Arquivo de Futebol - Página 12 de 17 - Fair Play

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Bruno Costa JesuínoJaneiro 20, 20207min0

Rivalidade. Rivalidade não é guerra. Embora pareça que no futebol há uma linha, demasiado ténue, que as separa. Felizmente, os protagonistas, ou pelo menos aqueles que o deviam ser, ainda nos dão muitos bons exemplos. Um desses casos é o badalado “Bruno Fernandes”, que nos últimos tempos tem dado bons exemplos de fair play fora de campo. Além disso, vamos falar no futebol. Mas daquela parte que interessa.

Bom exemplo, um que está sempre a reclamar durante os 90 minutos?

É um facto. O seu perfil em campo faz com que passe muito tempo a reclamar com árbitros e adversários durante os 90 minutos. Mas não é essa parte que o artigo quer destacar. É a capacidade de Bruno Fernandes não ter receio em falar sem tabus de assuntos que muitos não têm coragem de o fazer. Os elogios públicos aos “inimigos”. Ah, espera, isso é a forma como muitos pensam. Vou reformular. O capitão dos ‘leões’ elogiou publicamente a qualidade de vários rivais. No final da época passada, em declarações à RTP, no final da época passada, elogiou a capacidade um jogador portista.

Não vou dizer que sou eu. Não é uma questão de humildade a mais, mas não me consigo ver dessa maneira. Há um jogador que este ano até pode não ter sido tão preponderante, mas que gosto muito: o Brahimi. Para mim, quando quer, é o melhor jogador do campeonato.

As palavras estenderam-se ainda a outros destaques do rival da segunda circular, pelas excelentes época que fizeram.

Dos portugueses… Temos a surpresa João Félix, que fez um grande campeonato, mas pela influência que tem diria o Pizzi. Talvez até o possa colocar no mesmo patamar que o Brahimi.

Mas não se ficou por aqui, ainda esta época, o capitão do Sporting, fez um comentário nas redes sociais a elogiar a excelente prestação do benfiquista diante do Zenit.

Adivinhem o que aconteceu?

Se calhar não é preciso muito para se adivinhar o que aconteceu. Pois bem, no futebol, o elogio a rivais tem sempre o reverso da medal. Para grande parte dos adeptos ser simpático para um adversário é algo proibido, e quem o faz é considerado pelos mais radicais, como ‘traidor’. Inclusive por aqueles adeptos ‘famosos’ que vão à televisão. Lembro-me quando o Benfica ganhou ao Porto, um desses em adeptos, no Prolongamento, ter criticado por no fim do jogo Ricardo Quaresma ter dado um abraço a Jorge Jesus. Para ele, é inconcebível depois de uma derrota ser ‘simpático’ com um adversário. Óbvio que anos depois, também apoiou o ‘não cumprimentar’ que Sérgio Conceição fez a João Félix no mesmo estádio, e também após um desaire.

It’s  footbal, not war

O futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes das nossas vidas.

Esta famosa frase é da autoria do ex-jogador e treinador italiano Arrigo Sacchi, e devia ser lembrada todos os dias. Lembrada e levada à letra. E após o apito final não eternizar guerras sem sentido e com base num clubismo exacerbado, que mais se aproxima de ódio. E tudo começar quando se odeia mais um rival do que se gosta do seu clube.

It’s football, not war. E sigam o exemplo, dos jogadores. Que por vezes não demonstram mais devido às más reacções de parte significativa dos adeptos. Por isso, parabéns Bruno. E que o teu ‘grande’ futebol continue a acompanhar a tua ‘grande’ postura. Seja onde for.

Nélson Semedo e Bruno Fernandes:

João Félix responde a Bruno Fernandes:

O nosso futebol: ponto de situação

Acabou a primeira volta do campeonato e em pouco mais de quatro meses muitas coisas há destacar. Vamos pegar em dois pontos positivos e um negativo.

A ‘dança’ dos treinadores ja dava (quase) para fazer um ‘onze’

Começar por um menos positivo. Desde o início houve dez mudanças de treinador. Quer dizer onze, com  saída de Folha do Portimonense durante o fim de semana. O Sporting, contando com o interino Leonel Pontes, e o Belenenses, já vão na terceira escolha. Não será por acaso as épocas conturbadas e abaixo das expectativas que ambas as equipas têm tido. Aliás, curiosamente, Silas, actual treinador do Sporting, começou a época no Belenenses (ou será que deverei B Sad ou Code City!).

