Um sonho de gerações: Portugal está no Mundial 2023

Margarida BartolomeuFevereiro 22, 20235min0

Um sonho de gerações: Portugal está no Mundial 2023

Margarida BartolomeuFevereiro 22, 20235min0
Depois de anos a tentar, Portugal está no próximo Mundial de futebol, com a selecção a garantir o apuramento e Margarida Bartolomeu conta-nos como foi

22 de fevereiro de 2023, 06:00h – toca o despertador, e sente-se um nervoso miudinho. É hora de ver Portugal jogar aquele que é um jogo histórico, e pode determinar um momento ainda mais histórico para o Futebol Feminino nacional – a presença num Campeonato do Mundo! O horário de “down under” obriga-nos a madrugar, mas vai valer a pena!

Patrícia Morais, Ana Borges, Diana Gomes, Carole Costa, Catarina Amado, Dolores Silva, Tatiana Pinto, Andreia Norton, Francisca “Kika” Nazareth, Jéssica Silva e Diana Silva – foram estas as 11 jogadoras escolhidas por Francisco Neto para iniciar o jogo, e lutar por nós.

Tocam os hinos, a ansiedade aumenta. O apito soa, e o jogo inicia.

Portugal entra forte, pressionante, dominador. Não concede espaços à equipa camaronesa, recuperando rapidamente a bola e procurando colocar a mesma nas suas jogadoras mais avançadas (Jéssica e Diana) que, com a sua velocidade, consegue criar perigo e desmontar a organização defensiva adversária. 2´de jogo, e a bola bate na trave. Portugal pressiona, cria, mas não consegue, até que, aos 21’, num livre (que remate!) de Kika Nazareth, a bola embate com estrondo no poste e, na recarga, Diana Gomes encosta para o 1-0.

Vantagem justa no marcador, que espelha a diferença entre ambas as seleções, e o domínio luso que se vinha a registar. No entanto, após o golo sofrido, a seleção dos Camarões tornou.se mais pressionante, mais agressiva na procura da baliza adversária, e começou a criar perigo. As jogadoras portuguesas desconcentraram-se, e o jogo partiu um pouco, com diversos passes falhados, precipitações e faltas. Os últimos 10’ pautaram-se, novamente, por um maior domínio português, tendo a nossa seleção tido a possibilidade de aumentar a vantagem, muito embora sem sucesso. O último lance da primeira parte trouxe muito perigo para a baliza lusa, mas a situação foi bem resolvida por Patrícia Morais.

A segunda parte inicia, e a equipa portuguesa mantém-se mais dominadora, embora não de forma tão exuberante como aconteceu no início da primeira parte. Andreia Norton a criar muito perigo, através de um grande remate que, infelizmente, não teve o sucesso desejado. Portugal cria, insiste, mas o golo da segurança teima em não aparecer. Pouco antes dos 60’, azar para Catarina Amado que, após choque com uma adversária, sai lesionada, dando lugar a Joana Marchão no corredor esquerdo defensivo. Espero que fique tudo bem com a Catarina Amado, e que a lesão não seja tão grave como aparentou. A seleção camaronesa mexe no jogo, muda peças no ataque, acredita na reviravolta. Portugal reforça o seu meio-campo, continua a insistir e a procurar o segundo golo, de forma a poder respirar um pouco melhor e a sentir mais segurança no resultado.

Ataque, atrás de ataque, remate atrás de remate, e o golo teima em não aparecer, deixando as jogadoras portuguesas mais ansiosas, e as jogadoras camaronesas mais crentes. 83’ minutos e a seleção dos Camarões demonstra que está mais viva no jogo do que aparenta e, embora em posição de fora de jogo, consegue chegar ao empate.

Embora anulado, foi talvez o “abre olhos” de que as jogadoras lusas precisavam. No entanto, poucos minutos depois, a seleção camaronesa chega mesmo ao empate, e o nervoso miudinho que pairava em todos nós, torna-se numa ansiedade ensurdecedora. As nossas atletas não baixaram os braços, e demonstraram muita vontade para resolver o jogo dentro do tempo regulamentar.

E assim foi. 93’, penalti para Portugal, e está feito o 2-1! Carole Costa, mais uma central, a devolver a vantagem à seleção portuguesa! O tempo passa, a ansiedade aumenta, não só em campo, não só na Nova Zelândia, mas aqui em Portugal, em todos nós que acompanhamos a evolução, o crescimento, as constates lutas destas jogadoras! Ansiamos pelo apito final, e eis que ele surge, e PORTUGAL ESTÁ NO MUNDIAL!

Anos e anos de luta, gerações atrás de gerações, o sonho foi crescendo, fomos acreditando, fomos merecendo mais, e mais, e mais, e aí está a recompensa! A primeira presença na Fase Final de um Campeonato do Mundo já não foge, e o nosso coração não tem espaço para tanta alegria, tanta emoção.

Carla Cristina, Paula Cristina, Maria João Xavier, Sílvia Brunheira, Anabela Silva, Graça Simões, Susana Cova, Adília Martins, Adelaide Almeida, Neide Simões, Sónia Matias, Edite Fernandes, Carla Couto, Cláudia Neto (e todas as outras que tanto deram, e dão, ao futebol feminino nacional) esta é por vocês, pela vossa luta contra o machismo, discriminação de género, pelas condições que não vos foram dadas, por terem andado nisto por pouco mais do que “um sumo e uma sandes”, por terem representado o nosso país quando tão poucos acreditavam. Foi a vossa luta que abriu caminho para o sucesso destas atletas. Uma luta iniciada por jogadoras completamente amadoras, em 1981, e que agora, em 2023, vêm cumprido o sonho de uma nação!

Despois daquele que foi, talvez, o Campeonato da Europa Feminino mais bem-sucedido da história do futebol feminino, depois deste apuramento histórico, Clubes, qual a vossa desculpa para continuarem a não investir?!

FORÇA PORTUGAL!


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