A parte de baixo da tabela da WNBA
A largada da temporada 2025 da WNBA mostrou a continuidade dos principais candidatos ao título; enquanto o campeão New York Liberty segue forte e em crescimento, na busca de ajustar suas peças marginais e incorporar a nova armadora (Natasha Cloud), o Las Vegas Aces continua dependente de seu ‘fabulous four’. O clássico abriu a temporada e, para completar o rol de favoritos, faltou o Minnesota Lynx.
Infelizmente, seu confronto contra o Phoenix Mercury, realizado no último sábado, acabou grassado por contusões das três principais estrelas. Napheesa Collier (líder na precoce corrida pelo troféu de MVP, do lado do Lynx), Kahleah Copper e Alyssa Thomas (pelo Mercury) desfalcaram a partida. Apesar disso, um belo confronto, vencido no final pelo Lynx, que confirma ambas as equipes como candidatas a título. Minnesota vem mantendo o padrão coletivo e espaçado de 2024, enquanto Phoenix construiu um plantel de boas operárias em torno de seu portentoso trio (Copper, AT e Satou Sabally). Porém, deixemos essas equipes da WNBA para um próximo texto, com mais jogos no currículo, e olhemos para a parte de baixo da tabela.
No sopé da tabela, a grata surpresa é o bom começo do novo Washington Mystics. O clã Thibault deixou a franquia, finalizando uma parceria de década e que resultou no título de 2019. As movimentações da intertemporada não despertaram muita curiosidade, seja pela contratação do desconhecido técnico Sydney Johnson, seja pela ênfase deliberada em jovens jogadoras. A franquia iniciara sua reconstrução após perder e negociar as remanescentes do título, com expectativa de uma temporada de muitas derrotas e luta por escolha alta no próximo draft.
O time, porém, tratou de borrar as previsões com um início sólido e competitivo. Comandado por duas veteranas (Brittney Sykes e Stephanie Dolson), o elenco completa-se com calouras ou segundo anistas em busca de afirmação na liga. As escolhas altas no draft (3 e 4) traduziram-se em Sonia Citron e KiKi Iriafen, cotadas como ‘role players’, ambas com desempenho superior às expectativas. Sykes lidera um elenco sem estrelas mas animado e praticante de um basquete ágil e atlético.
Sonia Citron drives have been fun this year, no hesitation to turn the corner.
— Steve Jones Jr (@stevejones20.bsky.social) May 29, 2025 at 12:55 AM
Não entre de corpo mole contra esse Mystics, cujo equilíbrio do conjunto pode surpreender scouts feitos com base nas estrelas. Iriafen retomou a boa forma (e a liberdade) dos tempos de Stanford, Citron comprovou-se uma 3&D (função no perímetro que propicia arremessos externos e defesa) com requintes de evolução como playmaker (capaz de gerar seus próprios arremessos) e Sykes lidera a intensidade e o jovem conjunto. A campanha de 3 vitórias e 4 derrotas coloca a franquia no bolo de playoff – algo inimaginável.
Junto ao Mystics, o Connecticut Sun figurava nas previsões como forte candidato à lanterna da WNBA – expectativa que vem se confirmando. A forte equipe dos últimos anos, perene candidata a título, foi reformulada e perdeu sua técnica e seu quinteto titular; o time recomeçou do zero, levantando dúvidas quanto ao interesse dos donos quanto à continuidade da franquia. A bem da verdade, o time está à venda e as incertezas reproduzem-se dentro de quadra.
Quando contratado, o técnico francês Rachid Meziane, egresso de excelentes campanhas pelo Villeneuve e pela seleção belga, não contava com tantas mudanças. O elenco simplesmente não corresponde ao talento médio da WNBA, dependente da pontuação da veterana Tina Charles (nos anos derradeiras de sua estrondosa carreira) e da produção individual de Marina Mabrey (chegou a solicitar uma troca, indeferida pela direção). Tanta escassez (principalmente ofensiva) obrigou a recorrer aos talentos de Bria Hartley, ala fogosa afastada da liga por alguns anos.
Com 1 vitória isolada, obtida sobre um desfalcado e hesitante Indiana Fever, e 5 derrotas, o Sun sonha com o desenvolvimento de jovens jogadoras, pensando em um futuro (em Connecticut ou em outra cidade?) a longo prazo e incerto. Por enquanto, vimos flashes do potencial defensivo da caloura Saniya Rivers, não muito mais. Qualquer vitória e evolução deve ser amplamente comemorado dadas as circunstâncias.