Mas mais que a mudança de treinadores é a mudança de estratégia em poucos meses. O Marítimo começou a época com Nuno Manta Santos (agora no Aves), um treinador de transição, e ao fim de alguns meses mudou para José Gomes, um treinador que aposta num jogo de posse. O mesmo com Vitória Futebol Clube, que depois de Sandro, que montava a equipa centrada na segurança defensiva, apostou no espanhol Júlio Velasquez.

Em sentido oposto, o Belenenses que depois de Silas e Pedro Ribeiro, apostou em Petit. Treinador que se tem especializado em assumir salvar da descida equipas que assume a meio da época, mas que ao contrário dos antecessores, apresenta uma forma de jogar antagónica.

O grande Fama, o Gil de Oliveira e os recordes de Lage

A grande sensação da época tem sido o Famalicão, ainda por cima neste regresso à primeira liga depois de algumas décadas de ausência. Um projecto que está a ser criado há alguns anos e que está a dar frutos. Uma aposta em jogadores jovens, que têm tudo ainda para mostrar. Reforçou-se tanto no verão como agora no mercado do inverno. Até ver ainda não deixou sair nenhum dos principais jogadores, e está no sensacional terceiro lugar. Será que vai continuar a surpreender?

Quase tão surpreendente, o também regressado Gil Vicente. Com um plantel por montar a partir do zero, escolheu o experiente Vitor Oliveira, o mestre das subidas de divisão. Uma missão difícil nas mãos certas. Destaca-se a vitória sobre o Porto e Sporting, e mesmo depois de alguma séries negativas, encontra-se no 8º lugar, seis pontos acima da linha de água.

Mesmo com algumas fases negativas, principalmente após a derrota com o Porto, o Benfica de Bruno Lage teve a força de ir ganhando quando jogou mal. Com o regresso Gabriel e depois de Chiquinho, e a explosão de Vinícius a equipa estabilizou, mesmo quando perdeu o jogador que em melhor forma: Rafa. Em 51 pontos, conquistou 48, apresentando o melhor ataque e a melhor defesa (+7 golos e -5 que o Porto, respectivamente).

Uma palavra para a qualidade de jogo do Vitória Sport Clube, apesar de alguns resultados menos positivos do que as exibições adivinhavam.

Do trio benfiquista ao incontornável Bruno Fernandes

A prova quase imaculado do Benfica tem tido em Pizzi, desde o início, e melhoria exibicional com a entrada de Chiquinho e Vinícius. O primeiro porque é aquele que mais aproximou o Benfica das dinâmicas da época passada (quando tinha João Félix) e o brasileiro pelas novas soluções que deu à equipa, além da excelente média de golos.

No Porto o maior destaque tem sido Corona. O mexicano, jogue em que posição jogar é actualmente o mais imprescindível. Os reforços Marchesin, entrou muito bem na equipa, e Luis Diaz, embora a espaços, tem oferecido à equipa aquilo que Brahimi tinha de melhor.

No Braga, Ricardo Horta tem sido o mais influente na frente, enquanto Palhinha tem crescido muito. A capacidade de equilíbrio de dá a equipa faz lembrar a influência que Fejsa já teve no Benfica.

Na cidade de Guimarães, com um plantel bem recheado, Ivo Vieira tem rodado muito a equipa de jogo para o jogo. No entanto, o jogador mais utilizado, tem sido Tapsoba, um dos melhores centrais do nosso campeonato. No Sporting, Bruno Fernandes. Sempre, Bruno Fernandes.

Outros destaques: Kraev (Gil Vicente), Davidson (Vitória SC), Nehuén Perez, Pedro Gonçalves, Fábio Martins (Famalicão), Taremi (Rio Ave), Pepelu (Tondela), Filipe Soares (Moreirense) e Mehrdad Mohammadi (Aves).

Bruno Costa JesuínoDezembro 25, 20197min0

Não só este Natal, como em todos, “All I want for Christmas is you” é provavelmente a música que mais ouvimos. Reza a história que Mariah Carey já ganhou cerca de 50 milhões só com este êxito. Mas neste artigo a música é outra. Futebol. E fazendo uma tradução livre e adaptada da música cantarolava qualquer coisa como “O que mais quero para o futebol são…” mentalidades renovadas.

