Roménia, promoção e um futuro de dúvidas no Rugby Championship
UM ANO NEGRO PARA A HISTÓRIA DA RUGBY EUROPE
O Campeão português de rugby só foi encontrado em Setembro de 2018, cinco meses depois da suposta data da final original e esta situação deveu-se aos problemas técnicos e jurídicos resultantes dos desacatos da meia-final do CN1 (agora Divisão de Honra) de 2017/2018. Ironicamente, esta “gaguez” momentânea do rugby nacional coincidiu com semelhantes problemas a nível de selecções da Rugby Europe, com a Roménia, Espanha e Bélgica a incorrerem em infracções e castigos após utilização indevida de jogadores.
Com o “circo” montado, a Rugby Europe demonstrou uma falta de capacidade de célere resolução num assunto que não foi só da responsabilidade das federações já supra mencionadas, como também da própria instituição europeia que facilitou no uso destes atletas, sem ter tomado a devida atenção aos pormenores. Com um comité disciplinar neutro, designado pela World Rugby, Roménia, Espanha e Bélgica foram castigadas com a perda de pontos, alterando por completo a tabela final do Rugby Europe Championship 2018.
A Alemanha e Bélgica fugiram aos últimos lugares, a Espanha e Roménia ficaram com o triste fado da penúltima e última posição, sendo que no caso dos romenos significou não só a perda do lugar no próximo Mundial de Rugby em 2019, como forçou que lutassem pela sua sobrevivência num jogo de tudo ou nada ante Portugal.
Um cataclisma para a Roménia que tinha objectivos completamente assentes no apuramento para o próximo Mundial de Rugby, perdendo assim a possibilidade de garantir um futuro mais positivo para a modalidade no seu espaço territorial.
Do outro lado está Portugal que tem na “mão” a possibilidade de voltar à principal divisão de rugby europeia (sem contar com as Seis Nações), necessitando apenas de uma vitória em solo romeno para tal. Mas terão os comandados de Martim Aguiar hipótese de lá chegar?
O RUGBY JUVENIL ROMENO SEM FUTURO?
Existem alguns pontos a favor dos Lobos, uns mais de demérito do adversário do que mérito da selecção nacional portuguesa. O que queremos dizer com esta afirmação? A Roménia nos últimos anos tem atravessado por uma série de problemas tanto no patamar sénior como juvenil, sendo que os dos mais “velhos” deve-se a problemas de financiamento e dos mais “novos” tem a ver directamente com a falta de qualidade dos seus atletas e treinadores.
Comecemos pela raiz, o rugby juvenil: nos últimos três anos os sub-18 e sub-20 da Roménia têm evidenciando claras falhas tanto no desenvolvimento físico (algo nada comum para um país que gera atletas de um formato muscular portentoso), técnico (não conseguem fazer uma sequência de jogo à mão bem desenvolvida) e táctica (rugby rudimentar, tanto por culpa da falta de cultura dos jogadores ou coragem e engenho dos treinadores).
Exemplo claro dessa situação passou pelo facto dos comandados de Luís Pissarra terem derrotado a Roménia em 2017 por um 21-16 que na altura proporcionou o bilhete para a final do Europeu de sub-20. Contudo, e apesar do equilíbrio no marcador, foram os jovens lobos a dominar o encontro na sua generalidade, especialmente no aspecto técnico e no poder de choque no contacto.
Há 5 anos atrás a Roménia a nível sub-20 era temível e o facto de terem conquistado pódio por três ocasiões nos Europeus da especialidade, prova algum do sucesso de então de uma selecção com uma presença reconhecida até a nível mundial. Contudo, a formação do leste europeu perdeu essas capacidade e vê-se agora numa situação instável na formação.
Se no Campeonato da Europa de sub-20 foi uma pequena “desgraça”, com a Roménia a ocupar os últimos lugares da competição (sem falar das infelizes prestações no World Rugby Trophy, onde só marcaram presença por serem a equipa da casa), já os sub-18 no seu Europeu também estiveram bem longe de uma boa prestação, terminando em 6º lugar.
Portugal, Rússia, Espanha e até a Holanda estão de momento um ou dois patamares acima da Roménia na formação e esse factor é preocupante para o futuro de um país que tem claros objectivos em se manter entre os “poderosos”. Sem formação não há futuro e a Roménia ao contrário da Geórgia, Espanha ou Portugal não tem capacidade de ir buscar bons atletas às suas comunidades em França ou Inglaterra recorrendo aos atletas que jogam nesses países há anos (e que já não são assim tantos) ou os que estão a praticar rugby em “casa”.
A EXPERIÊNCIA E PODER FÍSICO AINDA FAZEM DIFERENÇA?
Só em jeito de curiosidade, a Roménia tem tantos jogadores a actuar no Top14 como Portugal, divididos pelo FC Grenoble (Mihai Lazar), SU Agen (Adrian Motoc) e USA Perpignan (Johan van Heerden). Um sinal claro de que o atleta romeno já não é tão desejado nas divisões profissionais do rugby europeu, enquanto que o atleta português começa a captar a atenção dos departamentos de scouting.
Existe efectivamente mérito das escolas de formação de rugby luso, mas sobretudo a maioria desse sucesso dependeu sempre da resiliência e capacidade de trabalho dos atletas portugueses fora-de-portas (Pedro Bettencourt, José Lima, Francisco G. Vieira, Diogo Hasse Ferreira, foram alguns desses atletas que se aventuraram em França e Inglaterra).
Por outro lado, os atletas romenos não evoluíram e apresentam claros sinais de estagnação no que concerne ao trabalho técnico nas movimentações, no engenho do handling junto do contacto ou no momento de escolher a melhor opção ofensiva. O campeonato nacional da Roménia cresceu em qualidade, com vários dos seus melhores atletas a jogarem casa sob o estatuto de atletas profissionais (os Timisora Saracens estão na Challenge Cup 2018/2019, uma prova clara do sucesso a nível de clubes romenos).
Ou seja, a Roménia actualmente depende dos seus atletas mais experientes e profissionais, uma vez que o novo “sangue” não está pronto para assumir sequer um lugar de recurso. A juntar-se a este problema, a formação do leste depende muito do seu trabalho e impacto físico e do domínio nas fases estáticas, onde o maul e a formação-ordenada são ainda peças-chave para o sucesso em termos de ensaios, com Florin Vlaicu a duplicar à lei do pontapé.
Contudo, Portugal tem dado mostras que começa a solidificar-se na formação-ordenada, faltando claramente só conseguir disputar o maul de uma forma eficiente e legal (os Lobos continuam a cometer bastantes penalidades na hora de defender o “comboio” de avançados), o que vai tornar a missão de manutenção romena delicada.
Se a selecção Nacional conseguir ter alguns dos seus melhores atletas a jogar fora do país na equipa que vai defrontar a Roménia em Novembro, pode ser que surja um “milagre” da promoção e que poria fim a um ano de visíveis dificuldades do rugby português. Pelo seu lado, a Roménia vai trazer o seu melhor 23 para um jogo que pode ser o início do futuro ou um passo complicado num potencial abismo competitivo.
Jean de Sousa, Thibault Freitas, Cyrille Andreu, Manuel Cardoso Pinto (a jogar na Holanda) Jacques Le Roux, Mike Tadjer, Samuel Marques, José Lima, Pedro Bettencourt, Luís Cerquinho, José Conde, Rui d’Orey têm de ser opção para o encontro de 3 de Novembro, sendo fundamental que alguns destes nomes se juntem a Manuel Picão, Duarte Diniz, Nuno Sousa Guedes, José Rodrigues, Manuel Queirós, David Wallis, Vasco Ribeiro e Salvador Vassalo, entre outros, num jogo importante para os desígnios do rugby português.
Se Portugal tem condições ou não para sobreviver no escalão cimeiro, isso é outra questão que será respondida depois do dia 3 de Novembro. Mas não há dúvidas que o desenvolvimento mental, técnico e táctico só poderá acontecer se jogarem contra adversários de maior calibre do que aqueles que têm enfrentado nos últimos dois anos.