Arquivo de Basquetebol feminino - Fair Play

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José AndradeOutubro 8, 20237min0

Com o anúncio do regresso do basquetebol feminino no Sporting CP, notícia que marca a atualidade do basquetebol nacional, vamos olhar para a história do basket no feminino no clube de Alvalade.

Ambições elevadas em busca do topo nacional

Uma das notícias que mais marcou este verão, foi o regresso do basquetebol feminino no Sporting CP, em algo que será o regresso do clube de Alvalade ao feminino na bola laranja vários anos depois, mas quando é que tudo começou no Sporting?

É preciso recuar até 1935 para o surgimento do basquetebol feminino no clube Lisboeta. Estamos a falar dos primeiros anos da bola laranja em Portugal e quando no masculino já se jogava e discutiam competições há oito anos, a Associação de Basketball de Lisboa decidiu organizar o Torneio Feminino de Lisboa com o Sporting CP a ser um dos 6 clubes a entrar nesta competição com intenção de arrancar aqui a sua aposta no feminino, a verdade é que quando a competição arrancou o Sporting não apareceu, sem qualquer razão o clube de Alvalade não foi a jogo e assim pela primeira vez a aposta na vertente feminina terminou, neste caso ainda antes de começar a jogar oficialmente. A verdade é que em 1937 o clube voltou a tentar apostar no feminino, conseguindo mesmo reunir equipa e ir a competição na época de 1937/1928 no Torneio que em 35 havia faltado. Equipa que contava com entre outras jogadoras, Margarida Salazar Correia filha do mítico Salazar Correia um dos maiores nomes da história do Sporting CP. Falando dos resultados, mesmo com uma aposta maior, o conjunto sportinguista acabou por não conseguir os melhores resultados e por isso mesmo na época seguinte o clube de Lisboa já não avançou com equipa terminando assim com o basquetebol feminino, desta vez de forma definitiva e fruto dos resultados menos conseguidos.

Muitos anos se passaram e depois de duas décadas, o Sporting CP voltou a apostar no feminino. O ano era o de 1955 e os dirigentes sportinguistas tentavam aqui que fosse desta vez que tudo se consolidasse e que o projeto arrancasse. A verdade é que o começo foi muito promissor, com o Sporting a surgir com 2 equipas, uma participando no Campeonato Regional onde ficou nos primeiros lugares e outra num Torneio que o próprio Sporting organizou com participação de mais alguns clubes de Lisboa. O sucesso parecia estar eminente, na época seguinte ainda ficou mais próximo quando as atletas do Sporting conseguiram um vice-campeonato só perdendo com o Belenenses na final do Campeonato Regional. Nesta altura o Sporting CP começava a consolidar-se no basquetebol feminino nacional apresentando um dos melhores conjuntos no nosso basket, a verdade é que nem mesmo o sucesso e a qualidade do grupo ajudou a que o projeto continuasse, uma vez que logo depois desta época o clube de Alvalade voltou a terminar com o basquetebol feminino, deixando assim para trás o que prometia ser um dos grupos mais fortes e capazes de conseguir muitas conquistas para o museu de Alvalade.

De tentativa em tentativa tem sido feita a vida do basquetebol feminino do Sporting e os anos 60 trouxeram um momento de regresso e extinção com depois anos de sucesso. Isto porque em 1964 existiu o regresso do basket feminino em alvalade, a verdade é que este regressou durou apenas alguns meses, a equipa nem chegou a competir tudo devido aos problemas que o clube vivia, talvez um dos piores da história da instituição. Anos mais tarde tudo mudou, quando em 1967 já com o clube numa situação mais tranquila, o basquetebol feminino regressou vivendo aqui o período de maiores sucessos para a secção em Alvalade. A aposta no regresso do basquetebol feminino para treinador recaiu em José Lacerda que foi campeão em diversos escalões da formação pelo Sporting em basquetebol, ele que liderou a equipa conseguindo títulos e momentos marcantes, tais como o 3º lugar no Campeonato de Lisboa em 67/68 vencendo o primeiro dérbi da historia da secção frente ao SL Benfica. Lacerda ajudou a cimentar o basquetebol feminino, sendo substituído por Edgar Vital que deu continuidade ao trabalho feito ajudando a equipa a dar um passo em frente.

