Rugby Europe Championship 2023: a prestação dos “Lobos” pt.1

Francisco IsaacMarço 22, 20237min0

Rugby Europe Championship 2023: a prestação dos “Lobos” pt.1

Francisco IsaacMarço 22, 20237min0
Portugal conquistou o 2º lugar no Rugby Europe Championship 2023 e Francisco Isaac analisa as exibições dos "Lobos" em 3 partes

Portugal realizou a sua 2ª melhor campanha de sempre num Rugby Europe Championship, conquistando o segundo lugar em 2023, numa edição onde derrotaram Espanha e Roménia por números sólidos, deixando boas prespectivas não só para o Campeonato do Mundo, mas também para o futuro, e é com esse pensamento que analisamos ao pormenor as exibições, resultados, e dados dos “Lobos” nesta competição. Nesta primeira parte vamos olhar para quem foram os jogadores utilizados, prestações individuais e evolução de 2022 para 2023.

GRUPO EXTENSO… MAS BASE PARECE ESTAR MONTADA

Patrice Lagisquet e a equipa técnica nacional utilizaram 36 jogadores diferentes durante as 5 semanas de jogo do Rugby Europe Championship, com o seleccionador nacional a ser obrigado, em alguns momentos, a ser forçado a trocas no XV ou 23 devido à indisponibilidade de alguns jogadores devido a compromissos de clube (caso de Samuel Marques, Raffaele Storti ou Mike Tadjer, devido aos seus emblemas estarem em momentos críticos da temporada) ou lesões (Nuno Sousa Guedes, por exemplo, teria sido utilizado em todos os jogos não fosse pela lesão sofrida no cúbico ante a Espanha na meia-final).

No meio desta longa lista de escolhas, só duas estreias foram promovidas, ambas na primeira-linha com António Santos e Pierre Fernandes a ganharem as suas primeiras internacionalizações, mostrando que o grupo de trabalho está bem definido, não existindo grande espaço para alterações e/ou estreias. Dos 36 atletas utilizados, 22 pertencem aos avançados, enquanto os restantes 14 vêm dos dos 3/4’s, com apenas José Madeira, Vincent Pinto e Thibault de Freitas a serem os totalistas em número de jogos, mas nenhum atleta permaneceu a totalidade dos 80 minutos em todos os jogos da competição – Vincent Pinto foi quem somou mais minutos com 389 no total.

Para além destes três, e como podem ver pela tabela, só outros cinco atletas cumpriram os 5 jogos, com destaque para David Costa, o jovem pilar do GD Direito, que tem conseguido ganhar espaço para se afirmar ao mais alto nível com boas exibições frente à Roménia, por exemplo, tendo sido até um dos melhores placadores da temporada com 45 placagens efetivas e somente uma falhada!

Jogadores nucleares para a qualificação para o Mundial como Mike Tadjer, Samuel Marques, Steevy Cerqueira, Francisco Fernandes ou Raffaele Storti jogaram largamente menos em comparação com as temporadas de 2021 e 2022, e isso se explica pelo facto deste Rugby Europe Championship 2023 não ser decisivo para atingir outros objectivos maiores, com o diálogo entre os jogadores, clubes e selecção nacional a ser “saudável”. Em comparação com 2022, Patrice Lagisquet foi forçado a fazer mais trocas, com mudanças constantes ao XV, tendo até que adaptar certos jogadores a outras posições, como José Madeira (jogou na 3ª linha frente à Geórgia) ou Tomás Appleton (abertura ante a Espanha), permitindo desenvolver planos B e C no caso de se suceder alguma lesão durante o próximo Campeonato do Mundo.

Independentemente das baixas e alterações forçadas, é perceptível quais vão ser os 32 convocados para França 2023, com só dois ou três dúvidas ainda a pairarem no ar, especialmente na primeira-linha, segunda-linha e pontas.