E perguntam vocês, mentalidades renovadas, explica lá isso melhor

Ok. Já que perguntam, eu explico. Aliás não só explico como exemplifico. Em termos geral os adeptos portugueses auguram quase sempre o desastre e decepção antes de uma competição, mas depois, em caso de sucesso, esses mesmo adeptos passam da desconfiança à confiança exarcebada, às vezes à primeira vitória. Mas não ganhando o jogo seguinte entram novamente em estado ‘depressivo’. É dessa ambiguidade, de passar do 8 para 80, e do 80 para o 8, num simples estalar de dedos.

Ah Éder é um cone… Golo do Éder…. Ah eu sabia que ele ia marcar

O rapaz que marcou o golo mais importante da história do futebol português foi provavelmente o mais ‘mal amado’ de sempre entre os convocados nacionais numa competição de selecções. Mais consensual que a convocatória de Ronaldo, Rui Patrício, Pepe… só mesmo a não convocatória de Éder. Quase unânime. Talvez 1% do adeptos portugueses, e isto contabilizando família e amigos! Havia razões para isso. Sim havia. Ou poucos golos e as exibições cinzentas iam ao encontro disso. Mas Fernando Santo decidiu levá-lo, não para ser titular ou opção regular, mas porque podia ser útil em ‘determinados’ momento… de ‘determinados’ jogos. E foi mesmo.

Por acaso vi o jogo no Terreiro do Paço, o local onde possivelmente estariam mais portugueses juntos a ver o jogo, a seguir a Saint Denis. Um pouco por todo o lado houve uma espécie de coro de críticas misturada com assobios. Principalmente um grupo que estava ao meu lado.

E eu? Eu fiquei calado pois o meu pensamento voou de imediato para uma reportagem que vi meses antes do início europeu. Pediram a um jornalista para simular um golo de Portugal na final. E que nesse relato ensaiado era um golo de Éder frente à França. E até timidamente, para não mal augurar, comentei com alguém que estava ao meu lado. Atenção que se fosse o seleccionador, naquele momento, mais facilmente punha o (na altura) novato Rafa que o Éder.

Voltando ao grupo de pessoas que estava ao meu lado. Uma dessas pessoas estava mais ‘desbocada’ e descontrolada nas críticas. Tanto que um indivíduo, que não o conhecia, deu-lhe com o capacete na cabeça! (felizmente sem consequências). Sim, deve ter sido o único momento que deixei de olhar para o ecrã gigante. Mais
comedido só voltou a reagir após o golo do Éder e enquanto festejava gritou alto: “Eu sabia! Eu sabia que era o Éder a resolver”. É dessa dissonância de comportamento que falo. Está tudo mal, mas mesmo se quem resolve é quem mais crítica, passa de besta a bestial num instante. Rapidamente passou de ‘cone’ e ‘patinho feio’ para o “gajo que os f… tramou”, cantarolada vezes sem conta.

Futebol como fenómeno social

Essa alteração de opiniões acontece não só no futebol. Mas consegue diferente no futebol. Em que outra actividade de ‘ajuntamento de grandes quantidades de pessoas’ se abraça alguém ao lado que não se conhece após um golo ou uma vitória apenas e só porque torcem pela mesma equipa? A miscelânea de emoções é muita, por vezes até demasiada. Um exemplo: no parágrafo acima falo do indivíduo do capacete que agrediu outro por estar farto de ouvir. Após o golo do Éder abraçaram-se os dois como se fossem os melhores amigos. Ao mesmo tempo que consegue ser mágico tem o reverso da medalha, que leva a comportamentos desviantes.

O desafio para essas mentalidades renovadas seria começar por gostar mais do futebol em si e não apenas e só da equipa pela qual torce e pensar que o resto será só para enfeitar ou (ainda pior) odiar.

Euro2020: “França, Alemanha no nosso grupo, mas vale nem irmos!”

