O caminho de Portugal até ao RWC 23′: o tour de 2019 e o REC 2020

Francisco IsaacDezembro 1, 20225min0

O caminho de Portugal até ao RWC 23′: o tour de 2019 e o REC 2020

Francisco IsaacDezembro 1, 20225min0
Depois das bases e fundações, é agora de vermos o que se passou em 2019 e 2020, que foram passos importantes na construção da identidade dos "Lobos"

Depois de visitarmos as bases e nos relembrarmos de como o erguer da formação e o voltar a abrir a “porta” aos atletas a jogar pelo Mundo fora acabaram por ser elementos essenciais para Portugal voltar a ter argumentos para disputar apuramentos, é agora de irmos à fase intermédia, que começou não em 2020, mas sim em 2019, poucos meses depois de Patrice Lagisquet ter assumido o lugar de seleccionador nacional dos “Lobos”. Porquê esse ano? Devido ao tour realizado à América do Sul, que ajudou a perceber quem seria o grupo de trabalho, quais as lacunas, qual a tipologia de jogo mais interessante a abraçar, entre outros pontos.

Em Novembro de 2019, os “Lobos” partiram em viagem até à América do Sul para realizar o 1º tour fora de Portugal ao fim de vários anos, com o objectivo de começar a formatar o elenco (ou boa parte desse grupo) que Patrice Lagisquet queria ter ao seu dispor durante este ciclo do Campeonato do Mundo 2023. Da selecção que visitou o Brasil e Chile, vários ainda estão ao serviço dos “Lobos”, ou estiveram no grupo até 2022: Nuno Mascarenhas, Diogo Ferreira, José Madiera, João Granate, David Wallis, David Costa, João Belo, Jerónimo Portela, Raffaele Storti, Tomás Appleton, Dany Antunes e Simão Bento. Foram vários os jogadores que se estrearam ao serviço de Portugal nessa altura, aproveitando a equipa técnica nacional para começar a medir a força do talento interno, avaliando que carências teriam e poderiam ser debeladas com o retorno dos profissionais luso-descendentes, sendo que pelo menos um já estava integrado neste conjunto (Dany Antunes).

Para quem já se esqueceu de como decorreram os dois encontros realizados, Portugal perdeu frente aos “Tupís” do Brasil por 24-26, conquistando a primeira vitória da Era-Lagisquet em Santiago do Chile por 23-18, completando um tour interessante e promissor. Para memória futura, Dany Antunes (18 pontos no total), Simão Bento, Raffaele Storti, Tomás Appleton, João Belo e Manuel Picão marcaram os ensaios desta visita à América do Sul, tendo sido o início de uma história que iria ter contornos altamente felizes em Novembro de 2022.

Parecendo que não, este primeiro passo foi fundamental para aquilo que viria ser o futuro de Portugal, surgindo nesses dois jogos os primeiros elementos basilares deste grupo: rugby rápido e de procura do risco, procurando linhas-de-apoio mais ao largo, onde a avançada participasse activamente na construção de fases velozes; agressividade e procura de recuperar a oval tanto no alinhamento e breakdown; e jogo aéreo mais eficaz e inteligente. Alguns dos ensaios marcados tanto em São Paulo como em Santiago do Chile foram sensacionais e, se olharmos para os que foram concretizados neste Torneio de Qualificação para o Mundial 2023, ou no Rugby Europe Championship tanto de 2022, 2021 ou 2020, podemos observar autênticas cópias, o que nos diz algo importante: a fórmula desenvolvida por Lagisquet, Luís Pissarra e João Mirra nunca foi alterada, sendo só afinada com o passar do tempo, especialmente com a introdução de quem estava a jogar no Top14 e ProD2.

E em relação a 2020, o que se passou? Com a chegada de um novo ano, foi altura de vermos o retorno/estreia de vários atletas a actuar além fronteiras como Francisco Fernandes, Mike Tadjer, Ivo Morais (já se retirou), Jean de Sousa (reformou-se em 2022), Lionel Campergue, José Lima, Thibault de Freitas ou Éric dos Santos, conferindo outra dimensão e capacidade de resposta aos “Lobos” durante o torneio, confirmando a manutenção no Rugby Europe Championship, depois de somar vitórias ante a Roménia (22-11) e Bélgica (23-17), ficando apenas a 1 ponto do 3º lugar de uma competição que não teria qualquer impacto na corrida ao Mudnial 2023.

Porém, a ponte de 2019-2020 foi aquilo que podemos chamar o “Ano 1” da selecção nacional sénior masculina, uma vez que depois de ter conseguido efectivamente colar as fundações e bases construídas no meio do caos gerado entre 2014 e 2019, os “Lobos” tiveram a força e a artimanha para fazer valer o seu jogo, iniciando um processo de harmonia entre os atletas oriundos de vários locais e competições diferentes, e teríamos demonstração disso mesmo em 2021.

Não entrando no ano de 2021 – ficará reservado para a 3ª parte -, é importante relembrar que durante este processo de 2019 e 2020, os “Lobos” não só foram capazes de trazer uma série de novidades para a lista de convocados (alguns já tinham chegado pela mão de Martim Aguiar, Nuno Damasceno e João Mirra no jogo de promoção/relegação ante a Alemanha), como Portugal teve capacidade para apresentar uma forma de jogar atrativa e pujante, conseguindo garantir três vitórias em sete jogos frente a adversários de um nível bem acima dos do Trophy.

Portanto, neste “Ano 1”, Portugal garantiu vitórias, lançou jogadores, desenvolveu o modelo de jogo (ou boa parte dele), pavimentando o caminho de sucesso em direcção a 2021, ano em que os “Lobos” viriam a derrotar quatro de cinco adversários do Rugby Europe Championship.

 


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