Portugal nos Internacionais de Outono: o que esperar dos Lobos e adversários

Francisco IsaacNovembro 4, 20218min0

Portugal nos Internacionais de Outono: o que esperar dos Lobos e adversários

Francisco IsaacNovembro 4, 20218min0
Canadá e Japão visitam Portugal neste Novembro e explicamos o que há para saber desta dupla de jogos para os Lobos neste artigo

Com o Rugby Europe Championship fechado (e a possibilidade de garantir o 2° lugar em 2021, desde que a Roménia não ganhe e some qualquer ponto de bónus frente à Rússia), Portugal entra neste Novembro focado em conseguir bons resultados frente a duas seleções que têm marcado presença em Mundiais de Rugby, Canadá e Japão, sendo estes o tipo de desafios há muito desejados pelos adeptos portugueses, sabendo de antemão que estarão muitos mais olhos a observar a prestação dos Lobos. O que podemos esperar de uma seleção revitalizada e com claras chances de chegar ao próximo Campeonato do Mundo?

Como no artigo dos sub-20, olhemos para alguns dos nomes presentes no estágio de preparação para o Canadá e Japão.

(QUASE) SEM ESTREIAS MAS COM CERTEZAS

Na convocatória disponibilizada (ver no fim da secção), é notória a ausência de jogadores como Mike Tadjer, Samuel Marques, Pedro Bettencourt, Geoffrey Moise, Francisco Fernandes, Jean de Sousa ou Anthony Alves, que se podem explicar por diversos motivos, seja por conservar os jogadores (acordos com os clubes de forma a evitar problemas para os atletas), optar por dar espaço a outros ou lesões impeditivas, existindo a dúvida se algum destes jogadores estarão presentes para se juntar ao grupo na semana que antecede o encontro frente ao Japão. Posto isto, o elenco escolhido por Patrice Lagisquet é composto maioritariamente por atletas que têm marcado presença nos Lusitanos, com alguns reforços provenientes de França e Inglaterra, casos de Manuel Cardoso Pinto, José Madeira, José de Andrade, Loic Bournonville, Eric dos Santos, José Lima, entre outros, compondo um grupo de alto potencial e que tem empurrado Portugal nos últimos 2/3 anos. De uma vasta lista de presenças, que nomes é que possuem um carácter mais fundamental tanto para a execução da estratégia dos Lobos, no garantir de estabilidade emocional e de conseguirem fazer a diferença nos momentos X?

Nuno Sousa Guedes (CDUP/Lusitanos): está a ser um dos melhores jogadores da estreante franquia lusa nesta temporada, carregando o jogo com excelentes preciosidades técnicas e táticas de nível soberbo, sendo um dos maiores marcadores de pontos da Super Cup, estando no primeiro lugar nas quebras-de-linha (10) e assistências (4), isto sem esquecer o impacto na boa participação portuguesa no Rugby Europe Championship 2021. Tem o dom de poder conferir outra excelência ao ataque, de mudar os ritmos e dinâmicas, e de ainda fazer diferença no jogo ao pé, podendo explorar bem a maior lentidão do Canadá na subida defensiva da linha, o que vai permitir ao defesa procurar espaços e abrir possibilidades para o contra-ataque das hostes lusas.

José Madeira (Grenoble Rugby): uma boa temporada na ProD2 serve de prova em relação ao crescimento e evolução acentuada do 2a linha, sendo, actualmente, uma das melhores “armas” dos Lobos para a disputa nos ares e nas introduções de bola, na luta pela captura de bolas no breakdown e no garantir de uma unidade ágil e constante na reposição defensiva. É decididamente o tipo de jogador que não precisa de fazer “barulho” para se impor ou fazer sentir a sua presença, já que todo o seu esforço, capacidade de trabalho e entrega efectiva acabam por colocar atenção sobre si.

Tomás Appleton (CDUL/Lusitanos): três centros de qualidade (e ainda falta Pedro Bettencourt, um dos melhores jogadores estrangeiros a actuar na ProD2), três jogadores que conseguem se transfigurar quando a equipa mais precisa ou exige, e acabamos por escolher Tomás Appleton, o capitão quer dos Lusitanos ou Lobos. O centro articula bem o virtuosismo técnico com a durabilidade táctica, sendo um ponto de apoio excepcional de Portugal, que tanto garante uma defesa proactiva e de estancar as linhas de ataque do adversário, como sabe coordenar as ações de ataque e reunir atenção da oposição sobre si, permitindo isto dar mais espaço e tempo ao abertura e defesa de Portugal.

