Stranger Rules: E se houvesse um árbitro… goleador?

Rui MesquitaOutubro 5, 20195min0

Stranger Rules: E se houvesse um árbitro… goleador?

Rui MesquitaOutubro 5, 20195min0
Brian Savill é o protagonista desta história caricata e engraçada de como um árbitro de futebol esticou as regras para se tornar num goleador! Descobre tudo aqui!

Quando falamos em futebol e quando falamos em golos, vários nomes nos vêm à cabeça: Cristiano Ronaldo, Lionel Messi, Ronaldo, Pelé, etc.. Mas talvez devêssemos incluir nesta lista o nome Brian Savill. Quem? Brian Savill era árbitro nas divisões inferiores em Inglaterra e tornou-se goleador. Sim, um árbitro goleador.

O jogo era entre Wimpole 2000 e Earls Colne Reserves no ano de 2002. Brian Savill era o árbitro da partida, mas nada fazia prever que este jogo e este árbitro entrariam para a história e para um artigo do Fair Play. O jogo em si também foi histórico já que o resultado final foi 20-2 a favor do Earls Colne. Apesar disso, o grande momento do jogo ocorreu quando o jogo estava 18-1.

O golo e a regra

Depois de a bola bater na cabeça de um jogador, Brian Savill apanhou a bola a pinchar e aplicou um “vólei” que só parou no fundo das redes. Um golo que, segundo contam (infelizmente não há vídeos desse momento), foi bem marcado e um bom golo. A surpresa aumentou quando Savill correu a festejar o golo marcado. Toda a gente acabou por achar o momento engraçado e todos os presentes riram, principalmente porque o árbitro marcou a favor do Wimpole 2000, reduzindo para 18-2.

Mas a pergunta que se levanta é: o golo é válido? Se um árbitro marcar golo, esse golo tem que contar? Sim, segundo as regras do futebol “A bola está em jogo em todos os outros momentos, incluindo quando esta ressalta (bate) no árbitro ou num assistente quando estes se encontram dentro do terreno de jogo.”.

Brian Savill passou a ser uma lenda do futebol inglês (Foto: The Independent)

Claro que Brian Savill deu um passo extra, esticando esta regra e aquilo que ela pretende legislar. A regra refere-se, claro, a bolas que, num passe ou remate de um jogador, bata no árbitro. Savill afirmou que o remate foi “um resultado do momento que não consigo explicar”. Esticar a regra de “ressalto” para “remate” parece demasiado mas está dentro das regras.

O golo contou, Savill foi falado durante semanas mas depois aconteceu algo que o árbitro não estava à espera. A Federação regional suspendeu-o por 7 semanas. Um castigo pesado por uma ação pesada. Um árbitro marcar um golo, interferir no jogo, ser parcial numa partida deve ser severamente punido.

Brian Savill discordou. O árbitro assumiu que não devia ter marcado o golo mas disse que “foi tudo com boa intenção”. Savill assumiu ainda que se arrepende porque nunca pensou que a sua ação levasse a uma punição tão severa. Por outro lado, disse ainda que se sente orgulhoso do golo porque trouxe alegria a todos os presentes.

Revoltado com a decisão, Savill demitiu-se da arbitragem. Phil Sammon, diretor executivo da Associação de Futebol do Condado de Essex disse que a Associação considerava a decisão justa e o castigo apropriado para a ação de Savill.

Justiça e perguntas futuras

Mas terá sido justa? A verdade é que o jogo estava 18-1, aborrecido e desnivelado, sem nada para ver. Savill tornou o jogo memorável e interessante, para além de nivelar um pouco o resultado. É injusto para a equipa do Wimpole 2000 que, em cima da goleada, viveu com a ideia de que metade dos seus golos naquele jogo foram marcados pelo árbitro. Mas tirando isso, o golo foi inofensivo. Claro que a Federação Inglesa quis mandar uma mensagem e evitar que o caso se repetisse e se criasse o mito de árbitros nivelarem ou decidirem jogos.

Savill faleceu em 2014, mas o seu nome será para sempre lembrado, para além do homem generoso e dedicado que dizem ser, como uma lenda do futebol. O seu nome será sempre lembrado como “o árbitro goleador”.

Como seria a reação a um incidente destes em 2019? (Foto Gazette News)

Este caso e esta história levam-nos a questionar outras coisas. Como reagiriam os adeptos portugueses a um caso destes? Com uma arbitragem tão criticada, o caso seria tão bem aceite pelos adeptos como foi em Inglaterra? Talvez um caso destes até ajudasse a desmistificar o papel e a personagem do árbitro, mostrando, como Savill disse acerca do caso, que “a arbitragem pode ser divertida” e que “os árbitros não são Hitlers a correr pelo campo sempre a apitar”.

Outra questão é: como lidaria a Federação Portuguesa com isto? Teria mão (ainda mais) pesada com o árbitro ou levaria o caso como uma brincadeira correndo o risco de criar um monstro em divisões inferiores?

E, uma questão ainda mais pertinente: em que desporto seria mais engraçado isto acontecer? Que tal um árbitro de basquete apanhar um ressalto e lançar um triplo direitinho ao cesto? Ou um juiz de ténis descer da cadeira e matar uma bola na rede? Ou árbitro de rugby apanhar uma bola perdida e correr todo o campo até fazer um ensaio? Esta deixamos para o leitor responder, nos comentários a este artigo.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS