Lewis Hamilton, a estrela de uma geração de ouro

Luís PereiraDezembro 5, 20189min0
Lewis Hamilton é agora um Pentacampeão de Fórmula, mas em outros tempos não parecia caminhar nessa direcção. O passado, presente e futuro de Lewis Hamilton

Lewis Hamilton é agora um dos três pilotos que se conseguiu tornar Pentacampeão do Mundo de Fórmula 1. É agora bastante óbvio pensar que Hamilton é um dos melhores pilotos da história e talvez a maior estrela de uma geração que muitos consideram uma geração de ouro. Mas nem sempre se pensou que Hamilton chegaria tão longe, ou que se superasse aos seus pares, especialmente a dada altura da sua carreira.

O QUE ERA HAMILTON HÁ DEZ ANOS ATRÁS?

Recuando até 2008, Hamilton estava na moda. Hamilton acaba de se tornar por apenas 1 ponto no mais jovem Campeão do Mundo da F1 aos 23 anos. Este sucesso, para muitos, até vinha com um ano de atraso, já que no seu ano de estreia, em 2007, Hamilton perdeu o título por apenas 1 ponto, apesar de ter ido para a última corrida como favorito.

Além disso, Hamilton competia contra Fernando Alonso, nada mais nada menos do que o Bicampeão do Mundo em título, o homem que derrotou Schumacher. Em 2008 Hamilton não foi tão consistente, mas teve o apoio total da McLaren e conseguiu superar-se a Massa na corrida para o título.

Hamilton venceu o seu 1º título em 2008 pela McLaren (foto: formula1.com)

Depois de duas épocas de muito e precoce sucesso, os entendidos da F1 apostavam que Hamilton se fosse tornar no “próximo Scumacher”, até porque Hamilton se encontrava na McLaren, a equipa com mais sucesso na F1, a seguir à Ferrari.

Só que o desporto tem um particular gosto em não seguir as expectativas dos entendidos e esse domínio que se esperava não se concretizou. Durante os seguintes anos como piloto da McLaren, Hamilton viu-se incapaz de fazer uma verdadeira campanha de luta pelo título de Campeão. Apesar de em 2010 e 2012 Hamilton ter feito épocas de grande nível, a McLaren não teve ao seu melhor nível e nunca conseguiu competir de igual para igual com a Red Bull.

Em 2010, Hamilton ainda chegou à última corrida com possibilidades matemáticas de atingir o título, mas foi Sebastian Vettel que superou tudo e todos e bateu o então favorito, Fernando Alonso, e tornou-se no mais jovem Campeão do Mundo de F1, destronando Hamilton.

Adivinhava-se uma mudança de paradigma. A F1 apostava agora numa nova superestrela em ascensão. Sebastian Vettel era agora a nova estrela, ainda mais jovem que Hamilton, e estava na nova equipa sensação da F1, a Red Bull. 2010 tinha sido o ano em que a McLaren e a Ferrari muito tentaram, mas viram-se ultrapassadas pelo poderio aerodinâmico da Red Bull.

Apesar de Hamilton e Alonso terem sido considerados, por muitos especialistas, como os melhores pilotos da temporada, o título caiu para Vettel, que começava agora um trajeto de enorme sucesso.

Os candidatos ao título de 2010, com Hamilton, Alonso, Webber, Button e Vettel (foto: formula1.com)

O SUCESSO INICIAL ENSOMBRADO PELO SUCESSO DE UM NOVO CAMPEÃO ALEMÃO

2011 foi mais uma época que provava o esmagador domínio da equipa austríaca, com Alonso e Hamilton a fazerem épocas abaixo do seu rendimento. Por sua vez, Vettel confirmava que o seu sucesso estava para durar, tornava-se bicampeão, igualando Alonso e superando-se a Hamilton.

2012 seria a altura ideal de ripostar! Ou assim Hamilton e Alonso pensariam. Durante um tempo parecia que 2012 seria uma batalha entre Hamilton vs. Alonso, mas a combinação Vettel/Red Bull conseguiu voltar à sua forma e no final foram novamente campeões.

Para Hamilton era o “basta”. Hamilton decidiu que estava na altura de mudar de ares e sair do “ninho” e apostar noutro projeto. Hamilton decide mudar para a então não muito competitiva Mercedes, apostando na mudança de regras de 2014.

2013 foi um ano de “mais do mesmo”, com Vettel e Red Bull Campeões do Mundo, desta vez pela 4ª vez. Vettel chegava a um nível ímpar na F1, enquanto deixava cada vez mais para trás, Alonso e Hamilton.

Apesar de muitos reconhecerem Hamilton e especialmente Alonso como melhores pilotos, os resultados falavam por si e Vettel era, estatisticamente, melhor, mais bem-sucedido e um “new Schumacher in the making”.

O NOVO VILLENEUVE?

Por sua vez, Hamilton começava a ser o “novo Villeneuve”. E para muitos, começava a fazer sentido. Tal como Villeneuve, Hamilton tinha chegado à Fórmula 1 através de uma equipa vencedora, quase foram campeões no seu ano de estreia, conseguindo no ano seguinte. Apesar do meteórico início, não conseguiam replicar o sucesso inicial e ficaram-se por “one hit wonders”.

Por sua vez, Alonso ficava-se pelos dois títulos consecutivos de 2005 e 2006, apesar de que se podia gabar de que acabou com o monopólio de Schumacher.

