas depois dos 40 anos. Obviamente que o snooker não é uma modalidade que tem as exigências físicas de outras. Apesar disso vemos jogadores com algumas queixas físicas, como por exemplo o caso de Shaun Murphy, que tem tido problemas de coluna, o Mark Selby com problemas de pescoço, sendo tudo isso o suficiente para não ganhar, mas caso os jogadores tenham alguns cuidados físicos têm tudo para singrar com mais facilidade. O tempo de jogadores como o Stephen Lee acabou, tenho muitas dificuldades em acreditar que o Mark Allen algum dia possa ganhar um mundial. Vemos o caso do O’Sullivan que faz jogging todos os dias de manhã, o Neil Robertson é outro jogador que tem muito cuidado com a sua alimentação, sendo que todo este cuidado com o físico tem um peso enorme no Campeonato do Mundo, onde são 17 dias intensos e onde a componente física é um factor muito importante, estando sempre o cansaço físico ligado ao cansaço mental. Acredito que esta geração atual vai bater todos os records existentes e que o Ronnie O’Sullivan e o John Higgins vão jogar pelo menos até aos 50 anos, ou talvez mais, a conseguir ganhar provas.

NMS: Não é um desporto físico, como sabemos, mas é fundamental estar em boa forma. Apesar de a componente física não ser o mais importante, acaba muitas vezes por ser crucial, nomeadamente quando estamos a falar de extensões longas, e o mundial é a prova viva disso mesmo. E não é por acaso que se tem sentido que quem chega lá mais fresco tem sido Mark Selby, sendo de realçar o físico dele, a elegância dele, até o próprio “esticar” na mesa. Se tivermos com um peso acima do ideal é um sacrifício, estando assim a perder o foco naquilo que é o mais importante, perdendo concentração e mais energia que o normal. Não diria tanto como foi dito na pergunta, a percentagem 80/20, mas com certeza 70/30 será um valor aproximado da realidade e que demonstra que os jogadores têm necessariamente de estar bem psicologicamente.

Da esquerda para direita: Xavier Oliveira (Fair Play), Nuno Miguel Santos, Miguel Sancho (Fonte: Vasco Simões/Eurosport)
A nível nacional, o snooker está em expansão, também muito se devendo ao bom trabalho feito no Eurosport. Pegando um pouco nas palavras do Ronaldo (Gala Quinas de Ouro 2018), e “pensando em grande” como o próprio dizia, para quando um jogador luso no circuito profissional?