Também em reformulação, o Chicago Sky é outro a confirmar, nesse começo de temporada da WNBA, as baixas expectativas. Um passo adiante na reconstrução, ao menos a franquia aposta na evolução, e na construção ao redor, de suas torres gêmeas – Angel Reese e Kamilla Cardoso. Para comandar a dupla, eixo pretendido do time em quadra, trouxe a lendária armadora Courtney Vandersloot e o técnico calouro (aliás, os times analisados aqui todos apostaram em técnicos estreantes) Tyler Marsh, promovido de assistente em Las Vegas ao cargo principal em Chicago.
Nitidamente, o time está em construção, atestado pelas quatro fáceis derrotas iniciais. Em relação a 2024, o elenco ganhou em experiência, liderança e espaçamento, fator essencial para o bom desenvolvimento das duas jovens pivôs; por outro lado, fica evidente que o conjunto carece de entrosamento e ajustes táticos. Reese lidera as estatísticas em rebotes, como na temporada passada, sem ter melhorado no percentual de quadra; Kamilla cresceu em participação ofensiva mas reproduz hesitações em seu jogo.
As duas vitórias (2v e 4d) vieram nos dois confrontos contra o Dallas Wings, produzidos de formas diferentes (Kamilla, por exemplo, oscilou entre a melhor partida de sua carreira para um desastre no segundo duelo). O Chicago precisará de mais tempo para termos uma noção exata de seu potencial, notadamente contra equipes mais estruturadas, adjetivo longe de ser aplicável ao Dallas.
Não que esta franquia WNBA do Texas seja uma bagunça: depois de anos com altas expectativas e baixo desempenho, com pouquíssima evolução, a direção contratou Curt Miller como GM, o qual trouxe seu antigo assistente Chris Koclanes para comandar o time. A intertemporada apostou em contratações de bons nomes, somadas à sorte em escolher Paige Bueckers no draft. Parecia que enfim a franquia teria um rumo – expectativa amplamente desmentida pelo início da temporada, cujo cartel acumula 1 vitória isolada (obtida contra o fraquíssimo Connecticut Sun) e 6 derrotas.
Nada auspiciosa, a campanha deveria frear expectativas muito altas e recalcular os objetivos para 2025. O time possui muito mais certezas que os demais comentados neste texto, mas levará tempo para recolocar o time nos eixos. A começar pela defesa, um verdadeiro fracasso: nenhuma das pivôs consegue impor dificuldades às adversárias, a transição defensiva prescinde de velocidade e nem mesmo boas defensoras individuais (DiJonai Carrington e Paige) conseguem estabilizar esse lado da quadra.
Assim, o time segue na rabeira da liga na defesa (11 pior), com minúscula melhora em relação a 2024 (quando teve muitos desfalques). Se a tendência continuar, restará a Koclanes apostar em um padrão tática de velocidade e ênfase no ataque; o time subiu alguns degraus (quarto melhor ataque) e o contínuo entrosamento de Paige Bueckers deve subir ainda mais o ataque.
Koclanes, em amostragem diminuta, já fez alterações, retirando Teaira McCowan do quinteto titular e reduzindo sua parceria com NaLyssa Smith (duas vulnerabilidades enormes na defesa). Suas rotações vem testando diferentes formações, e o elenco dispõe de reservas com mobilidade para melhorar a defesa (Kaila Charles, JJ Quinerly). Outro canteiro de obras (work in progress), o Dallas deve sonhar baixo para 2025 e almejar sedimentar suas bases para os próximos anos.
Paige Bueckers está apenas começando sua carreira profissional. O sucesso (futuro) desta franquia da WNBA passa por ela e no modo como Arike Ogunbowale (cestinha de mão cheia na mesma medida em que carece de outras facetas em seu basquete) migrará para o papel secundário no elenco. Como o Indiana Fever na chegada de Caitlin Clark, quando Kelsey Mitchell encontrou seu melhor basquete como opção secundária, o Dallas Wings precisará remontar sua hierarquia interna. O Fever, porém, tinha um esteio forte na garrafão (Aaliyah Boston), peça que falta no atual Wings. Esperemos por muitas reviravoltas na temporada do Dallas em 2025.