3 Destaques da 1ª Jornada do Rugby Europe Championship 2022

Francisco IsaacFevereiro 6, 20226min0

3 Destaques da 1ª Jornada do Rugby Europe Championship 2022

Francisco IsaacFevereiro 6, 20226min0
Um empate mantém Portugal na corrida do Mundial de Rugby 2023, e Francisco Isaac explica o que se passou em Tbilisi

Portugal entrou bem no Rugby Europe Championship 2022, conseguindo um empate frente à Geórgia, mantendo as suas esperanças de chegar ao Mundial de Rugby 2023 intactas, como explicamos neste artigo de análise ao que se passou em Tbilisi.

MVP: TOMÁS APPLETON

Internacionalização número 50 num jogo de enorme importância para o futuro dos Lobos na corrida por um lugar no Mundial de Rugby 2023 e, como sempre, Tomás Appleton correspondeu com uma exibição soberba em quase todos os níveis, especialmente a defender, com o centro luso a ter uma importância nuclear no como acabou o encontro. Porquê? Aos 79 minutos, a Geórgia conseguiu desequilibrar na saída de uma formação-ordenada, encontrando o espaço suficiente para sair em rompante pelo flanco, com o 15 dos “Lelos” a fugir a Pedro Lucas, Rodrigo Marta e Manuel Cardoso Pinto… quando tudo parecia a acabar num ensaio georgiano, eis que surgiu Tomás Appleton em alta velocidade a se atirar à placagem, bloqueando o braço do adversário de forma a impedir um offload letal, valendo quase como uma golfada de ar antes de Portugal voltar a recuperar a oval já junto à sua área de ensaio.

Tomás Appleton nunca perdeu o foco, manteve os espíritos da sua equipa sempre no seu expoente mais, fez quatro apoios ao portador da bola de última hora decisivos que impediram a oposição em resgatar a oval no breakdown, e somou umas impressionantes 12 placagens efectivas (nenhuma falhada), num encontro que poderá ter sido decisivo para os desígnios do elenco comandado por Patrice Lagisquet.

Olhando para o ataque, o centro teve menos presença na primeira-parte (de longe o período que Portugal esteve pior em termos de arriscar em movimentações diferentes, que tentassem surpreender a Geórgia), regressando em força nos segundos 40 minutos, onde deu um apoio essencial a Jerónimo Portela (a par de Tomás Appleton foi outro dos melhores jogadores neste encontro, especialmente porque sempre que tentou algo fora da caixa conseguiu abrir “portas” à sua equipa) e Samuel Marques, criando alguns problemas à leitura defensiva dos “Lelos” que começaram a ter de expandir mais as suas unidades, o que beneficiou uma segunde-parte de gala dos “Lobos”.

PONTO ALTO: A CAPACIDADE DE PROCURAR SOLUÇÕES

Duas partes diferentes, dois approachs diferentes à Geórgia e no fim dois resultados diferentes: se Portugal chegou ao intervalo a perder por 3 pontos, já na segunda-parte acabou por conseguir ferir o seu adversário e estar por cima do jogo durante largos períodos deste super embate do Rugby Europe Championship, forçando aos Lelos a cometer erros na defesa, e desesperarem por formações-ordenadas, o único ponto onde foram realmente superiores à selecção nacional portuguesa nos segundos 40 minutos, no qual terminou tudo num empate a 25 pontos.

Os comandados de Patrice Lagisquet sentiram dificuldades para fazer a diferença no choque físico com a Geórgia, ficando demasiadamente fechados em jogadas simples, de pouca criatividade e sim mais focado na segurança do controle de bola, numa procura constante pelo erro do bloco contrário, seja através de pontapés (Samuel Marques desenhou alguns de franca qualidade, a par de Jerónimo Portela), algo que acabou por só trazer 6 pontos em dividendos. Contudo, após os “Lobos” sofrerem o primeiro ensaio georgiano, surgiu o primeiro momento de brilhantismo da linha de 3/4’s lusa: formação-ordenada bem amparada, bola rápida de Samuel Marques para Jerónimo Portela, com o dez a fazer um bem ligeiro compasso de espera e a colocar a oval nas mãos de José Lima, que com inteligência escolheu o momento certo para fazer um passe acertado no local onde a Geórgia abriu espaço. Resultado? Manuel Cardoso Pinto a entrar de rompante e imparável até à área de validação.