Após o sorteio de há algumas semanas, que não pensou, disse ou ouviu alguém dizer. Meto as minha mãos no fogo que pelo menos uma destas hipóteses aconteceu com qualquer uma das pessoas que se tenha cruzado com este artigo. É típico. Quem se lembrar do Euro 2000, a reacção foi idêntica. Portugal no grupo da morte diante de Alemanha, Inglaterra e uma Roménia, que na altura era uma selecção significativamente mais forte do que a actual. Passámos a fase de grupo com 3 vitórias. No terceiro jogo, já com a passagem assegurada, rodámos a equipa e vencemos a Alemanha por 3-0, com um hattrick de Sérgio Conceição (no primeiro jogo vencemos a Inglaterra por 3-2 depois de estarmos a perder por dois golos – um jogo épico – e com a Roménia marcámos bem perto do fim).

Não fazemos futurologia para saber como vai correr, mas tal como há 20 anos atrás, o ‘velhos do Restelo’ que há dentro de ‘nós’ vem ao de cima. Nem será bem ‘sofrer por antecipação, será mais algo como ‘para evitar sofrer mais valia nem irmos’. Os mesmo que à primeira vitória vão dizer “vamos ser campeões” são os que gritam o famoso “eu sabia que ia ser assim” à primeira derrota.

De qualquer das formas, reza a história que Portugal contra equipas de maior reputação não raras vezes se transcende e, por vezes facilita com equipas em que tem maior responsabilidade. O importante é ter a noção que não é um resultado que faz de nós nem os melhores nem os piores do mundo, evitando a bipolaridade de quem passa do pessimismo deprimente ao optimismo exagerado. E vice-versa.

Por falar em Portugal campeão europeu…

Por falar em Portugal campeão europeu em 2016, lembrei-me de um pequeno texto que escrevi, a 12 de Fevereiro de 2018, após a selecção nacional de futsal se ter sagrado campeã europeia… também pela primeira vez.

Coincidências e felizes acasos

Há coisas que parecem tão destinadas a acontecer que mesmo por linhas tortas os ventos acabam por soprar a favor.

Ricardinho no mês passado revelou: “Cristiano Ronaldo sofreu muito até realizar o sonho de ser campeão europeu, durante a final levou uma pancada e ficou a sofrer até sermos campeões europeus. ESPERO QUE ACONTEÇA O MESMO”. E não é que aconteceu! Literalmente. Mas as coincidências não ficam por aqui.

Ambas as finais foram num dia 10. Ambos os jogadores nasceram no mesmo ano, foram considerados 5 vezes como melhor do mundo, são capitães e, nos últimos anos, semana após semana, fazem os espanhóis renderem-se ao seu talento, e num ano em que foram campeões europeus de clubes, cumpriram o sonho de o ser pela selecção.

(Bruno Costa Jesuíno – Fevereiro 2018)

Concluir o artigo com uma mensagem positiva. Sermos optimistas e não deixar de acreditar que os felizes acasos podem acontecer. Mas que quando não acontecem não é o fim do mundo.

Ah e claro, Bom Natal.

Ver vídeo original AQUI (SIC NOTÍCIAS)

Ver vídeo original em SIC NOTÍCIAS: https://sicnoticias.pt/desporto/2018-02-11-O-sonho-de-Ricardinho-aconteceu

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Bruno Costa JesuínoNovembro 28, 20198min0

Na última semana dois dos nomes mais badalados na imprensa têm vários pontos comuns. Ambos têm um personalidade muito própria. Ambos confiam muito nas suas capacidades. Ambos são dos melhores do mundo na sua função. E ambos fazem sonhar os adeptos de qualquer equipa equipa para a qual trabalhem (salvo uma ou outra excepção). Falamos, claro, da (re)aparição do ‘special one’ durante a consagração de Jorge ‘Alvares Cabral’ Jesus.

“Olé, olé-olé-olé, mister, mister” (Jesus)

Capa do Jornal Record

Jorge Jesus, tal como os (melhores) navegadores portugueses, depois de ‘descobrir’ um novo caminho caminho ‘comercial’ na Ásia, navegou, neste caso voou, rumo à conquista do continente sul americano, fazendo igualmente das terras de Vera Cruz a sua porta de entrada. Destaca-se desde já a primeira grande diferença: a recepção do ano 1500 a Pedro Álvares Cabral foi, pelo menos tendo em conta a documentação história, bem mais simpática do que a Jorge Jesus foi alvo (pela comunicação social, comentadores e treinadores brasileiros). Mas se o(s) primeiro(s) se impuseram pela ‘força’, o segundo foi convertendo os mais cépticos pela qualidade diferenciada do seu trabalho e até pela simpatia. Rapidamente se tornou um ídolo entre a nação rubro-negra, e alguns dos que mais o criticaram começaram a retratar-se.