Edgar Vital é uma figura do basquetebol nacional e alguém com um peso grande na história do Sporting CP, ele que ao comando da equipa conseguiu em 1968/1969 ir à final do Campeonato Nacional da 2ª Divisão, perdendo na final apenas numa temporada histórica para o clube de Alvalade. Na época seguinte, chegou o título nacional, o primeiro da história do Sporting conseguindo dessa forma chegar à tão ambicionada 1ª Divisão Nacional. Chegando ao topo do basquetebol feminino nacional, o Sporting CP conseguiu ficar em segundo lugar em 1972/1973, chegando ainda até às meias-finais da Taça de Portugal. Só que em 1974 uma época menos bem conseguida levou a que a direção tomasse a decisão de encerrar novamente o basquetebol feminino no Sporting CP mesmo quando a equipa era uma das melhores em Portugal e tinha as conquistas uma vez mais muito perto de acontecerem.

Muitos anos se passaram e o Sporting CP continuava sem equipa feminina, algo que só mudou em 2012 quando Edgar Vital decidiu juntamente com Carlos Sousa e Jaime Brito da Torre fazer regressar a modalidade ao clube de forma autónoma. Esta gestão feita pela Associação de Basquetebol do SCP viu entrar ainda Juvenal Carvalho. Nos primeiros tempos a aposta foi em alguns escalões de formação e numa equipa feminina que foi conseguindo pouco a pouco crescer. Tudo mudou quando em 2014/2015 a equipa conseguiu a subida à 1ª Divisão Nacional, o nosso CN 1ª Divisão que tanto falamos aqui, ai ainda surgiu Pedro Antunes que assumiu o comando da secção levando a uma nova aposta no basquetebol. Com tudo isto, o Sporting nesta temporada venceu o Campeonato Nacional da 1ª Divisão conseguindo assim décadas depois uma conquista Nacional e o regresso à Liga Feminina.

Depois de tudo isto e de mais uma vez um período conturbado em Alvalade e mesmo depois de terem conseguido a manutenção numa época complicada para a equipa, o clube com a entrada da nova direção liderava por Bruno Carvalho acabou uma vez mais com o basquetebol feminino aquando da reformulação do basket em Alvalade que apostou ainda mais na bola laranja, mas apenas na formação encerrando desta forma a equipa feminina de uma forma também ela envolvida em polemica.

A verdade é que este verão trouxe a fantástica noticia do regresso do basquetebol feminino no Sporting CP que sob o comando de João Pedro Vieira irá competir no Cn 2ª Divisão.  

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José AndradeJaneiro 24, 20235min0

Regressamos com o nosso espaço onde vamos recordar a história do basquetebol feminino nacional indo desta vez para aquela que foi a primeira jogadora portuguesa a atuar no basquetebol universitário dos Estados Unidos da América, falamos claro de Vera Jardim e por isso venham e recordem connosco o percurso de uma das melhores de sempre.

Vera Jardim nasceu a 11 de junho de 1971, tornou-se numa das pioneiras do basquetebol feminino nacional e numa das melhores de sempre. Tudo começou no colégio Valsassina, foi aí que surgiu o primeiro contacto com a bola laranja, mas a verdade é que desde sempre mostrou apetência e gosto por desporto tendo sempre experimentado e praticado outras modalidades como o futsal ou voleibol. Porém, foi o basquetebol que mais a apaixonou, uma escolha e um amor que viria a ser para a vida toda e onde iria ter um peso grande na história da modalidade. Com o “bichinho” surgiu o próximo passo, que passou pela ida para o histórico CIF, clube mítico e que contava como algumas das maiores referências de sempre como o histórico e gigante Vítor Hugo. No CIF foi onde começou a criar o seu palmarés, através da conquista do titulo nacional de sub-19 e ainda de seniores.