A mesma receita foi aplicada na segunda-parte, altura em que os “Lobos” sentiram-se mais confortáveis dentro de campo, começando a “inventar” soluções e a deixar os seus adversários num nervosismo defensivo que significou erros menos normais para esta Geórgia (Vincent Pinto conseguiu explorar o espaço exterior com relativa facilidade, numa boa primeira internacionalização do ponta) e um Portugal agressivo na manobra ofensiva, produzindo dois ensaios. Veja-se os 5 pontos marcados por Rodrigo Marta: dentro dos 22 metros, Portugal foi indo de fase em fase, até surgir algo de inesperado, uma inversão de Manuel Cardoso Pinto, que estancou 3 defesas georgianos ao seu redor, criando assim um problema diferente ao adversário, para depois Jerónimo Portela ver que havia espaço suficiente à ponta. Crosskick, salto espectacular de Rodrigo Marta (entre 2021 e 2022 já marcou 5 ensaios do género, em que vai no ar e capta a bola para sair imparável até à área de validação) e ensaio.

Quando os “Lobos” procuram soluções diferentes para problemas maiores, o resultado é quase sempre um: sucesso. Por fim, comentar o facto de o alinhamento português ter sido superior ao largo de todo o encontro, com José Madeira, Jean de Sousa e Steevy Cerqueira a conseguirem um total de 6 recuperações de bola na disputa aérea, algo que limitou a plataforma de ataque georgiana neste encontro para o Rugby Europe Championship.

PONTO A MELHORAR: DEFESA INDIVIDUAL MENOS PREPONDERANTE

A formação-ordenada podia aparecer neste ponto, mas era expectável que se assistisse alguma diferença entre os dois blocos, especialmente pelas ausências de dois dos primeiras-linhas mais experientes dos “Lobos”, Anthony Alves e Mike Tadjer. Ultrapassando esse ponto, o importante aqui é comentar sucintamente a placagem individual e como em certos momentos cedeu demasiado espaço a favor da Geórgia, ou até abriu caminho para dois dos ensaios dos “Lelos”. Olhando para 2021, Portugal cresceu em diversos pontos tendo sido a placagem e defesa colectiva um dos principais, que mesmo cedendo alguns pontos (3ª melhor defesa do Rugby Europe Championship de 2021), manteve-se perene nos momentos X de jogos fulcrais como foi contra a Espanha ou Rússia.

Contudo, neste encontro de abertura, e numa altura em que todos os embates deste intenso calendário vão ser decisivos, há certas abordagens defensivas que terão de ser afinadas para impedir que Roménia, Espanha ou Rússia (praticamente fora da corrida, podendo estes ainda assim estragar a corrida de algum dos adversários) consigam obter qualquer tipo de lucro, especialmente se caírem no desespero de tentarem resolver o jogo individualmente. Como o ataque, na segunda-parte deu-se um incremento e uma melhoria significativa na arte de defender, impondo mais dificuldades à Geórgia, que deixou de acreditar tanto em jogar à mão, para optarem pela procura do alinhamento e formação-ordenada, favorecendo, ligeiramente, os “Lobos” no fim de contas.

O momento final que vai desde a placagem de Tomás Appleton, ao esforço colectivo de não cometer nenhuma penalidade quando pressionados pela Geórgia em cima da área de validação foi aquilo que Portugal precisa para os 4 jogos que se seguem.

ALGUNS DADOS

Melhor marcador de pontos: Samuel Marques – 10 pontos
Melhor marcador de ensaios: Vários – 1
Jogador com mais placagens: José Madeira – 14

 


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