A (falta de) atitude Encarnada – A raíz dos problemas?

Pedro AfonsoDezembro 27, 20178min0

A (falta de) atitude Encarnada – A raíz dos problemas?

Pedro AfonsoDezembro 27, 20178min0

O velho ditado “Não se mexe em Equipa que ganha” será com certeza verdade a curto/médio-prazo. Contudo, poucos serão os casos de equipas que mantiveram a sua hegemonia durante anos a fio sem alterações mais ou menos constantes nos seus elementos. A manutenção de um núcleo duro de jogadores Encarnados (Luisão, Jonas, Paulo Lopes, Eliseu) serve o propósito de garantir estabilidade com a ascensão de jogadores jovens. Mas até que ponto é que estes jogadores poderão determinar o rendimento de uma equipa, mesmo que não joguem? E, acima de tudo, serão capazes de suplantar o treinador e impôr a sua vontade e ideais? Terão a atitude necessária para atingir o Penta?


Ancelotti, Mourinho e Ranieri. O que têm em comum estas duas figuras diametralmente opostas em termos de gestão de balneário? Apesar dos seus sucessos enquanto timoneiros de Bayern, Chelsea e Leicester, todos sofreram a “machadada” final após conquistarem o título de Campeões das respetivas ligas.

Um milagreiro caído em desgraça [Fonte: Metro]

Não só têm em comum a conquista de títulos, mas também a queda abrupta de rendimento de alguns dos seus jogadores nucleares: Muller, Boateng, Robben, Diego Costa, Hazard, Fabregas, Vardy, Mahrez, Morgan. Parece pouco provável que todos estes enormes jogadores tenham “desaprendido” o jogo e que o tenham “reaprendido” assim que os seus treinadores foram despedidos. Existiu, de forma mais ou menos concertada, de forma mais ou menos planeada, uma tentativa por parte dos jogadores de mudar o “homem do leme”.

Este introito permite-nos estabelecer, de forma mais ou menos evidente, uma clara relação entre estes casos e o atual SL Benfica de Rui Vitória. A questão tática de disposição de jogadores [ver aqui], seja num 4x4x2, num 4x3x3 ou num 4x2x3x1, assume um plano secundário desde que exista um modelo geral de jogo, noções básicas de como se deve comportar cada jogador em determinadas situações. Se nos parece mais ou menos óbvio que Rui Vitória não é um treinador primoroso na concepção de um modelo de jogo e no seu trabalho, parece evidente que a maior valência do timoneiro ribatejano será a gestão de balneário. Mas será que a gestão de Rui Vitória está a resultar esta época?

Lançamento aparentemente aleatório de jogadores

Se em épocas passadas os jogadores chamados à titularidade por Rui Vitória correspondiam com boas exibições, parece evidente que a maioria dos jogadores que constitui o banco de suplentes do SL Benfica não tem aproveitado as oportunidades que lhes são concedidas.

Rafa, Samaris, Seferovic e Douglas são exemplos de jogadores que simplesmente não têm estado, ou não têm essa capacidade, ao nível exigido para jogar no Tetracampeão nacional. Poderá ser argumentado que estes jogadores não tiveram um conjunto de jogos suficientemente grande e em sequência para poderem mostrar todo o seu valor. Por outro lado, poderá também ser argumentado que o seu nível de desempenho é, em muitas vezes, tão baixo que só poderá ser explicado por um total descomprometimento tático com as ideias da equipa, bem como níveis de concentração reduzidos.

No extremo oposto, encontraremos apostas sem nenhum tipo de justificação e, muitas vezes, continuadas em jogadores que mostraram muito pouco ou até nada ao serviço da equipa [ver aqui]. Diogo Gonçalves tem o condão de ter ultrapassado Cervi, Zivkovic, Rafa e Gabigol sem nunca ter feito exibições que o justificassem. Não impediu a sua titularidade contra o Manchester United e em vários outros jogos até o técnico encarnado ter percebido que o seu contributo para a equipa seria pouco mais que zero. Por outro lado, Felipe Augusto é uma velha “paixão” de Rui Vitória, que gozou de um estado de graça desde a sua chegada, tendo feito inúmeras partidas abaixo de um nível mínimo exigido e apenas sido relegado para a bancada após “desentendimentos” com o público encarnado.

