Case-Study: A mirabolante gestão do plantel do Benfica
O plantel do Benfica é desequilibrado. Esta frase, muito contestada no início desta época, onde imensos “entendidos” clamavam uma qualidade intrínseca dos encarnados que suplantaria toda e qualquer saída (e foram 3 só na defesa), é agora óbvia. Se do meio-campo para a frente, a qualidade abunda, do meio-campo, inclusive, para trás, a qualidade escasseia. Mas aquilo a que o adepto encarnado tem assistido nos últimos dois meses, em termos de gestão de plantel, constitui uma de duas coisas: ou uma ideia visionária a roçar o génio de Pep, ou um total náufrago ideológico.
O plantel atual do Benfica é constituído por 26 jogadores, excluindo jogadores como Chrien que alternam entre a equipa B e a equipa principal. Destes 26 jogadores, 9 são avançados/extremos, 6 são médios, 8 são defesas e 3 são guarda-redes. Estes números parecem demonstrar que o plantel encarnado, ao contrário da primeira frase do texto, que o plantel é mais do que equilibrado, tendo em conta que a equipa joga numa espécie de 4x2x4.
- Rui Vitória tem total confiança em todos os elementos do plantel e utiliza-os de acordo com as garantias e características de cada um, conferindo um plano tático diferente para cada jogo.
- Rui Vitória, face aos resultados menos bons apresentados neste início de época e, acima de tudo, face a um futebol paupérrimo, vê-se forçado a rodar a equipa, buscando acrescentar algo que faça o “clique” e coloque a equipa na senda de vitórias.
A experiência e o atual momento encarnado empurra-nos para a segunda opção, o que torna questionáveis as decisões de um treinador que vai para a sua terceira época ao leme do Sport Lisboa e Benfica. Quem não se recorda da primeira época de Rui Vitória ao leme do plantel encarnado? A saída de jogadores fulcrais como Maxi Pereira e Lima, a indecisão na escolha do modelo tático com que iria atacar a época, a inadequação dos jogadores às suas ideias e a indefinição do plano de jogo tornaram a transição de treinador complexa e morosa. A solução para a crise? Renato Sanches. O jovem médio chegou, viu, assumiu e estabilizou todos aqueles que o rodeavam.
Esta época, exceptuando as primeiras 3 jornadas, o 11 inicial não mais se repetiu, apesar de alguns lugares cativos. Desde a primeira perda de pontos, que Rui Vitória decidiu experimentar a tentar obter o efeito “Renato Sanches”.
As vítimas
Neste momento, a qualidade individual e o talento parecem não determinar o 11 inicial. Rui Vitória tem o seu estilo de jogador próprio bem definido, preferindo sempre o jogador físico e combativo ao jogador cerebral, inteligente e com critério. E essa escolha acaba por pesar na escolha do 11 e, por vezes, até nas próprias contratações (partindo do pressuposto que Rui Vitória tem alguma influência e poder de escolha nestas questões).
Este ano parece ser claro que Rui Vitória escolheu resguardar a sua defesa com um meio-campo mais musculado, dadas as lacunas da primeira. Assim, Felipe Augusto começa a assumir preponderância, relegando Pizzi para o banco, fruto do seu péssimo momento de forma. Felipe Augusto não é um portento de técnica, contudo também não é um jogador limitadíssimo. A diferença surge, sobretudo, da capacidade de choque que este parece ter relativamente a Pizzi e que permite jogar em transições rápidas, com a equipa encarnada partida.
Na defesa, as vítimas são bem mais graves. Se por um lado, Varela já foi completamente “queimado” e poderá apenas esperar sair do clube em Janeiro, a gestão de Pedro Pereira foi igualmente infeliz, com o jovem português a ser esquecido em detrimento de Douglas. Douglas que, por sua vez, foi pedido de Rui Vitória, nas palavras de Luís Filipe Vieira, foi apenas lançado para a Champions League, em jogos de dificuldade elevada e para os quais não teve preparação.
Mas qual o critério?
A rotatividade de Rui Vitória já deu os seus frutos e leva ao lançamento de sucessivos jovens. Este ano, Svilar, Ruben Dias e Diogo Gonçalves parecem ser as escolhas e, até agora, nenhum tem desiludido. Aliás, nesta fase Rúben Dias parece ser o central mais preparado para assumir a titularidade, demonstrando um critério e qualidade acima da média.
Após três anos de trabalho, parece claro que Rui Vitória não tem nenhum plano B para além do 442 que apresenta em praticamente todos os jogos. Mesmo quando tenta fazer alterações que permitam jogar num 433, como se viu esta semana em Old Trafford, o fio de jogo continua a ser pobre, muito dependente da qualidade individual. Qualidade individual que teima em colocar no banco, optando por não contar com Jonas em jogos de elevada dificuldade, por obrigar a ter bola.
Começa a ser necessário pensar se este plantel desequilibrado não o será, também em parte, por culpa de Rui Vitória, que teima em retirar os melhores de campo quando mais precisa deles. Acima de tudo, porque não permite que aqueles que precisam de consistência e de aposta contínua prosperem.