O talento de Vera Jardim cedo deu nas vistas, logo nos primeiros anos já era apontada como uma das maiores promessas do nosso basquetebol, a juntar a isso a conquista de títulos onde Vera Jardim ia sempre sendo um dos maiores destaques, brilhando e mostrando que estávamos perante alguém que viria a ser um dos nomes mais reconhecidos e importantes no basquetebol nacional. Para além do talento, Vera Jardim era uma ótima aluna, por isso e somando o destaque nas duas áreas, a jovem procurou novos desafios tentando sempre conciliar estudos e o basquetebol, surgindo a hipótese de ir para os Estados Unidos da América, algo que se viria a concretizar. Dessa forma Vera Jardim esteve ao mais alto nível do outro lado do oceano atlântico durante 3 anos tornando-se assim a primeira jogadora portuguesa a atuar no basquetebol universitário dos Estados Unidos abrindo as portas para o que viria a ser um êxodo que hoje felizmente é cada vez maior para os grandes talentos nacionais.

Depois da aventura fora onde brilhou, Vera Jardim regressa a terras lusas para atuar ao mais alto nível até 2005-2006 no Quinta dos Lombos, passando dessa forma por clubes de topo como o União de Santarém, Clube Desportivo Nacional, Clube União Micaelense, Olivais FC, GDESSA e a Quinta da Lomba, trazendo dessa forma a sua experiência e aprendizagens nos anos em que esteve nos Estados Unidos da América para a nossa liga, influenciando ainda mais jogadoras, marcando gerações de atletas e de fãs além da conquista de títulos, algo que sempre marcou a carreira de Vera Jardim. Entre todos estes clubes, a atleta portuguesa conquistou diversos títulos como, tendo regressado em grande a Portugal ao conquistar Taça e Supertaça em Santarém. Falando do percurso pelas seleções nacionais, Vera Jardim passou por todas as seleções, desde as sub-16 até às seniores, num total de 114 internacionalizações por Portugal sendo desta forma uma das jogadoras que mais vezes representou Portugal com a camisola das Quinas.

Depois de uma carreira histórica como jogadora, a lenda nacional conta com um percurso no basquetebol feminino jovem como treinadora onde passou pelo Olivais FC ou GDESSA passando dessa forma os seus conhecimentos para figuras que hoje marcam o basquetebol nacional, influenciando assim ainda mais pessoas num percurso que contou com passagens por escalões como as sub14 e sub16.

Desde o primeiro treino no CIF até hoje, ficou um percurso histórico, uma carreira magnifica de uma das melhores de sempre. Vera Jardim não só marcou e influenciou muitos, como foi uma das grandes a praticar este nosso desporto, mas mais do que o grande talento, os títulos ou a influência que teve e tem em muitos, Vera Jardim marcou um capítulo novo no basquetebol nacional, ao inaugurar a ida de craques portuguesas para os Estados Unidos da América, algo que até então era apenas um sonho e que Vera Jardim ajudou a que se tornasse a realidade que hoje em dia é a normalidade. Em mais um capitulo do nosso “recordar a história do basquetebol feminino” falámos de Vera Jardim, um nome gigante que marcou uma geração, que ajudou a mudar a realidade do basquetebol feminino, além de uma enorme e talentosíssima jogadora, fica toda a história que ajudou a ser feita na bola laranja nacional, uma personalidade que ganhou o estatuto de uma das melhores de sempre por tudo o que nos proporcionou dentro de campo e por tudo o que fez fora de campo.

Vera Jardim é um dos maiores nomes de sempre do nosso basquetebol e foi sobre toda a sua carreira que hoje nos debruçámos, recordando uma vez mais uma das melhores de sempre do basquetebol nacional.


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