Loic Bournonville (Rumilly Rugby): o talonador pode não estar nas duas principais divisões de rugby em França, mas não deixa de ser um nome de peso para os Lobos, sobretudo pela imperiosa qualidade nas fases-estáticas e fiabilidade no contacto, sendo uma voz experiente e unificadora para o bloco de avançados. A fisicalidade e agressividade que reúne é decisiva na luta na formação-ordenada, junto aos rucks e no trabalho mais árduo, e vai ser um dos focos de interesse para os encontros frente ao Canadá e Japão.

A CIÊNCIA POR DETRÁS DA EQUIPA

Contudo, o elenco de Portugal é muito mais que estes quatro nomes, pois é observar a lista para perceber que os Lobos detêm uma convocatória compacta, que tem desde puros fantasistas como Simão Bento, Rafaelle Storti ou Rodrigo Marta, passando pelos trabalhadores que gostam de puxar cartaras, caso de Rafael Simões, David Wallis ou Diogo Ferreira, passando por aqueles que são apaixonados pelo jogo invisível, exemplo de Eric dos Santos, Vasco Ribeiro ou Duarte Torgal. A alta confiança, os apontamentos técnicos geniais, a dureza nas fases-espontâneas, a capacidade de disputar o breakdown com eficácia, são regras estabelecidas neste grupo comandado por Patrice Lagisquet, que tem dado claras mostras de conseguir ser dominante mesmo contra adversários que possuem maior experiência e anos nesta divisão. Outro elemento essencial para o recente sucesso dos Lobos advém da condição física dos atletas, já que aguenta consistentemente durante a maior parte do jogo, permitindo isto forçar problemas e erros a seleções que apostam menos na longevidade física no decorrer do jogo.

A maior dúvida vai para a disciplina, detalhe responsável pelo dissabor frente à Roménia (4 penalidades cometidas em 10 minutos) e Geórgia, algo que não poderá acontecer especialmente contra o Japão sob pena de serem absorvidos na estupenda eficácia em aproveitar penalidades para transformar em pontos desta potência do rugby mundial. Nos Lusitanos ficou patente a alguma irregularidade na disciplina de jogo, em concreto na saída limpa do chão, no apoio lento ao portador de bola em certos períodos do jogo e na formação-ordenada, que devem ser, para já, entendidos como dores de crescimento. Por outro lado, as segundas partes dos Lusitanos são claras demonstrações de como os atletas portugueses conseguem voltar ao foco correcto e partir para cima do adversário, começando a montar excelentes acções ofensivas e a dar pouco tempo de posse de bola ao adversário, esgotando-o e desencadear uma cadeia de acontecimentos positivos.

Posto isto, o que há para saber sobre os adversários de Portugal para esta dupla de jogos desta Janela de Internacionais de Outono?

CANADÁ DEPRESSIVO E JAPÃO AUTORITÁRIO

O Canadá vai falhar o Campeonato do Mundo pela primeira vez em quase duas décadas, depois de terem sido desmantelados pelo Chile, mesmo com uma seleção supostamente mais desenvolvida e expediente. Os erros do seleccionador Kingsley Jones têm sido mais que notórios, e basta olharmos para a onda de resultados negativos quer do ponto de vista competitivo como evolutivo interno, para perceber que este Canadá está seriamente no perigo de enfrentar uma fase de grande depressão, com nenhuma solução aparente para evitar este declínio imaginável de uma seleção com cada vez menos referências e ideias para o seu futuro, apesar do envolvimento na Major League Rugby.

Não significa isto que Portugal vai ter um jogo fácil ou extremamente positivo, uma vez que ainda existem alguns elementos de qualidade nesta seleção da América do Norte, seja na saída dos alinhamentos, a ocupação no campo durante e após o jogo ao pé e a frieza em fazer pontos nos pontapés aos postes. Porém, e apesar do aviso feito, é possivelmente o momento em que os Lobos têm 50% de possibilidade de somar uma vitória, tanto pelas razões elencadas na secção acima como pelo momentum quer a nível do colectivo ou individual.

Já o Japão, será outro caso, tanto pela monstruosa lista de convocados, pela qualidade de jogo desenvolvida, o facto de terem uma liga praticamente profissional (que o será em 2022 a 90%) e recursos quase ilimitados que lhes permitiram chegar aos quartos-de-final do último Mundial. Objectivo aqui será medir a capacidade de reação e acção dos Lobos, de perceber onde estão as diferenças mais assinaláveis e se o trabalho técnico desenvolvido na defesa (ruck, breakdown, etc) tem a durabilidade necessária para suster o ímpeto de um adversário maduro, de excelentes alicerces e que quer chegar a ainda um patamar maior na hierarquia mundial da modalidade.

Portugal entra em campo no próximo sábado às 15h00 frente ao Canadá no Jamor, enquanto o Japão será já em Coimbra no dia 13 de Novembro também pelas 15h00.


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