E depois em 24 horas conquista dois títulos. Se o ‘brasileirão’ já era esperado pelo avanço pontual, a Taça dos Libertadores foi bem emocionante. A perder até perto do fim, aos 88 minutos (Oitchentcha e Otcho, como alguém diria) empatou o jogo. Mas a história mais bonita veio a seguir. Depois de perder duas finais continentais ao (outrora fatídico) minuto 92′ (já sem falar de uma Taça e uma liga portuguesa), Gabriel Barbosa bisa e dá o título ao Flamengo.

Ainda com o campeonato do mundo de clubes por disputar, já há quem peça um estátua de Jesus ao lado de Zico. Será caso para dizer: “Obrigado Jesus…”

‘(re)Special One’ está de volta

Depois de uma saída complicada há um ano do Manchester United, e quando os ‘profetas da desgraça’ já ditavam o seu ‘fim’, eis que José Mourinho regressa em grande para o mesmo campeonato e para um rival do. O ‘(re)Special One’ está de volta. E ‘(re)Special’ sem qualquer conotação negativa, mas sim porque depois de uma pausa sabática certamente que de alguma forma se ‘reciclou’, para mostrar o porquê de (continuar a) ser especial.

Habituado a fazer o que ‘há muito não é feito’ – liga dos campeões pelo Inter e pelo Porto e campeonato pelo Chelsea – Mourinho tem no Tottenham o desafio ideal para trazer os títulos que os adeptos ‘Spurs’ há muito almejam.

Sempre achei que estes 11 meses não seriam uma perda de tempo. Pude reflectir, analisar, preparar-me, antecipar cenários. Nunca perdemos a nossa identidade, somos o que somos, com as coisas boas e más. Não me perguntem quais foram os erros que cometi, mas apercebi-me de que cometi erros e não vou cometer os mesmos erros. Vou cometer erros novos, mas não os mesmos.

Por enquanto dois jogos, duas vitórias. Mas não é disso que vamos falar. Continua igual ao seu estilo e é também, por momentos como este (no vídeo abaixo) todos tínhamos saudades dele. Vá, talvez com excepção dos tais ‘profetas da desgraça’.

‘Muito mais é que os une que aquilo que os separa’?

Adaptando a letra canção de Rui Veloso na história do “Primeiro Beijo”, é ‘muito mais aquilo que os une que aquilo que os separa’.

O que os une…

Tanto Jesus como Mourinho são treinadores de autor. Isto é, ao longo da sua carreira sempre se diferenciaram pela forma como (quase) sempre tentaram trazer coisas novas ao futebol das equipas por onde passam. E devido a isso foram deixando, de certa forma, um legado. O ‘special one‘ foi totalmente disruptivo desde que se assumiu como treinador principal. A forma de ver um futebol como um todo – parte técnica, táctica e mental – e com um forma de liderança que retira o máximo de cada jogador do plantel. Jorge Jesus é de outra ‘escola’. Começou como treinador principal nas divisões inferiores, chegou bem mais tarde a clubes de topo, mas rapidamente impôs o seu futebol: dinâmico, a saber defender bem e com poucos, fazendo da sua transição ofensiva um autêntico ‘rolo compressor’ e, muitas vezes, com ‘nota artística’ (expressões que entraram no léxico do futebol desde a sua passagem pelo Benfica). Além disso, ficaram famosas algumas das adaptações de sucesso que fez com Enzo Pérez, Fábio Coentrão, João Mário e, mais recentemente, Willian Arão e Gerson.

