Rugby Europe Trophy 2023: a prestação dos “Lobas” pt.1

Francisco IsaacAbril 18, 20235min0

Rugby Europe Trophy 2023: a prestação dos “Lobas” pt.1

Francisco IsaacAbril 18, 20235min0
Francisco Isaac analisa a campanha 100% vitoriosa das "Lobas" no Rugby Europe Trophy 2023, num artigo dividido em duas partes

Portugal conquistou o Women’s Rugby Europe Trophy 2023, um ano depois da equipa de XV ter regressado à actividade, e com a promoção ao Championship garantido – onde espera Espanha, Países Baixos e Suécia – é altura de olhar para o que foi esta temporada, num artigo de duas partes, com a primeira a dedicar-se a números individuais, destaques de equipa e muito mais, recorrendo a números e a estatísticas para tal!

NÚMEROS QUE CONTAM UMA EVOLUÇÃO

As “Lobas” garantiram quatro vitórias em quatro jogos, tendo começado a temporada a derrotar a Bélgica em 2022, naquela que foi a maior vitória na competição (71-05), para somar mais 10 pontos em “casa” frente a Finlândia (39-00) e Chéquia (51-00), terminando a campanha na Alemanha (20-05). 100% vitoriosa e, melhor que tudo, a selecção nacional sénior feminina só consentiu dois ensaios em quatro jogos, marcando 30 ensaios e no qual atingiu a meta de 183 pontos, demonstrando total domínio em cada encontro.

Os números são avassaladores, e argumento a favor da subida de Portugal à principal divisão de rugby feminino das competições organizadas pela Rugby Europe, uma vez que após duas épocas no Trophy, ficou mais que provado a diferença entre Portugal e as restantes adversárias.

Entre os números mais curiosos e que merecem um destaque, vai para o facto das “Lobas” terem feito os 30 ensaios numa média de 4 fases, conseguindo trabalhar com qualidade a oval, onde os piques curtos ou o contacto mais directo forçou sucessivos erros na linha-de-defesa contrária, que ao recuar, acabou por dar espaço para se seguir um novo arranque de uma avançada para chegar à linha-de-ensaio, ou abrir a oval e surgir uma oportunidade nas linhas-atrasadas. Sete ensaios vieram de primeira-fase, quatro dos quais nasceram de alinhamentos (2, ambos com Sara Moreira a sair rapidamente do maul e aproveitar uma distração da equipa opositora) ou formação-ordenada, com as “Lobas” a ter seguido rápido em três ocasiões para apanhar desprevenidas as equipas contrárias, e atingir a linha-de-meta.

Curiosamente, só três ensaios nasceram/tiveram envolvimento do jogo ao pé, com apenas um grubber a ter servido para chegar a 5 pontos, neste caso esboçado por Daniela Correia, que acabou por ir parar às mãos de Inês Spínola. A selecção nacional feminina mostrou-se totalmente à vontade com a oval nas mãos, procurando dar velocidade e “vida” à bola, fazendo uso de um maior poder de aceleração e uma agilidade mais desperta, algo que colocou Chéquia e Bélgica completamente “perdidas” em campo.

19 dos ensaios foram marcados por unidades da linha de três-quartos, com os restantes 11 a advirem da avançada, com Sara Moreira (bela temporada da nº8) a chegar por mais vezes à linha-de-ensaio, sendo que foram as pontas a marcar mais ensaios na totalidade, já que Inês Spínola, Matilde Goes, Mariana Santos e Yara Fonseca concretizaram 9 oportunidades a favor das “Lobas”.

O desenvolvimento da equipa foi extremamente positivo, mas será que temos um número reduzido de atletas, ou a selecção nacional feminina tem uma boa linha de soluções para o agora?

UMA “POOL” DE ATLETAS EXTENSA… E PROMISSORA

João Moura lançou 35 atletas durante o Rugby Europe Trophy 2022/2023, com algumas estreias e retornos a fazerem-se ouvir ao longo de uma competição, sendo um grupo de trabalho extenso e que traz boas novidades a favor das “Lobas”, isto quando em 2024 vamos ter esta equipa a disputar um torneio mais competitivo e intenso.

Das 35 atletas utilizadas, notar que apenas 5 foram titulares durante toda a competição, com Sara Moreira, Leonor Amaral (belíssima formação, principalmente no injectar velocidade e aceleração à posse de bola), Laura Pereira, Maria Costa e Daniela Correia (foi sempre das atletas mais clarividentes na equipa) a terem mantido o seu lugar do principio ao fim.

Algumas lesões acabaram por impedir certas atletas de obter mais jogos no XV inicial, contudo isto permitiu a jogadoras como Matilde Goes, Beatriz Oliveira ou Carlota Torres em ter boas oportunidades para agarrar um lugar no 23, com destaque para a jovem ponta do SL Benfica, que foi protagonista de uma das melhores prestações individuais do Rugby Europe Trophy, isto frente à Chéquia.

Em termos de impacto individual – vamos deixar a atribuição das melhores jogadoras para a segunda parte deste artigo -, Daniela Correia foi a melhor marcadora com 39 pontos, desdobrando-se em 2 ensaios, 13 conversões e 1 penalidade, para além de ter assistido colegas de equipa em quatro ocasiões diferentes. Sara Moreira fez um poker de ensaios, com Matilde Goes, Mariana Marques (decididamente é uma jogadora diferenciada e que faz uma parelha de centros de incrível qualidade com Maria Costa), Inês Spínola e Ana Freire a conseguirem um trio, sendo que a nº8 foi fundamental para conquistar sucessivas linhas-de-vantagem, fabricando boas chances de ataque para as “Lobas”.

A parelha de médios, em que Leonor Amaral e Beatriz Oliveira foram a combinação mais utilizada durante a competição, ofereceu boas ideias e soluções ao ataque de Portugal, com a formação a ser uma atleta especial e que realmente pode abrir “portas” de várias formas e feitios, seja no seguir rápido uma penalidade, ou efectivamente a tirar a bola do chão e abrir velozmente para as unidades nas linhas-atrasadas. Juntas, foram responsáveis por 7 assistências para ensaio, 10 passes para quebras-de-linha de colegas de equipa, impondo um belo jogo à mão.

Na segunda-parte vamos olhar para as melhores atletas da temporada, perceber o impacto do seleccionador nacional na forma de jogar das “Lobas” do XV, e o que nos reserva o futuro.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS