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Neste momento, há uma panóplia de assuntos que eu poderia ter optado por abordar, no âmbito do Futebol Feminino, tais como a mais recente jornada da UWCL, onde o Benfica enfrentou em casa aquela que é considerada (por mim, e por muitos) como a melhor equipa da atualidade – o Barcelona, e toda a polémica que circundou a conferência de imprensa de antevisão do encontro; ou a subida no ranking que a Seleção Nacional Portuguesa registou neste último mês, que significou um novo record, ou até a questão da saúde mental no desporto, que tem vindo a ganhar destaque nos últimos meses, e que é de extrema importância.
Mas não, decidi abordar um outro tema, que tem vindo a ser muito debatido ultimamente, pelo simples facto de ser algo determinante para a continuidade de evolução do futebol feminino em todo o mundo – as lesões.
Tal como é do conhecimento de todos os envolvidos (desde os fãs, aos atletas), o futebol é dos desportos mais agressivos para o corpo humano, levando ao aparecimento de lesões a vários níveis – ósseas, musculares, de ligamentos, que podem mesmo levar ao término antecipado da carreira futebolística. No futebol feminino, e devido à fisionomia do corpo das mulheres, existe um claro risco acrescido no que respeita a lesões nos ligamentos, principalmente a nível dos joelhos, sendo a lesão do LCA (ligamento cruzado anterior) uma das mais comuns, e a que acarreta o maior tempo de paragem (nunca inferior a 9 meses, podendo, em muitas situações, ultrapassar os 12 meses).
Ora se existe esta propensão da atleta feminina para desenvolver uma lesão com esta complexidade, muitas vezes não associada a episódios traumáticos, e que pode mesmo colocar em causa a sua carreira futebolística, não deverá este ser um tema sobre o qual os estudos científicos relacionados com a área do futebol devem incidir? Está mais do que provado que as atletas femininas diferem dos atletas masculinos em vários fatores físicos e fisiológicos, que podem ser determinantes para o desenvolvimento do futebol feminino como modalidade num todo. Se a segurança das suas atletas não está completamente estudada, como pode uma modalidade evoluir e dar o salto qualitativo que se pretende?
Injuries in elite-level women’s football—a two-year prospective study in the Irish Women’s National League.
Excellent work @DanHoran10 and colleagues. https://t.co/Jt4fzKBQJx
— Declan Browne (@decbrowne1) November 2, 2021
Desde 2021 que diversas (demasiadas) jogadoras sofreram com ruturas do LCA. Christen Press, Alexia Putellas, Dzsenifer Marozsán, Ellie Carpenter, Beth Mead, Nadia Nadim (segunda lesão deste tipo em apenas 1 ano), Marie-Antoinette Katoto e Catarina Macario, são apenas alguns exemplos de atletas com lesões a nível no LCA, e que enfrentam (ou enfrentaram) períodos de paragem bastante longos, e um processo de recuperação duro e complexo, não só a nível físico, como também mental. Enquanto termino este artigo, está em curso o jogo entre o Arsenal e o Lyon, também para a UWCL, sendo que no decorrer do mesmo, a extraordinária avançada neerlandesa Vivianne Miedema acabou por sair lesionada, suspeitando-se, mais uma vez, de rutura do LCA.
Se estas lesões acontecem ao mais alto nível com uma regularidade assustadora (se acontecessem apenas a nível amador, a razão poderia estar relacionada com a, muitas vezes, deficiente preparação física das atletas), não deverá proceder-se a um estudo aprofundado das suas causas e da melhor forma de as prevenir? Algo terá de mudar a nível da preparação física no futebol feminino, e teremos de assumir, de uma vez por todas, que não podemos abordar o desporto feminino da mesma forma que o desporto masculino, numa perspetiva meramente física. E isto não coloca em causa qualquer tipo de equidade que se procura atingir, muito pelo contrário!
O facto de se assumir que, fisiológica e fisicamente, a mulher e o homem são diferentes, e têm de ser alvo de “cuidados” diferentes, é algo que só poderá trazer coisas positivas ao futebol feminino. As particularidades do corpo feminino, que afetam direta e indiretamente o desempenho desportivo, devem ser alvo de estudo e a preparação física das atletas deve ser baseada nos resultados desses mesmos estudos, incidindo nas zonas mais propensas a lesão, funcionando como medida preventiva determinante. O próprio design das chuteiras deve ser repensado para as atletas femininas, visto que até a própria forma de firmar o pé no chão difere entre homem e mulher, e a grande maioria das atletas utiliza chuteiras desenhadas para o corpo masculino, e não adequadas às particularidades do corpo feminino. Mas este é apenas um exemplo.
Convido-vos a todos a espreitar este excelente artigo, da autoria da Isobel Cootes, publicado no dia 25 de novembro de 2022 – https://sport.optus.com.au/womens/articles/os50521/acl-injury-beth-mead-fifa-womens-world-cup-2023-wsl-arsenal-research, que menciona todas estas questões que abordei nesta breve reflexão sobre um tema que me parece carecer de mais atenção e de mais estudo, para que o futebol feminino possa atingir níveis qualitativos (e de segurança para as atletas) mais elevados.
Não é apenas a qualidade do jogo jogado que tem que evoluir, são também todos os fatores que rodeiam o futebol feminino…
Arsenal Women suffer unlucky defeat to Lyon but overshadowed by Miedema injury #OneArsenal #GoonerFamily #ArsenalFC #AFC https://t.co/sEG9LwUHl3
— Gunners Fans (@arsenalnewsonly) December 16, 2022
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