Ou seja, se esta geração se tem ficado por 2013, a pintura seria de que Vettel foi superior aos seus pares e conquistou o mundo da F1. Só que o tempo não parou em 2013, nem a F1 para, nunca.

Chega 2014 e cedo se percebe que as coisas estavam prestes a mudar. Cedo se entende que em 2014 uma equipa iria dominar, a Mercedes. E quem estava finalmente no sítio certo para aproveitar o momento? Lewis Hamilton!

Era esta oportunidade que Lewis Hamilton tanto precisava. Depois de tanto tempo a ver Vettel a dominar a F1 em carros bastante competitivos, era a vez do britânico ter um carro ganhador e campeao, só tinha de garantir que seria campeão nas suas mãos e não nas mãos do colega de equipa, Nico Rosberg.

Foi isso que fez Lewis Hamilton. Num ano que foi bastante dividido entre os dois pilotos da Mercedes, Hamilton levou a melhor com 11 vitórias. Só nessa época, Hamilton conseguiu quase tantas vitórias quantas tinha conseguido nas últimas épocas na McLaren (11 vs 12). Era o regresso de Hamilton ao topo, o regresso de um piloto que merecia mais do que ser “apenas” uma vez Campeão do Mundo, um “novo Villeneuve”.

Hamilton volta a ser Campeão do Mundo em 2014, pela Mercedes (foto: f1fanatic.co.uk)

Chegado o 2º título da sua carreira, chegava a hora de Hamilton conquistar um lugar no Olimpo da F1 e chegar ao mítico 3º título, o seu objetivo desde criança, quando sonhava emular o seu ídolo, Ayrton Senna. Foi isso que Hamilton fez em 2015.

2015 foi o ano de consagração. Hamilton conseguia cimentar-se como um multicampeão, inclusive igualando o número de títulos do ainda idolatrado Ayrton Senna. Talvez por isso, Hamilton tenha sido apanhado de surpresa em 2016. Depois de ter sido batido por Hamilton, Rosberg mostrou em 2016 que também tinha fome suficiente para ser Campeão do Mundo.

Essa nova mentalidade de Rosberg, com alguma sorte à mistura (quem não tem ao long de um campeonato?), bateu Hamilton para chegar ao título e reformou-se, com o sentimento de dever cumprido.

Esta derrota mexeu com Hamilton. 2016 tinha sido um golpe duro, talvez por isso o melhor ainda estivesse para vir. Em 2017 a Mercedes já não tinha o controlo e domínio absoluto. A Ferrari apareceu bastante forte em 2017, com Sebastian Vettel bastante motivado para voltar aos títulos, desta vez no carro rosso corsa.

O BICAMPEONATO GENIAL DE LEWIS HAMILTON

Para Hamilton 2017 seria um ano decisivo. Vencendo, igualaria Vettel em número de Campeonatos, já Vettel conseguiria devolver a Ferrari aos títulos, que iludem a Scuderia desde 2008, e provar que não conseguiu vencer apenas graças à Red Bull. 2017 seria um ano decisivo, e foi.

Hamilton mostrou em 2017 que o ano anterior tinha sido um percalço, mas também mostrou que em forma, Hamilton é a estrela mais brilhante de uma geração de ouro. Lewis Hamilton fez uma época onde mostrou uma excelente capacidade de luta, velocidade e determinação, superiorizando-se a Vettel. E o melhor de tudo? Finalmente ver uma luta direta entre estes dois virtuosos em equipamentos equiparados. Não só Lewis Hamilton venceu o 4º título e igualou Vettel, como os fãs tiveram a sorte de ver estes multicampeões lutar em pista.

Com toda esta batalha, deixando em pé de igualdade Hamilton e Vettel, mal se podia esperar por 2018. 2018 dava uma certeza, muita luta e um novo Pentacampeão de F1, algo que apenas Schumacher e Fangio tinham conseguido.

(foto: motorsportweek.com)

Só que 2018 foi mais parecido com 2017, especialmente com Hamilton a superiorizar-se à concorrência e a ele mesmo. Apesar de inicialmente Vettel e a Ferrari estarem muito competitivos, Hamilton fez uma temporada estupenda, conquistando 11 vitórias e mostrando uma competitividade sem paralelo.

Com mais uma época de sucesso Hamilton ultrapassava Vettel em número de títulos, algo que não acontecia desde que Vettel se tinha tornado campeão pela primeira vez. Hamilton tem agora 73 vitórias, atrás apenas de Schumacher. 2018 também marcou a despedida de Alonso às corridas de F1 e com isso o fim deste triunvirato.

Se em 2013 o F1 acabasse, era fácil apontar Vettel como o mais bem-sucedido dos três, Alonso o mais talentoso, e Hamilton o candidato ao bronze. Mas o tempo não para e a F1 também não. Atualmente é fácil pensar que Hamilton é claramente o mais rápido e talentoso destes três pilotos. Uma coisa é certa, Hamilton é claramente o piloto que pode sonhar com chegar ou ultrapassar as 91 vitórias e 7 títulos de Schumacher, algo que pode acontecer já nas duas próximas épocas.

A competitividade na F1 é bastante volátil, tal como a carreira de Hamilton, Vettel e Alonso podem mostrar. Pode-se concluir, no entanto, que Hamilton, é, para já, a figura de uma geração de ouro que entre si somam 11 títulos mundiais e 157 vitórias.

Mas o tempo não para e a F1 também não.


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