Um problema chamado Luisão
Luisão chegou ao Benfica em 2003 e logo nessa época fez 22 jogos, afirmando-se como uma promessa do clube. De promessa a titular indiscutível, de titular a capitão, Luisão rapidamente se afirmou na Luz. É hoje o terceiro jogador com mais jogos pelo Benfica (a apenas 4 jogos de Veloso) e uma lenda do clube. Que o central deu imenso ao Benfica é inegável (facto realçado pelo FairPlay aqui) mas a verdadeira pergunta é o que o brasileiro pode dar agora aos encarnados.
Os números
É sabido que o Benfica começou mal a época. A luta pelo pentacampeonato complicou-se logo nas primeiras jornadas e na Europa as coisas são ainda piores. Para isso contribui um mau registo defensivo: 20 golos sofridos em 19 jogos. Com o capitão em campo os encarnados sofreram 17 golos em outros tantos jogos.
O registo de 1 golo por jogo apenas aparece por 3 vezes no historial de Luisão no Benfica, uma delas no seu ano de estreia. Este é um dado que espelha a solidez defensiva que, durante mais de uma década, Luisão deu aos encarnados. Jogando ao lado de centrais como Garay ou Argel, David Luiz ou Alcides, o capitão foi sempre um pilar defensivo. Hoje, jogando ao lado de Rúben Dias ou Jardel, as limitações de Luisão começam a tornar-se visíveis e a traduzir-se em problemas para as redes encarnadas.
Também ofensivamente o “Girafa” está mais apagado, não tendo ainda marcado qualquer golo esta época. A sua ação nas bolas paradas excede os golos mas também nesse capítulo o brasileiro está longe dos seus melhores registos.
O problema (de) Luisão
Luisão nunca foi um central particularmente rápido. Sempre se destacou pelo seu excelente posicionamento e pelo seu poder nas bolas aéreas (com 1.93m de altura). Ainda assim, durante a sua carreira nos encarnados sempre demonstrou velocidade suficiente para acompanhar avançados rivais. O seu jogo foi-se adaptando para colmatar a decrescente agilidade, melhorando o posicionamento. O capitão tornou-se, com isso, exímio a comandar a defesa para apanhar avançados em fora-de-jogo. Apesar disso, contra adversários rápidos, O brasileiro é, hoje, francamente insuficiente.
Apesar das suas qualidades no comando da defesa, a Liga NOS exige mais de um central num “grande”. O Benfica joga, em 90% dos jogos, em posse e os seus adversários procuram o contra-ataque. O capitão é insuficiente para conter o estilo de jogo que os encarnados enfrentam. Todas as equipas procuram ter avançados rápidos para aproveitar o espaço e com Luisão o Benfica fica frágil e desprotegido nesse espaço.
Na época passada os problemas já eram óbvios mas a companhia na defesa protegia Luisão das suas limitações. Lindelof dava a mobilidade necessária e Ederson remediava qualquer mal maior que elas trouxessem. Luisão estava assim mais dedicado ao que faz de melhor: controlar a defesa e posicionar-se de forma inteligente.
Este ano Luisão não tem os dois pilares anteriormente mencionados. Rúben Dias entrou bem na equipa mas não é (ainda) Lindelof e nem Varela nem Svilar fazem esquecer Ederson. Sobressaem agora as limitações do capitão encarnado, cada vez mais lento e facilmente ultrapassável com um pouco de velocidade.
Para além da idade, o brasileiro nunca demonstrou capacidade para fazer a saída de bola. Com passes normalmente para o outro central ou para o lateral do seu lado, Luisão não arrisca na construção. Num futebol cada vez mais técnico, saída de bola é uma característica fulcral num central de topo. Mais físico, Luisão não tem essa aptidão e esse é outro dos seus problemas.
Um capitão insubstituível
Neste momento Luisão é insubstituível no emblema encarnado. Tanto dentro como fora de campo. Mas sente-se que, num deles, devia deixar de o ser. Jardel é um central com características semelhantes a Luisão mas mais móvel nesta fase da carreira. Rúben Dias (apesar do afastamento atual) mostrou, esse sim, ser titular de caras. A dupla Dias-Jardel permitiria ao português jogar do seu lado “original” e dar mais soluções defensivas à equipa. A liderança, dentro de campo, seria assegurada por Jardel, outro peso pesado da equipa.
Ao contrário da solução apresentada no parágrafo anterior, ninguém no Benfica acredita que Luisão já não é a melhor opção para o eixo da defesa. A “estrutura” disse categoricamente que, com a contratação de outro central Rúben Dias teria que ser relegado para a equipa B. Por seu lado, Rui Vitória não parece considerar essa hipótese ou não ter poder para o fazer.
Luisão devia ser suplente em detrimento de uma dupla mais forte e melhor preparada para o campeonato português. Dias e Jardel (ou um central contratado em janeiro) mostraram já ser as melhores opções para assegurar a defesa encarnada.
Se no campo Luisão podia (e deveria) ser relegado para segundo plano, no balneário o caso é outro. O capitão é-o no verdadeiro sentido da palavra. É o líder e a voz de comando na equipa encarnada. A equipa precisa dele para se unir e manter unida. E é muito graças a essa união, e a Luisão, que o Benfica é tetracampeão nacional.
Em suma, o capitão encarnado é, neste momento, um problema na defesa encarnada que tem melhores soluções para o 11. Apesar disso, Luisão parece intocável na titularidade e isso poderá trazer (ainda mais) dissabores à equipa da Luz. Ao contrário do que acontece dentro do relvado, o brasileiro é essencial no balneário. Apenas com a sua liderança o Benfica será capaz de alcançar o ambicionado penta.