O “outsider” do País Basco: pode a Real Sociedad lutar pelo título?

Bruno DiasNovembro 28, 20216min0

O “outsider” do País Basco: pode a Real Sociedad lutar pelo título?

Bruno DiasNovembro 28, 20216min0
Com 14 jornadas disputadas na "La Liga", a Real Sociedad vê-se novamente envolvida na luta pelo título. Podem os bascos fazer história?

Já começa a ser uma tradição deste espaço: há exactamente um ano, escrevia por aqui sobre a arte do bom futebol protagonizado… pela Real Sociedad, que dava passos firmes rumo à sua afirmação enquanto equipa de ambições europeias na “La Liga“.

De 2020 para 2021, o panorama futebolístico geral já não é bem o mesmo. Há um ano, a Real jogava sem o apoio dos seus adeptos no estádio Anoeta, por conta da pandemia Covid-19, algo que não acontece actualmente (e que, esperemos, não volte a ocorrer…). Para além disso, também em 2020 a Real ocupava os lugares cimeiros da tabela. Na altura, com 23 pontos em 10 jogos, que lhe davam a liderança do campeonato. Desta vez – e à data deste artigo (dado que o clube joga a 15ª jornada sensivelmente a esta hora) – a Real Sociedad encontra-se na 2ª posição, com 29 pontos em 14 jornadas e apenas a um ponto do líder Real Madrid.

Um registo que faz sonhar com objectivos mais altos do que aqueles que estariam previamente definidos, embora não possamos descurar o facto de que a regularidade terá aqui um papel fundamental, dado que no passado também assistimos a inícios de temporada brilhantes que, subitamente, perderam o brilho com uma série de resultados negativos.

No fundo, muito parece manter-se na mesma em San Sebastián, pelo que se impõe a questão: afinal, onde está a novidade? O que mudou?

A Real Sociedad, versão 2021/22

O início de época positivo da formação comandada por Imanol Alguacil baseia-se sobretudo em dois pilares essenciais para qualquer equipa de sucesso no médio/longo-prazo: estabilidade e evolução.

(Foto: marca.com)

Mas para que esta estabilidade exibicional tenha sido atingida, para além do tempo e segurança dadas ao treinador para implementar da melhor forma as suas ideias no terreno de jogo, há que dar valor a um detalhe que, não raras vezes, é responsabilizado pela negativa: em relação à temporada passada, praticamente não existiram mudanças no plantel da Real.

O mercado de Verão trouxe apenas a saída de Willian José – avançado brasileiro que rumou ao Real Bétis -, sendo que para o seu lugar chegou o norueguês Alexander Sorloth, emprestado pelos alemães do RB Leipzig. Na lateral-esquerda entrou também o espanhol Diego Rico, para oferecer a Aihen Muñoz a competitividade na posição que Nacho Monreal já não consegue assegurar, e a baliza dos bascos viu chegar o australiano Matt Ryan para “dar luta” a Álex Remiro. Mas as mudanças ficaram-se por aí.

De resto, há sobretudo trabalho de desenvolvimento e evolução individual de várias das peças “da casa”, que se apresentam cada vez mais rotinadas dentro do modelo de jogo de Imanol e perfeitamente ambientadas e confortáveis no contexto desportivo do clube.

Remiro é cada vez mais um GR de elite na baliza. Robin Le Normand vai assumindo um papel de destaque no eixo da defesa. Martín Zubimendi tem-se revelado como um talento de grande futuro no meio-campo do clube, ao lado do já mais consolidado Mikel Merino. Ander Barrenetxea vai tendo mais e mais oportunidades para demonstrar todo o seu talento, a partir das alas do ataque.

Todos eles encaixam perfeitamente no futebol ofensivo e de controlo do jogo que a equipa de Imanol tenta impor aos seus adversários, sempre partindo de uma base camaleónica e fluída que mistura o 4x2x3x1 com o 4x3x3 mais clássico, dependendo do oponente e até mesmo do próprio momento de jogo, e que já é aplicada a um nível consistente, resultante precisamente das rotinas criadas e estabelecidas por estes jogadores.

A “receita” continua a ser a mesma, mas é aplicada de forma cada vez mais regular, e os “ingredientes” têm cada vez mais qualidade.

A figura

É aqui que se encontra uma das principais mudanças desta equipa, 365 dias depois.

A figura da equipa já não é o consagrado David Silva, que aos 35 anos e apesar da sua enorme qualidade, já não possui a capacidade física para fazer 90 minutos a um alto nível. Não é sequer um nome estabelecido no futebol espanhol e até europeu como Mikel Oyarzabal, apesar de ser o melhor marcador desta formação, com 6 golos.

Na Real Sociedad, brilha agora bem alto… Alexander Isak. O avançado sueco, de 22 anos, foi já referenciado por aqui, num “La Liga Scouting” de 2020, e tem demonstrado cada vez mais ser um jogador de calibre mundial, com claro potencial para voos mais altos, potencial esse que surge de forma evidente no seu rendimento, mesmo que o registo de golos seja ainda parco para a qualidade exibida (apenas 3 golos na presente época).

Constantemente apontado a grandes clubes europeus, a sua evolução já justifica uma atenção especial por parte das defesas adversárias, no que é um reconhecimento do estatuto que começa a atingir, graças ao seu futebol. Alto, potente, veloz, lesto na altura de encarar o adversário directo, ágil em espaços curtos… os recursos são imensos e o sueco vai utilizando-os da melhor forma, quer para criar situações de golo, quer sobretudo para jogar em apoio com os seus colegas, permitindo a entrada dos médios e alas na área e segurando a equipa num domínio mais consolidado do jogo, junto da baliza adversária.

(Foto: si.com)

Pela sua combinação de características, aliada a um manancial de recursos técnicos invulgares num jogador desta fisionomia, Isak vai-se assumindo cada vez como a grande figura do ataque da Real Sociedad, bem como uma das grandes figuras ofensivas da própria “La Liga”.


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