A má forma não explica o descontrolo [Fonte: Record]

“Descontrolo emocional”

As palavras proferidas por Rui Vitória na Conferência de Imprensa demonstram bem uma tendência encarnada para claudicar nos momentos decisivos. Desde a horrorosa campanha europeia, passando pela eliminação da Taça de Portugal e da Taça da Liga, a equipa da Luz parece ser incapaz de segurar vantagens e de garantir níveis de controlo e concentração ao longo dos 90 minutos. Se por um lado poderá existir uma certa displicência na forma como se abordam os momentos de vantagem no marcador, existirá também um fator decisivo que provém de uma filosofia de jogo pouco definida e trabalhada: o cansaço.

À medida que o jogo avança, o cansaço físico e psicológico interferem com as capacidades de um jogador decidir bem em dado momento, toldam a sua inteligência e limitam o seu desempenho. Se, por detrás deste processo natural, existirem poucos mecanismos de compensação através de movimentos sistematizados, todos os erros serão amplificados e, até, coletivos. Assim se explicam as derrotas contra Basileia, CSKA de Moscovo, o empate com o Portimonense, entre muitos outros resultados negativos desta época.

A falta de comprometimento – o exemplo de Pizzi

Que o modelo de jogo do SL Benfica é parco, já o discutimos aqui anteriormente. Que o plantel do SL Benfica está recheado de qualidade, também parece inegável. Então, o que se passa no Reino da Luz?

Fazendo a ponte com o início deste texto, parece cada vez mais claro que o núcleo duro de jogadores encarnados está em fim de ciclo, não tendo sido o seu declínio devidamente acautelado, e que os jogadores simplesmente “desaprenderam” o jogo.

Pizzi não foi o melhor jogador da Liga NOS da época passada por engano: a sua criatividade, passe e poder de chegada à área fazem do médio transmontano um dos valores maiores do nosso pobre campeonato. Contudo, este ano temos visto um Pizzi pouco comprometido defensivamente, recuperando a passo após perder a posse de bola, sem capacidade de ocupação de espaços defensivos, sem critério na própria construção. Para adensar o mistério, as suas substituições e reações intempestivas (veja-se o caso no Dragão), demonstram um mau-estar evidente de Pizzi relativamente à equipa técnica.

Um jogador não pode nunca reagir desta forma contra o seu treinador [Fonte: Record]

Esta falta de comprometimento, principalmente no momento de transição defensiva, fazem com que o Benfica seja, muitas vezes, uma equipa partida, com 5 jogadores a atacar e 5 jogadores a defender, com os primeiros a recuperar a passo. Por muito em baixo de forma que certos jogadores possam estar, será mesmo necessário relembrar que Pizzi foi o melhor jogador da Liga NOS do ano passado, que Samaris foi o “6” titular com JJ à frente de Fejsa na sua última época, que Jardel fez com Luisão uma das melhores duplas de centrais dos últimos anos em Portugal e que Seferovic iniciou a época de forma fulminante?

Ao exemplo de Pizzi pode juntar-se a saída abrupta de Luisão aquando da sua lesão em Vila do Conde (um capitão não aguentaria até aos 90 minutos, pelo menos?), a postura da equipa contra o Basileia na Luz (onde deveriam pelo menos ter obtido 1 ponto para salvar a honra), entre outros episódios lamentáveis da já desastrosa época.

Terá Rui Vitória perdido completamente o balneário? Será que a vontade dos jogadores será de “chutar” o timoneiro para fora da equipa e dar assim um novo rumo, novas ideias e novas esperanças? Algo precisa de mudar no Reino da Luz e Janeiro é o mês ideal.


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