O QUE NOS DIZEM OS DADOS

Em relação a números, a tabela dos convocados revela-nos já algumas coisas, como os marcadores de ensaios e assistências, mas podemos fazer umas quantas notas e observações. Comecemos por este pormenor: Tomás Appleton e José Lima assistiram um total de 8 vezes, marcando ainda um ensaio cada, para além de ter realizado 9 quebras-de-linha. Esta combinação de elementos estatísticos revela-nos que o par de centros dos “Lobos” é fulcral na forma como a equipa ataca a o bloco adversário, expande a sua manobra ofensiva, e força a maioria das primeiras roturas na linha de defesa contrária, abrindo espaço para o três-de-trás partir para jogadas de perigo extremo com outra facilidade.

Rodrigo Marta, Vincent Pinto e Nuno Sousa Guedes representaram 14 ensaios dos 28 marcados por Portugal, uma prova viva que este três-de-trás funcionou excelentemente bem durante toda a competição, sendo importante adicionar o impacto de Simão Bento (quatro quebras-de-linha, sete defesas batidos e duas assistências), Manuel Cardoso Pinto (cinco quebras-de-linha, quatro defesas batidos e uma assistência) e Raffaele Storti (duas quebras-de-linha nos poucos minutos que jogou na compeitção).

Curiosamente, neste Rugby Europe Championship não tivemos qualquer ensaio a partir da formação-ordenada, apesar desta só ter sido forçada a cometer quatro penalidades durante todo o torneio. Por outro lado, o alinhamento levou a sete ensaios dos “Lobo”, com Lionel Campergue a ter sido o jogador a tirar maior proveito dessa fase-estática, já que marcou dois ensaios de maul – os mesmos que Duarte Diniz- e também assistiu Pedro Bettencourt para o primeiro ensaio do centro frente à Roménia. Porém, o alinhamento sofreu problemas de eficácia quando Mike Tadjer não estava no grupo de trabalho, exceptuando-se no encontro frente à Roménia, em que Lionel Campergue e Duarte Diniz se mostraram a bom nível, não conseguindo repetir a dose frente à Espanha.

Para terminar o capítulo dos ensaios, há outro pormenor importante para perceber como a veia criativa e matreira ajudou à selecção nacional chegar ao ensaio: Samuel Marques e Pedro Lucas marcaram três ensaios a partir do ruck, ludibriando os adversários nesta fase espontânea, conseguindo ainda criar duas quebras-de-linha e assistir para outros 5 pontos. Isto significa que Portugal consegue efectivamente criar perigo a partir de qualquer plataforma de ataque, colocando a oposição sempre em sobressalto, um ponto que pode vir a ser essencial para surpreender no Campeonato do Mundo.

E no aspecto defensivo, que dados temos? Portugal foi a 2ª melhor defesa no Rugby Europe Championship no que toca à eficácia de placagem com uns espantosos 92,68%, realizando 494 placagens efectivas para só 39 tentativas falhadas. José Madeira, Nicolás Martins e David Costa foram os principais placadores dos “Lobos”, com o 2ª linha e pilar a terem falhado uma única placagem, enquanto o 3ª linha não errou uma única tentativa. Adicionar ainda que nos 36 jogadores utilizados durante o Rugby Europe Championship 2023, um total de 25 turnovers foram realizados, com Thibault de Freitas, José Madeira e Nicolás Martins a terem protagonizado 4 cada.

E, finalmente, disciplina… como esteve Portugal nesse parâmetro que em 2022 foi um dos problemas críticos do elenco de Patrice Lagisquet? Boas notícias! Os “Lobos” foram a equipa com menos penalidades cometidas durante todo o torneio, totalizando um total de 31 faltas, com 11 a terem sido frente à Bélgica e apenas 3 frente à Polónia, isto quando falamos de máximos e mínimos. David Costa foi o jogador que mais faltas cometeu (4), seguindo-se Tomás Appleton (3) e José Madeira (3), não sendo um dado preocupante.

Na segunda parte iremos ver como foram marcados os ensaios de Portugal, as principais novidades na forma de jogar e, também, as debilidades, e quão bem funcionaram as plataformas de jogo dos “Lobos”, sendo que na 3ª parte faremos as nomeações dos melhores do Rugby Europe Championship 2023.

Nota final importante: iremos também analisar a performance da Women Rugby Europe Championship 2023 depois das “Lobas” concluírem a campanha, faltando ainda se jogar o encontro ante a Alemanha.


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