Enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar
Passaram algumas semanas desde a última vez que assinei um artigo no Fair Play. Desde então, no campeonato do mundo de Fórmula 1, a McLaren aumentou o ascendente do domínio da categoria (muito através de Piastri), mas o que acontece dentro de pista parece cada vez menos importante. Sinais dos novos tempos, é certo, mas também exemplo de que pilotos e equipas cada vez mais valem pelo que são fora os dias de pista, e não, pelas prestações nos traçados. Em Barcelona, depois da exibição de Piastri- exemplar no arranque e louvável na gestão de corrida- o destaque centrou-se no pós-corrida, em todas as cerimónias protocolares, nomeadamente, o assinar do champanhe e o dedicar do momento à irmã do jovem australiano. No Mónaco, depois de um recital de concentração e velocidade de Lando Norris a realização focou a namorada do britânico, não a festa das gentes da McLaren. Ainda que, para nós portugueses, seja interessante a presença de figuras como Magui Corceiro nos bastidores.
The Leclerc luuunge!! 😱
A late-but-great dive on the first lap from Charles on George Russell 💨#F1 #SpanishGP pic.twitter.com/Ir1o9XnSjT
— Formula 1 (@F1) June 2, 2025
Enquanto terminava mais um episódio ao vivo de “Drive too Survive”, no outro lado do atlântico começava as 500 milhas de Indianápolis. A par de Mónaco e Le Mans, a última prova que conclui a tríplice coroa. Se Mónaco e Indianápolis se equivalem em termos históricos, na corrida de 2025, nem de perto nem de longe se pode comparar o que aconteceu dentro e fora de pista. Nos Estados Unidos da América vimos uma competição pela liderança e pelas várias posições pontuais, muito mais emocionante que o Mónaco. Entre batidas e paragens na corrida, Alex Palou veceu as 500 milhas. E depois? Segui-se a tradição. O espanhol celebrou junto do público, agradeceu à sua equipa, voltou para perto do carro e subiu para o lugar mais alto de Indianápolis. Bebeu o clássico leite com família e equipa. A realização focou os interesses do histórico festejo, não os influencers dos dias de hoje. É isso que falta à Fórmula 1 nos dias de hoje.
A Fórmula 1, na era moderna, enfrenta um dilema entre tradição e entretenimento. Enquanto a procura por novas audiências trouxe benefícios comerciais inegáveis, o foco excessivo nos bastidores e nas personalidades mediáticas ameaça diluir a pureza desportiva que sempre definiu a categoria. O contraste com Indianápolis é revelador: lá, a vitória de Palou foi celebrada com autenticidade, honrando décadas de tradição. A Fórmula 1 precisa de encontrar equilíbrio entre modernidade e essência, lembrando que, no final, são as prestações em pista que devem importar. O desafio está em manter a relevância cultural sem perder a alma competitiva que fez desta modalidade uma paixão global.