3 destaques/detalhes da 5ª ronda das Seis Nações 2022

Francisco IsaacMarço 21, 20226min0

3 destaques/detalhes da 5ª ronda das Seis Nações 2022

Francisco IsaacMarço 21, 20226min0
Novos campeões das Seis Nações, a França reinou sem discussão no Le Crunch e Francisco Isaac conta o que se passou por Paris neste artigo

Finito, The End, Le Fin, ou, se quisermos, as Seis Nações 2022 chegaram ao fim e a França é a nova campeã com um espectacular Grand Slam que foi conquistado após um Le Crunch dividido até ao último segundo, mas que não fugiu do controlo dos franceses! A análise ao que se passou na última ronda da maior competição de selecções do Hemisfério Norte neste artigo!

O MOMENTO: GARBISI CHUTA PARA A VINDICAÇÃO

O País de Gales-Itália foi ao mesmo tempo um show de horrores para os adeptos da casa, um clássico aos olhos dos fãs neutrais e um grito de vida e força da parte dos aficionados italianos, que ao fim de seis longos anos conseguiram conquistar a sua primeira vitória nas Seis Nações, silenciando todos aqueles que andavam a flertar com a ideia de remover os transalpinos da histórica competição desportiva do Velho Continente. Poderíamos facilmente descobrir uma mão-cheia de momentos que mereciam ser elevados como o Momento da 5a Ronda, seja aquele turnover de Danilo Fischetti após o pilar correr 60 metros atrás de um pontapé, ou o ensaio de Padovani depois de um momento de puro brilhantismo por parte da coqueluche actual, Ange Capuozzo, e que elevou a sonoridade e ruído aos mais altos píncaros dentro do Estádio Millenium em Cardiff.

Porém, o momento que escolhemos foi a conversão de Paolo Garbisi, um dos maiores talentos do rugby mundial, que garantiu desta maneira a primeira vitória da Itália solo galês, irrompendo numa explosão de emoções que davam voz não só ao feito histórico, mas também por ser uma reação contra todos aqueles que exigiam a despromoção/remoção dos azzurri das Seis Nações, apelidando-os de um fracasso total. A verdade é que a Itália foi dando mostras de estar na posse de uma confluência de gerações e jogadores de excelente qualidade, isto quando os seus sub-18 e sub-20 assim como o Benetton estão em crescendo e a registar excelentes/bons resultados, e esta conquista de Cardiff é igualmente o melhor tónico e prova de que teremos mais surpresas italianas no futuro próximo. As lágrimas e emoção de Garbisi são só o início de algo especial!

O JOGADOR: O ALICERCE AO CENTRO, GÄEL FICKOU

Grand Slam ao fim de 12 anos, os Les Bleus cantam vitória e o ponto final de um longo jejum, confirmando aquilo que vinham a prometer desde 2019, com a conquista a ser num dos maiores palcos do rugby e desporto mundial, o Stade de France! Num encontro de excelente calibre, em que a Inglaterra chegou a incomodar, diversos jogadores estiveram no seu melhor, como Ellis Genge (80 metros com a oval debaixo do braço e duas quebras-de-linha para o pilar), Antoine Dupont (pode não ter sido preciso em todos os pontapés, mas é um tormento para qualquer defesa contrária, quase ilegível na saída com bola), Marcus Smith, Grégory Alldritt, entre mais uns quantos, sendo que foi Gael Fickou a conquistar a nossa total atenção.

O centro foi do princípio ao fim do encontro uma das unidades mais activas, incansável na pressão aos pontapés altos e/ou compridos, determinado na placagem com 8 encaixes de ombro efectivos, conseguindo arrancar duas penalidades no breakdown, e destabilizar constantemente a linha de defesa da Inglaterra, rompendo-a por duas ocasiões (uma das quais acabou por gerar o ensaio de Dupont), assinando a autoria dos primeiros 5 pontos da França neste Le Crunch. A versatilidade de Fickou é fundamental para o desenvolvimento da estratégia de jogo de Fabien Galthié, e contra a Seleção de Sua Majestade foi visível como é que o seu envolvimento garante à França uma taxa de sucesso maior mediante o objectivo idealizado, conseguindo dar outro espaço de manobra a Romain Ntamack ou Melvyin Jaminet, isto sem falar da elegância conferida na hora de defender e “sofrer”. Un plaisir, monsieur Fickou!

O BRAÇO-DE-FERRO: TOWNSEND ENTRE O CÉU E O INFERNO

A Escócia foi bem derrotada pela Irlanda que ainda sonhava com o título das Seis Nações, precisando para isso que a França tivesse caído frente à Inglaterra em Paris, algo que não viria acontecer. Num jogo de pouca história, em que os homens de Andy Farrell foram imperdoáveis e cínicos nos momentos capitais do encontro, sempre bem conduzidos por Johnny Sexton (autor de um dos melhores 50/22 de toda a competição), a Escócia de Gregor Townsend acabou por deixar uma imagem extremamente mais cinzenta em comparação quando arrancou nestas Seis Nações 2022. Como? O egoísmo contínuo de certos jogadores acabou por novamente massacrar boas oportunidades para ensaio, com Stuart Hogg a novamente a se agarrar à oval quando tinha apoio no interior, acabando por ser empurrado para fora de campo antes de ter tempo de encaixar a oval na área de validação, sendo este detalhe prova suficiente de que algo não está bem dentro de uma Escócia com capacidade para algo mais.

No decorrer da última semana de preparação para a ronda final das Seis Nações, foi divulgado que cinco atletas do grupo de liderança, onde se incluem Stuart Hogg, Ali Price e Finn Russell, furaram o protocolo sanitário, protocolo esse imposto pelos próprios atletas escoceses, conseguindo transmitir novamente uma imagem medíocre daquilo que deveriam ser atitudes de atletas profissionais, com Townsend a acabar por ficar visto como um líder sem mão ou controle sobre certas individualidades.

A Escócia mostrou alguns dos melhores períodos de rugby jogado em 2022, não há dúvidas disso, contudo a indisciplina continua a minar o objectivo de conquistar as Seis Nações (61 penalidades no somatório das cinco rondas) e o individualismo extremo arrancou-lhes quatro ensaios, dois deles que poderiam ter sido extremamente importantes no decorrer dos encontros. Com o Campeonato do Mundo de rugby a um ano e poucos meses de distância, é altura de Gregor Townsend conseguir limar as arestas e evitar a um regresso ao passado nocturno que os assolou no início da segunda década do século XXI.

 


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