Dearica Hamby, Las Vegas Aces e uma situação de desrespeito

Isabella MeiJaneiro 26, 20235min0

Dearica Hamby, Las Vegas Aces e uma situação de desrespeito

Isabella MeiJaneiro 26, 20235min0
Dearica Hamby, engravidou e as Las Vegas Aces decidiram trocar a atleta numa situação que revela o longo caminho ainda a caminhar no desporto

Uma semana. Uma única semana e tanto já aconteceu na offseason da WNBA, que mais parece que estamos no meio de uma temporada regular fervorosa. Porém, as contratações de free agency sequer começaram!

Em resumo, tudo o que você precisa saber é: Jonquel Jones agora é parte do New York Liberty; a gigante, icônica e inesquecível Maya Moore anunciou a aposentadoria; a camisa de Sue Bird vai ser aposentada pelo Seattle Storm; Breanna Stewart vai conversar com o Storm, Liberty, Lynx e Mystics para decidir seu futuro; e Dearica Hamby foi trocada para o Los Angeles Sparks. Dito isso, uma dessas situações elucidou uma questão que acontece “por baixo dos panos”: a forma sorrateiramente violenta com que jogadoras grávidas são tratadas.

Dearica Hamby está grávida. E antes de chegarmos à situação problemática revelada pela jogadora no último sábado, 21, vale traçar o caminho até chegarmos aqui. Hamby foi draftada em 2015 pelo então San Antonio Stars, o atual Las Vegas Aces. São oito anos de experiência defendendo uma única equipe, sendo em dois deles eleita a Melhor Sexta Jogadora do Ano. Em 2022, Hamby foi “promovida” a jogadora titular e integrou o starting five do Aces ao longo de 32 jogos da temporada regular.

A questão atual começa a se formar quando, em 29 de junho, ela assina uma extensão de contrato de dois anos com a equipe. E aí houve uma queda de produtividade que a levou de volta ao banco ao longo dos playoffs. Em setembro, durante a parada de celebração do título que o Aces venceu em 2022, Hamby anunciou sua segunda gravidez.

E então, 21 de janeiro de 2023: o Aces anuncia a troca de Dearica Hamby por Amanda Zahui B. – anteriormente do Sparks. Horas depois, Hamby soltou posicionamento sobre a sua troca. Nele, ela agradece às suas colegas de equipe, mas revela que foi completamente desrespeitada pela administração do Las Vegas Aces ao comunicar sua gestação.

Ela afirma que teve sua ética desrespeitada ao ser acusada de assinar a extensão sabendo de sua gestação – o que não sabia, segundo ela. A administração da equipe, ao perguntar se ela pretendia engravidar – e ao receber uma resposta negativa –, então culpou a atleta de não ter comprometimento com o time e de “não tomar as devidas precauções” para evitar tal condição. Basicamente, culpou uma mulher por engravidar. Julgaram que a atleta “não estaria pronta” e eles “precisam de corpos” (para jogar), por essa razão, ela estava sendo trocada. A situação fala por si.

A frase “precisamos de corpos” dita pela administração do Aces é, dentre todas as coisas, uma falta de humanidade. As atletas que jogam a WNBA são, em sua grande maioria, mulheres. As jogadoras são pessoas que tem ciclos reprodutivos e que tem todo o direito de se tornarem mães, seja por acidente ou escolha, e terem seus direitos assegurados. A questão é que faltam direitos assegurados. As atletas são pessoas, são mulheres, são mães, antes de vestirem uma camisa e treinarem arremessos.

De acordo com o CBA, assinado em 2020, as jogadoras da WNBA que estão em licença maternidade devem receber seus salários integrais, além de um auxílio após o nascimento do bebê. Porém, não existe nenhuma garantia contratual que impeça trocas ou dispensas de jogadoras grávidas.

O mais controverso é o posicionamento da liga em relação à suas jogadoras que são mães. Sempre que o tema ‘empoderamento feminino’ vem à tona em campanhas – o que acontece com frequência –, a WNBA faz questão de mencionar as jogadoras que exercem a maternidade. Porém, como podem se dar ao luxo de falar do assunto, sendo que a liga não traça regras restritas que protejam as jogadoras? Caímos no mesmo lugar da falta de voos fretados: falatório bem elaborado, mas poucas ações assertivas.

Em relação ao Aces, não é preciso nem comentar: conduta completamente errada de julgar, acusar e duvidar das palavras (e promessas) de uma jogadora que entregou oito anos de sua carreira ao time, culminando em um título.

Estourando a bolha do assunto basquete, estamos acompanhando uma situação corriqueira que mulheres enfrentam no mercado de trabalho. Não é de hoje que mulheres são trocadas de cargo, substituídas ou demitidas ao se tornarem mães. É o mesmo caso, afinal, Dearica Hamby tem como trabalho jogar basquete.

Independente da revolta, Hamby não está de todo desamparada. Como ela mesma afirmou em nota, vai dar tudo de si vestindo a purple and gold do Los Angeles Sparks e seu caso vai ser analisado com cuidado pela WNBPA, a associação de jogadoras da liga.


Entre na discussão


Quem somos

É com Fair Play que pretendemos trazer uma diversificada panóplia de assuntos e temas. A análise ao detalhe que definiu o jogo; a perspectiva histórica que faz sentido enquadrar; a equipa que tacticamente tem subjugado os seus concorrentes; a individualidade que teima em não deixar de brilhar – é tudo disso que é feito o Fair Play. Que o leitor poderá e deverá não só ler e acompanhar, mas dele participar, através do comentário, fomentando, assim, ainda mais o debate e a partilha.


CONTACTE-NOS