O Marítimo está em apuros com uma constante dança de treinadores nas últimas três épocas... mas será este um bom ou mau sinal para os madeirenses?
O Marítimo está em apuros com uma constante dança de treinadores nas últimas três épocas... mas será este um bom ou mau sinal para os madeirenses?
Existem muitas histórias, fictícias ou reais, que servem de analogia para a vida, quer em termos pessoais como profissionais. Uma dessas histórias envolve uma lagosta. E perguntam vocês: o que essa história da lagosta em a ver com o sucesso da formação?
Vamos começar por enquadrar a história. A lagosta, desde pequena, produz uma casca que a protege. Mas ela cresce. Quando cresce um pouco, começa a sentir dor. O que significa? A casca se tornou pequena e ela precisa procurar uma gruta para produzir um novo invólucro. A dor é o sinal de uma mudança. Esse processo se dá mais de uma vez até o final do crescimento: o corpo se desenvolve e a dor retorna, anunciando que uma nova casca se faz necessária. Casca, crescimento, dor e nova casca.
O ‘caminho da lagosta‘ deve ser o percurso a seguir na formação de jogadores. Determinado jogador quando se começa a sentir demasiado confortável no respetivo escalão, deve receber um novo estímulo, de forma a continuar o seu processo evolutivo. Vamos a exemplos práticos. Principalmente no passado, temos várias situações de diversos avançados que, ao longo do percurso de formação no Benfica, Porto e Sporting, marcaram várias dezenas de golos. Destacaram-se sempre a jogar entre miúdos da mesma idade. Embora com números fantásticos, não saltaram etapas e estiveram sempre em zona de conforto, e quando tiveram que saltar “A ETAPA” de passar para o futebol sénior a esmagadora maioria não se encontrava preparada.
Esta situação ainda se tornava mais acentuada nos jovens dos ‘três grandes’ que goleavam em muitos jogos e só quase perdiam pontos nos jogos entre si. Mas felizmente houve melhorias significativas em todo este processo. Os clubes, ou pelo menos boa parte deles, começaram a lidar com a formação de forma mais profissional apostando em recursos humanos verdadeiramente entendidos no assunto. Ao mesmo tempo deixaram de apostar ou prescindir de treinadores baseando-se unicamente nos resultados das suas camadas jovens.
Mais um exemplo e agora com nomes. Fábio Silva, 17 anos. Será mais importante, tanto para o FC Porto como para o jogador, este estar envolvido na equipa A, ou estar apenas nos sub17 ou sub19 a marcar 2, 3 ou 4 golos por jogo? Parece-nos óbvia a resposta. O potencial enorme do jogador aconselha a que este queime etapas, para sob novos estímulos, perceber a sua capacidade de reação e evolução.
Aqueles que se destacam de forma inegável nos escalões jovens devem começar a ir ganhando minutos no futebol sénior. Seja minutos na equipa A e, quando não possível, na equipa B. É essa capacidade de se afirmar ou não, que vai distinguir o trigo do joio.
José Gomes, avançado, 20 anos, mais conhecido no mundo do futebol, “Zé Gomes”. Foi-lhe sempre apontado grande potencial e apresentando sempre resultados acima da média. A época 2015/16 foi o melhor exemplo disso. Com ainda 16 anos marcou quase um golo por jogo nos 28 jogos realizados pelos sub19 do Benfica, e em Maio, já com 17 anos, foi campeão europeu pela seleção de sub17. Além de melhor marcador foi considerado o melhor jogador da competição.
A projeção foi tão grande que o Benfica chegou a receber uma proposta concreta do Barcelona. Os ‘encarnados’ seguraram no jogador e deram-lhe uma oportunidade no futebol sénior, exatamente o que a performance do jogador pedia na altura. Foram cinco aparições na equipa A e 7 golos em 23 jogos pela equipa B. Nada mau para um avançado de apenas 17 anos perante um primeira experiência no futebol sénior. No entanto, nas duas épocas seguintes, a evolução que se preconizava não aconteceu, e em 52 jogos pela equipa B, marcou 6 golos, dando a ideia de alguma estagnação. No europeu sub19, que Portugal veio também a conquistar, ainda foi titular e um dos capitães, no entanto com rendimento do jogador deixou muito a desejar, em relação a quem saltava do banco para o substituir. E no mundial de sub20 nem constou entre os selecionados.
Isto tudo para concluir que, tanto o Benfica há 3 anos, como o Porto este ano, estiveram bem em promoverem os jovens avançados de 17 anos. E depois é perceber quem é “trigo” ou quem é “joio” mediante as performances nesta nova etapa.
Pois bem. Vamos por partes. A formação é um dos temas mais em voga no dia a dia futebolístico, seja em conversas de café, em jornais, na TV. Um pouco por todo o lado. Até há não muitos anos, o que mais importava às direções dos clubes resumia-se numa palavra: GANHAR. Desde os infantis aos juniores. A avaliação do sucesso na formação tinha como métrica, quase exclusiva, os títulos que se iam sendo conquistados nas camadas jovens. E assim foi durante muitos anos… ‘ganhar só porque sim’.