MS: Obviamente não existe resposta imediata para essa pergunta, já que está dependente de muitos fatores. Eu acho que o snooker em Portugal tem algumas dificuldades, que não é fácil sair delas e, falando agora como responsável de um dos espaços onde se joga snooker em Portugal, o Snooker Club Lisboa, em que me deparo diariamente com situações como o valor das mesas, a rentabilidade dessas mesmas mesas, já que essas mesmas ocupam cerca de 35 metros quadrados e, o que o gerente de um espaço onde se joga bilhar pensa nesse caso é quantas mesas de consumo poderia ter nessa mesma área. Nós temos actualmente em Portugal, dispomos de cerca de 30 mesas em espaços públicos de norte a sul do país e na ilha da Madeira. Além disso, o snooker não é uma modalidade que se aprende sozinho, mesmo usando tutoriais e vídeos existentes na Internet, sendo que isso por si só não chega, é necessário acompanhamento por parte de um treinador. E pegando em palavras ditas pelo próprio Ronaldo, nessa mesma gala, não quero estar a menorizar Portugal, sendo os problemas comuns a diversos outros países, como por exemplo, França, Espanha ou Itália. Ou seja, não tem propriamente a ver com Portugal, mas sim com Europa continental vs Reino Unido e aí algumas questões relacionadas com a própria World Snooker. É verdade que é vontade da World Snooker crescer a modalidade para Europa continental, mas continuam a realizar-se todos os apuramentos (Q School) somente na Inglaterra e portanto isto tem de mudar. Aquilo que a World Snooker tem obrigatoriamente de fazer, se quer ter jogadores de outros países no circuito, é disponibilizar técnicos próprios a irem aos outros países formarem técnicos locais, sem isso ter custos, ou com custos muito reduzidos para as respectivas federações. Aquilo que temos hoje em dia é algo muito bom, e digo isto com orgulho, porque tanto eu como o Nuno, lutamos muito para que isso acontecesse, já que temos jovens com alguma qualidade, como o caso do Diogo Badalo, que já foi campeão nacional, o caso do Tiago Teixeira, que tem umas condições fenomenais para vir a ser um bom jogador, não sei qual o patamar porque há diversos fatores que fazem com que um jogador possa ou não vir a tornar-se um grande jogador. Há inúmeros casos desses e não só em Portugal. Cá, em termos de formação só existem alguns raros episódios, sendo que talvez o melhor exemplo seja mesmo a Escola de Bilhar do FC Porto mas não de snooker, porque formação em snooker existe apenas uma pessoa, chamada Nelson Batista. Para dar aulas é preciso aprender a saber ensinar e essa é a parte mais difícil. O Shaun Murphy, aquando da visita do mesmo ao Snooker Club Lisboa, dizia algo deste género: “Vocês não imaginam, só na cidade de Manchester devem existir mil ou mais jogadores a fazerem entradas centenárias umas atrás das outras, que nem sequer estão no ‘main tour’, estando apenas a competir nas provas internas. O grande problema deles está apenas na falta de estaleca mental”. E nós em Portugal ainda nem sequer chegamos a esse nível, de termos um jogador que possamos dizer que se tivesse “cabeça” era profissional. O caso da Free Ball foi um projecto muito importante para a zona norte, obviamente que é importante que os clubes como o FC Porto, o Leixões, o Boavista também entrem na modalidade. Sobre este assunto, há uma história engraçada que aconteceu connosco há dois anos no Casino Estoril, que foi o Estoril Snooker Challenge, como aliás é hábito todos anos no lançamento do mundial por parte do Eurosport. Nesse ano havia um senhor que trabalhava naquele espaço, como porteiro no caso, e ao que à certa altura se dirige a nós e diz: “Não consigo perceber tanta dificuldade da vossa parte em embolsar bolas”, ao que eu lhe coloquei a bola amarela no sítio dela e a bola branca em posição para ver quantas vezes ele marcava a amarela no meio. Obviamente que não marcou nenhuma, tendo inclusive desistido à sétima ou oitava tentativa, chegando facilmente à conclusão de que “afinal isto é mais difícil do que parece”.

NMS: Em termos de formação nem todos são “Mourinhos”, é que para além de estudar a táctica, é necessário ensinar a técnica, sendo muito difícil ensinar essa técnica, quando esse formador não tem essa mesma técnica. Enquanto não existir alguém que reúna todas estas condicionantes para ensinar os jogadores portugueses não vai ser fácil termos um jogador luso no circuito profissional. Hierarquicamente, em termos temporais, já tivemos João Esteves da Silva, o Luís Alves, o Diogo Badalo e o Tiago Teixeira, sendo talvez os quatro grandes nomes de jogadores mais jovens, em que qualquer um destes sente exactamente esta carência que eu referi. Eu diria que a correr bem, e sem contar com aqueles jogadores que estão agora a “saltar para a ribalta” dentro da modalidade, nunca abaixo dos próximos dez anos teremos um jogador português como profissional. Se bem que ao dizer uma década, já estou de certa forma a ser algo simpático, sendo certo que os jogadores como o Diogo Badalo e o Tiago Teixeira podem abrir portas para as gerações futuras. Primeiro é necessário haver formadores com essa abrangência territorial e segundo é preciso que os clubes o queiram também.

O Fair Play agradece ao Nuno Miguel Santos, Miguel Sancho, bem como toda equipa do Eurosport, pela disponibilidade e simpatia demonstrada em todo o processo da entrevista. Desejando as maiores felicidades e o maior sucesso a ambos, quer como atletas, quer como comentadores e ao canal Eurosport.


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