2023 para o rugby português: os feitos e objectivos dos sub-18/20

Francisco IsaacDezembro 5, 20237min0

2023 para o rugby português: os feitos e objectivos dos sub-18/20

Francisco IsaacDezembro 5, 20237min0
Francisco Isaac analisa se os objectivos dos sub-18/20 foram atingidos nesta temporada do rugby português com destaques e muito mais

2023 terminou da mesma forma que 2022, com os sub-18 a deliciarem os adeptos português com a chegada a mais uma final do Men’s Rugby Europe Championship, enquanto os sub-20 foram incapazes de ultrapassar as meias-finais, claudicando, novamente, frente aos Países Baixos. Ambos os conjuntos apresentaram um número interessante de atletas que poderão vir a ser activos importantes para os séniores, caso continuem a trabalhar, evoluir e a se desafiar. Mas vamos a uma análise de cada conjunto e perceber o que se pode retirar de cada um.

SUB-18: NÚMEROS, NOMES E OBJECTIVOS

Os “Lobos” sub-18 realizaram apenas três jogos nesta época de XV – sem nenhum amigável anunciado -, derrotando a Roménia por 22-15 no Rugby Europe Championship, seguindo-se a Espanha por 34-10 e fechando em 2º lugar desse torneio com um desaire ante a Geórgia por 03-19. Saíram com um saldo positivo de 12 pontos, concretizando 8 ensaios e consentindo 5. Em comparação com 2022, marcaram menos 4 ensaios mas sofreram também menos 3, equilibrando assim os números.

O caminho foi exactamente igual à temporada de 2022, com uma ligeira melhoria nos resultados frente à Espanha e Geórgia. Ante os “Leones” deste escalão, os “Lobos” passaram de uma igualdade a 21 pontos (0) para uma vantagem de +24, numa exibição dominante e de alta classe. Já frente aos georgianos, Portugal tinha saído derrotado por 10-34 em 2022, conseguindo diminuir esta diferençara para 03-19 que representa uma melhoria de +8 pontos, demonstrando que aos poucos se estão a aproximar cada vez mais dos actuais penta campeões deste escalão.

João Uva e Miguel Leal, os treinadores que levaram os sub-18 a três medalhas de prata nos últimos três anos, montaram bem o sistema de jogo defensivo, negando à Geórgia alguns ensaios que pareciam estar feitos. O trabalho no jogo “invisível” e nas fases-estáticas foi impressionante, conseguindo mesmo empurrar os “Lelos” para trás ou a dominar por completo a Espanha naquela segunda metade do encontro da meia-final. Talvez o jogo de 3/4’s tenha sentido ligeiras dificuldades na maior parte do tempo, com os atletas portugueses a acelerarem em demasiado certos momentos, quando podiam ter imposto um pouco mais de paciência e frieza. De qualquer das formas, as prestações de Portugal nos últimos dois jogos foram de elevado nível, melhorando o que aconteceu quer em 2021 ou 2022.

Em relação a jogadores, destacar Guilherme Vasconcelos, Tomás Marques, Miguel Romero e José Lavos, com o último a ter sido uma extraordinária novidade como primeira-linha, pressionando bem as avançadas contrárias. O capitão, Guilherme Vasconcelos, foi imperial a defender e uma voz inteligente na maior parte do tempo, conseguindo dar a confiança que a sua equipa precisava em certos momentos. Miguel Romero pode ser um daqueles nomes bem interessantes para os próximos anos.

Os objectivos foram quase na totalidade alcançados, apesar de se saber da enorme ambição quer do staff ou equipa que queriam o título de campeão dos sub-18. A temporada 2023 foi um 9/10, esperando que em 2024 seja 10/10 com a conquista do 1º título de campeão.

SUB-20: NÚMEROS, NOMES E OBJECTIVOS

Duas super exibições e outra completamente amargurante e que colocou a nu os problemas destes sub-20 que só definiram a sua equipa técnica duas semanas antes do Europeu, isto para além de terem começado a treinar muito em cima da competição, o que efectivamente prejudicou a preparação e rendimento.

Mesmo com atletas de franca alta qualidade, como Santiago Lopes, Afonso Castiñeira, Manuel Vareiro, Francisco Almeida, Manuel Salgado ou Luís Lopes, Portugal foi incapaz de derrotar uns Países Baixos que foram incapazes de fazer uma jogada à mão durante 80 minutos e que claudicavam na maior parte das fases-estáticas. O que faltou? Mais clarividência e foco nos momentos críticos, e isso só pode ser atingido com tempo de treino e uma boa estrutura. Quando Luís Pissarra e António Aguilar levaram ao tricampeonato europeu de sub-20, um dos “segredos” passou pela preparação massiva, com estágios, jogos-treino contra equipas do Top10 ou internacionais, afinando processos e o colectivo. O desaire frente aos Países Baixos pelo segundo ano consecutivo é simplesmente resultado disso mesmo e urge refazer este caminho.

Em comparação com 2022, Portugal apresentou melhores números no geral, apesar de ter sofrido uma derrota mais pesada frente aos Países Baixos (por 10 pontos). 177 pontos marcados e 23 sofridos, 24 ensaios marcados e 2 consentidos, sendo um retrato bem melhor que o torneio do ano passado.

Nos momentos bons, Portugal jogou com alegria, velocidade e confiança, esticando bem o jogo e impondo um estilo rico e vivo. Porém, o retrato frente aos Países Baixos foi, no mínimo, extremamente preocupante, pois a equipa não só não soube gerir a vantagem de 10 pontos inicial, como depois caiu numa vaga de arrogância no que toca às decisões ou execução de jogo, com aquele ensaio falhado de Mateus Ferreira a ser um exemplo perfeito disso mesmo.

Em termos dos atletas que melhor se apresentaram no conjunto liderado por Gonçalo Foro e João Lino, Manuel Vareiro (o melhor pontuador do torneio), Santiago Lopes, Manuel Salgado, Luís Lopes e Alfredo Almeida. O destaque principal tem de ir para Santiago Lopes e Luís Lopes com ambos primeiras-linhas a terem sido decisivos no seu papel, fazendo a diferença durante todo o torneio.

Em termos de nota final… 6/10, já que a final era o objectivo mínimo e foi, novamente, não alcançado. A equipa técnica e os jogadores não são quem detém a maior parte da responsabilidade, uma vez que a pouca estrutura conferida escasseou por completo e dificultou toda a campanha.

Um ponto importante a abordar rapidamente... a ausência de atletas residentes em França. Nem os sub-18 nem os sub-20 contaram com os vários jogadores que se mostraram disponíveis para representar as duas selecções, sendo um pormenor importante de rever na próxima época, pois há uma série de atletas (especialmente nos sub-20) que podiam ajudar a elevar a qualidade e garantir outros resultados no futuro. Para os que ainda duvidam da importância daqueles que jogam em França ou Inglaterra, o Mundial de Rugby 2023 foi uma prova total de como pode influenciar positivamente Portugal, não sendo um penso rápido, mas sim uma efectiva adição para todo-o-sempre.


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