Segundo Renato Paiva, uma das principais caras do projeto de formação do Benfica, as maiores vitórias dos treinadores da formação é verem os jogadores que passam por si triunfarem na equipa A: “É um prazer brutal ver o Rúben Dias, o Ferro, o Renato, o Guedes e muitos outros a impor-se na primeira equipa. Não chegam lá se nós pensarmos só em ganhar. Enquanto olharmos para os dígitos e estivermos agarrados aos dígitos na formação, o processo está completamente invertido”.
Embora formar jogadores a ganhar seja sempre melhor, o resultado não deve sobrepor-se à evolução individual do jogador dentro de um coletivo.
“Nós queremos todos ganhar, ninguém sai de casa para querer perder, temos é que perceber que isto é um jogo e há processos a serem trabalhados e que por vezes, com o processo bem feito, podes não ganhar. E muitas das vezes, quando o processo não é tão forte, podes perder. Enquanto as pessoas não fizerem avaliações estruturadas sobre aquilo que é o processo e viverem do ‘resultadismo’ na formação, está completamente errado! Grandes exemplos na Europa dizem perfeitamente o contrário” – conclui o agora treinador da equipa B dos ‘encarnados’.
O facto de estarem a ser formadas várias gerações de grande valor não está desassociada à criação das equipas B. O facto de haver uma ponte entre os os juniores sub19 e a equipa A, deixando os jogadores por perto e com a possibilidade de os chamar a qualquer momento, melhorou muito o número de oportunidades dadas aos jovens emergentes. Na maior parte das vezes, esses jovens, sem espaço na equipa A, eram emprestado a um clube e nem sempre se conseguiria adaptar da melhor forma. Ter a oportunidade de dar esse salto perto da casa-mãe, junto de quem o conhece melhor que ninguém, potencia uma melhor resposta do jogador a um novo estímulo. Ainda por cima com a possibilidade ter essa equipa secundária, na sempre competitiva segunda liga.
Mais recentemente foi criada a Liga Revelação para jogadores até 23 anos. Mais uma ponte importante para a passagem dos jogadores para o futebol sénior mas, pelo menos para os maiores clubes nacionais, não deve ser vista directamente como um alternativa às equipas ‘bês’. Exemplo disso, foi a extinção da equipa B do Sporting Clube de Portugal. Tem em Daniel Bragança (recentemente internacional sub21) um dos maiores talentos emergentes da sua formação. Começou a época passada no sub23, numa altura a qualidade do jogador já era claramente superlativa aos demais. Percebendo-se o interesse do Sporting em querer manter o jogador por perto, o contexto ideal teria sido a equipa B, onde o nível de competitividade, intensidade e dificuldade é bastante superior. Em janeiro de 2019 foi emprestado ao Farense (2ª liga) e embora tenha tido sucesso, ter antecipado essa situação poderia ter acelerado o processo evolutivo do jogador. Esta época está a rodar no Estoril, um dos candidatos à subida.
Outro exemplo recente, é o do avançado leonino Pedro Mendes, que pela época passada já se percebia que o patamar sub23 é pouco elevado para a sua qualidade. Estar o avançado a jogar numa segunda liga, onde defrontaria todas as semanas centrais com muita experiência iria deixá-lo cada vez mais preparado para a equipa principal.
Entre as seis equipas que tiveram acesso directo a uma equipa B na segunda liga em 2012/13 – Benfica, Porto, Sporting, Braga, Vitória SC e Marítimo – apenas ‘águias’ e ‘dragões’ conseguiram manter a equipa na sempre difícil segunda liga, e os leões extinguiram a equipa há duas épocas, quando foram despromovidos.
O Porto B, pela primeira vez na história das equipas B, venceu mesmo o título em 2015/16. No entanto desse plantel, apenas André Silva e José Sá, e mais recentemente Bruno Costa, conseguiram protagonismo na equipa A. No entanto o Porto parece querer inverter essa tendência dando a oportunidade a jogadores que venceram a Youth League como Romário Baró (este nascido em 2000), Diogo Leite e Diogo Costa que ficaram no plantel. Além de Diogo Queirós que foi emprestado. Da mesma geração dos “Diogos” (1999), no rival da luz, Gedson, Florentino e João Félix (este agora no Atlético de Madrid) já no passado faziam parte da equipa principal e não foram sequer utilizados na Youth League. Jota ainda foi utilizado no início da competição. No Sporting, dessa geração,mantêm-se Luis Maximiliano e Miguel Luís, tendo vendido recentemente Thierry Correia ao Valência.
Fica a nota final. As melhores vitórias na formação é ver os jogadores a brilharem na equipa principal.
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