A Tirania de Ben Sulayem
Numa altura em que os movimentos autocráticos rompem as sociedades ocidentais, pondo em causa o bem-estar social, a saúde das democracias e os direitos e liberdades individuais e coletivas, o mesmo parece estar a acontecer na FIA e a uma velocidade preocupante.
Ontem (13/06/2025), a Assembleia Geral da Federação Internacional do Automobilismo, reuniu-se em Macau para votar uma série de deliberações, tais como os calendários das competições, alterações aos estatutos do organismo, bem como as nomeações para comités de ética e transparência.
Apesar de ter as minhas críticas em relação aos calendários dos campeonatos do mundo, penso que esse problema se torna secundário, a partir do momento em que a democracia no maior organismo do desporto motorizado é posta em causa.
Com as votações realizadas na antiga colónia portuguesa, o Senado da FIA, maior órgão legislador, fica com poderes quase absolutos sobre os organismos da própria Federação. Por exemplo, estes senadores terão o poder de eleger os membros do comité de ética, que avalia declarações, atos dos membros da direção da FIA, assim como avalia as candidaturas à presidência do organismo.
Num comunicado enviado ao site Motorsport, a FIA revela que estas alterações aos estatutos e aos processos de candidatura visam proteger a credibilidade da tutela, ao barra candidatos que sejam eticamente questionáveis. Isto, pois claro, sem especificar quais são estes critérios menos éticos.
Ora, o Senado é composto por 17 membros, atualmente, sendo quatro “por direito”, isto é, por fazer parte da direção da FIA, tais como o presidente e dois vice-presidentes, além do presidente do Senado, e 13 outros membros propostos pelo presidente da federação. O que me leva a crer que os 16 que acompanham Mohamed Bem Sulayem são pessoas muito próximas a ele próprio e todas as decisões que daqui advenham serão segundo o pensamento do emirati
Além disto, o prazo para apresentar candidaturas foi antecipado, em teoria, segundo explica a FIA, “para dar mais tempo ao comité de ética e transparência para avaliar”. Numa altura em que Carlos Sainz tem sido desafiado a candidatar-se, que o próprio já admitiu estar a refletir, e que tem recolhido apoios muito importantes de várias figuras dentro da F1.
Estas alterações de estatutos beneficiam, em claro, o atual presidente, que procura a reeleição no final de 2025, em Tashkent, no Uzbequistão, após um primeiro mandato envolto em várias polémicas, principalmente com as guerras abertas com pilotos e equipas de F1 e WRC. Max Verstappen e Adrien Fourmaux foram dois dos pilotos já multados por declarações feitas. No caso do francês, o caso levou mesmo a uma onda de solidariedade que uniu os pilotos de rally, levando-os a não fazerem declarações aos meios de comunicação do campeonato.
Robert Reid, um dos vice-presidentes de Ben Sulayem, demitiu-se em abril passado em discordância com a direção, denunciando preocupações com a transparência dos órgãos que tutelam a entidade.
Ademais, esta semana foi conhecida a suspensão de um Grande Prémio de Derek Warwick, que estava destacado para ser comissário de prova do GP do Canadá, por criticar a penalização atribuída a Max Verstappen na Catalunha.
Sou um acérrimo defensor da liberdade de expressão, quando não usada para insultar. Foram nestes princípios que foram construídas as democracias em que vivemos. Mohamed Ben Sulayem não respeita a liberdade, silenciando as oposições. Isso, para mim, não é democrata, e portanto, não é aceitável que se mantenha como presidente da Federação Internacional do Automobilismo.