Uma Fórmula 1 para quem dá mais

Diogo SoaresAbril 22, 20253min0

Uma Fórmula 1 para quem dá mais

Diogo SoaresAbril 22, 20253min0
Diogo Soares faz uma crítica a como a Fórmula 1 tem dado oportunidades a certos pilotos e explica o que isso pode implicar para a modalidade

Na semana que antecedeu o Grande Prémio da Arábia Saudita, o diretor-executivo da Fórmula 1, Stefano Domenicali, achou por bem dizer que é insustentável ter duas provas do campeonato do mundo em Itália, dado que o crescente interesse pela modalidade obriga a expandir a marca por mais países, acrescentando que Ruanda, África do Sul, Tailândia e Argentina estão na calha para receber o Mundial.

Em condições normais, teria de concordar com a visão do CEO do campeonato. Naturalmente, duas corridas no mesmo país é difícil, mesmo nos apaixonantes circuitos de Monza e Ímola, quando vários países tentam ter de volta ou estrear o pináculo do automobilismo nos seus países. O problema destas declarações são: como ficam os três Grandes Prémios nos Estados Unidos da América?

Austin, desde 2012, Miami, desde 2022, e Las Vegas, desde 2023, são os palcos norte-americanos da F1, sendo que apenas em Austin, casa do GP dos Estados Unidos, se segue os parâmetros daquilo que se quer num evento de F1: boas corridas e fãs apaixonados. O resto, em boa verdade, é dispensável. Não só o caso das três corridas dos EUA, mas também já falada a possibilidade de acrescentar uma corrida na Arábia Saudita. Isto é, se há alguns anos a ideia era trocar o Circuito da Corniche de Jidá, hoje, a ideia é acrescentar o circuito de Qiddiya, nos arredores de Riade, cuja construção estará concluída em 2027.

Onde fica a coerência nesta situação? A resposta é que deixa de existir coerência e passámos a viver numa oligarquia com demasiados traços autocráticos. Façamos um pequeno exercício em que o dinheiro é posto de parte e passamos a ter apenas um GP nos EUA e um em Itália. Logo, ficamos com mais três espaços disponíveis, onde podemos inserir quase todos os candidatos existentes. Que, de resto, é muito melhor do que roubar algo mais aos verdadeiros fãs de automobilismo em prol de umas celebridades que nunca viram um carro a ultrapassar os limites da velocidade.

“Habituem-se”, seria o que dizia qualquer um dos responsáveis pela F1 ou pela Liberty Media, mas eu prefiro não o fazer. Custe o que custar. A F1 sempre foi um desporto feito pelas elites, certo, mas essas mesmas elites articulavam-se com o povo e no fundo, a F1 era de todos. Desde o simples mecânico que ia com a sua família a Hockenheimring, ou do empregado de mesas que ia ao Estoril, até ao administrador da Aramco que assiste à corrida confortavelmente, num sofá do melhor, acompanhado de um excelente serviço de catering. A F1 é de todos, todos, todos, se me permitem este paralelismo com declarações do falecido Papa Francisco.

A cada ano que passa, vemos a F1 a popularizar-se cada vez mais entre aqueles que que mais milhão, menos milhão, tira as hipóteses de dar um bom tempo aos fãs que realmente gostam de carros de corrida e, se acham que a situação já é má, preparem-se para o momento em que a Europa terá rotatividade nas provas, podendo assim dar mais espaço a estes países, em que muitos deles, a riqueza é obtida de uma forma muito obscura e que a utilização da mesma é ainda mais obscura.

A Fórmula 1 é um desporto, não uma passarela.


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