Ambos quebraram também alguns ‘tabus’. Lembro-me, ainda na altura que Mourinho treinava o Porto, muito se falava sobre dois jogadores com características de número 10 jogarem ao mesmo tempo. Mourinho chegou a jogar com três jogadores com essas características ao mesmo tempo: Deco, Alenitchev e Carlos Alberto. Mostrou que com os posicionamentos certos, há sempre espaço para o talento. Jorge Jesus, anos antes de chegar o Benfica, começou a utilizar como sistema primordial o seu 442 muito dinâmico. Após o primeiro ano de muito sucesso nos ‘encarnados’, muitos foram os treinadores em Portugal que começaram a usar o mesmo sistema. Numa altura que em Portugal todos jogavam em 433 ou 4231, de há alguns anos para cá, o 442 é dos sistemas mais usados na nossa liga. Antes era visto como um sistema demasiado ofensivo, mas o ‘mestre da táctica’ provou que com as dinâmicas certas pode ser bastante equilibrado.

A vez número 3. Se para JJ a terceira (final de uma prova continental) foi de vez, para Mourinho é o terceiro clube inglês no seu currículo.

O que os separa… (ou não!?)

Apesar de ambos terem crescido no futebol têm ‘escolas diferentes’. Jorge Jesus, após boa carreira no futebol profissional (chegando a jogar no Sporting), rapidamente se tornou treinador. Aprendeu a criar os seus próprios métodos e foi aprimorando ao longo dos anos. Começou em divisões inferiores e foi subindo até ao topo. Já Mourinho, não tendo o mesmo sucesso como jogador, desde criança que acompanhou sempre de perto um guarda-redes (e depois treinador) de sucesso: Félix Mourinho, o seu pai. Sempre ligado ao futebol, nunca largou os estudos e teve também formação académica. Posteriormente lançou-se em clubes de topo, mas primeiro como treinador adjunto, passando por Porto e Barcelona.

Sendo ambos grandes entendidos no futebol, as competências de comunicação e liderança sempre foram duas grandes características associadas a José Mourinho… e criticadas em Jorge Jesus. Mas enquanto JJ tem sido elogiado na evolução dessas duas valências, principalmente nos últimos dois anos, Mourinho foi muito criticado, especialmente, na passagem pelo Manchester United.

Patrick Vieira, que foi treinado pelo ‘special one’ no Inter, abordou essa situação há dois anos.

Se calhar, os jogadores que tem agora não são tão receptivos à sua mensagem, são mais jovens e a geração mudou completamente. No Inter tínhamos um plantel mais velho e muito experiente e Mourinho soube lidar muito bem com isso. Os jogadores mais jovens talvez tenham medo de dizer aquilo que pensam e isso pode dificultar as coisas.

O próprio Mourinho, nos últimos tempos, também se referiu às diferenças comportamentais e sociais dos ‘jogadores do agora’ em relação aos ‘jogadores da geração anterior’. Dando a entender que a sua forma de gerir o balneário que tantos êxitos lhe trouxe poderá sofrer alterações. Admitindo ainda que durante este tempo de interregno aproveitou para fazer uma “análise profunda”.

Sou humilde o suficiente para analisar a minha carreira e todos os problemas que aconteceram. Fui muito longe na minha análise e percebi que não havia mais ninguém para culpar. Durante a minha carreira cometi vários erros. Não vou cometer os mesmos erros, vou cometer erros novos», atirou aos jornalistas.

O que esperar do futuro de Jorge e de José?

Não se sabe se Jorge chegará algum dia a um clube que lute pela Liga dos Campeões ou se Mourinho voltará a ganhar alguma, no entanto também existem certezas. Ambos foram (são) revolucionários, deixaram (deixam) seguidores, partilham a mesma sede de sucesso e nunca se deixarão adormecer à sombra do sucesso. Aproveitando a confissão de JJ a respeito da música que actualmente mais o inspira, podemos arriscar tanto um como outro não têm dúvidas que: ‘O melhor de mim está para chegar’

É preciso perder para depois se ganhar
E mesmo sem ver, acreditar
É a vida que segue e não espera pela gente
Cada passo que dermos em frente
Caminhando sem medo de errar
Creio que a noite sempre se tornará dia
E o brilho que o sol irradia
Há-de sempre me iluminar.

 

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Virgílio NetoSetembro 28, 20193min0

O Brasil não teve a tradição de Portugal em relação aos diários desportivos, mas uma revista semanal cuja história confunde-se com o desporto-rei no país sul-americano: a "Placar" teve e tem papel fundamental para o futebol brasileiro.


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